segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Os Guaykuru e a Guerra do Paraguai. Parte 3





Falar dos índios Guaykuru é lembrar a obra de Félix de Azara, escritor e pesquisador espanhol.
A pesar da sua formação militar, dom Félix de Azara era um humanista profundamente interessado na ciência y nos povos americanos. Contava meu avô, Victoriano Únzaga, que Azara rejeitou em 1815 a Ordem de Isabel a Católica em protesto com os ideais absolutistas que reinavam nessa época na Espanha.

Como entra Azaña na história dos Guaykuru e a Guerra do Paraguai? É que, depois de séculos de conflito, Espanha e Portugal por fim tinham começado a se entender em matéria de limites territoriais na América do Sul. Pelo Tratado de San Ildefonso de 1777, são fixados os limites de suas posses a ambos os lados de uma linha de Tordesilhas que nunca havia funcionado totalmente. Azara foi escolhido para fazer parte dos comissários que teriam a tarefa de definir com precisão a fronteira espanhola. E é assim que ele parte para a América do Sul em 1781 para uma missão de alguns poucos meses e acaba permanecendo aqui por 20 anos.

Pelas suas próprias palavras, sabemos que inicialmente foi para Assunção, a capital do Paraguai, para fazer os preparativos necessários e aguardar o comissário português. Dado o longo atraso imprevisto deste, Azara decidiu iniciar a jornada por sua própria conta e começar a fazer um mapa da região.

Em suas viagens, e quase como um modo de fugir do tédio, se interessou por animais e plantas das regiões que visitou. Assim, apesar de ser relativamente ignorante sobre o assunto, do mesmo modo que antes tinham feito outros viajantes e naturalistas da América, Azara decidiu gravar as suas observações e esperar o término dos seus compromissos oficiais para publicar o material. Mesmo tão desprovido de conhecimentos e método científicos, se dedica com empenho ao estudo dos mamíferos e aves que encontra.

Mas Azara foi finalmente chamado a Espanha em 1801, após 20 anos de provação, de sofrimentos e de ter sobrevivido a muitos perigos, sejam de ataques dos indígenas ou das cobras venenosas. Mas sempre seguiu perguntando-se sobre a possibilidade de evolução das espécies, admirando as semelhanças, tudo isto em meio a uma falta de rigor científico, ms ainda antes do próprio Charles Darwin, que parece ter conhecido seus estudos.

Também colaborou com o caudilho e libertador José Artigas no estabelecimento de aldeias na fronteira entre a Banda Oriental do Uruguai e do Império do Brasil, cuja fundação mais importantes foi o povoado de Batovi. Azara ganhou o nome de uma cidade na província argentina de Misiones em memória ao seu trabalho na região.

No filme Brava Gente Brasileira, uma ficção que se passa no atual Mato Grosso do Sul, a finais do século XVIII, uma equipe de portugueses que faziam levantamentos topográficos - o mesmo trabalho de Félix da Azara- na região do Pantanal ataca e estupra um grupinho de índias kadiwéus, da nação guaicuru.

O personagem português, um libertário apaixonado pelo que vai conhecendo e vivendo com os índios, se apaixona por uma das prisioneiras do grupo de mulheres guaicuru, capturadas quando brincavam durante o banho.

Também a pintura de corpo dos kadiwéus impressionou o antropólogo Lévi-Strauss por sua complexidade e simetria, e é lembrada no filme, quando o português Diogo de Castro e Albuquerque, iluminista influenciado por Rousseau, escreve um livro, ilustrado com as pinturas.

(Continuará, JV)

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