terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Estranha geração.


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Uma estranha geração 
Tenho uma ineludível (significa que não posso eludir ou fugir da) tendência a copiar, reproduzir - e dar o crédito, claro-, a toda imagem, texto e até àquela pessoa por via de quem essas tentações chegam a mim pelas redes sociais, seja FB ou gmail, que são as únicas que frequento, além deste Blog, negando-me até a usar o whatsapp.
E no caso desta imagem -cuja fonte e autor não veio junto, mas que suponho que seja do Steve Cutts *-, confesso meu querido diário que foi irresistível a vontade de possuí-la, e levar junto o texto.

Mas, como de quem veio é o meu neto mais velho (um dois, porque são irmãos gêmeos), preciso dizer a eles que não se assustem meninos, vocês começaram a correr agora e a saber como é o estresse que já viram antes nas correrias do pai e da mãe -e até do avô, que nunca foi muito disso-. Mas não precisam se assustar, embora as soluções para o problema que propõe o texto sejam difíceis.

Mas, leiamos primeiro o texto em questão, que é um tanto quanto dramático, quase um The Wall dos anos 80 pelo avesso, ou ainda melhor, um Tempos Modernos do genial Charles Chaplin, que mesmo realizado nos início dos anos 30 do século XX, foi uma crítica demolidora ao sistema produtivo da época, apoiado na visão taylorista-fordista com a sua extrema divisão do trabalho, e ritmos alucinantes de produção e distribuição.

Leiamos primeiro o texto e depois, por favor, vejam se a minha opinião a respeito dele é de alguma utilidade. (JV)


"Aos 20: ibuprofeno. 
Aos 25: omeprazol.
Aos 30: rivotril.
Aos 35: stent.


Uma estranha geração que toma café para ficar acordada e comprimidos para dormir.
Oscila entre o sim e o não.
Você dá conta? Sim.
Cumpre o prazo? Sim.
Chega mais cedo? Sim.
Sai mais tarde? Sim.
Mas para a vida, costumava ser não:
Aos 20 eles não conseguiram estudar para as provas da faculdade porque o estágio demandava muito.
Aos 25 eles não foram morar fora porque havia uma perspectiva muito boa de promoção na empresa.
Aos 30 eles não foram no aniversário de um velho amigo porque ficaram até as 2 da manhã no escritório.
Aos 35 eles não viram o filho andar pela primeira vez. Quando chegavam, ele já tinha dormido, quando saíam ele não tinha acordado.
Às vezes, choravam no carro e, descuidadamente começavam a se perguntar se a vida dos pais e dos avós tinha sido mesmo tão ruim como parecia.
Por um instante, chegavam a pensar que talvez uma casinha pequena, um carro popular dividido entre o casal e férias em um hotel fazenda pudessem fazer algum sentido.
Era uma vez uma geração que se achava muito livre.
Só não tinha controle do próprio tempo.
Só não via que os dias estavam passando.
Só não percebia que a juventude estava escoando entre os dedos e que os bônus do final do ano não comprariam os anos de volta."
Nayara Hofman

E aqui volto eu. Calma, isso não tem cura e já vêm de longe; quem estudou engenharia, ou economia, ou administração de empresas sabe o que é o fordismo, que não se trata apenas de uma invencionice da indústria mais pujante, hoje quase que em decadência, mas também de toda a sociedade de consumo e de alta velocidade que a rodeia. 
Não tem cura, eu disse, a menos que o próprio sujeito decida não se sujeitar mais do que durante alguns quantos anos, e apenas por algumas horas do dia a essa dinâmica maluca. 
Mas para isso é necessário começar pelo que na historinha vêm no final: saber que o pouco às vezes é o suficiente, e bastante é apenas o necessário

E, além disso, lembrar sempre -mesmo não sendo nem um pouco religioso, como este que vos fala- das sábias palavras do Eclesiastes 3:1-4:

..."Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
"Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
"Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
"Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar, etc, etc" Ou, dito na língua dos que inventaram o fordismo, a febre consumista, o fast-food e o stress: time-to-time."

* https://www.domestika.org/es/blog/1078-happiness-la-animacion-como-critica-social

Javier Villanueva, Córdoba, 4 de dezembro de 2018