Mas que droga!



Ruy Castro
Há 25 anos
Folha de São Paulo, 25 de janeiro de 2013



RIO DE JANEIRO - Foi num dia 25 de janeiro, como hoje. 
Enquanto Alice tirava o carro, abri a geladeira e, 
tremendo muito, servi-me de quatro copos de vodca 
-pura, gelada, do freezer. Copos, não doses. 
Cheios, cada qual tomado de um gole, e que, como 
sempre, desceram como água. O tremor nas mãos 
não traía nervosismo. Tremia porque acabara de 
acordar e estava sem beber havia horas. Ainda não 
descobrira como beber dormindo.
Acordado, bebia um mínimo de dois litros de vodca 
por dia, só em casa -o consumo na rua era difícil de 
calcular. Uma vez por semana, a empregada botava 
os cadáveres para fora, à espera do garrafeiro. Os 
vizinhos deviam achar que os moradores daquela casa 
bebiam muito. Se soubessem que um único morador 
engolia aquilo tudo, não acreditariam.
Dali a pouco, estávamos na rodovia Raposo Tavares, 
rumo a Cotia, a 31 km de São Paulo, onde eu então 
morava. Sabia que, no lugar para onde Alice me levava 
-uma clínica para dependentes químicos-, não haveria 
bebida. Os quatro copos teriam de bastar até o fim do dia. 
Mas, e o dia seguinte? E os 30 dias seguintes? 
Não tinha ideia, nem me preocupava. Afinal, não vivia 
dizendo que "bebia porque gostava" e "seria capaz de 
parar quando quisesse"?
Os primeiros cinco dias foram de horror -o organismo 
reagindo ao corte súbito do suprimento com tremores 
pelo corpo inteiro, agitação, insônia, diarreia, 
taquicardia, suores, possibilidade de delírio. Nas palestras, 
as vozes dos terapeutas soavam muito longe e o que eles 
diziam, um mistério. Os colegas de internação, fantasmas 
sem rosto. Mas, aos poucos, o horror passou e, em 
menos de duas semanas, foi sendo substituído por 
uma sensação quase insuportável de lucidez, vigor físico 
e vontade de viver -como nunca antes. Até hoje.
Enfim, foi hoje, há 25 anos. Mas hoje é apenas mais um dia.

Ruy Castro


                                                 ***


Há quem bebe "socialmente" uma ou duas vezes por semana e não 
fica nem tonto. Esse é um alcoólatra?
Tem quem fuma um "baseado" ou dois na 6ª feira e outros dois ou três 
no sábado à noite.
Esse é um dependente químico?
Depende. Pode largar o hábito se quiser, como quem larga de fumar 
nicotina? ou é tão difícil quanto nesse mesmo exemplo?
Veja que o 15% da população mundial que sofre da doença chamada "dependência" não sabia se podia ou não parar quando deu as 
primeiras tragadas, aos 12 ou 13 anos; simplesmente começou e foi indo. 
JV.



Por que a dependência química é uma droga?
  
Jornal do Brasil

Há 6.000 anos já se fabricava cerveja na Mesopotâmia. Há 3.000 anos os sumérios cultivavam papoulas e fabricavam ópio. 

Desde que existe o álcool, existe o alcoolismo. Desde que existem drogas alteradoras do humor, existem os dependentes químicos.

Considerada durante milênios como fraqueza de caráter, a dependência química só foi reconhecida como doença na década de 1960. Primeiro, a Organização Mundial de Saúde definiu o alcoolismo como doença e logo depois estendeu esta classificação às outras drogas que alteram o humor. Reconhecida como doença primária, não depende e não é consequência de outras doenças; ao contrário, o uso abusivo de álcool ou de drogas é que causa outras doenças. É uma doença que afeta o físico, o estado mental e as emoções. É crônica, progressiva e de terminação fatal, o que significa que se não for tratada causa a morte do indivíduo. Ocorre no mundo todo, geralmente numa taxa de mais ou menos 15% da população.


Por muito tempo o fator hereditário foi considerado o principal desencadeador, entre outros, dessa doença, mas hoje sabe-se que álcool, calmantes,drogas tradicionais e todas as novas drogas sintéticas que não param de aparecer precisam somente de quantidade e tempo de uso para que seja desenvolvida a dependência delas.

A sociedade geralmente faz uma grande diferença entre o alcoolismo e a dependência de outras drogas, legais e ilegais, mas a doença é a mesma, desenvolve-se do mesmo jeito, com os mesmos prejuízos sociais, familiares, emocionais e mentais, não importando qual o tipo de droga usada (sim, álcool é droga também). As poucas diferenças ocorrem na velocidade que a droga leva para causar prejuízos físicos e mentais, sendo que com o tempo todos os sistemas são afetados, assim como as relações familiares, sociais e de trabalho.

Mas, como é que decidiram então ser o consumo de drogas uma doença? Certamente não é só o médico ou o terapeuta olhar para o indivíduo e, pelo seu jeitão, concluir que é um dependente. Há critérios para o diagnóstico. É a ocorrência de pelo menos três destes sintomas, nos últimos doze meses, que determina se alguém sofre de dependência química ou não. Estes são os critérios listados pela Classificação Internacional de Doenças (CID), e valem eles para todo mundo, no mundo inteiro.

1. Um desejo forte ou senso de compulsão para consumir a droga.

2. Dificuldades em controlar o consumo da droga em termos de quando vai começar, quando vai terminar e de quanto vai usar.

3. Desejo persistente ou tentativa fracassada de diminuir o uso.

4. Tolerância: é a necessidade que a pessoa experimenta de aumentar cada vez mais a quantidade de drogas para obter o mesmo efeito.

5. Crise de abstinência: ocorre quando o uso é suspenso, ocorrendo então sintomas como tremor, ansiedade, irritabilidade e insônia.

6. Abandono progressivo de outras atividades. A pessoa passa a gastar boa parte do seu tempo na busca e no consumo das drogas e também para se recuperar de seus efeitos.

7. Apesar dos claros prejuízos físicos e psicológicos decorrentes do uso da droga, a pessoa persiste no uso.

Assim como a doença causada pelo abuso de drogas é a mesma, não importando qual a droga usada, o tratamento também segue o mesmo caminho. Existem alguns tipos de tratamentos, sendo o que utiliza uma grande quantidade de informação sobre a doença e sobre os efeitos emocionais da perda de controle do uso aliada a uma radical mudança de comportamento é o que mais alcança sucesso. Seja um dependente de álcool, de calmantes ou de crack, todos vão necessitar de abstinência, conscientização da doença e mudança de estilo de vida. A ajuda e o tratamento da família, que também é afetada, é muito importante para que se consiga alcançar sucesso.

*Verônica Barrozo do Amaral é terapeuta e conselheira em dependência química
Fonte:ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)

Amor Exigente
Grupo Esperança
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*Verônica Barrozo do Amaral é terapeuta e conselheira em dependência química
Fonte:ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)


Amor Exigente
Grupo Esperança



Maconha na adolescência reduz a capacidade intelectual

Pesquisa divulgada nos Estados Unidos registrou uma queda de oito pontos no QI de usuários que começaram a fumar a droga antes dos 18 anos de idade



Fumar 
maconha regularmente durante a adolescência reduz a capacidade intelectual de forma permanente na vida adulta, aponta uma pesquisa publicada nesta segunda-feira nos Estados Unidos.

O levantamento comparou o quociente intelectual (QI) de mil neozelandeses aos 13 anos e aos 38, incluindo fumantes regulares de maconha e não usuários. Entre os usuários que começaram a fumar na adolescência -- com o cérebro ainda em desenvolvimento -- e continuaram com o hábito até a fase adulta, houve uma queda de oito pontos no QI. Já entre os não usuários, o QI subiu até um ponto. "Em média, o QI deve permanecer estável à medida que a pessoa envelhece", explica a responsável pela pesquisa Madeline Meier, psicóloga da Universidade de Duke.


Maiores afetados pela liberação da maconha no Brasil seriam os adolescentes

Proibida, droga tem pouca penetração nessa faixa etária, aquela em que os danos físicos causados pelos seu consumo podem ser acentuados.

Por: Jones Rossi e Natalia Cuminale

O último levantamento realizado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) sobre o uso da maconha no Brasil, em 2005, revelou que 8,8% da população brasileira já consumiram a droga alguma vez na vida. Entre adolescentes, esse índice era menos da metade: 4,1%. 
Outro levantamento do SENAD, desta vez sobre o consumo de álcool, de 2004, mostrava que 48% dos adolescentes na mesma faixa etária já tinham experimentado bebidas alcoólicas uma vez na vida, um índice mais de dez vezes maior que o da maconha. Entre crianças de 10 e 12 anos, 41%. 
Os números mostram que as maiores vítimas de uma eventual liberação da maconha no Brasil seriam os jovens e adolescentes. O álcool, liberado, já foi consumido por quase metade de todos os indivíduos nessa faixa etária. Já a maconha, hoje proibida, tem baixa penetração entre os adolescentes. E é melhor que assim permaneça segundo os especialistas -  inclusive os que defendem a liberação de seu uso terapêutico e científico no Brasil.
Mesmo Antonio Zuardi, psiquiatra e professor do departamento de neurociências e ciências do comportamento da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, que já realizou várias pesquisas comprovando que substâncias presentes na maconha podem atuar beneficamente em pessoas com fobia social, ressalta os perigos da maconha para os adolescentes. “Alguns estudos mostram que o uso excessivo em jovens em fase de desenvolvimento  pode aumentar a chance de desenvolver quadros psicóticos no futuro. Existem outras evidências de que o uso muito intenso pode produzir problemas cognitivos, de memória e de raciocínio”, afirma.
Para o psiquiatra Ivan Mario Braun, autor do livro Drogas – perguntas e respostas (mg editores), que também defende o uso medicinal das substâncias da Cannabis sativa, nome científico da planta da maconha, não há nada de subjetivo nos efeitos prejudiciais da droga. “Ela prejudica o aprendizado e facilita o aparecimento de surtos psicóticos em pessoas pré-dispostas.”
O consumo da maconha por pessoas em fase de desenvolvimento pode provocar danos permanentes. Dependendo da quantidade consumida, os problemas que a droga causa à memória de curto prazo – aquela que faz você lembrar o conteúdo que o professor acabou de passar – podem se intensificar e prejudicar também a memória de longo prazo. 
Elisaldo Carlini, professor da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) e talvez o maior especialista no uso medicinal e científico da maconha no Brasil, deixa claro que a droga impede a memória de curto prazo e seu uso crônico faz o rendimento intelectual cair. 
Rede de proteção — Ronaldo Laranjeira, coordenador da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) da UNIFESP, Phd em psiquiatra pela Universidade de Londres, é definido como um “cruzado” por Carlini, que foi seu professor na década de 80. “Eu o chamo para tomar uma cerveja, mas ele não bebe”, brinca. Laranjeira é um dos organizadores do Primeiro Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira, realizado pelo SENAD, e pertinaz oponente da liberalização da maconha.
“Na Holanda, quando se flexibilizou o mercado da maconha, aumentou o consumo. No Brasil isso seria temerário, já que não temos uma rede de proteção como a Holanda tem.” Segundo Laranjeira, 80% dos usuários de droga na Holanda tem contato com o sistema de saúde – o que não acontece no Brasil.
Há alguns problemas que não são levados em conta quando se fala de liberar a maconha no Brasil, diz Laranjeira. O índice de usuários regulares no Brasil fica entre 2 e 3% da população, metade do índice americano e holandês. “Para aplicar a mesma política aqui, onde o consumo ainda é baixo do ponto de vista da saúde pública, é preciso tomar cuidado. Nem sempre o que é bom lá vai ser bom aqui.”
Segundo Laranjeira, a legalização, da forma que está sendo proposta, aumentaria o consumo justamente entre os jovens. “Quem vai mais consumir não é um senhor de 50 anos, é o cara de 15”, afirma. Ele refuta a fama de 'droga leve' da maconha. “Falar que maconha não faz mal é um absurdo do ponto de vista psiquiátrico. Sabemos que 13% dos novos casos de esquizofrenia são decorrentes do uso da maconha.” 
Como a droga atua — Na primeira infância, há uma reorganização do sistema nervoso central e milhares de neurônios morrem para que a criança passe por um processo de amadurecimento. O cérebro passa por essa fase no início da puberdade. Nas meninas, ocorre entre 10 e 11 anos, e nos meninos com 12 e 13 anos. O termo técnico para essa morte celular programada é apoptose. 
Depois desse momento, surgem novas sinapses que preparam o adolescente para as funções da idade adulta, como o pensamento abstrato, planejamento e o cálculo matemático, que estão relacionados a uma área específica do cérebro chamada córtex pré-frontal. É exatamente nessa área que funciona o sistema de recompensa, onde todas as drogas que causam dependência agem, como o álcool, o tabaco, a cocaína, a maconha. 
“Se você pensar que uma criança começa a consumir uma dessas drogas ou a maconha, o que vai acontecer com essa estrutura? Ela vai ser totalmente danificada precoce e irreversivelmente. Essas novas sinapses, essas novas ligações neuronais vão ser destruídas pelo uso da maconha”, afirma Marco Antonio Bessa, presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria. 
Se a droga é utilizada por pessoas maiores de 18 anos, o dano estará relacionado à quantidade e frequência do uso. Estudos mostram que quanto mais cedo o consumo de qualquer droga, maior o risco de se tornar dependente. “Os jovens acham que é uma droga leve, mas os efeitos danosos são piores que os do álcool e os do tabaco”, diz Bessa.





CLARIN.COM.AR  
SUPLEMENTOS
 fuente

SILVIA ONS

“Drogas y alcohol ocultan el temor de los jóvenes de no gozar lo suficiente”

POR CLAUDIO MARTYNIUK

El consumo de Viagra y las adicciones aumentan entre los jóvenes porque la época les exige vivir la sexualidad al límite y de manera infalible, a juicio de la entrevistada.

08/07/12

Un imperativo recorre nuestra época: gozar y gozar más. Esa bandera envuelve especialmente a los jóvenes y se expresa en sus prácticas sexuales, cada vez más sostenidas en drogas, alcohol y Viagra. Sin más culpa que por no gozar lo suficiente, esa presunta desinhibición esconde mecanismos de control y domesticación, según explica aquí la psicoanalista argentina Silvia Ons.

Parece comprensible por qué las personas de edad avanzada recurren a estimulantes sexuales. ¿Pero por qué los jóvenes recurren al Viagra? 
Notablemente, los sondeos revelan que su uso en las personas mayores disminuyó, triplicándose en cambio en los de menor edad. El Viagra en los jóvenes es bastante frecuente y despierta sorpresa, ya que no se corresponde con una época de declive sexual. Pero el vigor parece no ser suficiente y se requiere aún más. Tal exigencia muestra uno de los grandes imperativos de esta época: vivir intensamente, gozar al máximo, traspasar los límites corporales. Freud supo ver en este más allá del principio de placer la cara letal de la pulsión de muerte.
¿Acaso los jóvenes teman fallar en sus encuentros sexuales?

 La exigencia de ser infalible y, en ocasiones, la necesidad de contrarrestar la disminución de la potencia sexual que produce el consumo de otras drogas son algunas de las razones que motivan a los jóvenes de entre 20 y 30 años a hacer del sildenafil pieza infaltable en los encuentros sexuales. Si su empleo en mayores no resulta tan inquietante es por suplir una falta, mientras que en los jóvenes, es la sexualidad misma y ya no su ocaso, la que se desestima, al pretender reforzarla con la píldora azul. Claro que también algunos jóvenes hacen uso del Viagra en las primeras citas para sentirse seguros y que “eso” no falle, revelando, en ese empleo, la pretensión de mostrarse infalibles que los gobierna. Tal reclamo de performance genera sujetos inhibidos que se retraen ante tamaña exigencia, apelando al fármaco o al tóxico para satisfacerla. El par inhibición-adicción se realimenta de manera repetitiva. Así notamos en la clínica, en una época en apariencia permisiva, que las dificultades de los jóvenes para abordar a una chica son corrientes y que intentan lograr ese propósito usando distintas drogas. De ahí que las adicciones encubran inhibiciones muy profundas. 

“La previa” de las salidas nocturnas de viernes y sábados, ¿qué rasgos de la conducta sexual promueve? 
Es sabido que hoy en día la “previa” ocupa un lugar cada vez mayor en las salidas de los adolescentes. Ese momento anterior a la fiesta se ha transformado en un requisito sin el cual no hay plan posible, pudiendo incluso sustituirlo. De hecho, allí se registran los mayores índices del consumo de alcohol y, en muchas ocasiones, la previa no antecede a otra cosa, pasando a ser un fin en sí misma. Los ejemplos de los jóvenes que se desvanecen consumiendo ilimitadamente, y que no pasan de la previa, bastan para indicarlo. También -en el extremo- se han conocido casos donde se han dado desenlaces letales y otros que han terminado en violencia. El argumento aducido por los adolescentes es que al boliche hay que ir “entonado” para divertirse más y encarar sin inhibiciones a las chicas. La previa sería entonces una suerte de preparativo para un supuesto encuentro erótico.

¿Diversión e intoxicación quedan entonces asociados? 
Un imperativo subyace en este carnaval: hay que divertirse, hay que desinhibirse, hay que intoxicarse para pasarla mejor. Así, el supuesto libertinaje está regido por mandatos que promueven el exceso ligado al abuso en la ingesta. Dicha sujeción a lo que “se debe hacer previamente” pone en cuestión la ilusión de libertad que acompaña la falta de límites. Se podría considerar que el superyó de nuestro siglo está desligado de los ideales de antaño y el deber, entonces, no se liga con la realización de esos ideales. El imperativo se vuelca hacia un presente sin espera: se debe gozar. Un signo de estos tiempos sería el superyó que impone el goce. Encontramos sus mandatos en esas ofertas que nos acechan, proponiéndonos placeres intensos y aún no experimentados.

¿Y ese imperativo no está atravesado por sentimientos de culpa?

El sujeto ya no se siente culpable por el deseo inconsciente que ha debido reprimir, sino por no gozar lo suficiente. La culpa por gozar -pese a la prohibición-, muda su lugar por la culpa por gozar demasiado poco. Se sostiene que la adolescencia actual se caracteriza por la falta de límites y por un descaro que causa estupor en el adulto. Sin embargo, si se requiere mucho tóxico como preámbulo, hay más bien una inhibición en la base. Ir al boliche sin tanta previa implica confrontarse con los recursos reales de los que se dispone para abordar al otro sexo.

Parece una exposición en estado de vulnerabilidad. 

Esta confrontación no es sencilla, sobre todo en la adolescencia, ya que la identidad en construcción deja al sujeto mucho más expuesto a la mirada de los otros, a la supuesta evaluación, a la consideración ajena. Tal vez no exista ningún momento en la vida en el que la relación con el otro sexo plantee más problemas que en la adolescencia. El consumo de drogas intentaría sortear tal dificultad, mostrando la falta de otros recursos, falta muy agravada en el mundo actual. El problema es que muchas veces la previa se consume en sí misma, deja de ser “previa” y lejos de dar lugar al advenimiento de algo diferente, se cierra sobre sí. La “fiesta” está allí mismo y allí se extingue agotándose en una ingesta que, en algunas ocasiones, puede ser letal.

¿Cómo evalúa usted el tema de los swingers, que incluso ha entrado en un programa tan popular como “Graduados”? ¿Se lo podría incluir en el marco de una época que exige gozar cada vez más? 
El sujeto intenta llenar su vacío con nuevos placeres promovidos por el mercado. Si bien el intercambio de parejas data de largo tiempo, lo que es novedoso en nuestra contemporaneidad es su transformación en un estilo de vida. En la época actual conviven las exigencias de goce con el control extremo y ello se manifiesta muy bien en la moda swinger, ya que en el supuesto libertinaje subyace un intento por controlar la sexualidad del otro y evitar -según las declaraciones de sus ideólogos mismos- la infidelidad. La palabra swinger se deriva del verbo inglés to swing que significa balance, libertad de movimiento, oscilación. Podemos preguntarnos: ¿amplitud o nuevo dispositivo de control? ¿Y cómo se articula esa sexualidad con el amor?
Entre las diversas “ventajas” que esta práctica tiene para sus adeptos se cuenta la de poder vivir una sexualidad separada del amor, y así seguir manteniendo fidelidad con la pareja, sin asumir ningún compromiso afectivo que pusiese en cuestión este vínculo. Se trataría de ejercitar una sexualidad sin consecuencias para refrenar -aunque parezca lo contrario- lo incontrolable del cuerpo del otro. Se busca domesticar el goce, confinarlo al grupo, impedir que pueda surgir su carácter errante, nómade, no encarcelado en ninguna comunidad de goce.

Esa domesticación y control, ¿es semejante a otros del pasado?

Es quizás un poco arriesgado relacionar la práctica swinger con el control medieval que confinaba a las mujeres a los lugares cerrados, el claustro o la casa por temor a que ellas traspasaran sus paredes. Sin embargo, resuena una similitud. Habría que pensar en el par “empuje al goce y control” más allá de los swingers. Por ejemplo, Internet, los celulares y Facebook alientan relaciones fuera de la pareja que prometen nuevos goces pero, al mismo tiempo, fomentan que, por ejemplo, el cónyuge se “meta” para inspeccionar el “secreto” del otro. Hay siempre un ojo que vigila la sexualidad, la fija en una foto, la da a ver, la inspecciona, anulando su carácter privado. Son los nuevos dispositivos de control descriptos, bajo otro ángulo, por Foucault.

Su último libro alude al “comunismo sexual”. ¿Qué es? ¿Una zona impensada de revitalización del marxismo?


“Comunismo sexual” es el nombre con el que los swingers bautizan su práctica, pero más allá de ella, tal consigna está presente en las llamadas comunidades de goce. La transformación de prácticas sexuales en movimientos con consignas, modalidades de formas de vida, páginas en Internet, pretensiones de subcultura etc. no es en realidad algo típico de los swingers. Así, bajo el comunismo sexual subyace el intento por igualar lo inigualable: el proyecto comunista parece haberse desplazado, desde su fracaso a nivel económico, a lo sexual. Y es por ello que se enarbolan sus consignas, inscriptas ahora en el liberalismo, y se levantan sus estandartes en el ámbito de las prácticas sexuales.

¿Qué porvenir tendría esa demanda de igualdad sexual?
La demanda de igualdad económica hoy ha sido desplazada por la de igualdad sexual. El psicoanálisis nos dice que ella es ilusoria y que la igualdad de derechos nunca puede recubrir el campo sexual. El género no se identifica con la sexualidad. Pertenecer a un mismo género no dice nada de la sexualidad, que siempre es singular. En este sentido no hay comunidades de goce: hay diferencias entre los goces y ellos nunca pueden hacer comunidad.

¿Y por qué entonces se busca ese denominador comunitario?
Ese afán de encontrar una identidad, que marque la pertenencia a una clase de los que supuestamente gozan de la misma manera, obedece a la gran incertidumbre que vive el sujeto de nuestros días. La inquietud del hombre moderno surge del hundimiento de la tradición. Ya nada es vinculante, ni siquiera el territorio natal. El sentimiento dominante hoy se compone de incertidumbre, inestabilidad, inseguridad y vulnerabilidad. Hay precariedad asociada a la desaparición de puntos fijos en los que situar la confianza. Cuando se evapora la confianza en uno mismo, en los otros y en la comunidad, los sujetos buscan un reaseguro en las llamadas comunidades de goce.


Drogas: qual a alternativa? - 

FERREIRA GULLAR. FOLHA DE SP - Domingo, Junho 10, 2012

A legalização das drogas transformaria o Brasil num centro internacional de consumo, como é a Holanda 



Volto a um assunto que tenho abordado aqui e o faço porque considero necessário discuti-lo sempre que possível e com total isenção: o problema da liberação das drogas. Agora mesmo, uma comissão de juristas submeterá ao Congresso um anteprojeto propondo descriminalizar o porte e o plantio de maconha.

Admito que, por alguma razão, pessoas de tanta responsabilidade entendam que a descriminalização é uma medida positiva.



Ainda assim, duvido da conveniência de uma tal medida, uma vez que, no meu modo de ver, o fator principal que sustenta o tráfico de drogas é o consumidor.



Volto ao argumento óbvio, conforme o qual não há mercado para mercadoria que não se consome. Logo, se o tráfico ganhou a dimensão que tem hoje, foi porque, a cada dia, um número maior de pessoas consome drogas. Um dos argumentos usados pelos defensores da liberação das drogas é o de que a repressão não deu os resultados esperados, uma vez que o tráfico, em lugar de diminuir, aumentou.



Já discuti esse argumento, que me parece descabido. Basta raciocinar: desde que a humanidade existe, combate-se a criminalidade e, não obstante, ela não acabou. Pelo contrário, aumentou. Devemos concluir, então, que a Justiça fracassou e que, por isso, o certo é acabar com ela? Claro que não. Se se praticasse semelhante insensatez, simplesmente poríamos fim à sociedade humana. O certo é entender que determinados problemas não têm solução definitiva, mas nem por isso devemos nos render a eles, sob pena de se tornar inviável o convívio humano.



A droga é um desses problemas. Exterminá-la definitivamente parece-nos impossível mas, por outro lado, aceitá-la é abrir mão de importantes valores que o homem conquistou ao longo de sua história. A droga é uma herança de tempos remotos, quando estava associada a uma concepção ingênua e mágica da existência.



A ciência demonstrou que os efeitos que ela provoca são resultados dos elementos alucinógenos que fazem parte de sua composição química. Ela se alimenta daquilo que, no ser humano, resiste à compreensão objetiva e racional da existência. Como talvez o ser humano jamais alcance um estado permanente de lucidez em face do mistério da vida, a droga continuará a ser necessária a uma parte da sociedade, que nela encontra compensação para suas ansiedades. Disso se valem e se valerão os produtores e vendedores de drogas.



As últimas apreensões de drogas ocorridas no Brasil indicam o crescente poderio econômico e técnico dos traficantes. São toneladas de maconha, cocaína e crack, o que pressupõe o crescimento progressivo de consumidores.



Acreditar que a legalização das drogas fará com que essas organizações clandestinas se tornem, de repente, empresas legais é excesso de boa-fé. E o que fazer com as drogas sintéticas que, por se multiplicarem rapidamente, gozam de legalidade, já que os órgãos de repressão sequer as conhecem? A legalização das drogas transformaria o Brasil num centro internacional de consumo, como é hoje a Holanda.

Outro ponto que os defensores da legalização parecem ignorar é o fato de que os consumidores de drogas -em sua maioria jovens- nem sempre dispõem de dinheiro para comprá-las e isso os leva a praticar roubos e assaltos.



Hoje, a maioria dos crimes está ligada, de uma maneira ou de outra, ao tráfico e ao consumo de drogas. Na verdade, o viciado é um aliado do traficante -já que têm interesses comuns- e o ajuda a burlar a repressão.

Amparado na lei, o viciado em drogas vai se sentir mais à vontade para consegui-la a qualquer preço, sem que a família tenha autoridade para impedi-lo, já que estará agindo dentro da legalidade.



A alternativa seria o Ministério da Saúde -que não consegue manter em funcionamento satisfatório os hospitais, por falta de verbas- passar a subvencionar o vício dos drogados?



Creio que tudo conduz à conclusão de que o caminho certo é batalhar para reduzir o número de consumidores de drogas, e isso só será possível se as autoridades, em nível nacional e internacional, se dispuserem a promover um trabalho sistemático de esclarecimento e educação dos jovens para mostrar-lhes que as drogas só os levarão à autodestruição.





Indústria do tabaco não se cansa, 
diz diretor da Anvisa   

Folha.com
Johanna Nublat
de Brasília


"A indústria do tabaco não se cansa de agir (...) Não é fácil", desabafou nesta quinta-feira (31) o diretor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), órgão diretamente responsável pela regulação do setor fumageiro, Agenor Álvares.

Em evento do Dia Mundial sem Tabaco, comemorado hoje, Álvares foi premiado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) por seu engajamento nas políticas de restrição do fumo no país.

Entre elas, a negociação para a proibição dos aditivos ao cigarro e limitações à propaganda de fumo nos pontos de venda.

"Temos muito o que avançar. A pressão que o governo sofreu nesses dois últimos anos é significativa para mostrar que a luta continua", disse o diretor da Anvisa.

No evento, foi lançado um estudo que apontou pela primeira vez com detalhamento os gastos da saúde com o cigarro.

O país desembolsa, por ano, cerca de R$ 21 bilhões para tratar as 15 principais doenças tabaco-relacionadas.

Por outro lado, calcula a ONG que encomendou o estudo, o setor recolhe menos de R$ 7 bilhões anuais em impostos federais.

"Os dados são importantes para desmistificar que esse imposto é importante. Para nós da saúde, não é importante. Essa é uma cadeia improdutiva, porque é um produto ruim", defendeu Álvares.

O diretor ainda argumentou que cabe ao Estado brasileiro facilitar a saída dos agricultores da produção do fumo. "Há uma perversidade da indústria de tentar manipular os interesses e nos jogar contra os agricultores que plantam tabaco."


Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas







Quanto custa ao indivíduo e à sociedadeessa "liberdade"de virar um dependente?





TST mantém demissão de empregado alcoólatra
Consultor Jurídico - Dispensa válida
A Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) conseguiu anular a reintegração de um ex-empregado que teria sido demitido por ser alcoólatra. A 7ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho considerou indevida a reintegração, entre outros motivos, porque não havia nexo de causalidade entre a doença e a dispensa. [+]


Hospitais gastam mais com pacientes que fumam, aponta estudo
Revista Veja - Tabagismo
Pesquisa feita nos EUA mostrou que complicações respiratórias provocadas pelo tabagismo após uma cirurgia são principais responsáveis pela elevação dos custos
Uma pesquisa feita nos Estados Unidos mostrou que as complicações de saúde causadas pelo tabagismo após um procedimento cirúrgico contribuem de forma significativa para o aumento dos gastos dos hospitais no país. [+]


Brasil gasta R$ 21 bi com tratamento de doenças relacionadas ao tabaco
Levantamento da Aliança de Controle do Tabagismo se refere apenas a 2011 e resulta da análise de dados de 15 enfermidades, como doenças cardíacas e câncer de pulmão
Jornal O Estado de S. Paulo - Lígia Formenti, BRASÍLIA
O Brasil gastou no ano passado R$ 21 bilhões no tratamento de pacientes com doenças relacionadas ao cigarro, revela estudo inédito financiado pela Aliança de Controle do Tabagismo (ACT). [+]


Dependentes químicos abandonam tratamento em 77% das internações
Estudo foi feito em 2011 com seis comunidades que atenderam 500 pessoas.
Apesar de elevado, índice caiu em relação a 2010, quando atingiu 95%.
Do G1 Araraquara e Região
Um levantamento do Conselho Municipal Antidrogas (Comad), de Araraquara (SP), revela que 77% dos dependentes químicos não conseguem finalizar o tratamento que dura nove meses. Apesar de elevado, o índice registrado é menor que em 2010, quando atingiu 95%. [+]


Statement of the Government of the United States of America World Federation Against Drugs
3rd World Forum Stockholm, Sweden
Thank you, Mr. Carlsson, for that introduction and for your work year-round in building the World Federation Against Drugs into a global movement for public health and safety. It is my great pleasure to be with you here today. WFAD is a unique and vitally important forum. I am honored to be here to share the views of the United States. [+]






O álcool não é droga? SIM!!
Hoje pode ser vendida nos estádios? NÃO!!


Mas o congresso aprovou uma "exceção" à proibição da venda durante a Copa de Futebol.






O congresso brasileiro aprovou o projeto de lei regulador do Mundial de futebol de 2014, tendo os parlamentares permanecido divididos sobre a venda de bebidas alcoólicas durante os jogos da competição.
A FIFA já deu conta do seu desagrado pela situação, admitindo que deve ser permitida a venda de cerveja dentro dos estádios brasileiros durante a Taça das Confederações do próximo ano e o mundial de 2014.
O secretário-geral da FIFA, Jerome Valcke, disse recentemente que esperava que o projeto de lei ficasse aprovado na sua totalidade logo na primeira reunião do congresso, para a proposta ser colocada em vigor até ao final de março, permitindo uma melhor preparação do torneio.
Algo que não se verificou devido à falta de consenso entre os deputados, pois enquanto uns vêm a venda de álcool como forma de incitamento à violência nas bancadas dos estádios, outros encaram a proposta como uma exceção.
Para o deputado da oposição Wanderlei Macris, a medida proposta "é um erro" e a "luta vai ser levada para o Senado" em caso de aprovação da mesma.







'Procissão do crack' migra para a Nova Luz



























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Aglomerações continuam, dois meses após início de operação do Estado e da Prefeitura


BRUNO PAES MANSO - O Estado de S.Paulo
Um garoto de cerca de 14 anos empurra um carrinho de supermercado, com uma mulher que aparenta ser sua mãe desacordada dentro dele. No meio da rua, na esquina da Conselheiro Nébias com a General Osório, no centro de São Paulo, um homem sem camisa com um cachimbo de crack na mão beija o capô de um carro que não é dele e fala sozinho. Ao seu lado, outro jovem observa se viaturas da Polícia Militar se aproximam, exercendo a função de olheiro para pequenos traficantes locais.
São 22 horas de sábado e entre 150 e 200 pessoas se aglomeram para fumar e vender crack no meio da rua, em um ritual que se repete há mais de 20 anos. Agora, os consumidores vagam entre os quarteirões das Ruas Santa Ifigênia, Guaianases, Timbiras, Vitória, Conselheiro Nébias, Gusmões, General Osório, do Triunfo e Avenida Duque de Caxias. Conforme se aproximam viaturas da Polícia Militar ou seguranças privados com cassetetes, pagos pelos comerciantes da região, eles mudam de lugar e se aglomeram em outro ponto.
Dois meses depois de iniciada a Operação Centro Legal na cracolândia, o consumo e a venda de crack resistem na região, apesar da presença ostensiva da PM e da grande quantidade de prisões. As aglomerações e "procissões do crack", agora, migraram para o coração do futuro projeto Nova Luz, a poucos metros da região da Rua Helvétia, Alameda Dino Bueno e Barão de Piracicaba, onde os consumidores ficavam quando Estado e Prefeitura deflagraram a operação e que agora está sem viciados.
Os últimos números divulgados nos balanços da Prefeitura e do governo do Estado, em 1.º de março, mostram um volume impressionante de intervenções. Foram presas 377 pessoas só na região 293 eram acusadas de tráfico. As outras são condenados recapturados pelos homens das Polícias Militar, Civil e Guarda Civil Metropolitana.
Na área da Saúde, segundo os dados do governo do Estado, a atuação também foi intensa. Foram 299 internações. Isso significa que, em dois meses, foram retiradas das redondezas 676 pessoas. Quando a Operação Centro Legal começou, a PM afirmava que existiam cerca de 400 pessoas na região, o que demonstra como as próprias autoridades desconheciam a dimensão do problema com o qual lidavam.
Abordagens. Na noite de sábado, nas quatro horas em que a reportagem acompanhou a movimentação nas ruas da cracolândia, a cena que se viu foi a mesma de meses e anos anteriores. PMs até que tentavam abordar os usuários. O Estado acompanhou duas abordagens. Em uma delas, com quatro viaturas uma da Força Tática, cerca de 20 pessoas foram enquadradas na Rua Guaianases.
Cachimbos de crack eram recolhidos e os nomes das pessoas abordadas eram repassados para a Central de Operações da PM, para saber se eram ou não procurados pela Justiça.
A poucos metros dali, seis crianças jogavam futebol na rua, como se lidassem com uma cena corriqueira. Um usuário sai reclamando: "Eles invadem a nossa casa e roubam o nosso cachimbo", em relação aos PMs. Em seguida, abordagem semelhante ocorreu na Rua Apa, dessa vez com cerca de 30 usuários. A reportagem, que acompanhava o trabalho da PM, também acabou tendo de colocar a mão na parede para ser revistada.
Em dois meses, foram 23 mil abordagens da PM, o que significa perto de 400 por dia. Mas os usuários não se intimidam e preferem se arriscar para viver o cotidiano intenso da cracolândia.





Álcool, maconha e direção: Um coquetel perigosamente mortífero  Notícias sobre drogas e alcool - Site Antidrogas 


Milton Corrêa da Costa

O motorista de uma picape colidiu contra uma moto e matou um casal na manhã do último sábado , 03 de março, na Avenida M´Boi Mirim, na Zona Sul de São Paulo. Será indiciado por homicídio doloso (dolo eventual), segundo informações da polícia que afirma que a perícia encontrou, atrás do banco do passageiro do veículo, um cigarro de maconha. Por volta das 6h30, após fazer uma conversão proibida, próximo ao Terminal Guarapiranga, o veículo atingiu a moto onde estava o casal Alexandre da Silva e Francielle Paiva, que deixaram uma filha de 6 anos. Antes de colidir contra um muro e derrubar um portão, ele ainda atropelou um homem que caminhava pela calçada. O motorista do carro ficou gravemente ferido e ficou internado no Hospital das Clínicas.



Como se não bastassem as tragédias ocorridas no trânsito pelo uso do álcool, tal fato traz novamente à baila a discussão sobre o efeito do uso da maconha (droga ilícita) na condução de um veículo e na vida cotidiana. “É preciso explicar as coisas à luz das últimas pesquisas. Se é verdade que antigamente um cigarro de maconha provocava efeitos equivalentes ao de duas doses de uísque, hoje, com as mutações genéticas produzidas nas sementes da planta para intensificar as sensações que ela provoca, é praticamente impossível determinar os níveis de THC (tetrahidrocanabinol), o princípio ativo da maconha que cada cigarro contém”, pondera a psiquiatra Maria Thereza de Aquino, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e diretora do NEPAD, Núcleo de Estudos e Pesquisa em Atenção ao Uso de Drogas.

Um dos discursos mais conhecidos daqueles que defendem a legalização da maconha é justamente o de questionar a venda livre de bebidas alcoólicas e de cigarros. Consideram hipocrisia condenar a liberação do consumo da droga ao mesmo tempo em que bebidas e cigarros- que consideram bem mais prejudiciais ao organismo do que a Cannabis sativa- são comercializados livremente em todo o país. Apesar de chamar a atenção para os riscos do álcool e do tabagismo, esse questionamento não tem levado em conta as dificuldades de comparação de produtos tão diferentes. “A maconha não é pior do que o álcool, mas é muito mais prejudicial do que o cigarro”, afirma o psiquiatra de adolescentes Içami Tiba, autor do livro “ A maconha e o jovem”, editado em 1989.

Anos depois, ele não só continua contra a legalização da maconha como pesquisou e descobriu mais um importante argumento para reforçar a sua posição - a existência de três níveis de prejuízo para o usuário. “Há o prejuízo ético, que ninguém costuma levar em conta, em que há uma quebra de valores próprios. Há também, um comprometimento psicológico, já que a maconha provoca uma forte dependência devido à ação do THC. E. por fim, há o aspecto físico, com danos até para os fetos de grávidas que fumam”, diz o médico.


Quando se fuma um baseado, as moléculas de THC vão para o pulmão. De onde caem na corrente sanguínea que distribui a substância para todos os órgãos. As primeiras moléculas chegam em segundos aos neurônios, embora os efeitos da droga só comecem se manifestar em 10 a 15 minutos (obviamente que vão influenciar a condução segura de um veículo). Atuando diretamente sobre o sistema límbico, sede do comportamento, da memória e das emoções, a maconha modifica as sensações, intensificando-as e tornando-as mais agudas. Olhar simplesmente para a parede pode ganhar a dimensão de uma experiência nova, com cores, volumes e texturas jamais sonhados. “É quando se tem ideias que parecem geniais, mas que são esquecidas tão logo se sai do transe da droga. E mesmo lembrando, elas deixam de fazer sentido na medida em que é impossível seguir a linha de raciocínio que se teve sob o efeito da maconha”, explica a Dra Maria Thereza.

Os que já experimentaram o barato da Cannabis conheceram a excitação, a fala arrastada, o riso constante, os olhos avermelhados, o pulso acelerado, a perda de concentração de atenção, e a fome que se sucedem a um baseado. Em cinco anos, porém, a uma média de cinco cigarros semanais, o quadro se torna dramático. A apatia e o marasmo embotam a inteligência e a vida do indivíduo. “È a chamada síndrome amotivacional, um quadro irreversível de total falta de motivação para a vida”, explica a Dra Maria Thereza. Ou seja a maconha antecipa os malefícios que o álcool irá causar em quinze/25 anos nos homens, ou em cinco a dez nas mulheres.

Para a Dra Maria Thereza a maconha pode ser mais bem perigosa do que o álcool, já que a atmosfera permissiva que a cerca pode levar adolescentes a usá-la para enfrentar o que Freud chamou de “dor de existir”.Mas tornar-se ou não um dependente de drogas, mesmo numa fase de mudança e conflitos interiores, como é o período que antecede à juventude, é resultado de uma conjugação de diversos fatores: estar passando por uma situação desfavorável; o encontro com a droga; e a personalidade de cada um. Este último item é fundamental: a psiquiatra avalia que “não existem drogados em famílias felizes, bem-estruturadas emocionalmente e sem problemas se adaptação. Por outro lado, para pessoas imaturas, com propensão à dependência (seja ela dos pais, de comida ou de outros tipos de apoio), a maconha pode servir para abrir a porta do que é proibido.


Ainda assim há os que, ao abrirem a porta do proibido, entram e saem. E há os que entram e ficam. ”Mais uma vez, o que faz a diferença é a estrutura emocional de cada um”, explica Maria Thereza de Aquino. O mesmo raciocínio responde ao argumento frequente usado de que a maconha seria um trampolim para drogas mais fortes. Não é. “Ao contrário da excitação provocada pela cocaína que leva muita gente a recorrer ao álcool para reduzir o pique, e novamente à cocaína para sair da depressão provocada pelo álcool, no caso da maconha é o ambiente à volta que influencia a se experimentar outras drogas novas e sensações”, explica a psiquiatra.

“Mas aqueles que trilham o caminho das drogas passam por ela. É muito comum a garotada acreditar que tem controle total sobre a droga, mantendo a falsa noção de que fuma porque quer e que é capaz de parar quando desejar. Não é realidade. Dificilmente o garoto percebe que está sendo dominado pela droga, que a dependência psicológica provocada pela maconha, é muito mais forte que a física, pois leva o dependente a sentir a necessidade de alteração psicológica”, afirma o Dr Içami Tiba, que em sua opinião o melhor caminho é concluir que a droga venceu o primeiro assalto da luta e que a família- e não só o filho- precisa de ajuda para não perder toda a batalha.

É fácil também concluir que assim como o álcool, maconha (droga ilícita) e direção é desgraça presumível. O uso das duas drogas ao mesmo tempo é mais desgraça presumível ainda mais quando se está ao volante de um carro
.


Milton Corrêa da Costa é coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro





“Tchau, drogado, volta amanhã”

Até a presidente Dilma parece insatisfeita com o atendimento pífio que o Brasil dá aos dependentes de álcool e drogas. Por que insistir no fracasso?

Afirmar isso ou aquilo sobre o comportamento e a personalidade da presidente Dilma é arriscado. Até os iniciados no mundo da política (o que não é, absolutamente, o meu caso) sofrem para detectar quais são os traços autênticos de Dilma. Dizem que ela é austera. Dizem que tem pavio curto. Dizem que não economiza nas broncas.

Uma amostra das descomposturas que a presidente estaria passando nos ministros e nos colaboradores foi relatada pela jornalista Vera Magalhães na interessante reportagem publicada no domingo (13/11) pelo jornal Folha de S. Paulo. O que mais chamou minha atenção foi o seguinte trecho:



“A presidente comandava uma reunião com representantes de vários ministérios para discutir o lançamento de uma política de saúde para pessoas com deficiências. Quando um funcionário do Ministério da Saúde sugeriu uma sigla para identificar a nova política, Dilma cortou:


– O quê? Você está me sugerindo mais uma sigla? Você sabe quantas siglas tem no Ministério da Saúde? – e se pôs a enumerar várias delas. Ao citar os CAPs-AD (Centros de Atenção Psicossocial Antidrogas), voltou-se para um ministro ao seu lado:

– Você sabia que os CAPs-AD fecham às 18h? Você chega para o drogado e fala: “Drogado, são 18h. Tchau, drogado, volta amanhã!”



Finalmente alguém no governo federal parece ter percebido o absurdo que é a estrutura de atendimento aos dependentes de álcool e drogas no Brasil. Eles e suas famílias não são os únicos afetados. Toda a sociedade sofre. A política de saúde mental do Ministério da Saúde tem sérios problemas. O principal é estar baseada muito mais em ideologia e preconceito do que em medicina.
Se quem percebeu que o serviço está mal feito foi justamente quem manda na casa, a notícia é ótima. Pode ser um sinal de que as coisas finalmente podem começar a mudar. Para melhor.
Quem tem na família um dependente químico (de drogas ou álcool) ou um doente com depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtorno obsessivo-compulsivo e outros problemas psiquiátricos sabe que essa estrutura de atendimento baseada nos CAPS não dá conta do problema. Por mais bem intencionados que os defensores desse modelo sejam.

A história é antiga. No final dos anos 80 ganhou força no Brasil um movimento chamado de luta antimanicomial ou de reforma psiquiátrica. Pregava a extinção dos manicômios, nos quais os pacientes eram abandonados, maltratados e submetidos a situações degradantes.
Ninguém pretende que esses horríveis depósitos de gente renasçam no Brasil. Mas é preciso reconhecer que dependentes de álcool e drogas e doentes psiquiátricos em estado grave podem precisar de internação. Os doentes (independentemente de sua condição social) merecem uma internação em hospital adequado, com atendimento psiquiátrico eficaz e a dignidade que todo sofredor merece.

As famílias dos pacientes enfrentam hoje uma enorme dificuldade para internar quem precisa. O poeta Ferreira Gullar, que teve dois filhos esquizofrênicos, denunciou a situação numa reportagem que foi capa de ÉPOCA.

Desde 1989, cerca de 70% dos leitos psiquiátricos do país foram fechados. O Ministério da Saúde investiu nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Nesses locais, o paciente recebe medicação e acompanhamento semanal. A ideia é atendê-lo sem retirá-lo do convívio da família e da comunidade. Quando a situação do paciente complica, no entanto, os familiares não conseguem vaga num leito psiquiátrico em hospitais comuns.
Vários municípios discutem a internação compulsória de dependentes de crack, uma polêmica muito bem retratada pelos colegas Mariana Sanches, Matheus Paggi e Eduardo Zanelato nesta outra reportagem de capa. A pergunta que não quer calar é “internar onde?”
Em meio a uma verdadeira epidemia de crack, o Brasil dispõe de apenas 268 centros de atendimento de casos de álcool e drogas (CAPS-Ad). Eles funcionam apenas até as 18 horas. Só de segunda a sexta-feira.

O país inteiro tem apenas três (!!!) centros 24 horas, segundo o Ministério da Saúde. Um em Petrópolis (RJ) e dois em São Bernardo do Campo (SP). Pelo sistema de atendimento vigente no Brasil é preciso surtar em horário comercial. Não sei se a bronca de Dilma foi dirigida à pessoa certa, mas foi merecida.
O mais estranho nessa história toda é que o Ministério da Saúde parece não estar interessado em ouvir os psiquiatras. Procurei vários deles, a maioria especialista no tratamento de dependentes de álcool e drogas, para saber como receberam o comentário da presidente.

“A Dilma é muito inteligente. Se o problema chega até a presidente, ela consegue dar resolução”, afirma Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria. “O problema é que ela está muito mal assessorada na área de saúde mental. Nos colocamos à disposição do Ministério da Saúde para ajudar a repensar o sistema e não fomos ouvidos”, diz.

CAPS são úteis, mas não podem ser o único recurso disponível. Sozinhos, esses centros não têm competência para prestar assistência adequada aos doentes. Fechar leitos psiquiátricos e abrir mais CAPS não resolve o problema. Sem nenhum demérito às equipes multiprofissionais que trabalham neles, esses centros deveriam ser recursos complementares. Por que o governo insiste no erro?

“Por um infantil viés ideológico, quem defende o modelo atual acredita que as dependências químicas são uma construção social e os dependentes são vítimas da injustiça social”, diz Marco Antonio Bessa, presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatra.
Na prática, a atual orientação da política de saúde mental brasileira sataniza a psiquiatria. Parte do pressuposto de que todos os psiquiatras estão mancomunados com a indústria farmacêutica e nega os avanços que essa área da medicina trouxe para a compreensão e tratamento de tantos males e aflições.

É claro que existem maus profissionais na psiquiatra — como em qualquer outra área do conhecimento e do mercado de trabalho. É claro que a indústria tem interesses comerciais e seduz os médicos, a imprensa e o público. É claro que há exagero no diagnóstico e na medicação de “doenças” que, muitas vezes, são apenas a expressão de comportamentos fora do padrão esperado pela sociedade. Tudo isso existe e é grave.

O problema é o radicalismo. Negar os benefícios que a psiquiatria trouxe nas últimas décadas é tão grave quanto medicar e internar quem não precisa.
Diante da crise aberta pela dependência de drogas, o governo e a sociedade precisam ouvir os psiquiatras – mesmo que seja para discordar deles.

“Às vezes fico pensando que em breve as internações em UTIs, os choques para ressuscitação e as radioterapias também serão vistos como ações arbitrárias e violentas dos médicos – esses lacaios do biopoder a serviço da opressão e da exploração da humanidade”, diz Bessa.

O professor Ronaldo Laranjeira, da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), acha que a presidente precisa se informar melhor. “Se ela soubesse da missa a metade, ficaria ainda mais preocupada”, diz. “Até hoje o Ministério da Saúde não tem uma política assistencial em relação ao tratamento do crack. Nem mesmo para o alcoolismo existe um mínimo de padronização do que se deveria fazer”.
Segundo Laranjeira, os CAPS-Ad são caros e ineficientes. Cada centro custa, em média, R$ 200 mil. “Nunca conheci um CAPS que faça mais de mil atendimentos por mês. Portanto, cada consulta custa ao redor de R$ 200. A adesão ao tratamento é muito baixa e a eficácia do tratamento é absurda”, afirma.

Não se tem notícia de que algum dia o Ministério da Saúde tenha realizado uma avaliação de custo-benefício nesses locais. “Se fizesse, 90% deles teriam de ser fechados”.
Há quem acredite que na gestão Dilma a política vigente sobre drogas finalmente começa a ser questionada. Essa é a opinião de Analice Gigliotti, vice-presidente da Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro. “O comentário da presidente é absolutamente pertinente. Um dependente de drogas não escolhe a hora de querer se tratar. Não escolhe a hora de precisar de tratamento. Se pudesse escolher, não seria um dependente de drogas”.
Em vez de promover a abstinência de drogas, o objetivo dos CAPS-Ad é reduzir o consumo. É a ideia da redução de danos. “Isso é inadequado porque são muito poucos os dependentes que conseguem reduzir o uso. Eles voltam a usar drogas na mesma quantidade que usavam antes. Basta ver o que acontece com os fumantes que tentam reduzir a quantidade de cigarros. Não funciona”, diz Analice.
Durante três dias, tentei entrevistar um representante do Ministério da Saúde. Ninguém me atendeu. O governo sabe que a coisa vai mal. É bom saber que a presidenta também tomou consciência disso. Talvez esse seja o momento de reformar o que precisa ser reformado. Estou convencida de que não é a psiquiatria.



FONTE: Época Online
Veja o link da matéria: http://revistaepoca.globo.com/Saude-e-bem-estar/noticia/2011/11/tchau-drogado-volta-amanha.html






Cannabis scang y psicosis 

http://www.dailymotion.com/video/xmeucp_cannabis-scang-y-psicosis_school    

Tres estudios publicados esta semana en el 'British Medical Journal' coinciden en alertar de los peligros a largo plazo que pueden sufrir los adolescentes fumadores habituales de cannabis. Padecer depresión y esquizofrenia en el futuro son algunos de los precios que hay que pagar por fumarse un porro a la semana. 

Uno de los trabajos estudió a 1.600 estudiantes de 44 institutos australianos, todos ellos con edades comprendidas entre los 13 y los 15 años. Los investigadores llegaron a la conclusión de que el consumo frecuente de cannabis incrementa el riesgo de padecer depresión y ansiedad en la edad adulta, especialmente en el caso de las adolescentes. De todos los participantes, el 60% había comenzado a fumar antes de los 20 años, y el 7% admitió ser un 'fumador habitual'. Más de la mitad de todos ellos (el 66% de los chicos y el 52% entre las chicas) reconoció haber fumado en alguna ocasión.


























































Entrevista com André Luiz Oliveira da Silva - Aditivos no cigarro, entre outros temas polêmicos

André Luiz Oliveira da Silva é chefe da Unidade de Controle de Produtos Gerência de Produtos Derivados do Tabaco UNCOP/GPDTA/DIAGE. Confira abaixo a entrevista que o profissional concedeu ao Boletim Eletrônico da Abead, abordanto a questão dos aditivos no cigarro, entre outros temas polêmicos.


1- De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), com a Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, 44% dos estudantes brasileiros entre 13 e 15 anos que fumam regularmente preferem os cigarros aromatizados. Os aditivos influenciam ou aceleram o processo de dependência?

Em sua maioria, os aditivos são utilizados para mascarar os aspectos negativos da fumaça, como por exemplo, a irritação. A partir do momento que você melhora o gosto, disponibiliza sabores doces, você atrai os jovens. Essa é uma clara estratégia para crianças e adolescentes, já que a indústria tem que investir para atrair novos fumantes para repor consumidores que morreram ou pararam de fumar. O próprio estudo do INCA diz que adolescentes preferem produtos com sabor, isto se explica justamente por serem mais agradáveis. Esses produtos têm grande apelo para o público mais jovem, associados com belas embalagens e propagandas nos PDVs (Ponto de Venda). Há ainda pesquisas que apontam que alguns aditivos potencializam o efeito da nicotina. Várias evidências indicam que além de reduzir a aversão natural das pessoas a fumaça, elas fisgam mais rápido o fumante.

2- Existem malefícios adicionais para quem fuma os famosos cigarros com sabor? Como o senhor avalia a popularização, principalmente entre os jovens, de produtos como o narguile?

Não é muito fácil avaliar se é mais danoso ou não, tendo em vista os devastadores efeitos intrínsecos dos produtos derivados do tabaco. O que seria pior, cair do 100º ou do 105º andar? Entretanto há alguns artigos científicos que sugerem que esses aditivos poderiam aumentar a probabilidade de certos tipos de câncer (ex.: mentol e CA de boca). Apesar da dificuldade de responder prontamente quão danosos são os aditivos ou não, a literatura científica aponta evidências que estes poderiam potencializar os efeitos danosos a saúde dos produtos derivados do tabaco.

Em relação ao narguilé, existe a crença de que pelo fato da fumaça passar por um recipiente com água, e o tabaco utilizado possuir diversos sabores, uma sessão de narguilé equivale a dezenas de cigarros comuns. Portanto, seria muito pior não somente pelos componentes tóxicos da fumaça, associado a uma fumaça mais fria, que proporcionaria uma inalação mais prolongada e profunda, o que também contribuiria para danificar ainda mais o organismo do indivíduo.

3- É dever do Estado proteger a população dos males causados pelo cigarro e criar iniciativas. O senhor acredita que banir aditivos pode reduzir o consumo do produto entre os adolescentes? Quais outras medidas podem ser tomadas para livrar os jovens dessa experiência precoce?

Com certeza. Impedindo que se mascare o sabor desagradável da fumaça e que se adicionem sabores agradáveis a fumaça obviamente menos jovens serão capturados pelo tabagismo. Em médio-longo prazo, reduziria o número de fumantes. No caso dos fumantes já estabelecidos essas medidas não afetariam significativamente as taxas de consumo, por conta do fato de nestes casos a dependência a nicotina já estar bem estabelecida.

Outras medidas que poderiam também reduzir o recrutamento de novos fumantes poderiam ser, por exemplo: restrição ainda maior da propaganda, proibir a exibição dos maços e embalagens dos produtos derivados do tabaco, coibir a venda destes produtos próximos a escolas e outros locais freqüentados por crianças e adolescentes. Coibir a venda de cigarros e outros produtos derivados do tabaco junto de balas e doces, aumentos dos preços deste produto, além é claro, de controlar o mercado ilícito.

4- A CQCT em seu artigo 9º recomenda aos governos que proíbam aditivos para dar sabor ao cigarro. Em sua opinião, o que impede essa norma de ser colocada em prática no Brasil?

A grande resistência vem da própria indústria do tabaco, que tem mobilizado todos os esforços possíveis e imagináveis para impedir uma ação como essa, que certamente restringiria suas estratégias para conseguir novos dependentes. É uma indústria com grande poder econômico e influência política. E isso vale não só para esse tipo de norma, mas qualquer outro tipo de restrição.

5- O Dia Nacional de Combate ao Fumo, comemorado em 29 de Agosto, é uma data importante para discutir as políticas contra o uso de tabaco. Em sua opinião, quais são os próximos passos que o Brasil deve tomar na luta contra o cigarro?

Implementar o controle dos aditivos, tornar mais restritas as propagandas e divulgação dos produtos, aumentar os preços dos cigarros e adotar uma fiscalização mais rigorosa.

6- Como especialista da área, qual sua expectativa para os próximos anos? Acredita que um dia teremos um país livre do tabaco?

Como estamos falando de dependência, o tão sonhado fim do uso do tabaco em um curto prazo é muito difícil. Acredito que na próxima década teremos uma acentuada queda no número de dependentes de nicotina no Brasil, contudo ainda longe de não ser mais incluída como umas principais causas de mortes dos brasileiros. Por outro lado, ainda teríamos algum crescimento do número de tabagistas em países menos desenvolvidos.

Contudo, acredito que daqui a 100 anos, as futuras gerações possam viver em um mundo livre de um dos maiores assassinos do século XX (lembrando que nem a 2a guerra mundial matou tanto quanto o tabaco neste século), e possivelmente será do século XXI. Acredito que nossos netos e bisnetos irão achar engraçado e estranho, como um produto tão letal e de alto poder aditivo como esse era tão comum e popular.

Fonte:ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)







Com referência a matéria publicada pela Folha de São Paulo.
Pelo pragmatismo no combate à ignorância

“NÃO HÁ NADA MAIS TERRÍVEL QUE A IGNORANCIA ATIVA” (GOETHE, 1749-1832)

A propósito dum artigo editado no FSP da autoria do cineasta Fernando Grostein Andrade (FGA) que dirigiu o mediatizado comentário “Quebrando o tabu”, a APLD – Associação para um Portugal Livre de Drogas, vem colocar à consideração dos leitores deste prestigiado órgão de comunicação o seguinte:

Depois de entrevistar 178 pessoas, tendo chegado à conclusão que com a atual legislação pribicionista que vem declarando guerra às drogas “os dependentes continuam dependendo; violência, corrupção e drogas são ilegais, mas estão cada vez mais disponíveis e perigosas”, propõe FGA que se as legalize: “Alguém acha que um dia não vai mais existir gente querendo alterar a consciência”? interroga-se o cineasta, juntando a sua voz à de outros que tudo vêm fazendo ultimamente para baixar a guarda social à utilização de substâncias psicoativas mesmo conhecendo os seus efeitos colaterais, convidando o povo brasileiro e o Mundo, com base no pressuposto citado, a aceitar como inevitável a instalação duma cultura de intoxicação, na linha da medicalização humanista da vida já antecipada por Goethe há 200 anos atrás: “Eu acredito que no fim o humanitarismo triunfará, mas eu receio que, ao mesmo tempo, o mundo se torne num imenso hospital, com cada pessoa a atuar como se fosse enfermeiro da outra”.

Será que FGA também sugere que apesar de não se ter ainda conseguido, até à data, erradicar com as armas ao nosso alcance flagelos como o cancro, a sida, a tuberculose, a malária e outras doenças, o melhor é também abandonar o seu combate?

Será que FGA também sugere que como não se conseguiu até agora evitar a praga dos homicídios, assaltos aos bancos, o incesto ou as violações, o melhor também será acabar com a sua proibição?

Será que a melhor forma de ultrapassar os gravíssimos problemas sociais como o declinio dos padrões educacionais e da iliteracia, o déficit de produtividade das empresas e o número crescente dos sem-teto, a pobreza e a fome, passa por abandonar os esforços de correção destes prementes problemas e sugerir a inação?

Será que com a legalização as drogas passariam a estar menos disponíveis? Menos atrativas? Menos aditivas? Seriam elas o antídoto ideal para o flagelo da sinistralidade rodoviária?

É um fato que as drogas agravam a miséria afectiva e social.

Dar ao Estado numas matérias o papel de regulador da ordem social e depois pretender que este avalize a livre circulação de substâncias psicoativas ainda ilícitas, é perverso e é minar essa mesma ordem.

As políticas que aceitam, encorajam e promovem o uso de drogas, questionam conquistas como a saúde e a segurança e violam direitos consagrados.

Ao contrário do que muitas pessoas como o cineasta acima referenciado pensam, facilitar o consumo é penalizar os toxicodependentes. Como alguém disse, a mensagem deve ser explícita: “Nós interessamo-nos por vocês e não permitiremos que se destruam e destruam aqueles que os rodeiam”

Ir atrás dos sinais do tempo em vez de os contrariar mesmo quando eles já se apresentam como prenúncio de catástrofe, não pode ser opção.

Como disse, em Junho de 1998, em Nova Iorque, o antigo secretário - geral da ONU, Kofi Annan, (agora paradoxalmente ao lado de Fernando Henrique Cardoso num movimento pró-legalização) no discurso de encerramento do Dia Internacional contra o Abuso e Trafico Ilícito de Drogas: - “Os jovens precisam de modelos que os ajudem a encontrar uma via positiva – uma via sem drogas. A erradicação do abuso de drogas no nosso planeta é uma tarefa gigantesca, mas com as forças conjugadas das organizações humanas de todos os níveis e dos esforços de todos, conseguiremos avançar nessa direcção. (…)"

A promoção de uma cultura republicana não se compadece com opções politicamente correctas, mas irresponsáveis.

É a vida dos cidadãos e o futuro de uma sociedade equilibrada que estão em causa.

No Brasil ou no Mundo!

Manuel Pinto Coelho

(Presidente da APLD – Associação para um Portugal Livre de Drogas)







05/09/2011 - Saúde Folha.com

Método positivo tem sucesso contra álcool


Estratégia ressalta que maioria das pessoas é capaz de se controlar.
Frases positivas deram bom resultado em pesquisa americana.




Uma coisa é saber quais são os hábitos saudáveis, outra coisa é adotá-los. A nova busca da ponte entre teoria e prática vem do marketing positivo, que faz uso de todas as técnicas da propaganda para mudar comportamentos. É isso que está por trás de uma nova abordagem de controle do alcoolismo, proposta por James Turner e Jennifer Bauerle, da Universidade da Virgínia. Eles vieram à USP apresentar seu método no 1o Seminário de Normas Sociais, denominado "O Poder das Percepções Positivas". "Tendemos a superestimar as consequências negativas e subestimar o lado positivo", disse Bauerle.


Eles pesquisaram o consumo de álcool entre universitários e depois usaram cartazes com frases que ressaltavam os aspectos positivos de quem bebia com moderação.

Ao perceberem que o comportamento responsável é predominante, os estudantes passam a seguir o que faz a maioria. "O que é surpreendente é o grau da mudança, e como ela se perpetua ao longo do tempo", diz Turner.


Os episódios de consumo exagerado de álcool caíram 30%, os casos de alunos dirigindo alcoolizados diminuíram 80% e os ferimentos por causa de embriaguez ficaram 77% menos frequentes.



'Táticas do Medo'


Para a dupla, as "táticas do medo", como a do tabaco no Brasil, não funcionam. "Só chamam a atenção e não mudam hábitos; algumas até aumentam o comportamento negativo", diz Bauerle.

Para Maria Martha Hübner, pesquisadora em análise do comportamento na USP, o incentivo é o melhor modo de mudar algum hábito.

"A dosagem maior de reforços positivos, superando os punitivos, pode diminuir a chance de que o ser humano se drogue", afirma ela.

Raul Martins, coordenador do programa de prevenção do uso excessivo de álcool da Unesp de São José do Rio Preto, reduziu, ao longo de dois anos, a quantidade de álcool ingerida por alunos usando entrevista motivacional e prevenção de recaída. Ele diz que "gostaria de fazer contato com os professores dos EUA".


Turner e Bauerle acham que a mesma redução irá acontecer se sua técnica for aplicada ao Brasil. "Esperamos ajudar para que essas ações sejam bem sucedidas, assim como foram na Universidade da Virgínia. Quando lhes é dada a chance de agirem segundo seus próprios valores, os alunos fazem boas escolhas", diz Bauerle.

Jaqueline Issa, cardiologista do InCor (Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP), vê de forma mais cética a ênfase na comunicação positiva para enfrentar comportamentos de risco.

Para ela, as imagens fortes nos maços de cigarro, por exemplo, "fazem parte de um conjunto de medidas eficazes. É propaganda real do que o produto pode causar".


"Tem pessoas que entendem mensagens negativas e outras que entendem mensagens positivas. Falar a verdade, independentemente de levar em conta se ela é boa ou ruim, é sempre a melhor estratégia de comunicação", afirma Issa, que é especialista no combate ao cigarro.







De Rafael Moraes Moura - O Estado de S.Paulo. BRASÍLIA

Aprovado na Câmara dos Deputados, um projeto de lei que prevê mensagens antitabaco e antiálcool em livros escolares encontra resistência no Senado Federal. De autoria do deputado Rubens Otoni (PT-GO), prevê a publicação obrigatória de mensagens educativas sobre "males e riscos inerentes" ao consumo de álcool e tabaco nas contracapas de cadernos e livros escolares. O objetivo é usar o material didático como forma de prevenção para crianças e adolescentes.

A proposta está agora nas mãos do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), relator da matéria na Comissão de Educação do Senado. Em outubro de 2009, a Comissão de Assuntos Sociais acatou parecer da então senadora Fátima Cleide (PT-RO) pela rejeição à ideia. "Não há mais espaço para o voluntarismo, ainda que bem-intencionado", dizia o relatório da petista.


"Estudo patrocinado pelo Banco Mundial (...) alerta que os programas educacionais para o controle do tabagismo desenvolvidos em escolas parecem ser menos eficazes que muitos outros tipos de informação, muito embora se tornem mais efetivos quando as intervenções continuam a empregar técnicas modernas de marketing e mensagens ajustadas aos interesses e às motivações dos jovens", seguia o texto.


Para Fátima, a medida forçaria as empresas de material didático a se adaptar às novas normas, o que elevaria os custos e o preço dos produtos. O projeto não especifica que tipos de mensagens educativas devem ser publicadas - apenas diz que a impressão delas deverá garantir a sua "visibilidade, nitidez e leitura".


Divulgado em dezembro passado, levantamento da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad) sobre o uso de substâncias psicoativas entre 50.890 estudantes da rede pública e particular das capitais brasileiras apontou que 42,4% dos entrevistados usaram álcool pelo menos uma vez no ano anterior à pesquisa; no caso de tabaco, a porcentagem foi de 9,6%.


Política conjunta. Para o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, a preocupação é válida, mas seria mais eficiente uma política conjunta entre o Ministério da Saúde e o da Educação. "São pastas que dialogam muito pouco. O Brasil tem de ser mais profícuo, buscar interações, conjugar forças", reforça.


O projeto, defende Otoni, é um ponto de partida para a formulação de estratégias visando à comunicação com esse público. "Será necessário uma análise pedagógica para ver que tipo de mensagem seria mais adequada para a criança e o adolescente", afirma o deputado.




16.08.11 - Brasil

Os jovens e a bebida
Por Domingos Zamagna
Jornalista e professor de Filosofia em São Paulo. Diário do Comércio/ Adital


O governo do Estado de São Paulo anunciou medidas para desestimular o consumo de álcool entre os jovens, pois o problema já atinge a dimensão de saúde pública.

O alerta do governador é como a ressonância do que vem dizendo, há anos, o professor Roberto da Matta, antropólogo experiente, profundo conhecedor da realidade brasileira. Lecionando em universidades do Brasil e dos Estados Unidos, pode fazer interessantes comparações. Ficou indignado –e quem não ficará?– com a maneira pela qual os jovens brasileiros estão se entregando à bebida.

Não é preciso ser antropólogo de notória especialização, nem político, para constatar o que está nas esquinas. Qualquer cidadão, pai de família, educador ou jornalista pode observar a intimidade de muitos jovens com o copo e a garrafa. Mais preocupante ainda é quando sabemos que a cada ano diminui a idade da iniciação na beberagem. Como se sabe, atrás dela virão males e mais males.

Costumo atravessar ao menos duas vezes por dia a rua que ladeia uma grande e tradicional universidade. Às nove da manhã já vejo mesas de bares com dois ou três estudantes com várias latinhas ou garrafas vazias. À noite, então, as cenas são deprimentes.

É bem verdade que o exemplo vem dos adultos. O nosso país está entre os maiores consumidores de álcool do mundo. Não quero ser um desmancha-prazeres, mas estamos vivendo perigosamente. Também nesse setor nos mostramos o país do desperdício: para tratar dos problemas advindos das bebidas alcoólicas o Brasil gasta o dobro do que investe para produzi-las.

Excelentes estudos, como os do Instituto Fernand Braudel, vêm mostrando como diminuiu a criminalidade e a vadiagem em municípios que resolveram enfrentar o problema com decisão e competência. A cidade de Diadema tornou-se um caso emblemático.
É importante que o poder público e as instituições de saúde e educação se unam para achar soluções criativas e eficientes. Mas é preciso, também, que medidas sejam tomadas no seio das famílias. Os pais, que são os primeiros educadores, não deveriam jamais omitir-se. Tivemos um ministro da cultura que dizia que "cachaça e broa de milho são cultura”. Sim, sim, a velha cachaça já adquiriu status de importante, sofisticada e competitiva grife até de exportação, desbancando outros velhos destilados. Mas neste caso é melhor ser abstêmio –ou pelo menos bem moderado– e comer mais broa de milho, ler mais livros, praticar esportes, voluntariado, conversar com os amigo(a)s etc.

Quem me lê, e nesse momento me acha aborrecido, talvez seja porque em sua família –graças a Deus!– esse problema não exista. Olhe, contudo, em volta da sua casa, pelo bairro ou pela cidade, e veja como este problema, que pode soar pitoresco e provocar risadas, acaba minando a cidadania e destruindo pessoas e lares.

Não sei como serão aplicadas as diretivas do governo de Estado de São Paulo, se vão pegar ou não, mas deveríamos não só torcer, e sim colaborar ao máximo para que se reverta esta estrada tão perigosa para os nossos adolescentes e jovens, e suas famílias.


 


Ex-dependente, psicólogo apoia internação forçada

Folha de S.Paulo. Publicado em 31/07/2011
O psicólogo americano Adi Jaffe, 35, pesquisador da Universidade da Califórnia, apoia a internação compulsória. "É melhor do que não tentar nada". Diz que as diferentes formas de combater o vício (psicoterapias, internação, remédios, grupos de apoio mútuo) têm igual eficácia (25% a 30% dos casos).


O psicólogo americano Adi Jaffe, 35, pesquisador da Universidade da Califórnia, ficou internado por dez meses para se livrar de drogas. Em entrevista à Folha, ele apoia a internação compulsória. "É melhor do que não tentar nada."


Tratar dependente à força é melhor que não tentar nada


Para o psicólogo Adi Jaffe, não há modelo de tratamento que sirva para todos

Ex-viciado, pesquisador diz que profissionais resistem a variar formas de tratar vício e culpam o paciente pelo fracasso.


Não funcionou para Amy Winehouse, mas deu certo com o psicólogo americano Adi Jaffe, 35, pesquisador da Universidade da Califórnia.


Ex-dependente, atua hoje na elaboração de critérios para apurar a qualidade dos tratamentos. Diz que as diferentes formas de combater o vício (psicoterapias, internação, remédios, grupos de apoio mútuo) têm igual eficácia (25% a 30% dos casos).


Em entrevista à Folha, Jaffe defende até a controversa internação compulsória que, para ele, é melhor do que não expor o dependente a nenhuma tentativa de tratamento.

Folha - O sr. diz que reabilitação funciona melhor do que se imagina. O que deu errado no caso de Amy Winehouse?


Adi Jaffe - Obviamente, eu só posso supor. Eu acredito que, se um tipo de tratamento não dá certo, sua melhor aposta é procurar outro.
Amy tentou um rehab [programa de reabilitação] que não funcionou e ela deixou claro que não queria aquilo. Aparentemente, em vez de tentarem outro tipo de tratamento, ficaram repetindo a mesma abordagem.

Quais são os tratamentos?


Temos basicamente três grandes classes. Os medicamentos funcionam de modos diferentes. Alguns minimizam efeitos da abstinência, outros bloqueiam a sensação de prazer causada por álcool. Alguns remédios para depressão e ansiedade também podem ser bastante eficazes.

A psicoterapia cognitivo-comportamental ajuda a pessoa a entender o que a leva a beber e a descobrir estratégias para mudar o hábito. Há também técnicas motivacionais, que são uma boa coisa para quem resiste a se tratar.

O apoio social, ou ajuda mútua, é basicamente o modelo dos Alcoólicos Anônimos. A ideia, resumidamente, é que não há permissões [às substâncias], apenas dependentes ajudando outros.

Qual funciona melhor?


A resposta fácil seria dizer uma combinação de todos, mas não é assim na vida real. Uma resposta baseada em evidências é que todos têm mais ou menos as mesmas taxas de sucesso. Dão certo para 25% a 30% das pessoas.

Por que tão pouco sucesso?


Essa é a porcentagem de cura para casos mais graves. A maioria só vai se tratar quando está muito mal. Imagine se, para medir a eficácia de um remédio para câncer, só contassem os casos de cura da doença no estágio mais avançado. No alcoolismo, só temos doentes em estágio 4.

Outro problema é que a qualidade das clínicas ou dos serviços é muito desigual.

Como escolher o tratamento?


Não dá para prever quem reagirá melhor a um ou outro tipo. Mas temos critérios para saber se aquilo não está funcionando e, nesse caso, trocar o tratamento. Mas quase ninguém faz isso.

Por quê?

Muitos profissionais tendem a achar que sua linha é a melhor para todos e que, se não deu certo, o problema é o paciente. O sucesso do tratamento depende também do médico, da clínica, de bom senso para rever a estratégia.

Quando a pessoa não quer se tratar, vale a pena forçá-la?


Muitos afirmam que, sem motivação, nada funciona. Mas minha experiência diz que a exposição a qualquer tratamento, até a reabilitação feita à força, é melhor do que não tentar nada.

Foi esse o seu caso?


Posso dizer que sim. Aos 21 anos comecei a usar speed (metanfetamina) e, em pouco tempo, a traficar a droga. Passei oito anos nessa vida, até ser preso. Minha escolha era ir para a clínica ou passar um tempo na prisão. Não foi exatamente uma escolha.

E funcionou?


Passei três meses em uma clínica, até ser expulso por usar drogas. Minha sorte é que me colocaram em outra clínica. Fiquei dez meses internado. E funcionou. (Folha de S.Paulo, 31/7/11.Por IARA BIDERMAN) (Págs. 1 e Cotidiano C10)



PPostagens anteriores por Javier Villanueva:

Médicos desmistificam relação entre 'maldição dos 27' e a morte de Amy

Hendrix, Joplin, Jim Morrisson e Kurt Cobain morreram com mesma idade.


Especialistas avaliam risco das drogas e consideram histórico dos artistas.
Do G1, em São Paulo


Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain e, agora, Amy Winehouse. A chamada "maldição" que levou à morte ícones do rock e do pop aos 27 anos, cientificamente, não passa de uma triste coincidência, de acordo com especialistas ouvidos pelo G1.


Segundo especialistas ouvidos pelo G1, não é possível responder com precisão matemática sobre quanto tempo o corpo de uma pessoa resiste a uma rotina de abusos de drogas e álcool. O que é possível afirmar, entretanto, é que quanto mais jovem uma pessoa começa a usá-los, mais cedo terá problemas .

“Possivelmente, [as celebridades que morreram aos 27 anos] usaram quantidades maiores por tempo maiores. Os efeitos variam de acordo com o tempo e a quantidade em que estão relacionados”, afirma Ivan Mario Braun, psiquiatra do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

Braun lembra que drogas como cocaína e heroína - associada oficialmente às mortes de pelo menos Joplin e Cobain - têm risco maior de produzir overdose, diferentemente da maconha e do cigarro, por exemplo.

Coquetel mortal


Ronaldo Laranjeira, professor de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma que o risco do usuário ter uma overdose aumenta muito quando se associa crack ou cocaína ao álcool. “Cria-se uma terceira molécula muito mais tóxica para o músculo cardíaco e para o cérebro podendo ocasionar uma arritmia cardíaca”, explica.

Foi justamente uma combinação fatal dessa que, em 2007, quase levou Amy Winehouse à morte. Segundo relatos à época, a cantora foi hospitalizada com uma overdose após misturar um coquetel que incluía heroína, escstasy, cocaína, quetamina (um anestésico de uso veterinário) e álcool.

Segundo a Polícia Metropolitana de Londres, ainda é cedo para se falar sobre as causas da morte de Amy, que só serão determinadas após necrópsia prevista para acontecer ainda nesta semana.

Mas além da lista de drogas citadas acima, Amy também já foi flagrada consumindo crack. De acordo com um estudo coordenado por Laranjeira, por meio Instituto Nacional de Políticas do Álcool e Drogas, quase um terço dos usuários de crack morre nos primeiros cinco anos de uso da substância.

Ao longo de 12 anos, a pesquisa avaliou 131 pacientes dependentes, que foram internados entre os anos de 1992 e 1994. Vinte e cinco deles morreram antes dos 25 anos. Neste caso, a maior causa da morte não foi overdose, e sim, homicídio já que grande parte dos usuários no Brasil está envolvida também no tráfico. “A mortalidade ocasionada por crack é pior do que a de heroína. A morte de usuários de heroína é de 1% ao ano”, avalia.

Doença como 'liberdade poética'


Para Laranjeira, Amy sofria de uma doença grave e “optou” por não tratá-la. “Efetivamente, ela nunca se expôs a um tratamento e estava se deteriorando mentalmente. Teria de ser internada mesmo involuntariamente, pois não estava mais em condições mentais de decidir.”

O psiquiatra reforça que quando a pessoa usa estes tipos de substância química, entra em um estado mental que não consegue parar, apesar das complicações. “No caso dela, o fato de ser uma celebridade rebelde tumultuou mais sua vida. A doença fazia parte de uma liberdade poética. Morreu de uma doença que nunca tratou.”

Os especialistas ouvidos pelo G1 lembram ainda que geralmente as mulheres sofrem mais os efeitos e ficam dependentes mais rápido das drogas, se comparado aos homens. No entanto o ritmo de vida, como hábitos alimentares, também tem influencia nas consequências.


"Sempre há sequelas e existe um preço a ser pago"
Por Ronaldo Laranjeira


Doenças crônicas podem acelerar o processo de deterioração do organismo, como aconteceu com Kurt Cobain, vocalista da banda Nirvana, que se suicidou com um tiro na cabeça em 1994, após consumir uma alta dose de heroína. Em entrevistas, o músico costumava dizer que viciou-se "conscientemente" em heroína pois a droga era a única capaz de aliviar as fortes dores no estômago que ele sentia desde criança.

“O uso de drogas vai produzir doenças. Se o usuário já as possui, piora. Há uma intoxicação e sobrecarga no organismo, além dos danos cerebrais. Sempre há sequelas e existe um preço a ser pago”, conclui Laranjeira.



Postagens anteriores por Javier Villanueva:


Afastamento do trabalho por uso de droga cresce 22% em 2011

Há quatro meses, Daniel Meana, 33, levou um ultimato dos donos da empresa que gerencia: ou parava de usar drogas ou seria demitido.

Ele prometeu deixar o vício. A doença, no entanto, foi mais forte, desabafa Meana.

Gastou R$ 900 de um adiantamento em menos de um dia -saiu da companhia às 14h de sábado e voltou para casa às 2h de domingo. "Fiquei bebendo cerveja e cheirando cocaína", lembra.

A perda de controle gerada pela experiência e uma briga o fizeram parar. O profissional decidiu buscar ajuda em clínica de reabilitação.

Depois de um mês internado, voltou à empresa e teve seu cargo de volta. O rendimento profissional melhorou tanto que recebeu aumento.

Histórias como a do gerente têm se repetido no Brasil. No primeiro semestre de 2011, 21.273 trabalhadores foram afastados de seus postos para tratar transtornos causados pelo uso de substâncias psicoativas -que agem no sistema nervoso central produzindo alterações de comportamento, humor e cognição.

ALTA DE 22%

O número representa crescimento de 22% em relação ao mesmo período de 2010 (17.454). São licenças concedidas pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) por problemas causados por uso de drogas ilícitas como cocaína e abuso de remédios sedativos e estimulantes, como antidepressivos e ansiolíticos (para controle da ansiedade).

Dos executivos, 15% usam substâncias psicoativas, segundo pesquisa do HCor (Hospital do Coração) com 829 pessoas de abril de 2009 a março de 2010, obtida com exclusividade pela Folha.

Competitividade, pressão por resultados e solidão são uma combinação explosiva entre executivos. Com receio de perder o posto e impelidos a trazer retorno para a companhia, muitos escondem o uso de drogas -sejam ansiolíticos sejam drogas ilícitas.

"O executivo é muito solitário, e o ambiente é altamente competitivo. A demonstração de fraquezas é duramente tratada", afirma Antonio Carlos Worms Till, diretor da clínica Vita Check-Up.

A imagem que as corporações têm dos profissionais que compõem o alto escalão é a de heróis. "Se ele não for o super-homem, será preterido em relação a outros e malvisto politicamente", frisa.

O cenário torna a identificação de executivos para tratamento e auxílio dentro das companhias uma tarefa hercúlea. A dificuldade é sentida até mesmo em hospitais.

As psicólogas Mariana Guarize e Janaína Xavier Santos, que coletaram dados sobre uso de remédios controlados e drogas ilícitas para pesquisa no HCor, contam que, frequentemente, o profissional só assume o uso de psicotrópicos em entrevista, não em formulários.

Fonte: Folha de São Paulo



DRAUZIO VARELLA
Folha de São Paulo


Não seria mais sensato construir clínicas pelo país com pessoal treinado para lidar com dependentes?

A contragosto, sou daqueles a favor da internação compulsória dos dependentes de crack.

Peço a você, leitor apressado, que me deixe explicar, antes de me xingar de fascista, de me acusar de defensor dos hospícios medievais ou de se referir à minha progenitora sem o devido respeito.

A epidemia de crack partiu dos grandes centros urbanos e chegou às cidades pequenas; difícil encontrar um lugarejo livre dessa praga.

Embora todos concordem que é preciso combatê-la, até aqui fomos incapazes de elaborar uma estratégia nacional destinada a recuperar os usuários para reintegrá-los à sociedade.

De acordo com a legislação atual, o dependente só pode ser internado por iniciativa própria. Tudo bem, parece democrático respeitar a vontade do cidadão que prefere viver na rua do que ser levado para onde não deseja ir. No caso de quem fuma crack, no entanto, o que parece certo talvez não o seja.

No crack, como em outras drogas inaladas, a absorção no interior dos alvéolos pulmonares é muito rápida: do cachimbo ao cérebro a cocaína tragada leva de seis a dez segundos. Essa ação quase instantânea provoca uma onda de prazer avassalador, mas de curta duração, combinação de características que aprisiona o usuário nas garras do traficante.

Como a repetição do uso de qualquer droga psicoativa induz tolerância, o barato se torna cada vez menos intenso e mais fugaz. Paradoxalmente, entretanto, os circuitos cerebrais que nos incitam a buscar as sensações agradáveis que o corpo já experimentou permanecem ativados, instigando o usuário a fumar a pedra seguinte, mesmo que a recompensa seja ínfima; mesmo que desperte a paranoia persecutória de imaginar que os inimigos entrarão por baixo da porta.

A simples visão da droga enlouquece o dependente: o coração dispara, as mãos congelam, os intestinos se contorcem em cólicas e a ansiedade toma o corpo todo; podem surgir náuseas, vômitos e diarreia.

Quebrar essa sequência perversa de eventos neuroquímicos não é tão difícil: basta manter o usuário longe da droga, dos locais em que ele a consumia e do contato com pessoas sob o efeito dela. A cocaína não tem o poder de adição que muitos supõem, não é como o cigarro cuja abstinência leva o fumante ao desespero esteja onde estiver.

Vale a pena chegar perto de uma cracolândia para entender como é primária a ideia de que o craqueiro pode decidir em sã consciência o melhor caminho para a sua vida. Com o crack ao alcance da mão, ele é um farrapo automatizado sem outro desejo senão o de conseguir mais uma pedra.

Veja a hipocrisia: não podemos interná-lo contra a vontade, mas devemos mandá-lo para a cadeia assim que ele roubar o primeiro transeunte.

A facção que domina a maioria dos presídios de São Paulo proíbe o uso de crack: prejudica os negócios. O preso que for surpreendido fumando apanha de pau; aquele que traficar morre. Com leis tão persuasivas, o crack foi banido: craqueiras e craqueiros presos que se curem da dependência por conta própria.

Não seria mais sensato construirmos clínicas pelo país inteiro com pessoal treinado para lidar com dependentes? Não sairia mais em conta do que arcar com os custos materiais e sociais da epidemia?

É claro que não sou ingênuo a ponto de acreditar que, ao sair desses centros de tratamento, o ex-usuário se tornaria cidadão exemplar; a doença é recidivante. Mas pelo menos ele teria uma chance. E se continuasse na cracolândia?

E, se ao receber alta contasse com apoio psicológico e oferta de um trabalho decente, desde que se mantivesse de cara limpa documentada por exames periódicos rigorosos, não aumentaria a probabilidade de permanecer em abstinência?

Países, como a Suíça, que permitiam o uso livre de drogas em espaços públicos, abandonaram a prática ao perceber que a mortalidade aumenta. Nós convivemos com cracolândias a céu aberto sem poder internar seus habitantes para tratá-los, mas exigimos que a polícia os prenda quando nos incomodam. Existe estratégia mais estúpida?

Faço uma pergunta a você, leitor, que discordou de tudo o que acabo de dizer: se fosse seu filho, você o deixaria de cobertorzinho nas costas dormindo na sarjeta?




Excelentíssimo ministro
(carta dos coordenadores do Amor Exigente ao STF)


A família brasileira está de luto!


Sentimos uma tristeza profunda, uma imensa amargura ao ouvir a mais alta Corte do país liberar as marchas da maconha em todo o Brasil. O senhor, ministro, falou bonito sobre liberdade. Citou a Constituição. Com brilhantismo, citou leis. Mas, com todo o respeito, ignorou que o tema em julgamento era maconha, a droga que coloca em risco hoje crianças, adolescentes, jovens e suas famílias. Maconha, a droga que até o governo holandês já define como “perigosa ao usuário e à comunidade”, conforme documento anexo a esta carta. A droga que vem sendo proibida na Holanda , país que já divulgou pesquisas revelando que maconha pode desencadear surtos psicóticos, esquizofrenia. Com todo o respeito, ministro, mas o senhor e os seus colegas de Corte ignoraram que maconha é droga perigosa e, portanto, definida pela Organização Mundial da Saúde, como causa de doença mental, física, incurável, progressiva e fatal. O senhor também nos surpreendeu porque em nenhum momento, citou a Lei Antidrogas, nº 11.343, em vigor desde 2006 e que define como crime no artigo 33, “2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga”. Não é exatamente isso que faz a marcha da maconha, ministro?

É com a doença causada pela maconha e por outras drogas que lido todos os dias ao atender as vítimas da dependência química: crianças, adolescentes, jovens e suas famílias. Em São Paulo, já temos registro de criança de 11 anos usuária de maconha. NO GRUPO AMOR EXIGENTE que coordeno em São Paulo, atendemos, sem nenhuma ajuda do governo, 1.000 (MIL) FAMÍLIAS!, ministro, que não encontram nenhum recurso na rede pública de saúde para tratar os filhos dependentes de drogas. TODOS começaram com bebida e maconha na adolescência!

Sofrimento que vivi na minha própria família, porque tenho filha e filho usuários de drogas, hoje em recuperação. E sabe como eles conheceram cocaína? Depois de ter experimentado maconha, ministro, com os seus colegas de turma. A grande maioria dos drogados internados em clinicas particulares e em comunidades terapêuticas começou experimentando maconha, na adolescência, ministro. Essa é a droga que os senhores, ao permitirem a marcha, favoreceram involuntariamente, mas incentivando todos aqueles que pregam a sua liberação no país. Inúmeras clínicas (Greenwood, Conviver, Comunidade Terapêutica Caminho de Luz, Reviva, Intervir) já registram internação de adolescentes com surtos psicóticos desencadeados pela maconha, droga geneticamente modificada para viciar mais rápido. O principio ativo da maconha, o THC, está potencializado, colocando em risco o cérebro de nossos adolescentes que, após experimentarem maconha, estão deixando de estudar, conforme vem relatando professores do ensino fundamental e médio em São Paulo. É O FUTURO DO PAÍS , ministro. O que vai ser desta geração? Sabem o que eles dizem aos pais e aos professores? O Supremo liberou. Por que você proíbe?

E a conta é muito cara , ministro. Além de perder a capacidade de pensar, estes adolescentes passam a cometer delitos para sustentarem o vício. Têm surtos. Agridem pais. Deixam suas casas. Param suas vidas. Temos inúmeros exemplos angustiantes destes casos de maconha no AMOR EXIGENTE. E nas clínicas, inúmeros depoimentos contam que da maconha , foram para a cocaína e crack. Nas cracolândias do país, estão jovens de todas as classes sociais que um dia experimentaram maconha , depois cocaína e agora são reféns do crack.

Com o devido respeito, saia às ruas, ministro. Veja a reação da população. É voz corrente, entre os adolescentes e jovens, que o Supremo liberou a maconha. Há uma verdadeira euforia no meio da garotada! Já entre os mais velhos, o sentimento é de espanto e preocupação. As pessoas custam a crer na decisão dessa Corte e nos seus efeitos. Será que, a pretexto da liberdade de expressão, poderá haver marcha pela liberação da pedofilia, do racismo, do contrabando, da pirataria e de outros crimes?

A Marcha da Maconha , ministro, não é um ato de liberdade. É um incentivo ao experimento de substância que coloca em risco a saúde mental e física dos adolescentes e jovens no país. Se o senhor é pai, como se sentiria se seu filho fosse dependente de droga? Como nós, famílias brasileiras, o senhor também quer filhos saudáveis e com sucesso. Mas com droga, só haverá sofrimento e perdas.

Liberdade , palavra que todos os senhores usaram muito no julgamento, só é possível quando se tem saúde . Liberar a marcha da maconha é aumentar o número de doentes graves no país. Liberar a marcha da maconha é colocar em risco famílias e seus filhos. É colocar em risco a sua própria família, ministro. É colocar em risco o futuro do país.

Obrigado pela sua valiosa atenção.
Miguel Tortorelli e Regina Tortorelli


Mudanças cruciais na política holandesa sobre cannabis

Governo holandês reconhece problemas de saúde e socias associados ao uso de maconha e haxixe
Brasília, 01 de março de 2005

Em relatório anual lançado hoje, a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE) dá as boas vindas às mudanças que estão sendo implementadas pelo governo da Holanda em relação à sua política para o cannabis (maconha e haxixe). Num documento interministerial sobre essa droga, o governo reconheceu que ela “é prejudicial” tanto para usuários como para a comunidade.
O documento enfatiza a importância do fortalecimento de “medidas contra o tráfico nas ruas, o ‘narcoturismo’,o cultivo de cannabis e a redução do numero de coffee-shops” (estabelecimentos comerciais que vendem quantidad es limitadas da droga para consumo pessoal).
O governo holandês informou a Junta sobre as mudanças cruciais e significativas em sua política em agosto de 2004, o que deixa o país mais próximo dos tratados internacionais de controle de drogas referentes ao cannabis.O documento reconhece que os coffee-shops têm parcela de culpa na manutenção do comércio de drogas ilegais e não contribuem para a redução de crimes relacionados às drogas.
Ele também avalia que os coffee-shops podem desacreditar a política de drogas na Holanda.
O fato de o governo holandês reconhecer os problemas sociais e de saúde associados ao uso, cultivo e tráfico de cannabis terá um impacto profundo em toda a Europa. A Junta solicita ao governo holandês que tome novas ações para reduzir o número de coffee-shops,que são estabelecimentos contrários aos tratados internacionais de controle de drogas.O governo holandês também informou que implementará um plano de ação para desestimular o uso de cannabis.
O plano inclui campanhas antidrogas específicas para grupos de alto risco. Durante um período de três anos, o governo realizará campanhas visando especificamente os jovens entre 12 e 18 anos. Também está sendo planejado um reforço no tratamento de usuários de cannabis, assim como a redução do cultivo ilegal da droga com alta concentração de tetrahidrocanabinol (THC – o princípio ativo do cannabis) por meio da aplicação da lei. As novas diretrizes do governo holandês fornecem uma base de ação agir mais rápida contra o cultivo de cannabis e poderão aumentar a pena para o crime de cultivos ilegais em grande escala para até cinco anos.




E a diamba, hein, quem diria!

Por FERREIRA GULLAR, na FOLHA DE SÃO PAULO, em 03/07/11

Senti um arrepio quando soube que o Supremo Tribunal Federal aprovou a Marcha da Maconha. O Supremo! É que, nesta cabeça maranhense, maconha se liga a meus antigos companheiros da praia do Caju e não aos garotões de Ipanema. Senti-me, de certo modo, homenageado, não por mim _que não me dei bem com a com a diamba (nome dela no Maranhão) ao experimentá-la_, mas por Maninho e Pereba, fumantes inveterados.

Num primeiro momento, pareceu-me que o Supremo aprovara o uso da maconha, mas, lendo com atenção, vi que os ministros só aprovaram a marcha em favor dela, não fumá-la, já que isso é crime. Ah, bom, disse a mim mesmo, pois estava achando estranho um tribunal supremo sair em defesa de uma droga que deixa o cara doidão.

Já eu, ligadão no vício da indagação, não pude deixar de me perguntar: mas a marcha não é para fazer valer o direito do cidadão puxar o seu fumo dentro da lei? Quer dizer que o Supremo é a favor da marcha, mas contra seu objetivo.

O relator da matéria, ao propor a aprovação da tal manifestação, esclareceu que não permitia aos manifestantes fazerem a apologia da maconha. E aí fiquei sem entender direito porque, se a marcha visa a legalizar o seu uso, realizá-la é proclamar a público que a maconha é uma coisa boa, inofensiva e, mais que isso, um barato.

Veja bem, não estou contra nem a favor, estou apenas procurando entender a lógica do Supremo. E por isso me pergunto: iria alguém para a rua para defender algo que considerasse pernicioso? Claro que não. Logo a marcha é, implicitamente, uma apologia da maconha, ou não haveria por que fazê-la.

Houve mesmo um ministro que, empolgado, defendeu o direito de todo cidadão manifestar-se a favor das drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, o que torna possível, democraticamente, a realização amanhã de marchas da cocaína e do crack. Espero que o leitor não conclua daí que sou contra essas marchas. Como o Supremo, me oponho apenas à apologia. A única marcha a que me opus, faz muitos anos, foi aquela de 1964, a da família com Deus pela liberdade. E me dei mal.

Voltando à praia do Caju e ao Beco do Precipício dos anos 1940, quando maconha era coisa de marginal, lamento que Maninho e Pereba não tenham vivido o suficiente para assistirem à prestigiosa ascensão da erva, hoje objeto da atenção de ministros e ex-presidentes da República e até de um Prêmio Nobel de Literatura. Se aqui ainda estivessem, certamente se sentiriam antecipadores de uma revolução dos costumes. Mas, como passaram da maconha à cocaína, um terminou louco num hospício e o outro foi morto pelo tráfico.

Quanto a mim, que sobrevivi, não mereço as honras devidas aos precursores e mártires, pois, já naquela época, ´careta´ por vocação, tentei convencê-los de que o chope do Motobar também dava barato e era menos perigoso. É verdade que não fiquei no chope, pois logo descobriria o barato da poesia, a que me entrego até hoje.

Troquei São Luís pelo Rio, o Motobar pelo Vermelhinho e pude, muitos anos depois, assistir à internacionalização da maconha, arrastando consigo, já não os Maninhos e os Perebas, mas jovens da classe média do mundo inteiro.

De novo, os vi passarem da maconha à cocaína e endoidarem. Está certo ou errado? Foi escolha deles e cada um, como se sabe, tem o direito de dar à vida o rumo que quiser, no que, tenho certeza, os ministros do Supremo concordarão comigo.

Só espero que os traficantes não se valham disso para cobrir a cidade com grandes outdoors, afirmando que ´cheirar é um direito de todo cidadão´. Ou seja, se você acha que cheirar faz mal, não cheire, mas não queira impedir o outro de fazê-lo. Cada um é dono de seu nariz.

Como tenho a mania de meter o nariz onde não devo, ponho em questão também essa tese. Sem dúvida, cada um faz o que quer com seu nariz, desde que, com isso, não crie problemas para o nariz alheio.

Pois a verdade é que, se o garoto adere às drogas e não tem grana para comprá-las, mete a mão na bolsa da mamãe. Drogado, pode sair doidão com o carro do papai e atropelar alguém. Por essas e outras é que não participo da Marcha da Maconha, mas, se promoverem marchas pela melhora do atendimento psiquiátrico, contem comigo.



"Indignados" lá, "recreativos" cá,

ou As decisões do STF e outras drogas.

Ferreira Gullar, como sempre, tem razão. O Supremo Tribunal Federal decidiu sobre a marcha da maconha, entendendo que é liberdade de expressão, ou seja, um direito democrático básico. É o mesmo STF que adiou para a próxima eleição o veto aos políticos corruptos previstos na Lei da Ficha Limpa.

Há duas ou três confusões que o Ferreira Gullar esclarece:

Liberdade é quando o direito de um não representa riscos para a sociedade, ou seja para o outro; ou todos, ou a maioria dos outros.

As drogas -lícitas ou ilegais- representam perigos descritos em detalhes nos manuais de medicina, específicamente na psiquiátrica.

A esquizofrenia e os crimes derivados de surtos esquizoides ou psicóticos enchem as páginas "vermelhas" da imprensa marrom e dos especiais da Globo. Doenças leves e de não tão fácil percepção, como o transtorno bipolar de humor, os desvios de conduta e comportamentos antisociais, todos tratáveis se descobertos a tempo, são disparados e encobertos por anos pelo uso de drogas "leves" como a maconha. Dez por cento dos usuários do cannabis desenvolvem surtos eventuais, muitos ficam entre o "border-line" e a esquizofrenia. É estatístico, é ciência.

O cannabis, como é bem sabido e conhecido pela ciência - amolece a memória, enfraquece a vontade de estudo, trabalho, vida social, etc. Quem convive ou vê de perto a existência "arrastada" de um usuário de maconha sabe que não há um pingo de exagero nestas afirmações. Qual o limíte entre o "uso recreativo", o abuso e a dependência? é o mesmo que há entre as balas da roleta russa...pode ser ou não ser, é só tentar, pagar para ver. Só que droga é que nem campo santo, você entra, mas dificilmete sai.

Marcha a favor do uso da maconha implica sim, mexer num ponto em que a liberdade individual de expressão de um grupo -os que acham quee podem, e talvez possam, usar a droga sem afundar no vício, uma minoria- que maconha é escolha individual e pronto.

Por que há confusão no tema? Porque parece que quem se opõe à liberação do uso da maconha é a favor da criminalização do usuário, ou seja, do doente. Não: descriminalizar o usuário e tratá-lo de verdade como um doente que precisa de cuidados especiais para largar um vício que atrasa a vida em diversos graus (igual ao alcool, o jogo ou qualquer outra compulsão hoje "legal") não é igual a liberar a venda, consumo e publicidade do produto maconha. Produto que os "experts" en "business" da CBN e de Wall Street há muito vem olhando e analizando com guloso olho gordo: quantos milhões em taxas e impostos não daria a venda legal da maconha, hem? quase um paraíso semelhante ao da Bhrama e Antártica, Devassa, 55, e outras campeãs de vendas do capitalismo selvagem nativo e suas milhares de mortes em acidentes de trânsito, violência entre e contra jovens..Ô beleza tropical!!

A discriminalização já existe: é só ir na Estação da Luz de São Paulo, conhecida como a Cracolândia, e ver que centenas de mortos-vivos, miseráveis farrapos humanos, se drogam à vontade a metros de soldados da PM que nem os olham, muito menos incomodam ou reprimem ninguém. Nunca há detenções, nem violências maiores que as comuns contra pobres e miseráveis neste rico e triste trópico. Nas grandes capitais, ao menos, os julgados por furtos e pequenos roubos, se pegos com droga e sendo primários, recebem a alternativa do tratamento e a participação em grupos de ajuda comunitária. E isto é um progresso real. Mais de 620 grupos de familiares e dependentes químicos em São Paulo, só em SP, abrigam cada um,uma média de 30 a 50 famílias, com o devastadar problema em casa, e ainda assim, ajudam a trocar penas em cárcere por tratamentos de reabilitação voluntária. Centenas de clínicas e comunidades terapéuticas, com um custo médio de R$ 800,00 ao mês, se espalham só em São Paulo e o estado.

Do ponto de vista médico, sabemos que a cannabis é a responsável direta pela iniciação precoce -entre 12 e 14 anos de idade- da maioria dos dependentes químicos, uma porção dos quais poderão terminar nas cracolândias no pior dos casos, ou passar por anos de tratamentos, internações, riscos de prisão por delitos comuns: assaltos, roubos, etc, uma vez que deixam de ser réus primários e perdem o direito a troca de pena por acompanhamento médico.

Do ponto de vista legal, a decisão do STF deixa a dúvida: se a lei da Ficha Limpa não afetou, do ponto de vista deles, à sociedade, se os corruptos, ladrões e corruptores não são uma urgência social, por que a dor, o endividamento e as doenças consequentes de milhares de famílias de dependentes químicos seria um problema social? Ou seja: poderia ser proibida uma marcha a favor do nazismo, por exemplo, porque incita à violência, mas as drogas -que levam à doença e à delinquência, à desintegração familiar, penúrias econômicas de 10 a 15 pessoas para cada alcoólatra ou usuário de droga- aparecem como uma mera "escolha pessoal".

Escolha pessoal? Eu escolho livremente entre ser bêbado e destruir a vida da minha família, ou ser um empresário de sucesso? Escolho ter atraso cognitivo pelo uso constante do cannabis, ou prefiro ser um cientista de renome? Ó dúvida cruel!

Alguém acha que a criança - de classe média e não só da favela - que vai comprar do amiguinho ou do traficante os primeiros "baseados" está escolhendo livremente? Ou, se liberado o uso e o consumo, haverá nessa liberdade tão individual um órgão que controle - igual que se controla ao álcool e o fumo!!!??? . Alguém garantirá que só possa se comprar maconha depois dos 18 anos? e as propaganda e incentivos descarados ao uso de alcool e fumo em tooodas as padarias do país? com a maconha seria diferente? Claro, qual o problema de agregar mais uma mancha ao tigre!

Temas confusos então: o dependente precisa de tratamento médico e psicológico, não de cadeia. Perfeito: vamos discriminalizar o pequeno usuário, sim, mas com todo o cuidado de evitar que médios e até grandes traficantes possam se travestir de usuários para seguir no negócio.

Vamos legalizar a venda e uso? e por que não o uso e venda de armas -que muitos justificam como fundamental para a defesa pessoal, claro- também como uma "opção pessoal"? Não é isso o que promovem os fascistas do "Tea Party" da ultradireita dos EUA?

E por fim, por que tanto empenho de políticos e intelectuais em defender nessa escalada e ordem: primeiro a liberdade de torcer pela maconha, depois o uso e a venda livre?

Por que não se ocupar primeiro de exigir políticas públicas de saúde mental e de educação preventiva aos riscos das drogas -todas: álcool, cigarro e maconha-? Por que ninguém chia contra o avanço das leis anti-nicotina, que cerceam os direitos dos fumantes? O cannabis tem vinte vezes mais substâncias tóxicas que a nicotina; e a mais pura maconha de antigamente -sem crack nem mármore em pó- é comprovadamente mais nociva do que a "batizada" que tanto aflige os "recreacionistas" da classe média.

Será que os intelectuais querem apenas se afastar dos conservadores recalcitrantes y no ser confundidos com as bancadas evangélicas ou com os fundamentalistas cristãos? Mas por que quando se trata de outras campanhas -liberação do uso de armas, penalização aos menores de 16 anos, direito ao desmatamento em favor do sacrosanto direito individual ao lucro desmedido- por que não há preconceitos de unir direita, centro e esquerda se for necessário?

Vejamos: isto não é ideológico, nem muito menos moral, é apenas lógico; liberdade é manter em primeiro lugar a cabeça limpa para escolher, -sem o domínio de ninguém, de nenhuma seita, nem menos ainda de nenhuma substância química-, o que eu quero, devo ou posso fazer. Os antigos anarquistas eram inimigos da exploração capitalista, defendiam o operário e o trabalhador, mas impunham regras elementares para o progresso dos pobres, para que os despossuidos pudessem aceder a cultura e à educação e discutir em melhores condições seus direitos: nada de álcool, drogas, jogos, nem excessos à liberdade individual.

Ou seja: amor livre? Siiiim!! Obaaa!!...Direitos iguais para homens e mulheres? Siiiiim. Obaaaa!!...Direitos aos homosexuais? Siiiiiim, claro, obaaa!...Direito a entorpecer a mente, atrasar a própria vida e a da família???...eeeeeeepa!!! isto não é liberdade, meus amigos, isto é dependência, é escravidão...o oposto à liberdade, à livre escolha.

Vamos pensar melhor com a cabeça limpa? Você iria procurar emprego para sustentar a sua família depois de tomar um porre? Planejaria a vida a dois com o seu amor, chapadão de cannabis?. Os digníssimos do STF acham o direito ao entorpecimento anterior e superior ao direito da sociedade a punir os corruptos pela Ficha Limpa?

Muuuuito estranho, não?

Javier Villanueva Indignado, mas sem nenhuma "recreação" além da liberdade de fantasiar um mundo melhor, e dos delírios literários de uma cabeça limpa, sem patrão, independente mesmo. Sem Utopia não há futuro.