terça-feira, 28 de maio de 2013

Os Civita, a imprensa e o poder.



Resultado de imagem para 24 de marzo de 1976

A “Editorial Abril” de lá 
e a “Editora Abril” de cá.
Os Civita, o poder e os governos.

Primeiro a Thatcher, logo o Videla, na sequencia o Mesquita e o Cívita. Os ditadores e seus escrivas, todos juntos na festa do Supay. O Bolsonaro que se cuide, que a fila dos reacionários está andando rápido”.

Foi o que comentei ontem, no mural de uma amiga, assim que soube da morte de Roberto Civita da Editora Abril, chefe da ferramenta mais poderosa de opinião da classe média brasileira, a revista Veja. Claro que não acredito no Supay –o Sete peles- mas acredito nos fortes laços do poder político, econômico e militar com a imprensa e os meios de comunicação.

“(...) O fato de discordar de alguém não deveria justificar a agressão, a grosseria, a ofensa gratuita e nos momentos mais inadequados. Minha avó dizia que "a maior mesquinhez é não esperar o defunto esfriar para começar a cuspir sobre seu rosto." (...) Como há gente despreparada para a democracia e a vida civilizada”- Foi a resposta imediata de um conhecido e respeitado jornalista de São Paulo.

Tratei de lembrar, para evitar ser tratado de “desrespeitoso” que foi a Veja de Civita quem instaurou a crítica foribunda ao morto de cadáver quente: foi assim no obituário de Hobsbawm, Mercedes Sosa, Chávez, Niemeier, e vários outros.
A edição da Veja de 14 de outubro de 2009, na seção datas, sobre a morte da cantora disse: Morreu: Mercedes Sosa, a cantora do bumbo argentina. Dia 4, aos 74 anos, de doenças associadas ao subdesenvolvimento latino-americano, como o mal de chagas, em Buenos Aires”.

Em dezembro do ano passado, enquanto a mídia internacional exaltava o arquiteto Oscar Niemeyer, um dos principais colunistas da revista Veja, Reinaldo Azevedo, preferia dizer:Morre Oscar Niemeyer, metade gênio e metade idiota”E até Eric Hobsbawn, o maior historiador do século XX foi chamado de “idiota moral” pela mesma Veja. “O entusiasmo com a revolução bolchevique, aliás, não foi a única fonte de tropeços morais para Hobsbawm. A conflituosa relação com as raízes judaicas –seu sobrenome deriva de Hobsbaum, modificado por um erro de grafia– o levou a apoiar o nacionalismo palestino e, ao mesmo tempo, a negar igual tratamento a Israel” disse a Veja em 4 de outubro de 2012.

De imediato, no dia 5 de outubro, a Associação Nacional de História –a ANPUH- publicou nota em sua página no Facebook, repudiando a crítica da Veja ao historiador inglês, porque o tratamento dado a Hobsbawn foi desrespeitoso, irresponsável e ideológico: “Talvez Veja, tão empobrecida em sua análise, imagine o mundo separado em coerências absolutas: o bem e o mal. E se assim for, poderá ser ela, Veja, lembrada como de fato é: medíocre, pequena e mal intencionada”, afirmou a entidade.

Pessoalmente poderia -eu, Javier Villanueva- ilustre desconhecido da mídia, escrever laudas intermináveis sobre os mortos famosos deste último mês: Tatcher, Videla, Mesquita e Civita. Mas é justamente o ódio político que a Veja vem insuflando o que me leva a ser curto e grosso: não fico feliz com a morte de ninguém, mas há algumas que não me deixam triste. E no caso da Veja (e de Civita) cabe o velho ditado espanhol: "el que a hierro mata, a hierro muere".

O jornalista que se sintiu ofendido pelo meu post é uma boa pessoa, e um profissional honesto. Da minha parte, não sou jornalista nem político profissional, mas exerço o direito à expressão mais democrática que oferece a internet, e quero permanecer honesto em relação às minhas ideas e à minha prática. Por isso mesmo, conheço também o respeito que sempre despertaram, em todas as áreas, profissionais que pudendo ser conservadores ou ultraliberais, tinham a coragem de se expor aos riscos das ditaduras; na Argentina isto aconteceu nos anos 30 e 40, entre o presidente golpista Uriburu e os golpistas anteriores ao peronismo: um homem como o dono do Diario Crítica, Natalio Botana, que podia apoiar o golpe contra a primeira democracia popular (a de Yrigoyen) e logo ser perseguido pelos militares porque apoiaba e protegia esquerdistas como Neruda e Federico G. Lorca. Algo deve ter acontecido de lá pra cá no mundo do jornalismo porque esses nobres proprietários deixaram de existir.
Quando falamos de ideias não nos referimos necessariamente a ideias “extremas”, como advoga a Veja semanalmente. Pessoalmente não lembro de ter defendido as chamadas aberrações históricas: Stalin, por exemplo, nunca foi santo da minha devoção; nos anos de luta revolucionária, e ainda um par de gerações anteriores à minha já se denunciavam sem rodeios os erros fatais e os crimes de Stálin, na URSS, na guerra civil espanhola, ou no Leste Europeu.
Não é historicamente –nem em política- justo que, cada vez que se cheira a presença de um esquerdista, de imediato se levantem os crimes do estalinismo, pois não só os povos de lá os sofreram, mas também muitos revolucionários padeceram na América Latina os desatinos dos soviéticos.
O que aqui se discute é que a Veja, independentemente da honesta apreciação de muitos joenalistas ao empreendedorismo dos Civita, faz culto ao ódio social e político. Entanto que o Facebook, sobretudo, é o jornalismo rápido e panfletário dos que temos ideias políticas e não temos o controle nem sequer o acesso aos meios de difusão tradicionais. Críticas como as que foram feitas às capas de rancor social explícito da Veja: mostrando mulheres pardas como o “perigo” que a atual conformação do eleitorado oferece, ou os riscos de um jovem e engravatado executivo de classe média terminar na pia, lavando pratos, por causa das novas regras trabalhistas para as domésticas, etc, são mostras claras da opção classista e política panfletária que a Veja despeja semanalmente para consumo da classe média mais reacionária.

E o que é ser reacionário? É ver comunismo (até soviets!) no PT, no MST, no chavismo, no kitchnerismo da Argentina, etc, quando mesmo na gravidade dos erros que esses movimentos cometem a diário, nada justifica confundir esses movimentos –insisto, não partidos tradicionais, mas movimentos políticos e sociais- com as tradicionais formações revolucionárias bolcheviques, espartaquistas, ou trostskistas. Falar da “falta de liberdade de imprensa”, “ataques às liberdades individuais e da propriedade privada”, etc. é o passo seguinte para justificar o bordão de “perigo vermelho” que a Veja quer ver nos governos populares e democráticamente eleitos na América Latina de hoje, mesmo com seus nítidos erros e defeitos.

As edições rancorosas contra Hobsbawm, Mercedes Sosa, Chávez ou Niemeier, em nada aportaram à discussão política e ideológica aberta e honesta. Foram apenas isso, páginas do mais puro preconceito e só faltou o "já vai tarde". É evidente que essa linha editorial não é iniciativa de algum editor solto; é a linha dos Civitta que, no Brasil ou na Argentina, sempre estiveram mais ou menos perto dos poderes políticos, ainda nas épocas em que era necessário ser duros com a falta de liberdades. Repito: nunca ninguém me ouvirá repetir o “viva a morte” dos fascistas espanóis; não me alegra a desaparição de ninguém, mesmo porque as ideias do Videla, a Th34atcher ou os donos de máquinas propagandisticas do porte do Estadão e a Abril, seguem muito vivas e atuantes.

Um pouco de memória:
Conheço bem a história de uma editora argentina, a “Editorial Abril” criada em 1941 por Cesare Civita, inmigrante judeu que deixou a Itália depois da aprovação das leis raciais de Mussolini. A Abril publicava quadrinhos como “El Pato Donald”, fotonovelas como “Idilio”, revistas femininas, como a “Claudia”, e semanários de atualidade política como o “Panorama”.
“Editorial Abril” era una empresa familiar que soube usar muito bem a vasta rede de relações do Cesare Civita na Argentina, Itália e nos Estados Unidos. A história da editora na Argentina termina com um novo exílio de Cesare Civita em 1976.
Como diria Walt Disney: “tudo começou com um camundongo”, também para contar a história da “Editorial Abril” -fundada em Buenos Aires en 1941 e continuada no Brasil- podemos lembrar do Mickey, levado à Itália de Mussolini onde Cesare Civita começa a trabalhar na editora de Arnoldo Mondadori, em 1936, editando revistas de quadrinhos com as personagens de Disney.
Em Buenos Aires, assim como no Rio de Janeiro, na primeira etapa de sua viagem à América do Sul, Cesare Civita contata judeus italianos que, como ele, haviam fugido do racismo fascista e da guerra. Também conhece italianos que emigraram por razões econômicas ou políticas em anos anteriores e muitos judeus, tantos os que pertenciam à comunidade Ashkenazi –chamados na Argentina de  “russos”- como com os de origem sefardí.
É esse forte tecido social, econômico e afetivo o que permite a Cessare mudar-se de modo permanente para Buenos Aires em maio de 1941 e, logo depois, em 21 de novembro 1941, fundar com os dois sócios, Alberto Levi e Paolo Terni primeiro, e em 1944, Leone Amati e Manuel Diena –todos eles judeus de origem italiana- uma pequena publicação para crianças. O nome dela é “Editorial Abril” e o logotipo é uma árvore, símbolo não só dos jovens, mas também de um novo inicio. O primeiro produto da Abril na Argentina são livros para crianças; uma coleção chamada "Pequeños Grandes Libros", que alcança um enorme sucesso: um milhão de livrinhos por ano.

Desde os inícios da “Editorial Abril”, Civita abraçou uma atividade política antifascista que o colocou em contato com outros intelectuais que logo fizeram parte da editora. Após o golpe de 1943 e nos anos do governo peronista -1945 a 1955- este grupo de amigos e colaboradores montou uma rede informal de oposição, que atuava em reuniões de círculos privados nas casas de Mario Segre, Leone Amati e Cesare Civita para discutir política e cultura. As reuniões eram ilegais, e muitos dos participantes compartilhavam uma ideologia considerada por muitos como radical e antiimperialista.
A Abril argentina foi caracterizada, portanto, a partir das suas origens em Buenos Aires como uma empresa particular no cenário editorial na Argentina. O que a assemelhava um pouco ao Diario Crítica de Botana dos anos 30. Era um lugar onde se concentraba o trabalho de alguns intelectuais socialistas e comunistas, que eram marginalizados por suas ideias políticas antifascistas e antiperonistas; e enquanto isso, a empresa crescia como um negócio de sucesso no campo da cultura popular de massas. Ambas as vocações -a da militância e o empreendedorismo capitalista que claro, podem ter uma forte ligação entre si- serão provadas num longo período de tempo que vai da débil democracia do pós-guerra da Argentina, passando pelos golpes antipopulares de 1955 contra Perón e as farsas eleitorais proscriptivas posteriores, até às críticas e ataques após o retorno de Perón e o golpe de 1976.
Nesse momento, vendo a repressão contra outros meios judeus e liberais –como “La Opinión”, periódico argentino de Jacobo Timerman, também fundador da revista “Primera Plana”- Civita decidiu que era urgente e necessário vender a empresa e partir para um segundo exílio. Desta vez no Brasil.

Já desde 1945 a “Editorial Abril” estava explorando a possibilidade de abrir uma gráfica em São Paulo. Especialmente Civita era quem, entre os parceiros na Argentina, punha a mira no desenvolvimento no país vizinho, temendo o peronismo que poderia –a seu entender- tornar-se um regime autoritário. Também o mercado brasileiro lhe parecia particularmente promissor. Como Civita escreve a Arnoldo Mondadori em novembro de 1949 propondo-lhe uma colaboração, “no Brasil escasseiam as boas publicações e as editoras de qualidade”.
O compromisso da editora italiana deveria ser dado em duas etapas: em um primeiro momento começaria a publicação e, numa segunda etapa industrial, seriam enviadas máquinas tipográficas importadas da Itália. A atividade editorial deveria começar pelos quadrinhos argentinos e os licenciados da Disney.
Para gerenciar a empresa, Cesare Civita tinha pensado no seu irmão Vittorio que tinha permanecido nos Estados Unidos, trabalhando no mundo editorial. Existia já na “Editorial Abril” uma intensa colaboração com Mondadori na área do desenho animado e dos quadrinhos, com trocas de produtos; e a a editora italiana parecia interessada no projeto Brasil, mas finalmente Arnoldo Mondadori optou por não participar do projeto que, de qualquer maneira foi lançado com dois quadrinhos, O Raio Vermelho e o Pato Donald, que apareceram na primavera-verão de 1950. Em 1952, também apareceu a versão brasileira do “Nocturno” argentino com o nome de Capricho.

Vittorio Civita em vão tentou obter para a Editora Abril Limitada o apoio financeiro de Nelson A. Rockefeller ou Economic Basic Economy Corporation (EBEC). Então, entrarão na sociedade Giordano Rossi um empresário mineiro, filho de italianos, e o grupo Vasconcelos Smith.
Mas antes da mudança para o Brasil em 1976, lembremos que após a queda de Perón pelo golpe militar de 1955, a “Editorial Abril” tinha dado mais um passo, lançando a revista feminina “Claudia” em 1957, que seguia o modelo americano do Ladies 'Home Journal.
Mas também, desde o início dos anos cinquenta, Cesare Civita queria publicar -ao estilo da revista italiana da Mondadori, a “Epoca”, mas julgava que ainda não tinha alcançado o momento.
O semanário “Panorama” nasceu em 1962, através de um acordo com o Grupo Time-Life e outra vez com Mondadori.
Pessoalmente obtive grande parte da minha formação política de atualidade pela revista, muitas das quais ainda guardo em coleção no Brasil.

Os anos sessenta são os mais dinâmicos para a empresa, não apenas pelos produtos inovadores como a Claudia e Panorama, e a conseqüente maior internacionalização por meio de licenças de editores dos EUA e europeus, mas também é o início de um processo de integração vertical criando uma gráfica em 1963.
Se no momento da importação de máquinas de tipografia para a Abril brasileira, Civita recorreu à indústria dos EUA, quando instalou uma nova fábrica moderna perto de Buenos Aires, enviou o seu filho Carlo para a Europa e usou máquinas e técnicos da Itália e a Suíça.
A “La Fabril Financiera”, que até então impresso as revistas da Abril, pouco depois entra como sócio da editora. “La Fabril Financiera” era, de fato, um grupo muito poderoso, com estreitas relações com o poder político e militar. Se bem Civita achava a colaboração pouco benéfica com o grupo no nível técnico, por outro lado, a considerava muito importante na política porque seria muito útil “per coprirci le spalle da eventuali rappresaglie del governo”.
Literalmente: “Para manter as costas quentes em caso de eventuais represálias do governo”.
Devemos lembrar que o internacionalismo da sociedade não agradava ao nacionalismo militar argentino nem brasileiro, e tanto Cesare como Vittorio Civita devem renunciar à cidadania italiana e a “Abril” brasileira agora vem a ser uma “empresa tipicamente nacional” do Brasil antes da Comisião de inquérito criada em 1966 para investigar os meios; e ainda em 1970 Cesare Civita teve que resgatar suas participações estrangeiras no exterior.
A “Editorial Abril” consegue manter-se ao ritmo do desenvolvimento social e industrial, e dos assuntos políticos e culturais argetinos. O desenvolvimento da indústria automobilística argentina, por exemplo, corresponde ao lançamento da revista “Parabrisas” mensal em 1960; e o crescimento da moda nativa, impulsa a produção de “Claudia”.
A tímida abertura política dos anos do Presidente Illia -julho 1963 a junho de 1966-, finalmente, permite semanários como “Panorama” e “Siete Días Ilustrados” em 1964; ou uma publicação como “Adán”, a imitação light da norteamericana Playboy, de curta duração, porque já estamos à véspera do golpe conservador de Onganía.

“Claudia” e “Panorama” (“O diário do nosso tempo”) são termômetros da febre argentina de modernização nos anos 60. Imitam as revistas estrangeiras Marie Claire ou Time-Life -tal como antes foram imitados os quadrinhos e livros infantis- argentinizando as fotonovelas dos seus modelos originais. Neste período, aumenta o ímpeto para criar um produto que não seja só local, argentino, mas que possam atrair leitores de outros países latino-americanos. Não só, como no passado, as publicações da Abril argentina serão um modelo para as revistas publicadas em português para o Brasil, mas também para os mercados dos países vizinhos, como Uruguai, Chile, Colômbia, Peru, América Central. Abril cria uma joint-venture no México, o Mexabril, associada ao poderoso empresário mexicano da mídia, Romulo O'Farril.

Alrededor do tema da celulose –a matéria prima esencial para produzir jornais, revista e livros- se desatou um conflito de interesses entre importadores e consumidores que compõem o papel, agravado pelo fato de que nesses anos de 180 para 0s 70, se alternaram no poder sete presidentes diferentes e um número ainda maior de ministros e  funcionários do Ministério de Economia.
E a “Editorial Abril” desempenhou o seu lado no conflito. A ideia de criar uma papeleira surgiu com o ditador Onganía, e depois de 1969 resultaria no Fundo para o Desenvolvimento de Celulose e Papel de Produção pelo Decreto-Lei de agosto 1831219 de 1969).
O processo de criação da sociedade PROIMPA, com sócios minoritários -César Doretti e Luis Alberto Rey-, para estudar o processo técnico e de investigação das máquinas finlandesas para sua importação, culminou três anos mais tarde, quando o governo de Alejandro Lanusse deu autorização para operar o Papel Prensa, fábrica de papel. Mas em dezembro de 1973 Civita, após a eleição de Perón, teve que vender sua parte a Rey –que mais tarde cedeu a banqueiro Graiver- por causa da forte pressão política.

Após a morte, de Juan Perón, a sucessora, Isabelita Peron e seu ministro, chefe das bandas fascistas das Três A, Lopez Rega, tinham uma forte razão para serem hostis à Civita. Os intelectuais que, como sempre, encontravam asilo nas diferentes redações dos jornais e revistas, a partir de 1969 em diante, foram mais radicais e ficaram imersos na atmosfera de violência e nas expectativas da revolução que para muito se aproximava e era iminente no país, tanto na visão da esquerda -peronista e não-peronista- como no tradicional terror anticomunista dos militares.

Muitos funcionários da Abril eram simpáticos às “formações especiais” da guerrilha marxista e da Juventude Peronista. Para o peronismo da direita, chamado “Ortodoxo”, os jornalistas em geral representavam uma oposição muito mais hostil à tradicional que sempre existiu nas redações da editora.
Isabel Perón não apreciou sequer a boa vontade da revista “Claudia” ao escolher a presidenta em 1974 como a “Mulher do Ano”. Isabel, com certeza representava algo muito distante do proposto na revista como beleza feminina dos anos ‘60, exemplificado na juventude e o anticonformismo dea Geraldine Chaplin. A presidenta comentou o título de  honra de saída dizendo que,  “como Peron disse, o lobo vai disfarçado de cordeiro”
Quando começou a publicação na gráfica da “Editorial Abril” o semanaio “El Descamisado” dos Montoneros, a tensão chegou ao ápice.

Cesare também quebrou então o antigo clima paternalista, os benefícios e a sociabilidade promovida pelos Civita com suas reuniões no Terraço Abril, e os presentes de Natal dos Civita foram interpretados negativamente e rejeitados por muitos empregados. Os conflitos gremiais se agudizaram e Civita ficou encurralado entre o jornalismo “militante” e as ameaças da Três A. Recebeu um aviso em 1974, quando explodiu bomba do lado de fora do prédio, e seu nome apareceu na lista dos intelectuais ameaçados de morte pela organização de Lopez Rega. Vários jornalistas e trabalhadores da “Editorial Abril” argentina foram exilados e alguns foram mortos e desaparecidos.

Civita mudou-se para o Brasil e, em seguida, para o Uruguai, de onde com grande dificuldade tentou gerir a empresa a partir do exterior com o seu filho Carlo. Também tentou fortalecer a Abril com um aumento de capital, e outra vez, nesses momentos dramáticos ajudaram os antigos laços. Foi um dos sócios, Manuel Diena, que participou nesta tentativa de defender a empresa.
Após o golpe de 1976, como muitos empresários, Civita pensou que as coisas poderiam melhorar. Mas 1976 não foi uma repetição de 1966, os militares tinham decidido “cuidar de uma sociedade doente e impor a ela sua disciplina militar”.

A diferente evolução da editora Abril brasileira em relação ao seu modelo original da Argentina pode ser a contraparte do contexto económico e político. Brasil se reuniram em abril a partir dos anos sessenta processo de desenvolvimento rápido que faz ininterrupta hoje em um da publicação mais importante latinoamericana. Pode supor que
foi capaz de tirar proveito, mesmo diante das dificuldades ligadas às limitações da liberdade de imprensa, a vantagem de melhorar as relações com o poder política. O regime militar brasileiro foi, com certeza, para os empresários um interlocutor e um gerente mais estável e capaz da economia que o argentino.


Voltando à polêmica:

Veja o erro, o que a maioria dos intelectuais mais conservadores comete hoje: muitos somos contra a Veja porque deforma, à moda da antiga Readers' Digest, qualquer realidade que não se encaixe nos seus moldes ideológicos. Não significa esta postura crítica estar a favor de qualquer inimigo da Veja, como a política do chavismo, por exemplo. Podemos passar horas opinando contra muitas das políticas do Chávez e o Maduro. Mas quem opine contra o panfletarismo de Veja, enseguida será colocado de cara aos problemas de Cuba ou da Venezuela; é parte do preconceito da direita. É o que a Veja vem ensinando: aumentou o preço do tomate? a culpa é da Dilma; alguém ousou criticar os ressentimentos infantis do PSDB e do DEM? a culpa é do chavismo; a Coreia do Norte ameaça com retaliação nuclear? é parte da política do Dirceu.
A divulgação do velho conceito da “cortina de ferro” ideológica quem criou nos anos 50 foi a Readers' Digest, e quem segue nessa linha caduca e inútil hoje é a Veja. E se multiplica nos milhares de post de corte conservador e direitista de todos os matizes que pululam no Facebook.
Eu não creio estar desqualificando o Videla quando digo, resumidamente que foi um genocida; está provado pela história, isto é, por milhares de documentos e testemunhas.
Não peco por falta de objetividade se digo, em duas ou tres frases curtas que a Thatcher foi profundamente reacionária ao defender a selvageria capitalista, seja na forma militarista colonial nas malvinas ou no esmagamento das greves no Reino Unido.
Não desqualifico nem a Mesquita nem a Civita se afirmo, em três palavras, que eles serviram ao pensamento econômico, político e social da direita brasileira e latino-americana.
Posso, claro, proferir palestras e organizar seminários com o tema, mas me sinto no direito de ser curto e preciso porque ninguém que tenha estudado um pouco (e vivido, ainda melhor) as políticas brasileiras e latino-americanas dos últimos 40 anos poderá sequer supor que algum destes 4 personagens mencionados -e que levaram o jornalista honesto que mencionei no início a achar um absurdo o meu comentário- sejam representantes das aspirações populares mais democráticas.
Repito: assim como a Veja, joia da coroa da Abril, criou a moda dos obituários odiosos, adjetivando a torto e direito ante o cadáver quente do Hobsbawm, Mercedes Sosa, Chávez ou Niemeier, apenas pelo único motivo de ser, aos olhos do Civita, miseráveis comunistas (adjetivo que ninguém poderá nunca colar no Chávez, com certeza) é um direito adquirido por qualquer um de nós neste popular FB comentar a morte do Civita do modo que foi feito. Não acho que isso venha a ser uma contradição na minha biografia; sempre me levantei contra as injustiças e as mentiras organizadas e espero ter força e lucidez para continuar assim.

Como diria aquele presidente que nunca foi “vermelho”, e que, mesmo que votado democraticamente e por causa de dirigir um governo popular, foi deposto pela força das armas, o presidente João Goular: "O que ameaça a Democracia é a fome, é a miséria, é a doença dos que não tem recursos para enfrentá-la. Esses são os males que podem ameaçar a Democracia, mas nunca o povo na praça pública no uso dos seus direitos legítimos e democráticos”.

Javier Villanueva, São Paulo, maio de 2013.

Existe uma extensa biografia que aqui copio, mas remeto, sobretudo ao artigo “Dos exilios: Cesare Civita, um editor italiano en Buenos Aires, desde la guerra mundial hasta la dictadura militar” (1941-1976), de Eugenia Scarzanella.
Facultad de Ciencias Políticas, Universidad de Bolonia, Italia,
Revista de Indias, 2009, vol. LXIX, núm. 245. Págs. 65-94, ISSN: 0034-8341  doi:10.3989/revindias.2009.003

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sábado, 25 de maio de 2013

El asalto al “Santa Maria”. Un navío llamado “Liberdade”. 2ª parte.




Lea la 1ª parte en:
http://javiervillanuevaliteratura.blogspot.com.br/2013/05/el-asalto-al-trasatlantico-santa-maria.html


El asalto al transatlántico “Santa Maria” o un navío llamado “Liberdade”.

3.

El libro “24 homens e mais nada. A captura do Santa Maria”  fue escrito por el propio Sotomayor, entre 1963 y 1968, durante los años en que estuvo exiliado en Cuba,  y explica los detalles de la acción del asalto al transatlántico “Santa Maria” por 24 militantes del DRIL, el Directorio Revolucionario Ibérico de Liberación, un movimiento fundado por Sotomayor en Caracas, Venezuela, a comienzo de los años 60.  

El Comandante Sotomayor, gallego nacido en Pobra do Caramiñal en 1904, fue junto al celanovés Pepe Velo Mosquera y con el capitán portugués Henrique Galvão, uno de los ideólogos de la acción del asalto.
O sea que, dos gallegos y un portugués dirigieron el primer secuestro de un barco por razones políticas de la historia. Y, aunque se los acusó de piratería, nunca fueron juzgados como piratas ya que no existió botín, y lo que reivindicaban era un objetivo político y no económico.

La organización armada DRIL fue la primera que se alzó en el exilio, con el objetivo de iniciar el derrocamiento de las dictaduras de España y  de Portugal. Fue  en 1961 cuando el DRIL, con Sotomayor –o Soutomaior,  para los portugueses- a la cabeza, decidió realizar el primer secuestro de un buque, el “Santa Maria”, que unía América a Europa en una travesía entre La Guaira, con Vigo y Lisboa, previa escala en Canarias.
Esta decisión de una acción armada se tomaba después del apresamiento y la ejecución  de dos miembros de la organización por parte de la represión franquista. También participaron junto a sus padres, el hijo de Velo, Víctor  y el de Sotomayor, Federico. 

Gracias a “24 homens e mais nada”, dice el descubridor de la obra, “conocemos los orígenes de la organización, de la que no se sabía nada, y aprendemos más de la resistencia al franquismo”. Los motivos por los cuales los guerrillleros eligieron un buque, y específicamente el “Santa Maria,” de bandera portuguesa, también se explica en el libro: “Salazar es más generoso, en Portugal no existe pena de muerte. Salazar es un ferviente cristiano que practica el 5º mandamiento”, escribe Sotomayor em su obra.

Los actores de aquella hazaña casi quijotesca, dos docenas de hombres de la guerrilla ibérica, liquidaron todos sus bienes personales para poder pagar la acción, y al final de sus vidas, terminaron cada uno por su lado. El capitán Galvão murió en Marruecos y Velo, el único que nunca escribió su propia versión de los hechos, en el Brasil de la predictadura, que acogió a los militantes del DRIL después de una larga y nerviosa negociación internacional que, el 4 de febrero de 1961, le puso punto final al secuestro y a la crisis que se había generado entre Portugal, EEUU y el proprio Brasil.

El comandante Sotomayor, que en su villa natal del Barbanza había sido uno de los fundadores del PSOE - en 1933 adhirió al comunismo junto con miles de otros socialistas, y en 1939 huyó a Francia- vivió con una documentación falsa a nombre de Robert Rodríguez. Fue así que viajó, en representación de la Conferencia Tricontinental de los países del Tercer Mundo, a llevar el apoyo a los rebeldes del Vietcong y de Laos y a visitar la China de la Revolución Cultural. De vuelta a Venezuela, pasó allí sus últimos años.

-Y vale la pena repetir que, a pesar de ser el primer secuestro político de un medio de transporte en la historia moderna- insiste el Viejo Pedro Milesi, -por fin, los hombres que cambiaron el nombre del  “Santa Maria” por el de  “Santa Liberdade” nunca fueron a juicio por piratería, ya que no hubo botín y tanto la tripulación como los pasajeros fueron desembarcados.

-La Operación Dulcinea fue el nombre elegido por el político y militar portugués Henrique Galvão para el secuestro de lo que en Lisboa se llamaba paqueboteSanta Maria”, propiedad de la naviera portuguesa Companhia Colonial de Navegação- cuenta Pedro Milesi, - y era un acto político para llamar la atención de la opinión pública mundial contra las dictaduras de Oliveira Salazar en Portugal y de Franco en España. Junto con Galvão, dirigieron la acción los gallegos Xosé Velo y José Fernández Vázquez, que también usaba el nombre de guerra Jorge de Soutomaior, alias, Sotomayor.

-El plan fue pensado por Henrique Galvão, que era uno de los líderes del Directorio Revolucionario Ibérico de Liberación –el DRIL- formado por grupos de exiliados portugueses y españoles que luchaban contra las dictaduras de Salazar y Franco en sus respectivos países- repite Pedro. 
-Asilado en Caracas desde 1959, Galvão organizó la formación de un comando armado y planearon abordar como pasajeros el buque “Santa Maria”, una de las naves principales de la Companhia Colonial de Navegação.
-Al principio pensaban usar la embarcación para llegar hasta África e iniciar una sublevación antisalazarista de las tropas portuguesas en la colonia de Angola o en la de Cabo Verde- le agrega Juancito. -Otra alternativa era dirigirse hacia la colonia española de Guinea Ecuatorial para llamar desde allí a la insurrección antisalazarista y contra la dictadura de Franco.

La ruta del barco era Lisboa-Madeira-Tenerife-La Guaira-Curaçao-San Juan de Puerto Rico-Miami, de ida y de vuelta, por lo cual Galvão planeó que sus hombres abordaran el paquebote ya en la ruta de retorno a Lisboa, aprovechando las escalas en Curaçao y La Guaira.

-Los militantes elegidos por Galvão para la operación armada tenían grandes dificultades para financiar la acción- dice Juancito.
-Empezando por el alto costo de los pasajes y del armamento, sin ningún tipo de ayuda, una vez que el anticomunismo visceral de Galvão impedía la ayuda del Partido Comunista Portugués- le agrega Pedro Milesi. 
–Sí, y que era el único partido que podría intermediar para garantizar los fondos prometidos por la URSS, por lo cual Galvão y sus hombres recién pudieron reunir todo el dinero necesario a mediados de enero de 1961.

-La “Santa María” era una nave que había sido construida en 1953 en los astilleros de Hoboken, Bélgica, con unos 186 metros de eslora, y 20.900 toneladas de peso- comenta el negro Dardo, que se suma a la charla. – y tenía una capacidad para 1.088 pasajeros entre las primera, segunda, y tercera clases.
-En el viaje de Lisboa hacia Miami, en enero de 1961, llevaba 356 tripulantes y 612 pasajeros, entre portugueses, españoles, estadounidenses y holandeses- agrega el Viejo Pedro.


-Henrique Galvão y sus 24 hombres abordaron la nave en las escalas de La Guaira y Curaçao los días 20 y 21 de enero, esperando alejarse de la costa de Curaçao para recién entonces lanzar su ataque, en medio de la escala hacia San Juan de Puerto Rico. La toma del navío ocurrió en la madrugada del 22 de enero de 1961 cuando el grupo de hombres armados comandado por los gallegos irrumpió en el puente de mando- me había contado “seu Xunqueira” en São Paulo, treinta años atrás, dice Dardo.

-Mientras tanto, el grupo de los portugueses copaba la sala de máquinas, tomando por sorpresa a los marineros y oficiales. Para amedrentar a los tripulantes se dispararon ráfagas de fusil que mataron al tercer piloto, João Nascimento Costa, e hirieron a otros dos marinos que trataron de oponer resistencia o avisar al capitán de la nave, Mario Simões Maia- agrega.

-El grupo comando de Galvão, que tomó el control de todas las dependencias esenciales para la marcha del barco, incluyendo la sala de máquinas, le exigió al capitán Maia rendir el navío al DRIL. Sin armas para oponerse a los hombres de Galvão, Maia y sus oficiales se rindieron y pasaron el control de la Santa Maria a los guerrilleros- cuenta Juancito. 
-Pero Galvão todavía le ofreció a Maia y a sus tripulantes que eligieran entre convertirse en sus prisioneros de guerra, o unirse al DRIL y juntarse a los rebeldes para mantener en operación la nave. Los tripulantes se quedaron con la segunda opción.

-Sin embargo, y aunque pareciera un triunfo político, esto significaba que en la práctica los hombres del comando revolucionario mantendrían el control de la Santa Maria, pero a costa de depender de los tripulantes y del capitán Maia para gobernar el buque y seguir normalmente con la navegación- agrega el negro Dardo.

-Sí, pero después del tiroteo en el puente de comando, la opción de juntarse a los revolucionarios del DRIL no era una buena elección para los tripulantes, teniendo en cuenta las represalias a la vuelta a Portugal- comenta Pedro Milesi, -mientras que volverse prisioneros de guerra era darle legitimidad a Galvão y a sus hombres como combatientes en guerra contra las dictaduras ibéricas, una vez que las autoridades de Lisboa apenas los irían a considerar como “piratas”. -El éxito de la Operación Dulcinea exigía que se ocultase la travesía de la Santa Maria. Por eso mandó Galvão que se cortaran las comunicaciones  de radio del buque, de modo de no poner en alerta a otros barcos e impedir la identificación por parte de la marina norteamericana y la de Salazar- me contaba el negro Dardo muchos años después.

–Sin embargo, a Galvão y a sus hombres les faltaban los conocimientos náuticos y por fin tuvieron que pedirle consejos al capitán Simões Maia sobre cómo eludir las otras embarcaciones que podrían detectarlos con sus radares, a lo que Maia contesto con la explicación de que solo navegando en zigzag se podría lograr este fin- agrega Juancito.
-Y Galvão le aceptó el consejo, lo que significaba un movimiento todavía más lento de la nave, gastando más combustible. Recién al alba del 22 de enero Galvão y sus hombres informaron a los pasajeros que el buque había cambiado de comando, pidiéndoles calma y anunciándoles algunas restricciones en la alimentación, y la prohibición de acercarse al puente de mando o pasear por la cubierta- dice Pedro.

-Como uno de los tripulantes heridos en la toma, el marinero João de Souza, estaba en estado grave, era urgente llevarlo a un hospital- se acuerda “seu Xunqueira”, conversando sobre el tema en una librería de la Vila Mariana, en São Paulo.
-El capitán Maia y el médico Theodomiro Borges le pidieron a Galvão que trasladase a los dos tripulantes heridos al puerto de Castries en la isla de Santa Lucía, colonia británica en donde irían a recibir los cuidados médicos que les faltaban a bordo del buque.
-Pero el español Jorge de Sotomayor, primero se negó al pedido porque con ello se podría dejar al descubierto la posición de la nave- dice Juancito, - aunque más tarde Galvão aprobó lo que era un acto humanitario a costa del riesgo de que el plan fracasara en su conjunto y sin remedio.

-El 23 de enero el Santa Maria ancló a una cierta distancia del puerto de Castries, llevando a los dos heridos en una lancha, junto con otros marineros. Al desembarcar, los marinos portugueses contaron lo ocurrido y horas más tarde el barco secuestrado ya era seguido por el destructor británico Rothesay- le cuenta el Viejo Pedro a Dardo. -Desde Castries informaron a Lisboa sobre los acontecimientos; el gobierno de Oliveira Salazar y la Companhia Colonial de Navegação especulaban desde entonces que los guerrilleros formaban una fuerza militar de unos setenta hombres.

Continuará.
Javier Villanueva, São Paulo, 25 de mayo de 2013.



quinta-feira, 23 de maio de 2013




As drogas de alguns e a independência de outros.

O médico Ronaldo Laranjeira -que alguns críticos dos planos de combate ao crack e outras drogas consideram despectivamente como o “supremo comandante científico” da guerra à dependência química-  deu entrevista no Roda Viva da TV Cultura (veja vídeo abaixo). 

O Denis Russo Bugierman, da revista Superinteressante, foi um dos entrevistadores que fizeram afirmações e perguntas instigantes, mas sem aparente agressividade durante o programa. O artigo que ele publica no dia seguinte, porém, me obriga a dar minha opinião também, e oferecer a cara para a polêmica.

Fica claro na entrevista –ainda para quem não é médico, nem psicólogo especializado em dependência química, nem sofre em família o flagelo- que existem duas linhas claramente opostas em relação ao que fazer com as drogas e seus adictos.
Laranjeira foi acusado -mais duramente nos bastidores, segundo conta  o próprio Denis Russo, e mais suavemente frente às câmeras- de sonegar ou distorcer informações ou fatos.
Também houve quem falasse, após a entrevista, que o Laranjeira tinha sido “autoritário, prepotente, arrogante”.

Os fatos: quem assistiu ao programa que reproduzo mais embaixo, e quem conhece pessoalmente o Laranjeira, poderá dizer se este conjunto de adjetivos é justo, ou se trata-se apenas de balas perdidas de uma “interna” dos psiquiatras e psicólogos envolvidos no tema. Eu não vi arrogância, a não ser na entrevistadora Ilona Szabo, coordenadora do secretariado da Comissão Global de Políticas sobre Drogas, um órgão internacional presidido por FHC. 

Mais fatos da realidade, nua e crua: vejam no vídeo a senhora que se queixa, quase no fim do programa, de não ter sido ouvida; é a dona Mara, diretora da associação Amor Exigente, organização sem fins lucrativos, constituída por milhares de famílias de dependentes químicos no Brasil e em outros dois países da América Latina, e que é a melhor síntese dos fatos reais, crus e extremamante duros.
Não apenas o crack, mas, sobretudo o álcool, a cocaína e a maconha, destroem vidas jovens, arrasam casamentos e famílias inteiras, e muitas vezes levam o viciado à insanidade mental, a um entra e sai de instituições psiquiátricas, comunidades terapêuticas e prisão e/ou finalmente à morte.
Isto é um fato, visível em qualquer programa, sensacionalista ou não, da televisão que trate de notícias: 80% dos crimes, atropelamentos, agressões, assaltos e roubos, tem origem em álcool ou em drogas ilegais.

Ainda mais e mais fatos: as chamadas comorbidades são doenças, tanto mentais como corporais, anteriores ou posteriores ao uso continuado do álcool ou outras drogas, incluindo o tabaco. Transtornos como a bipolaridade, o borderline e a esquizofrenia, são todas doenças tratáveis com terapias baseadas em fármacos e com acompanhamento psicológico, mas que sempre se potencializam quando precedidas, acompanhadas ou se aparecem a posteriori do uso abusivo de drogas. Quadros psicóticos sérios, alguns deles terminados em suicídios ou violência contra terceiros -geralmente familiares- ou “apenas” depressões profundas, seguidas de euforia e descontrole, são quadros recorrentes.
O Dr. Laranjeira foi acusado no programa de ver tudo do “ponto de vista médico”. Nada mais certo e lógico já que o Laranjeiras é médico e as drogas são consideradas pela OMS -órgão que trata da saúde mundial- como uma doença.
Para quem conheça o cotidiano e as políticas dos grupos acima mencionados, Amor Exigente, e os mais antigos -Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos- sabe que o Laranjeira -uns dos tantos profissionais que realizam trabalhos confluentes com estes agrupamentos- propõe políticas amplas e abrangentes em favor do paciente dependente químico e suas famílias. O termo “guerra às drogas” nem se aproxima de uma metáfora maldosa, apenas frisada por quem parece não querer combater este flagelo.

Esclarecendo: “guerra às drogas” é a política dos EUA adotada por R. Reagan nos anos 80 em íntima fusão com a retirada de apoio às ditaduras militares de todo o continente que a potência norte-americana tinha dado nos anos 60 e 70. Objetivo: encerrar a Guerra Fria, derrotando a URSS e as guerrilhas latino-americanas que cobravam pedágio dos narcotraficantes colombianos. 
Essa “guerra” do Reagan e dos EUA terminou com o triunfo contra a URSS, mas continuou na Colômbia com a ação militar contra o narcotráfico. A guerra do Reagan incluía até severíssimas punições aos adictos, que eram castigados com um mínimo de 5 anos de cárcere. Hoje, esta política está fracassada e a cada dia novas propostas surgem em contrapartida.

A forma de combate à doença das drogas, na qual se engajam profissionais como o Laranjeira e as irmandades anônimas populares como AE, AA, NA e outras, é multidisciplinar e oferece diversas opções, todas desarmadas, longe de qualquer solução militar ou jurídica de repressão as que, explicitamente, são consideradas como o “último recurso” a ser considerado.
O que é um acionar multidisciplinar e de diversas opções? é um conjunto de propostas que sabe que cada caso é um, que cada dependência e cada adicto é um individuo, mesmo que existam tratamentos especializados e “receitas” para casos parecidos ou similares.
A abstinência é o primeiro passo para o tratamento que visa a recuperação do paciente em relação à adicção, e sua ressocialização, tentando levar o dependente para longe das substâncias químicas psicotrópicas -isto é: que alteram o funcionamento normal das funções cerebrais- e aproxima-lo outra vez do mundo do trabalho, o estudo e a diversão sadia no âmbito familiar.
A internação voluntária -quando o dependente entende que está dominado pelo abuso das drogas, e sem outra saída- é a primeira opção que se oferece, depois de ter tentado tratamentos ambulatoriais e de apoio psicológico.
A internação involuntária, decidida pela família, é a segunda opção, dolorosa, mas necessária quando o doente de dependência já perdeu o controle sobre a própria vontade e corre riscos severos de morte, agressão a terceiros e/ou de perda da liberdade pelos atos contra a sociedade. 

A droga de cada um

Segundo o blog do Denis Russo Burgierman, “Todo mundo tem a sua droga. A da minha mãe, por exemplo, é a endorfina, nome que é uma abreviação de “endo-morfina”, ou “morfina interior” (...)
“Minha mãe busca a dopamina dela de maneira saudável, correndo pelas ruas e pelos parques de São Paulo, subindo em pódios com medalhas douradas no pescoço – exercício físico faz o corpo produzir endorfina. Há quem busque o prazer em outras coisas. Glutões produzem dopamina quando se empanturram. Iogues produzem quando respiram profundamente. Jogadores vão em busca dela na emoção das apostas do bingo ou do carteado. Futebol, chope, sexo, novela, dança, festa, trabalho, cinema – tudo aquilo que tem o potencial de dar prazer pode estimular a produção de dopamina. Inclusive drogas, como álcool, tabaco, nicotina, açúcar, maconha, cocaína, heroína”. Bem escrito e correto nos conceitos. Até aqui.

Mas por que, em meio a uma luta (atenção, luta não é necessariamente “guerra”) contra as consequências nefastas das drogas, essa reação contra o Laranjeira? E sobretudo, por que surge o ataque do grupo do Fernando Henrique Cardoso e a Ilona Szabo no blog do Denis Russo? E por que o rapaz encarregado de conferir a repercussão da entrevista no Twitter, interagindo o programa com informações externas, passou ele próprio a atacar o Laranjeira pela rede social? Laranjeira falava, e o twittero da TV Cultura o desqualificava em seu perfil.

E para ir já definindo mais o meu pensamento que, repito, se parece muito ao do Laranjeira e ao das associações de ajuda –AE, AA e NA- digo que em momento algum do programa, ou das milhares de sessões destes grupos em clubes, igrejas e comunidades populares, se falou em “repressão ao tráfico” ou “internação como solução”. O Laranjeira comentou também algo que é bem conhecido: em países com uma eficiente organização das políticas sociais, países pequenos e de mais fácil administração, como a Suíça, Holanda e Portugal, os governos puderam tentar uma experiência de liberação parcial da maconha. Na Holanda já foi proibida para os turistas estrangeiros, mas tudo isto num contexto de baixa injustiça e desigualdade social e com políticas públicas que oferecem um sistema de saúde sempre disponível.
Essa política chamada de “redução de danos” -em que se troca drogas mais pesadas pela considerada “mais leve”, a maconha- foi liberada em ambientes com variáveis muito mais controladas que no Brasil, com seus 8,5 milhões de Km2, 200 milhões de habitantes, majoritariamente pobres, e rodeado de quatro grandes produtores de drogas. Mesmo assim, ainda nesses países, a experiência está em retrocesso.

Visto tudo isto, o que é realmente estranho e preocupante nas posturas –e atitudes, como a do twitteiro e os jornalistas mencionados- é que sempre que se fala de políticas para prevenção e combate aos abusos de drogas, o que se propõe é só a “liberação das drogas”. Cotidianamente se levanta o direito individual ao gozo das drogas, e a liberdade tolhida de quem vai ser internado por abuso e perda das capacidades de decisão, comprovadíssimas  no caso do crack, mas também em drogas supostamente “leves”, como a maconha. Parece haver uma torcida pessoal, intimamente ligada à “recreatividade” das drogas. Mas fica claro com a vivência diária com o álcool –liberado e rei da mídia brasileira- que as consequências dessa liberdade individual se chocam com o bem-estar comum. Ou seja, uso e abuso de drogas não é uma questão individual, mas pública, de interesse social.

Vejamos também o vídeo da entrevista a Drauzio Varella, outro expert no assunto, e tiremos conclusões. Mas sempre tenhamos em conta que, droga psicotrópica –ou seja, que altera as percepções sensoriais e as capacidades volitivas, da vontade- compromete o convívio social, tira a liberdade do indivíduo e incomoda em diversos graus, pesando, custando e doendo à sociedade.
Pense bem: você ficaria de porre algumas horas antes de casar? Ficaria chapado de maconha antes de uma prova? Fumaria crack para se apresentar a um novo emprego? Não? Você acha que tem força e capacidade para só se embebedar aos finais de semana, ou para usar maconha, cocaína ou qualquer outra droga e “parar quando quiser”? Parabéns, você é uma das pessoas que –na roleta russa do uso de psicotrópicos- teve a sorte de não ficar viciado. Mesmo que nada possa dar garantias de que a pessoa fique para sempre imune à dependência, este não pode ser um critério científico para uma política de saúde pública.
Acompanhar ambulatorialmente o dependente químico –de qualquer e toda droga, incluindo as legais- oferecer assistência psicológica e psiquiátrica, eventualmente internar –voluntária ou compulsoriamente- o paciente, oferecer ressocialização, são as práticas dos movimentos familiares de apoio ao paciente e seu entorno. Isto é o que o Laranjeira propõe também, e os que atacam com tanta virulência esta linha de ação e de conduta, ao invés de combater o problema das drogas, demonstram ter uma preocupação muito especial pela liberação das mesmas, algo que a Souza Cruz e a Philips Morris também aguardam ansiosos para somar aos lucros que já lhes proporcionam o tabagismo, mesmo com o alto custo social em doenças cardiovasculares e pulmonares.

Educação em primeiro lugar, boa e pública, incluindo uma política de prevenção às drogas; saúde pública de qualidade, que incorpore os cuidados específicos para o dependente químico. Proteção jurídica do dependente, trocando penalidades por tratamento, no caso de pequenos delitos como furtos, comuns no adicto que precisa recorrer a roubos para sustentar o vício. 
Por último, e só quando isto estiver bem encaminhado –não digo resolvido, mas sim com boas perspectivas- podemos passar a discutir propostas que contemplem uma discriminalização total do usuário e uma repressão específica apenas ao grande traficante, sem confundir usuário (que quase sempre termina sendo um pequeno ou médio traficante) com os senhores da guerra e a violência.




Javier Villanueva, São Paulo, 23 de maio de 2013.