terça-feira, 28 de maio de 2013

Os Civita, a imprensa e o poder.



Resultado de imagem para 24 de marzo de 1976

A “Editorial Abril” de lá 
e a “Editora Abril” de cá.
Os Civita, o poder e os governos.

Primeiro a Thatcher, logo o Videla, na sequencia o Mesquita e o Cívita. Os ditadores e seus escrivas, todos juntos na festa do Supay. O Bolsonaro que se cuide, que a fila dos reacionários está andando rápido”.

Foi o que comentei ontem, no mural de uma amiga, assim que soube da morte de Roberto Civita da Editora Abril, chefe da ferramenta mais poderosa de opinião da classe média brasileira, a revista Veja. Claro que não acredito no Supay –o Sete peles- mas acredito nos fortes laços do poder político, econômico e militar com a imprensa e os meios de comunicação.

“(...) O fato de discordar de alguém não deveria justificar a agressão, a grosseria, a ofensa gratuita e nos momentos mais inadequados. Minha avó dizia que "a maior mesquinhez é não esperar o defunto esfriar para começar a cuspir sobre seu rosto." (...) Como há gente despreparada para a democracia e a vida civilizada”- Foi a resposta imediata de um conhecido e respeitado jornalista de São Paulo.

Tratei de lembrar, para evitar ser tratado de “desrespeitoso” que foi a Veja de Civita quem instaurou a crítica foribunda ao morto de cadáver quente: foi assim no obituário de Hobsbawm, Mercedes Sosa, Chávez, Niemeier, e vários outros.
A edição da Veja de 14 de outubro de 2009, na seção datas, sobre a morte da cantora disse: Morreu: Mercedes Sosa, a cantora do bumbo argentina. Dia 4, aos 74 anos, de doenças associadas ao subdesenvolvimento latino-americano, como o mal de chagas, em Buenos Aires”.

Em dezembro do ano passado, enquanto a mídia internacional exaltava o arquiteto Oscar Niemeyer, um dos principais colunistas da revista Veja, Reinaldo Azevedo, preferia dizer:Morre Oscar Niemeyer, metade gênio e metade idiota”E até Eric Hobsbawn, o maior historiador do século XX foi chamado de “idiota moral” pela mesma Veja. “O entusiasmo com a revolução bolchevique, aliás, não foi a única fonte de tropeços morais para Hobsbawm. A conflituosa relação com as raízes judaicas –seu sobrenome deriva de Hobsbaum, modificado por um erro de grafia– o levou a apoiar o nacionalismo palestino e, ao mesmo tempo, a negar igual tratamento a Israel” disse a Veja em 4 de outubro de 2012.

De imediato, no dia 5 de outubro, a Associação Nacional de História –a ANPUH- publicou nota em sua página no Facebook, repudiando a crítica da Veja ao historiador inglês, porque o tratamento dado a Hobsbawn foi desrespeitoso, irresponsável e ideológico: “Talvez Veja, tão empobrecida em sua análise, imagine o mundo separado em coerências absolutas: o bem e o mal. E se assim for, poderá ser ela, Veja, lembrada como de fato é: medíocre, pequena e mal intencionada”, afirmou a entidade.

Pessoalmente poderia -eu, Javier Villanueva- ilustre desconhecido da mídia, escrever laudas intermináveis sobre os mortos famosos deste último mês: Tatcher, Videla, Mesquita e Civita. Mas é justamente o ódio político que a Veja vem insuflando o que me leva a ser curto e grosso: não fico feliz com a morte de ninguém, mas há algumas que não me deixam triste. E no caso da Veja (e de Civita) cabe o velho ditado espanhol: "el que a hierro mata, a hierro muere".

O jornalista que se sintiu ofendido pelo meu post é uma boa pessoa, e um profissional honesto. Da minha parte, não sou jornalista nem político profissional, mas exerço o direito à expressão mais democrática que oferece a internet, e quero permanecer honesto em relação às minhas ideas e à minha prática. Por isso mesmo, conheço também o respeito que sempre despertaram, em todas as áreas, profissionais que pudendo ser conservadores ou ultraliberais, tinham a coragem de se expor aos riscos das ditaduras; na Argentina isto aconteceu nos anos 30 e 40, entre o presidente golpista Uriburu e os golpistas anteriores ao peronismo: um homem como o dono do Diario Crítica, Natalio Botana, que podia apoiar o golpe contra a primeira democracia popular (a de Yrigoyen) e logo ser perseguido pelos militares porque apoiaba e protegia esquerdistas como Neruda e Federico G. Lorca. Algo deve ter acontecido de lá pra cá no mundo do jornalismo porque esses nobres proprietários deixaram de existir.
Quando falamos de ideias não nos referimos necessariamente a ideias “extremas”, como advoga a Veja semanalmente. Pessoalmente não lembro de ter defendido as chamadas aberrações históricas: Stalin, por exemplo, nunca foi santo da minha devoção; nos anos de luta revolucionária, e ainda um par de gerações anteriores à minha já se denunciavam sem rodeios os erros fatais e os crimes de Stálin, na URSS, na guerra civil espanhola, ou no Leste Europeu.
Não é historicamente –nem em política- justo que, cada vez que se cheira a presença de um esquerdista, de imediato se levantem os crimes do estalinismo, pois não só os povos de lá os sofreram, mas também muitos revolucionários padeceram na América Latina os desatinos dos soviéticos.
O que aqui se discute é que a Veja, independentemente da honesta apreciação de muitos joenalistas ao empreendedorismo dos Civita, faz culto ao ódio social e político. Entanto que o Facebook, sobretudo, é o jornalismo rápido e panfletário dos que temos ideias políticas e não temos o controle nem sequer o acesso aos meios de difusão tradicionais. Críticas como as que foram feitas às capas de rancor social explícito da Veja: mostrando mulheres pardas como o “perigo” que a atual conformação do eleitorado oferece, ou os riscos de um jovem e engravatado executivo de classe média terminar na pia, lavando pratos, por causa das novas regras trabalhistas para as domésticas, etc, são mostras claras da opção classista e política panfletária que a Veja despeja semanalmente para consumo da classe média mais reacionária.

E o que é ser reacionário? É ver comunismo (até soviets!) no PT, no MST, no chavismo, no kitchnerismo da Argentina, etc, quando mesmo na gravidade dos erros que esses movimentos cometem a diário, nada justifica confundir esses movimentos –insisto, não partidos tradicionais, mas movimentos políticos e sociais- com as tradicionais formações revolucionárias bolcheviques, espartaquistas, ou trostskistas. Falar da “falta de liberdade de imprensa”, “ataques às liberdades individuais e da propriedade privada”, etc. é o passo seguinte para justificar o bordão de “perigo vermelho” que a Veja quer ver nos governos populares e democráticamente eleitos na América Latina de hoje, mesmo com seus nítidos erros e defeitos.

As edições rancorosas contra Hobsbawm, Mercedes Sosa, Chávez ou Niemeier, em nada aportaram à discussão política e ideológica aberta e honesta. Foram apenas isso, páginas do mais puro preconceito e só faltou o "já vai tarde". É evidente que essa linha editorial não é iniciativa de algum editor solto; é a linha dos Civitta que, no Brasil ou na Argentina, sempre estiveram mais ou menos perto dos poderes políticos, ainda nas épocas em que era necessário ser duros com a falta de liberdades. Repito: nunca ninguém me ouvirá repetir o “viva a morte” dos fascistas espanóis; não me alegra a desaparição de ninguém, mesmo porque as ideias do Videla, a Th34atcher ou os donos de máquinas propagandisticas do porte do Estadão e a Abril, seguem muito vivas e atuantes.

Um pouco de memória:
Conheço bem a história de uma editora argentina, a “Editorial Abril” criada em 1941 por Cesare Civita, inmigrante judeu que deixou a Itália depois da aprovação das leis raciais de Mussolini. A Abril publicava quadrinhos como “El Pato Donald”, fotonovelas como “Idilio”, revistas femininas, como a “Claudia”, e semanários de atualidade política como o “Panorama”.
“Editorial Abril” era una empresa familiar que soube usar muito bem a vasta rede de relações do Cesare Civita na Argentina, Itália e nos Estados Unidos. A história da editora na Argentina termina com um novo exílio de Cesare Civita em 1976.
Como diria Walt Disney: “tudo começou com um camundongo”, também para contar a história da “Editorial Abril” -fundada em Buenos Aires en 1941 e continuada no Brasil- podemos lembrar do Mickey, levado à Itália de Mussolini onde Cesare Civita começa a trabalhar na editora de Arnoldo Mondadori, em 1936, editando revistas de quadrinhos com as personagens de Disney.
Em Buenos Aires, assim como no Rio de Janeiro, na primeira etapa de sua viagem à América do Sul, Cesare Civita contata judeus italianos que, como ele, haviam fugido do racismo fascista e da guerra. Também conhece italianos que emigraram por razões econômicas ou políticas em anos anteriores e muitos judeus, tantos os que pertenciam à comunidade Ashkenazi –chamados na Argentina de  “russos”- como com os de origem sefardí.
É esse forte tecido social, econômico e afetivo o que permite a Cessare mudar-se de modo permanente para Buenos Aires em maio de 1941 e, logo depois, em 21 de novembro 1941, fundar com os dois sócios, Alberto Levi e Paolo Terni primeiro, e em 1944, Leone Amati e Manuel Diena –todos eles judeus de origem italiana- uma pequena publicação para crianças. O nome dela é “Editorial Abril” e o logotipo é uma árvore, símbolo não só dos jovens, mas também de um novo inicio. O primeiro produto da Abril na Argentina são livros para crianças; uma coleção chamada "Pequeños Grandes Libros", que alcança um enorme sucesso: um milhão de livrinhos por ano.

Desde os inícios da “Editorial Abril”, Civita abraçou uma atividade política antifascista que o colocou em contato com outros intelectuais que logo fizeram parte da editora. Após o golpe de 1943 e nos anos do governo peronista -1945 a 1955- este grupo de amigos e colaboradores montou uma rede informal de oposição, que atuava em reuniões de círculos privados nas casas de Mario Segre, Leone Amati e Cesare Civita para discutir política e cultura. As reuniões eram ilegais, e muitos dos participantes compartilhavam uma ideologia considerada por muitos como radical e antiimperialista.
A Abril argentina foi caracterizada, portanto, a partir das suas origens em Buenos Aires como uma empresa particular no cenário editorial na Argentina. O que a assemelhava um pouco ao Diario Crítica de Botana dos anos 30. Era um lugar onde se concentraba o trabalho de alguns intelectuais socialistas e comunistas, que eram marginalizados por suas ideias políticas antifascistas e antiperonistas; e enquanto isso, a empresa crescia como um negócio de sucesso no campo da cultura popular de massas. Ambas as vocações -a da militância e o empreendedorismo capitalista que claro, podem ter uma forte ligação entre si- serão provadas num longo período de tempo que vai da débil democracia do pós-guerra da Argentina, passando pelos golpes antipopulares de 1955 contra Perón e as farsas eleitorais proscriptivas posteriores, até às críticas e ataques após o retorno de Perón e o golpe de 1976.
Nesse momento, vendo a repressão contra outros meios judeus e liberais –como “La Opinión”, periódico argentino de Jacobo Timerman, também fundador da revista “Primera Plana”- Civita decidiu que era urgente e necessário vender a empresa e partir para um segundo exílio. Desta vez no Brasil.

Já desde 1945 a “Editorial Abril” estava explorando a possibilidade de abrir uma gráfica em São Paulo. Especialmente Civita era quem, entre os parceiros na Argentina, punha a mira no desenvolvimento no país vizinho, temendo o peronismo que poderia –a seu entender- tornar-se um regime autoritário. Também o mercado brasileiro lhe parecia particularmente promissor. Como Civita escreve a Arnoldo Mondadori em novembro de 1949 propondo-lhe uma colaboração, “no Brasil escasseiam as boas publicações e as editoras de qualidade”.
O compromisso da editora italiana deveria ser dado em duas etapas: em um primeiro momento começaria a publicação e, numa segunda etapa industrial, seriam enviadas máquinas tipográficas importadas da Itália. A atividade editorial deveria começar pelos quadrinhos argentinos e os licenciados da Disney.
Para gerenciar a empresa, Cesare Civita tinha pensado no seu irmão Vittorio que tinha permanecido nos Estados Unidos, trabalhando no mundo editorial. Existia já na “Editorial Abril” uma intensa colaboração com Mondadori na área do desenho animado e dos quadrinhos, com trocas de produtos; e a a editora italiana parecia interessada no projeto Brasil, mas finalmente Arnoldo Mondadori optou por não participar do projeto que, de qualquer maneira foi lançado com dois quadrinhos, O Raio Vermelho e o Pato Donald, que apareceram na primavera-verão de 1950. Em 1952, também apareceu a versão brasileira do “Nocturno” argentino com o nome de Capricho.

Vittorio Civita em vão tentou obter para a Editora Abril Limitada o apoio financeiro de Nelson A. Rockefeller ou Economic Basic Economy Corporation (EBEC). Então, entrarão na sociedade Giordano Rossi um empresário mineiro, filho de italianos, e o grupo Vasconcelos Smith.
Mas antes da mudança para o Brasil em 1976, lembremos que após a queda de Perón pelo golpe militar de 1955, a “Editorial Abril” tinha dado mais um passo, lançando a revista feminina “Claudia” em 1957, que seguia o modelo americano do Ladies 'Home Journal.
Mas também, desde o início dos anos cinquenta, Cesare Civita queria publicar -ao estilo da revista italiana da Mondadori, a “Epoca”, mas julgava que ainda não tinha alcançado o momento.
O semanário “Panorama” nasceu em 1962, através de um acordo com o Grupo Time-Life e outra vez com Mondadori.
Pessoalmente obtive grande parte da minha formação política de atualidade pela revista, muitas das quais ainda guardo em coleção no Brasil.

Os anos sessenta são os mais dinâmicos para a empresa, não apenas pelos produtos inovadores como a Claudia e Panorama, e a conseqüente maior internacionalização por meio de licenças de editores dos EUA e europeus, mas também é o início de um processo de integração vertical criando uma gráfica em 1963.
Se no momento da importação de máquinas de tipografia para a Abril brasileira, Civita recorreu à indústria dos EUA, quando instalou uma nova fábrica moderna perto de Buenos Aires, enviou o seu filho Carlo para a Europa e usou máquinas e técnicos da Itália e a Suíça.
A “La Fabril Financiera”, que até então impresso as revistas da Abril, pouco depois entra como sócio da editora. “La Fabril Financiera” era, de fato, um grupo muito poderoso, com estreitas relações com o poder político e militar. Se bem Civita achava a colaboração pouco benéfica com o grupo no nível técnico, por outro lado, a considerava muito importante na política porque seria muito útil “per coprirci le spalle da eventuali rappresaglie del governo”.
Literalmente: “Para manter as costas quentes em caso de eventuais represálias do governo”.
Devemos lembrar que o internacionalismo da sociedade não agradava ao nacionalismo militar argentino nem brasileiro, e tanto Cesare como Vittorio Civita devem renunciar à cidadania italiana e a “Abril” brasileira agora vem a ser uma “empresa tipicamente nacional” do Brasil antes da Comisião de inquérito criada em 1966 para investigar os meios; e ainda em 1970 Cesare Civita teve que resgatar suas participações estrangeiras no exterior.
A “Editorial Abril” consegue manter-se ao ritmo do desenvolvimento social e industrial, e dos assuntos políticos e culturais argetinos. O desenvolvimento da indústria automobilística argentina, por exemplo, corresponde ao lançamento da revista “Parabrisas” mensal em 1960; e o crescimento da moda nativa, impulsa a produção de “Claudia”.
A tímida abertura política dos anos do Presidente Illia -julho 1963 a junho de 1966-, finalmente, permite semanários como “Panorama” e “Siete Días Ilustrados” em 1964; ou uma publicação como “Adán”, a imitação light da norteamericana Playboy, de curta duração, porque já estamos à véspera do golpe conservador de Onganía.

“Claudia” e “Panorama” (“O diário do nosso tempo”) são termômetros da febre argentina de modernização nos anos 60. Imitam as revistas estrangeiras Marie Claire ou Time-Life -tal como antes foram imitados os quadrinhos e livros infantis- argentinizando as fotonovelas dos seus modelos originais. Neste período, aumenta o ímpeto para criar um produto que não seja só local, argentino, mas que possam atrair leitores de outros países latino-americanos. Não só, como no passado, as publicações da Abril argentina serão um modelo para as revistas publicadas em português para o Brasil, mas também para os mercados dos países vizinhos, como Uruguai, Chile, Colômbia, Peru, América Central. Abril cria uma joint-venture no México, o Mexabril, associada ao poderoso empresário mexicano da mídia, Romulo O'Farril.

Alrededor do tema da celulose –a matéria prima esencial para produzir jornais, revista e livros- se desatou um conflito de interesses entre importadores e consumidores que compõem o papel, agravado pelo fato de que nesses anos de 180 para 0s 70, se alternaram no poder sete presidentes diferentes e um número ainda maior de ministros e  funcionários do Ministério de Economia.
E a “Editorial Abril” desempenhou o seu lado no conflito. A ideia de criar uma papeleira surgiu com o ditador Onganía, e depois de 1969 resultaria no Fundo para o Desenvolvimento de Celulose e Papel de Produção pelo Decreto-Lei de agosto 1831219 de 1969).
O processo de criação da sociedade PROIMPA, com sócios minoritários -César Doretti e Luis Alberto Rey-, para estudar o processo técnico e de investigação das máquinas finlandesas para sua importação, culminou três anos mais tarde, quando o governo de Alejandro Lanusse deu autorização para operar o Papel Prensa, fábrica de papel. Mas em dezembro de 1973 Civita, após a eleição de Perón, teve que vender sua parte a Rey –que mais tarde cedeu a banqueiro Graiver- por causa da forte pressão política.

Após a morte, de Juan Perón, a sucessora, Isabelita Peron e seu ministro, chefe das bandas fascistas das Três A, Lopez Rega, tinham uma forte razão para serem hostis à Civita. Os intelectuais que, como sempre, encontravam asilo nas diferentes redações dos jornais e revistas, a partir de 1969 em diante, foram mais radicais e ficaram imersos na atmosfera de violência e nas expectativas da revolução que para muito se aproximava e era iminente no país, tanto na visão da esquerda -peronista e não-peronista- como no tradicional terror anticomunista dos militares.

Muitos funcionários da Abril eram simpáticos às “formações especiais” da guerrilha marxista e da Juventude Peronista. Para o peronismo da direita, chamado “Ortodoxo”, os jornalistas em geral representavam uma oposição muito mais hostil à tradicional que sempre existiu nas redações da editora.
Isabel Perón não apreciou sequer a boa vontade da revista “Claudia” ao escolher a presidenta em 1974 como a “Mulher do Ano”. Isabel, com certeza representava algo muito distante do proposto na revista como beleza feminina dos anos ‘60, exemplificado na juventude e o anticonformismo dea Geraldine Chaplin. A presidenta comentou o título de  honra de saída dizendo que,  “como Peron disse, o lobo vai disfarçado de cordeiro”
Quando começou a publicação na gráfica da “Editorial Abril” o semanaio “El Descamisado” dos Montoneros, a tensão chegou ao ápice.

Cesare também quebrou então o antigo clima paternalista, os benefícios e a sociabilidade promovida pelos Civita com suas reuniões no Terraço Abril, e os presentes de Natal dos Civita foram interpretados negativamente e rejeitados por muitos empregados. Os conflitos gremiais se agudizaram e Civita ficou encurralado entre o jornalismo “militante” e as ameaças da Três A. Recebeu um aviso em 1974, quando explodiu bomba do lado de fora do prédio, e seu nome apareceu na lista dos intelectuais ameaçados de morte pela organização de Lopez Rega. Vários jornalistas e trabalhadores da “Editorial Abril” argentina foram exilados e alguns foram mortos e desaparecidos.

Civita mudou-se para o Brasil e, em seguida, para o Uruguai, de onde com grande dificuldade tentou gerir a empresa a partir do exterior com o seu filho Carlo. Também tentou fortalecer a Abril com um aumento de capital, e outra vez, nesses momentos dramáticos ajudaram os antigos laços. Foi um dos sócios, Manuel Diena, que participou nesta tentativa de defender a empresa.
Após o golpe de 1976, como muitos empresários, Civita pensou que as coisas poderiam melhorar. Mas 1976 não foi uma repetição de 1966, os militares tinham decidido “cuidar de uma sociedade doente e impor a ela sua disciplina militar”.

A diferente evolução da editora Abril brasileira em relação ao seu modelo original da Argentina pode ser a contraparte do contexto económico e político. Brasil se reuniram em abril a partir dos anos sessenta processo de desenvolvimento rápido que faz ininterrupta hoje em um da publicação mais importante latinoamericana. Pode supor que
foi capaz de tirar proveito, mesmo diante das dificuldades ligadas às limitações da liberdade de imprensa, a vantagem de melhorar as relações com o poder política. O regime militar brasileiro foi, com certeza, para os empresários um interlocutor e um gerente mais estável e capaz da economia que o argentino.


Voltando à polêmica:

Veja o erro, o que a maioria dos intelectuais mais conservadores comete hoje: muitos somos contra a Veja porque deforma, à moda da antiga Readers' Digest, qualquer realidade que não se encaixe nos seus moldes ideológicos. Não significa esta postura crítica estar a favor de qualquer inimigo da Veja, como a política do chavismo, por exemplo. Podemos passar horas opinando contra muitas das políticas do Chávez e o Maduro. Mas quem opine contra o panfletarismo de Veja, enseguida será colocado de cara aos problemas de Cuba ou da Venezuela; é parte do preconceito da direita. É o que a Veja vem ensinando: aumentou o preço do tomate? a culpa é da Dilma; alguém ousou criticar os ressentimentos infantis do PSDB e do DEM? a culpa é do chavismo; a Coreia do Norte ameaça com retaliação nuclear? é parte da política do Dirceu.
A divulgação do velho conceito da “cortina de ferro” ideológica quem criou nos anos 50 foi a Readers' Digest, e quem segue nessa linha caduca e inútil hoje é a Veja. E se multiplica nos milhares de post de corte conservador e direitista de todos os matizes que pululam no Facebook.
Eu não creio estar desqualificando o Videla quando digo, resumidamente que foi um genocida; está provado pela história, isto é, por milhares de documentos e testemunhas.
Não peco por falta de objetividade se digo, em duas ou tres frases curtas que a Thatcher foi profundamente reacionária ao defender a selvageria capitalista, seja na forma militarista colonial nas malvinas ou no esmagamento das greves no Reino Unido.
Não desqualifico nem a Mesquita nem a Civita se afirmo, em três palavras, que eles serviram ao pensamento econômico, político e social da direita brasileira e latino-americana.
Posso, claro, proferir palestras e organizar seminários com o tema, mas me sinto no direito de ser curto e preciso porque ninguém que tenha estudado um pouco (e vivido, ainda melhor) as políticas brasileiras e latino-americanas dos últimos 40 anos poderá sequer supor que algum destes 4 personagens mencionados -e que levaram o jornalista honesto que mencionei no início a achar um absurdo o meu comentário- sejam representantes das aspirações populares mais democráticas.
Repito: assim como a Veja, joia da coroa da Abril, criou a moda dos obituários odiosos, adjetivando a torto e direito ante o cadáver quente do Hobsbawm, Mercedes Sosa, Chávez ou Niemeier, apenas pelo único motivo de ser, aos olhos do Civita, miseráveis comunistas (adjetivo que ninguém poderá nunca colar no Chávez, com certeza) é um direito adquirido por qualquer um de nós neste popular FB comentar a morte do Civita do modo que foi feito. Não acho que isso venha a ser uma contradição na minha biografia; sempre me levantei contra as injustiças e as mentiras organizadas e espero ter força e lucidez para continuar assim.

Como diria aquele presidente que nunca foi “vermelho”, e que, mesmo que votado democraticamente e por causa de dirigir um governo popular, foi deposto pela força das armas, o presidente João Goular: "O que ameaça a Democracia é a fome, é a miséria, é a doença dos que não tem recursos para enfrentá-la. Esses são os males que podem ameaçar a Democracia, mas nunca o povo na praça pública no uso dos seus direitos legítimos e democráticos”.

Javier Villanueva, São Paulo, maio de 2013.

Existe uma extensa biografia que aqui copio, mas remeto, sobretudo ao artigo “Dos exilios: Cesare Civita, um editor italiano en Buenos Aires, desde la guerra mundial hasta la dictadura militar” (1941-1976), de Eugenia Scarzanella.
Facultad de Ciencias Políticas, Universidad de Bolonia, Italia,
Revista de Indias, 2009, vol. LXIX, núm. 245. Págs. 65-94, ISSN: 0034-8341  doi:10.3989/revindias.2009.003

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