terça-feira, 23 de outubro de 2018

Os protozoários, Napoleão e a memória dos povos


A imagem pode conter: 1 pessoa, sapatos

Os protozoários, Napoleão e a memória dos povos

Um ano atrás escrevia este artigo, e eu sei que as coisas mudaram bastante no Brasil, mas trocaram suas formas e não na essência, que continua a mesma, apenas incrementada, aumentada em proporções assustadoras. 
O velho oportunismo de partidos-elefante como o PMDB (hoje MDB, como nos anos de chumbo, que eles esqueceram) e o PSDB, um dia social-democrata e hoje comido por dentro pela direita que começou com Alckmin e o Opus Dei, já são quase passado de tanto que se desinflaram e perderam importância direta. 
Enquanto que a velha corporação lumpem de partidões anões de aluguel do Centrão, impulsionada pela força imparável dos neo-pentecostais, dá um novo fôlego ao projeto de Temer, mas com outro líder, dessa vez um populista de extrema direita.
As coisas mudaram, pra pior, mas seguem seu curso. (JV)

O jornal "La Nación", liberal-conservador, fundado em 1870 por Bartolomé Mitre, comandante da Tríplice Aliança que destroçou o Paraguai na guerra infame, festejou um ano atrás, 23/10/17:
As manchetes de "Le Moniteur Universel" nas ediciones de março de 1815, e na medida que Napoleão se aproximava de Paris, passaram de "O Monstro escapou do seu desterro" (na Ilha de Santa Helena), a "O Usurpador está a 60 horas de marcha da capital", para mais tarde informar que "Bonaparte avança a marcha forçada", e logo depois, "O Imperador está em Fontainebleau", para finalmente, ante o inexorável, colocar a manchete que destilava um despurado servilismo: "Sua Majestade fez sua entrada pública e chegou às Tulherias. Nada pode exceder a alegría universal. ¡Viva o Império!".

Comparando o Brasil de um ano atrás, com aquela Argentina pós- eleições parlamentárias de 2017, dizíamos que Macri não é Napoleão, é claro, assim como Dória e seu outro amigo tropical, Temer, não são figuras que vão ficar nos livros de história. Mas o peronismo oficial - o justicialismo-, ele sim, cada vez se parece mais às manchetes do "Le Moniteur Universel" ante o avance do trinfador do momento.
E o justicialismo argentino lembra o PMBD dos nossos trópicos: junta de caciques regionais oportunistas e sem princípios, sempre à procura de sombra e água fresca para suas negociatas. 
Burocracia sindical e peronismo de direita, sempre às ordens para o que os engendros liberais - mais ditatoriais ou mais institucionalistas- gostem mandar.

O triunfo da direitista Elisa Carrió por mais de 50% em Buenos Aires, como o de Dória em São Paulo há um ano (2016), ou o eterno Alckmin no estado, demostram sim, que Napoleão está próximo. Só que a restauração republicana imperial bonapartista era para acabar com os restos das monarquias reacionárias que esticavam a Idade Média para dentro de um século XIX que queria mais industrialismo e democracia do que reis e cortes corruptas.
A direita e a ultra direita  hoje - no Brasil, na Argentina e no mundo todo- vão por mais: querem acabar com toda e qualquer política que seja ou pareça minimamente "assistencialista", leia-se: de minimização dos brutais desníveis sociais entre as classes possuidoras e os explorados.
Elisa Carrió em Buenos Aires - que fez odiosas declarações em relação à desaparição de Santiago Maldonado nas mãos da polícia de "gendarmeria", confirma o avanço da coalizão oficial de três pés, formada pelo partido de Macri, mais o partido centenário como mero coadjuvante (o Radicalismo) e uma dirigente que age como "fiscal moral da república" e inspetora do próprio governo - Elisa Carrió-, que ela pretende comer por dentro, a nível nacional. E isto tudo aconteceu, pela primeira vez, sem um segundo turno: igualzinho à vitória de Dória sobre Haddad.

Avanços da direita que a classe média de centro festeja ruidosamente.
Tempo ao tempo. O povo não vai virar protozoário, e ninguém se apaixona pela ignorância por muito tempo. 
Paciência e ainda mais luta.

JV. Catamarca, 23 de outubro de 2018

sábado, 20 de outubro de 2018

O macartismo que perseguiu Charles Chaplin e o anticomunismo de hoje.

Resultado de imagem para charles chaplin bandera roja


O macartismo que perseguiu Charles Chaplin na Guerra Fria e o anticomunismo (anti-PT) no Brasil de hoje.

"Antes un final terrible que un terror sin fin", escribe Marx en El 18 Brumario de Luis Bonaparte, refiriéndose a la desesperación de los opresores, que en algún momento deciden apostar todo en un "salvador de la pátria", aunque se trate de un aventurero, un Jânio Quadros, un Collor, ou un capitão-de-mato sem educação, preparación ni capacidad de controlar ni sus tres "cuadros" partdarios, que cada vez que abren la boca dicen algo más descabellado que la vez anterior.


O anticomunismo de Bolsonaro e de Mourão (e da centena de militares que o seguem no congresso, governações e nos cargos que pretende preencher no seu hipotético governo), o ódio absurdo da classe média deslumbrada ao socialismo, igual que o velho macartismo, se explicam no desespero das classes dominantes, que não tem resposta, não tem alternativas à sociedade de bem-estar, que é issoe apenas isso que a socialdemocracia de esquerda do PT propõe. 

E Marx explica:


“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado” C. Marx.
“Eu, pelo contrário, demonstro como a luta de classes na França criou circunstâncias e condições que possibilitaram a um personagem medíocre e grotesco desempenhar um papel de herói”. Marx.

"Hegel observa que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa". Marx. 18 Brumário.

O anticomunismo cresceu no Brasil nos últimos 5 anos mais do que nos anos anteriores ao golpe de 1964. 
O Macartismo -ou anticomunismo dos anos 50 e 60, com nome e sobrenome- foi um polêmico movimento político norte-americano para tentar combater o comunismo nos EUA nos anos 1950. 

Embora isso permitisse violar o direito civil à opinião política, previsto na Constituição, e motivado pela paranoia da Guerra Fria, entre EUA e URSS, o macarthismo foi personificado pelo senador republicano Joseph McCarthy – daí o nome.


Como cabeça do Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas do Senado, McCarthy cometeu diversos abusos: autorizou quebras de sigilo, violou fundamentos legais (como o direito à ampla defesa), pressionou interrogatórios e divulgou listas de supostos adeptos do comunismo que deveriam sofrer todo tipo de sanção – mesmo sem mostrar em momento algum provas definitivas.
O ator e diretor britânico Charles Chaplin foi uma das pessoas que sofreram duramente com o macartismo.

No Brasil, seguindo as ordens do Big Brother, foram produzidos "O Brasil precisa de você” e “A Máquina Comunista”, dois documentários de teor antissocialista. A mensagem de ambos é quase a mesma: “há um perigo iminente que precisa ser extirpado. Caso contrário, o Brasil caminhará para uma ditadura totalitária e sanguinária.” A corrupção, a desordem e a crise econômica e institucional seriam as provas inequívocas da ameaça que ronda a sociedade.
No primeiro caso, “O Brasil precisa de você”, o narrador convida direto o telespectador, chamando-o a participar de forma ativa na sociedade. A missão proposta seria a conformação de uma “nova democracia” no Brasil.
No segundo exemplo, “A Máquina Comunista”, a narrativa é semelhante. O documentário inicia com a fala de um sujeito, Ricardo Gomes (apresentado como empresário e advogado), afirmando que o projeto marxista é inverter a classe exploradora. 
E, para isso, “eles estariam tomando o Estado por dentro”. E o empresário alerta: “espero que ainda não tenhamos passado pelo point of no return, do estado de coisas além do qual é impossível voltar”.

Esses dois exemplos, apesar das suas grandes semelhanças, não são contemporâneos. Não foram feitos pela Editora Abril, nem pela Rede Globo ou por qualquer órgão tradicional da imprensa. Muito pelo contrário, há mais de cinquenta anos separando a primeira película, produzida pelo IPES, órgão criado em 1962 por empresários para financiar a propaganda anticomunista; do segundo caso, retirado de uma de uma série de cinco documentários, lançados ano passado, num evento intitulado “Brasil Paralelo”.
Segundo os organizadores, esse “congresso virtual” foi realizado por jovens cansados de “ouvir sempre o mesmo lado de história”. Eles seriam os pioneiros de uma revolução intelectual que iria devolver a “verdade sobre o nosso povo”. Escondida pelos professores e pela mídia, “infestadas de esquerdistas”. “‘O Brasil Paralelo’ se propõe a trazer outra versão da história do Brasil. Após muito trabalho. Noites sem dormir. Viagens exaustivas. Colocamos dinheiro do nosso próprio bolso. Assumimos o risco.”

Esse é o liberalismo, em suas versões neo-liberais ou lumpem-capitalistas e suas opções lumpem-burguesas. 
Mas, e o comunismo, que?


O comunismo no Brasil:

Seria longo e chato -daria um par de livros de não menos de 400 páginas cada um- detalhar o que aconteceu com o comunismo e seu devir em socialdemocracia de esquerda (PT, PCdoB, e PSOL) e socialdemocracias de direita (PSDB, PSB e PPS), sem falar das opções menores, que vão num arco do trotskismo tradicional que vem da Argentina (PSTU e PCO) até o neo-estalinismo leninista do PCML.

Ferozes anticomunistas, os neoliberais que já foram socialdemocratas de centro e passaram (igual aos seus antecessores alemães antes da catástrofe nazista, entre a Weimar de 1919 a 1930) radicalmente à direita, se aliam aos liberais e a ultradireita - hoje cristalizada em Bolsonaro e o Centrão que o apoia- com um único fim: destruir o PT e o PSOL, que tem crescido exponencialmente a custa da sua prédica democrática radical, e preparar o desmonte dos movimentos sociais do MTST, MTS, as centrais sindicais da esquerda CUT e outras, e os movimentos estudantis dirigidos pelo PCdoB, o PT e o PSOL.

Mas acontece que o velho comunismo (talvez o de Prestes), o da expropriação do grande e médio capital e latifúndios, o do armamento do povo e a democracia direta das assembleias de trabalhadores, esse não existe mais, a não ser em grupos menores, como o PCO e o PCML.

O anticomunismo posterior à Guerra Fria é, no Brasil, apenas o sonho da destruição do PT e das esquerdas, nada mais.

Ver mais em: https://javiervillanuevaliteratura.blogspot.com/2016/04/o-fato-maldito-chamado-lula-e-o-petismo.html

JV, São Paulo, 20 de outubro de 2018.



sábado, 6 de outubro de 2018

E o Temer não caiu. Mas, por que?


A imagem pode conter: 1 pessoa

A cada tanto gosto de olhar pelo retrovisor, tanto na análise de momentos políticos, sociais e econômicos, como também para rever as minhas apreciações e impressões na época. 
O fato do Temer nunca ter caído, a pesar da escassa base dos seus apoiadores se deve ao fato de nunca ter cumprido com o total das suas tarefas sujas, e ao mesmo tempo ser apenas uma versão mais moderada da mesma lumpem-burguesia que hoje se expressa no candidato-capitão. 
Por que a burguesia mais real, a do Skaff e Meirelles, ou a que se escondeu durante 25 anos atrás de Alckmin e o PSDB não decolou? Por que, na última hora, essa burguesia teve que buscar, mais uma vez dois representantes fantoches da lumpem-burguesia como Bolsonaro e Mourão? (JV, outubro de 2018).
E o Temer não caiu. Mas, por que?

O Sardenberg e a Globo, seu patrão, sabem que há muito tempo não existe ideologia - eles querem dizer "verdadeiro neo-liberalismo"- no PSDB, no MDB e muito menos no Centrão. 
A maioria nesse pântano são fieis representantes da lumpem-burguesia, ou seja, de um conglomerado de aventureiros, ricos e sem cultura de direita, mas sim com muita abição e audácia. 

A Fiesp, a FeBraBan, a CNA e a Globo (só pra falar dos mais notórios), eles sim são os autênticos burgueses, os donos do poder, apenas emprestado ao bando de donos de igreja e capitães do mato da coalizão que derrubou Dilma dois anos atrás. 
Eles tinham uma agenda e Temer cumpriu suas propostas ao 89%, e por isso ele não cai.
"Está tudo arrumadinho, com a economia crescendo e as instituições funcionando" diz Sardenberg e repete a Miriam leitão, que vê os mesmos trunfos na fabulosa gestão de M. Macri na Argentina.

Temer não cai, mesmo com 2% de apoio popular, os mesmos 2% que transferiu para Henrique Meirelles, membro do Conselho da Lloyd's de Londres e do Conselho de Administração da Azul, Conselheiro do Centro de Estudos Latino Americanos da Washington University, presidente emérito da Associação Brasileiras de Bancos Internacionais, diretor da Câmara do Comércio de São Paulo, membro do conselho das instituições de ensino Harvard Kennedy School of Government, Sloan School of Management do MIT, Carroll School of Management do Boston College. 

Temer, um lumpem-burgês da aliança entre o MDB, o Centrão e o PSDB, e Meirelles, um digno representante do capitalismo caipira, aliado incondicional dos monopólios internacionais.
Por que será que Temer não cai, heim?

Javier Villanueva, São Paulo, outubro de 2018

El hombre que tiene un secreto

Resultado de imagem para pueblo fantasma españa

         El hombre que tiene un secreto    
 A Evaristo Carriego                                                                                                                                                                                                     
"El hombre que tiene un secreto" fue Mención en el Concurso Iberoamericano Julio Cortazar del argentino residente en España, Carlos E. Bischoff                                
                                                                

     Se congregan en la fuente, junto al antiguo paredón donde comienza la única calle del pueblo. Rito regular de media mañana que culmina cuando todas saben que están todas, y las ausentes –si las hay- lo son con causa. Recién el jueves será cuando venga el médico, único día de la semana en que la reunión se suspende. Todas asisten a la periódica visita pero es imposible prestar la debida atención con las inútiles idas y venidas de la enfermera acompañante del doctor. Lo más probables es que quiera escuchar.
     El sol se deja ver por momentos, como abriéndose paso para recordar entre los nubarrones que parten las montañas que nunca se irá del todo, su modo de hacer presente que volverá tras las lluvias intempestivas que duran poco, otro signo distintivo del poblado al que todos están habituados. El aire no es frío todavía, signo de que falta para que el otoño ponga sus retales. Cuando suceda, la reunión se postergará media hora sin necesidad de que ninguna diga nada, tácitos acuerdos que brindan las costumbres.
     Hoy faltarán Carmina y su hermana, la madre siempre enferma por estas fechas así que está previsto. Y el faltazo será debidamente rentabilizado, hasta Carmina y su hermana  –quien sabe si no su madre-  lo tienen claro. En pocos minutos se hace general el cotilleo aunque en voz más baja que lo normal, sin risas casi. Tal vez la borrasca que se anuncia para la noche no ayude a mantener el tono de rutina, o el inusual movimiento de alguno de los doce coches del pueblo que entra o sale (si no fuese conocido daría pie a la correspondiente investigación).
    Sin embargo hoy parece ser otro asunto de mayor envergadura el que las muestra algo alteradas. Cualquier observador habitual aguzaría sus sentidos, pero no hay observadores. Menos, habituales.
     Los niños en el colegio de la ciudad cercana, temprano los ha recogido el autobús. Los hombres desde antes de amanecer en labores de campo, sus inquietudes a estas horas tendrán que ver con las previsiones del tiempo. Ya recibirán las novedades -aún sin desearlo- al regresar a casa, de atardecida, tal vez algún comentario aparezca en el bar mientras juegan unas partidas rápidas de mus y apuran copas entre vecinos, preparándose para la cena. Si sucede, claro, las nubes no ayudan a imaginar hoy demasiada reunión. Pero si sucede serán las noticias sobre aparición de jabalíes o indicios de plagas en los sembradíos, pero sobre todo risas las que presidan el momento, las duras jornadas de laboreo rural empujan más a un corto espacio de alegría que a ocuparlo con sucesos que casi siempre imaginan imaginados por sus mujeres. Todo lo más, un comentario.

     Como de costumbre, Carmen lleva la voz cantante, tras las menores importancias –fáciles de priorizar, y en último extremo Carmen establece gradaciones sin discusión posible- los chismorreos se centran en el hecho que todas ya conocen pero no ha sido depurado en el lugar en que se debe, donde tal vez una idea, una palabra, la interpretación de un gesto al que no se ha prestado la atención que corresponde, las ayude a aclarar ese misterio que, aunque ya tiene su tiempo, cada tanto por una cosa u otra, reaparece y da hilo a nuevas alternativas.
     Ha sido ella –y Noemí, claro- la que lo vio ayer a la tarde y lo cuenta ahora que es la hora de ponerse al día de nuevas o sucesos que si no hay se suponen, algo de razón llevan sus hombres. Pero hoy hay, y lo que hay no parece de talla menor. Sí que puede dar tela para cortar el asunto, de hecho es algo que ya ha sufrido diversos cortes en el tiempo. Claro que siendo un nuevo perfil el que se presenta, ya ha corrido por vías que se saben no son las adecuadas pero todas practican, los teléfonos permiten adelantar y la noche pasada han funcionado. Porque menos menor será lo nuevo si se logran encontrar hilos que lo relacionen con anteriores cortes.
     Toma su tiempo Carmen tras propiciar el momento con una frase breve y sonrisa entre enigmática y preocupada, la clase de gestos que debe suponer alerta expectativas. Tose con delicadeza sobre su pañuelo hasta que ve que ha convocado atención suficiente, para recién entonces decir que se quedó “como de piedra” en el mostrador del Estanco Bar y Verdulería cuando fue a comprar, el atardecer casi noche es siempre hora propicia para comprar algo innecesario para la cena y de paso verificar si ha pasado algo que haya podido escapar al control que ejerce tras los visillos del primer piso de su vivienda, a dos pasos, vereda de enfrente. Quedó así, “como de piedra”, repite para que se entienda hasta qué punto la situación y sus posibles significados la golpearon, convirtiéndolo en algo suficiente para desmenuzarlo en el sitio apropiado. Tiene claro –no lo dice, desde luego- que es ya hecho conocido pero no examinado en detalles y perspectivas.  
     Noemí –lleva el estanco y piensa que el tema debió haber sido suyo pero como no quiere conflictos calla. No le disgustaría en algún momento ser eje de atención pero sabe que con Carmen no tiene ni para empezar- confirma lo sustancial en cuanto la otra se detiene para recuperar aliento apelando al pañuelito delicadamente bordado –un asma antigua y cultivada la obliga a frenar seguido y la usa para ambientar parlamentos-. Noemí ha ido confirmando lo que cuenta Carmen con lentos cabeceos, su modesto modo de ser parte sin ofender, amén de ir gestando también su propio momento, sabe que le tocará. Le interesa que Carmen note su asentimiento, es de sus principales clientas y los clientes se cuidan. Más –lo dicho-, Carmen es la que lleva la voz cantante. Cuando frena para toser, queda habilitada.  
     Llegó doblando la esquina a la hora de siempre –confirma, echa un inútil vistazo al reloj pulsera-, ella estaba como cuando no hay gente ni tiene ganas de fregar, en la puerta –quiere aprovechar su momento para dar algún relieve a su    lugar, sabe que será un tiempo corto y no es habitual ser vocera de información aunque su negocio sea el centro comercial del pueblo-. Entró y sacudió los pesados zapatones en el felpudo de la puerta, saludó –es hosco pero educado, todo debe ser dicho-, pidió su vino de costumbre y se fue al fondo, a la mesa casi en penumbras donde se sienta habitualmente, la más alejada de las cuatro que conforman el salón del bar. Todas conocen de memoria el estanco, de lo contrario haría un plano pero sabe que no tiene tiempo. A la media hora buscó como siempre su segundo vaso, lo gastó sorbo a sorbo -siempre igual-, luego armó con paciencia un cigarro… No sabe cómo hacer para extenderse en detalles pero Carmen la interrumpe. Recuperada la respiración y seguramente pensando que ya ha sido demasiado generosa, a cada cual el lugar que toca. Los niveles deben ser respetados.
     De modo que así lo vio Carmen que se reitera agregando alguna que otra floritura, su posición excede con mucho la de Noemí y cuando corresponde lo hace notar. En el acto le pareció que no tenía el mismo aspecto de otros días -explica profundizando la curiosidad y dejando clara diferencias de hondura en las visiones-, apenas entrar notó algo raro, lo percibió más extraño… y eso que ella no es persona de andar investigando la vida de los demás ni siquiera con la mirada, cosas que deja para otra gente. Pero sí, aún sin investigar visualmente lo notó abstraído, como ausente –ésta Noemi no sirve ni para gestionar curiosidades-, quizá un poco más desaliñado… Pero no, no era eso…, tal vez la forma de estar inclinado sobre la mesa, algo pesaroso…, no podía precisar bien la sensación pero distinto. Ella a estas cosas las nota enseguida, conoce a la gente y puede determinar si está preocupada o no, si está compungida o alegre. No va a ser esta chiquilla novata quien le birle a ella el protagonismo.

     Ha sido motivo de rumores diversos desde que se afincó por allí hace meses, vino nadie sabe bien de donde aunque suposiciones hay y han sido objeto de especulaciones múltiples y complejas hipótesis, la imaginación es poderosa en lugares pequeños y –según los hombres- la de sus mujeres podría superar cualquier tamaño.
     Sus estancias en el poblado nunca han pasado de pedir su vino para en media hora saborear con más gusto el segundo en la mesa casi a oscuras del estanco, armar sin prisas su cigarro, encenderlo, pagar y largarse a la casa de las afueras donde se ha instalado. Casa es una manera de decir, de algún modo hay que llamar a esas cuatro paredes sin ventanas que ha ocupado sin reclamo de nadie a unos quinientos metros, solitaria, allá por donde el rio hace un recodo, casi oculta, quizá refugio de pastores hace muchos años, o de pescadores nocturnos cuando el rio todavía traía peces –unas excavaciones cauce arriba los fueron liquidando- y el pueblo cobijaba casi doscientos habitantes, época que sirve a los memoriosos para contar historias a los niños, mitad verdad y mitad creación libre, como les gusta a los pequeños.      
     Ahora el pueblo no llega a cincuenta almas y en menos de una semana hasta los niños supieron de su existencia, desde donde duerme a su silencio espeso cuando se acerca al bar, de su miraba siempre baja hasta como se pierde en el bosque sobre senderos marcados por animales, de sus vinos atardecidos a ese voluntario estar aparte de todo y de todos. Cada quince o veinte días se lo puede ver subir la corta calle cargando a la espalda una bolsa que suponen de víveres, que debe comprar en la ciudad no tan lejana a la que ha de ir caminando, cruzando campos, no hay transporte de ningún tipo que lleve a nadie, cada quien se apaña como puede. Pero el origen del dinero con que compra sigue alimentando sospechas, seguro que algo opaco también se esconde  tras eso.
     Al principio despertó suspicacias, los extraños de extrañas costumbres siempre las liberan y por un tiempo hubo mayores cuidados con gallinas y conejos, pero la falta de señales perversas permitió que a corto plazo se fuera haciendo casi costumbre perdiéndose la curiosidad inicial, aunque no borrando del todo antiguos escrúpulos, por lo que de tanto en tanto sirve para comentarios mujeriles junto a la fuente, cerca ya de mediodía. Frio o calor, la fuente es el lugar  de  los  comentarios,  ninguna  pierde el momento aunque en muchas ocasiones sean repetidos.  Se exprime lo que hay, por poco que sea. Y de faltar ni hablar, no es cuestión de que una ausencia injustificada justifique convertirse en tema. Cosa que, naturalmente, sucede.
     Cargando su -casi seguro- misterio a cuestas, la mayoría de las tardes se sienta a perder la vista en el vino, apenas la levanta para cabecear un saludo silencioso cuando alguien entra a por tabaco o una verdura, o tan solo a verificar la concurrencia (no solo Carmen está adscripta y todo partícipe colabora a la modesta renta de Noemí). Sábados y domingos no aparece, hay misa en la vieja capilla y viene gente de fuera –como si no quisiera verla, o que lo vean, hasta el sacerdote viene de otro pueblo-, propietarios de tierras y ganado que viven en la ciudad y quieren estar al tanto de sus producciones. Los días de semana torna a  sus rutinas, llega al bar cuando el sol empieza a caer y endereza a su rincón, paladea el fin del segundo vaso en tanto lía su tabaco, lo enciende, cuidadoso, paga y emprende la retirada.
     Lo más probable es que tenga un secreto y lo guarde -sobre esto no hay prácticamente dudas, arbitrarias seguridades se han abierto cauce y ya están instaladas como certezas-, nadie a menos que sea un hippie de los que a veces malviven por los alrededores se comportaría así y no tiene trazas de descuido, todo lo más algún día que no se ha afeitado y un asomo de grises le festonea el mentón. El vino da la impresión de aflojarle el gesto adusto pero no la lengua, hay quien no ha escuchado nunca el sonido de su voz. Tampoco nunca ha dicho su nombre  aunque  verdad es que nadie se lo ha preguntado. Para todos, se llama  “hola, don”. Para él, todos se llaman  “buenas…”
     Quizá sea un huido de vaya a saber que cosas –han supuesto desde el principio sólidos presagios de las mujeres-, no se pueden tener seguridades en estas épocas en que tanta gente da la impresión de esconderse. Tal vez un viudo –ha arriesgado Juana en cierta ocasión, asimilando la misteriosa situación a telenovelas que pasan por la tarde-, murió la mujer y escapa de recuerdos o antiguas culpas. O mal separado –la imaginación se dispara, la de Juana es fértil y sus clasificaciones amplias, apela a una abundante hemeroteca mental que cuida con esmero-, la mujer se largó tras descubrir sus amoríos ocultos y le quitó hijos y propiedades, uno no acaba de comprender los comportamientos de la gente. No se le escapa ninguna alternativa de las muy diversas que puede ver mientras plancha.
     Quizá alguien a quien la familia ha expulsado de su seno por oscuros tejes y manejes, estas épocas confusas se prestan a tales situaciones ha imaginado María que no dispone de hemeroteca alguna pero si de una frondosa fantasía, para ser apoyada en el acto por Pepa. María es suegra de Pepa, vive con ella y su hijo. Y además es propietaria de la vivienda, hay apoyos que colaboran a las convivencias.  
     Puede ser…, las familias de ahora ya no son como la de antes… –opina sin mala intención  Leonor y Noemí hace  como que mira distraída hacia el campo aunque ha entendido que  la cosa no va con ella.  Lleva en su haber dos o tres matrimonios por denominarlos de alguna manera, y una reata de hijos-. No ha faltado la que computó como posibilidad que haya sido religioso y la iglesia terminado excluyéndolo por andar con mujeres, por ejemplo…, o algo peor. La iglesia tampoco es como antes.  Verdad es que se puede detectar cierto aire eclesial y mala planta no tiene, aunque eso de que a veces asome una sombra de barba no lo favorece. Pero la hipótesis ha quedado descartada hace tiempo, un sobrino de Carmen que “está en el tema” –sacristán en un convento de la ciudad parece facultad bastante para estarlo- ha hecho las indagaciones necesarias y la deniega.

     Pese a que las suposiciones no son coincidentes –algo que colabora a mantener vigente el asunto- y las opiniones pueden variar a la contraria en diez días –o aún plazos más inmediatos según quien empuñe la alternativa-, la inclinación general lo encuentra culpable de algo, familiar o social. Probablemente -y más, casi con seguridad aunque tal norte no esté confirmado-, de alguna fechoría. Nadie que no tenga en su haber malas andanzas –o cuando menos las haya compartido- puede optar por una vida así, sin las más elementales comodidades y en la soledad más absoluta. La culpa es algo que se desparrama con cierta facilidad, y la curiosidad insatisfecha termina por aparearse rápido con la insidia.

     El par de vinos parecen contentarlo, o relajarlo, es casi una sonrisa lo que aparece cuando al levantarse murmura un  “…noches” hacia los que siguen jugando al mus en la mesa cercana y pasa por su lado al comenzar la retirada. El sonido de los gastados zapatones se pierde al salir, termina de acomodarse el raído abrigo marrón sobre la camisa siempre blanca y bien planchada –detalle que no pasa desapercibido al avizor ojo de las mujeres-, se alisa el pelo entrecano quizá un tanto largo, cala la boina con esmero al cruzar la puerta, aspira de pie el fin del cigarro para aplastarlo luego sobre las piedras, y con sus largos trancos desaparece en la semi oscuridad de la noche que ya se está viniendo encima.
    Hace cosa de dos meses Tito -carnicero del pueblo, tertuliano habitual de las tardecitas y de cuanta ronda de orujo le sale al cruce en el estanco- se acercó para invitarlo a jugar una partida de ajedrez.  Sorprendido, apenas levantó la vista con gesto de extrañeza para agradecer con alguna timidez y justificar “no se jugar”, que se entendió no querer estar con nadie ni que lo inviten a nada. Ese día, incluso, hizo más corta su estancia, tomó el segundo vaso con solo un par de tragos y ni tiempo se concedió para armar su cigarro. Y se largó. Desde entonces nadie ha vuelto a acercársele, aunque el hecho –naturalmente comentado- dió pasto durante varios días al mentidero junto a la fuente. Tito no insistió pero tampoco se sintió molesto, es hombre que en su sencillez sabe entender mensajes sin que se los deletreen, escucha los rumores que arrastra el viento entre los peñascos, habla con los pájaros y la tierra, losbulets y las higueras. Pocos son los contertulios que no creen cuando cuenta que los frutos le dicen que ya están listos para ser cogidos.      
     Ayer –tarde algo ventosa, precisa como si las demás no la hubiera vivido-, ni se volvió en el momento que Carmen entró, y probablemente eso fue lo que le llamó la atención –insiste, es el fondo de la atención del día y lo va a aprovechar, la novedad, tal vez lo sorprendente que tiene a todas desarrollando conjeturas y contabilizando posibilidades-, ni miró como hace siempre cuando la cortina se mueve y alguien llega.
     Siguió concentrado en su vino –relata Carmen con cara casi de susto ahora-, semi oculto en la penumbra, el vino por la mitad, la mano tal vez un poco  temblorosa –no se corta ambientando, tiene a todas picoteando en la palma de su mano-, día que no se había afeitado –o al menos eso le pareció, debe recordarse que fue apenas un limitado vistazo-, el pelo acaso demasiado largo y un poco más descuidado que otras veces, tal vez excesivamente encorvado sobre la mesa. O quizá fuera el modo en que aferraba el vaso, casi con fuerza. increíblemente no da precisiones sobre si la camisa estaba recién lavada. Y todo esto –también reitera, previniendo que vaya a pensarse mal- apenas con una ojeada casi descuidada, que ella no es de andar indagando sobre nadie ni siquiera con la vista.
     Prepara el final, solo alcanzó a percibir la cara pero por algún motivo que se le escapa parecía extraña. Algo fue lo que le llamó la atención, algún detalle –tal vez intuición, a eso sí que no va a dejarlo para otra gente- y por eso dijo en voz alta "¡Buenas tardes...!”, y fue entonces que lo vio, eso la dejó de piedra, porque aunque no terminó el gesto de cabeceo seco, los ojos asomaron. Y ella, entonces, lo vio llorar.                                                                                                    
                                         Carlos Enrique Bischoff                       
                    

Sociedade, economia e história, quatro anos depois.

A imagem pode conter: 1 pessoa, em pé

Sociedade, economia e história, quatro anos depois.

Quatro anos atrás, apenas um pouquinho antes das eleições que reelegeram a Dilma com 54,5 milhões de votos, - aquelas em que o Aécio, o perdedor, disse que não aceitava os resultados e iria "sangrar o governo"-, escrevi este textão.
Não me arrependo nem corrijo uma vírgula sequer, porque, infelizmente, o tempo veio confirmar tudo o que estava escrito nas linhas das mãos da história, a sociedade e a economia. (JV)

"Pode parecer um tanto pedante arriscar análise das eleições a menos de 24h dos resultados, mas coincido com quem acha que estamos vivendo uma onda reacionária, e não apenas pela reeleição do Alckmin num cenário em que deveria estar perdendo e não ganhando votos, mas sobretudo pela ascensão (ou ascensão) de nomes como Bolsonaro, Pastor Feliciano, Telhada e outros representantes dos setores mais conservadores e até saudosistas da ditadura militar.
A oposição está reorganizando forças contra um governo progressista, e há uma ameaça de retrocesso. Nada disto pode ser visto sem estudar a situação nacional e internacional, e também os exemplos históricos. 
Essa oposição conservadora bateu e vai bater ainda mais nos próximos 20 dias em três temas recorrentes: 

a) Economia, que oposição e mídia consideram falida na gestão Dilma, b) Democracia, que querem "recuperar" de uma suposta "ditadura comunista" e c) Corrupção, já que insistem em que "nunca houve tanta como no governo do PT".

Primeiro, sabemos que o país é governado, há muito tempo, em seus estados do sul e sudeste -os mais populosos e ricos- pela oposição, e que o governo só tem o PT no executivo, com uma proporção de primeira minoria no congresso, e com aliados duvidosos -o PMDB e a direita anã de Collor, Sarney e Maluf-. 
Ou seja, se nos remontarmos às manifestações de junho de 2014, que a meu entender foram o "break-even-point" em que o equilíbrio a favor da Dilma começou a se quebrar, veremos que as grandes queixas ao "desgoverno" eram apontadas às administrações municipais e estaduais, e apenas às referentes aos gastos da copa 2014 eram da alçada indireta do executivo federal. O PT governa um enorme condomínio em que é apenas um 40, 45% do poder real, mas isso a oposição nunca vai deixar o povo ver e entender.

Quais são os eixos da oposição e, coincidentemente, os da imprensa?:
a) Economia: está claro que o desenvolvimentismo é o eixo do governo, base de uma ideologia bonapartista em que todas as classes que considera "progressistas", incluída a grande burguesia nacional vão fazer crescer o bolo para ir distribuindo fatias cada vez maiores para as classes populares. E isto não seria incorreto se a burguesia nacional -incluindo a pequena burguesia urbana e rural- não estivesse mais interessada em flertar com o grande capital internacional do que favorecer as classes populares nacionais. Por isso é que, independente dos benefícios às classes mais desfavorecidas, e as vantagens que o aquecimento das vendas de bens de consumo trouxe à pequena burguesia urbana, esta prefere se queixar de "o mal que a economia está", sempre de olho no economês da Globo News, que na realidade só existe para os investidores médios e grandes, como o provam os consultores vindos de grandes bancos e consultorias ao serviço do grande capital estrangeiro. Quem já lidou com algum monopólio internacional numa filial brasileira, sabe muito bem como o "bem comum" do país é tratado, na base do despreço e do puro e exclusivo interesse de lucros imediatos, fáceis e rápidos. Economia que anda bem, para oposição, é a que se ajusta aos planos liberais: ajustes, reajustes, apertos de cinto, arrochos, etc.
b) Democracia vs. comunismo: é uma ofensa à inteligência dizer que o Brasil o algum país da América do Sul vive no comunismo, e menos ainda que padecemos aqui qualquer tipo de ditadura. Socialismo significa expropriação dos meios de produção -grandes fábricas, grandes fazendas-, dos meios de comunicação, os bancos, os transportes, etc. Isto não acontece nem de longe no Brasil. Quem é socialista, comunista, ou alguma outra variante da esquerda, pode querer uma sociedade onde o núcleo central da economia é coletivizada e controlada pelo estado, mas sabe que ainda nesta situação, no mundo moderno, seguramente haverá "capitalismo de estado", combinando a existência de pequenas e até médias empresas privadas, num misto de "mercado livre" com mercado controlado. 
Mas isto não é nem de longe o que existe nem o que se propõe os petistas, nem parece ser a proposta de outros, como o PSOL ou o PCdoB. O estudo da Revolução Rusa e do partido bolchevique, e a experiência cubana demostram que cada país pode fazer um tipo diferente de revolução, e que estas experiências não são necessariamente mais traumáticas do que a Revolução Francesa, sem a qual não teríamos hoje capitalismo florescente nos EUA, França, Inglaterra, Alemanha ou Japão. 
Dizer que o socialismo fracassou, apenas em base ao "modelo" russo ou cubano é uma simplificação malintencionada, porque ninguém da oposição liberal fala do "fracasso" do comunismo chinês nem o vietnamita. Cabe então estudar todos os casos, no mundo e na história, e concluir depois na análise certa -e bem intencionada- do modelo de governo que nós temos no Brasil: houve desapropriação dos meios de produção? alguma fábrica ou fazenda foi tomada pelo governo? há regulação da produção e do câmbio? Não. Então não há comunismo (que em teoria é a etapa superior do socialismo), nem há socialismo no Brasil. Há um governo desenvolvimentista que errou no seu manejo com as classes proprietárias, uma vez que as grandes facilidades para o enriquecimento das classes médias -evidentes para toda a população e para a imprensa internacional- não é reconhecido, nem muito menos agradecido. Errou no esbanjamento de políticas consumistas, pois a nova classe média baixa não agradece, cospe no prato e quer mais, quer ser amiga do dono do capitalismo lá fora.

c) Corrupção versus decência: bandeira justa, mas que a classe média agora na oposição conservadora mistura com críticas às alianças com a direita política -Maluf, Collor, Sarney- e nisto se iguala à esquerda mais liberal (ou anarquismo liberal) que critica acidamente ao PT o "abandono das velhas bandeiras". Primeiro, o PT nunca foi um partido revolucionário, menos ainda socialista (ou comunista), mas apenas uma convergência de três alas: a sindicalista do Lula e a que logo seria a CUT, a ala católica de base, e a dos ex guerrilheiros e ativistas da esquerda anterior a 1979. Os grupos mais ligados à experiência guerrilheira internacional, talvez mais seduzidos pelo aparatismo e a burocracia neoestalinista, costuraram alianças e até subornaram políticos da velha direita para obter uma base de apoios ao governo Lula em 2002. Não creio que não se devam fazer alianças com a direita e o centro, mas desde que sejam programáticas e pontuais, para incorporar a ajuda de um ou outro partido em questões técnicas e concedendo o que for necessário, mas às claras, documentada e publicamente.
Considerando estes três pilares da oposição, é difícil entender que a proposta liberal do PSDB -um partido que hoje abandonou toda e qualquer bandeira socialdemocrática clássica para ser um polo de aglutinação conservador- possa levantar oportunisticamente os planos de governo que dão sustento ao PT e à esquerda, como o Prouni, Ciência sem Fronteiras, Mais Médicos, Caminho da Escola, Brasil Sorridente, Luz para Todos, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Brasil Conectado, Pronatec, Brasil Carinhoso. Não há a mínima coerência entre estes planos e um projeto liberal de "estado menor", "livre mercado". Ou o PSDB está mentindo descaradamente -o que é mais provável, já que seu seguidores há anos que chamam estes programas de "bolsas-vagabundo"- ou estão dispostos a falir o estado apenas para retomar o controle do governo federal, lembrando que já controlam os estados mais populosos do país.
Neste quadro, o argumento do governo popular é claro; ele é o único que obteve, em 12 anos, avanços que beneficiam a população mais pobre: o salário mínimo teve aumento real de 72% nesse período; o investimento público em educação passou de 4,8% para 6,4% do PIB; o Prouni levou mais de 1,5 milhão de jovens à universidade; a quantidade de brasileiros viajando de avião passou de 37 milhões por ano, para 113 milhões por ano; a produção de automóveis no país dobrou para 3,7 milhões/ano; o fluxo de comércio externo passou de US$ 107 bilhões para US$ 482 bilhões por ano; o PIB per capita saltou de US$ 2,8 mil para US$ 11,7 mil; a população com conta bancária passou de 70 milhões para 125 milhões; as reservas internacionais do país, de US$ 380 bilhões, correspondem a 18 meses de importações, o que fortalece o Brasil num mundo em crise; ao longo da crise mundial o Brasil fez superávit fiscal de 2,58% ao ano, média que nenhum país do G-20 alcançou; os financiamentos do BNDES para a empresas têm inadimplência zero; a dívida pública bruta do país, ao longo da crise, está estabilizada em torno de 57%; há 10 anos seguidos a inflação está dentro das metas estabelecidas pelo governo, mesmo que este ano tenha passado levemente do teto.

Javier Villanueva, São Paulo, 6 de outubro de 2014/18

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

El oscurantismo de los influencers

Resultado de imagem para que son los influencers


 es un nuevo amigo, que nos viene de México, y que en su militancia triple de escritor, maestro-profesor y periodista, es capaz de descubrir nuevas vetas para el pensamiento, caminos nuevos, más ricos y desafiantes, en una época llena de amenazas de retroceso, de laberintos que pueden llevarnos a un caos todavía más desastroso que el que estamos viviendo. La personalización hedonista y el abandono de la lucha contra la injusticia o contra la ignorancia son síntomas de un mal más profundo, y Samuel nos invita a pensarlo y a repensarlo. (JV)
En Facebook encontramos en una página imperdible, Samuel Rodríguez Medina

El oscurantismo de los influencers


"La era del vacío" es un libro fundamental para obtener ciertos principios de lucidez sobre el devenir de la sociedades contemporáneas, fue escrito a mediados de la década del ochenta por el filósofo francés Gilles Lipovetsky. Los capítulos inaugurales del libro concentran su atención en las características propias de la llamada posmodernidad, su efecto en la personalidad de nuestra sociedad y su relación con el individuo.
El diagnóstico es fascinante: nuestra sociedad se encuentra conmocionada luego de la caída de los valores absolutos que fueron el resultante de la dinámica histórica del siglo XIX.  Según este pensador, los grandes ejes de la sociedad moderna, como la razón, la disciplina, el laicismo y la libertad han sido abandonados y este vacío ha sido cooptado por un fuerza de personalización hedonista, como él lo llama. En este sentido, el autor explica que la sociedad moderna era conquistadora, creía en el futuro, en la ciencia, en la técnica, en la voluntad, en la necesidad de las revoluciones sociales. Hoy día, nuestra posmodernidad ya no cree en el futuro, no intenta sacrificios en pos de un mundo mejor para los que vienen, lo que importa no es que mejore el mundo, si no que mejore "mí" mundo; esta apatía ha generado individuos enamorados de sí mismos en donde cualquiera, mientras crea tener algún mérito, puede considerarse modelo de comportamiento. Este vacío en la estructura social ha arrojado un narcisismo de dimensiones descomunales, de tal manera  que no importa tener talento o  generar una lucidez sobre determinado tema, tampoco importa realizarse desde una lucha contra la injusticia o contra la ignorancia, lo que importa es ser visible desde un alto nivel de consumo que nos proveerá de una apariencia deseable la cual se replicará en miles de individuos igual de vacíos que el modelo original.
Estos modelos hacen de nuestra sociedad su casa, provocando que los llamados influencers se reproduzcan por miles, parasitando en la mente de individuos ansiosos de ser aceptados socialmente. El peligro reside en la colonización que el influencer realiza en la personalidad del espectador. El influencer más dañino es aquel que busca su validación social basándose exclusivamente en su poder de consumo; son generalmente chicos o chicas banales (aunque también hay hombres y mujeres en edad madura, y que son los más dignos de conmiseración)  poco interesantes que intentan vender descaradamente un llamado estilo de vida con derivadas comerciales y los más torpes con derivadas seudo místicas (la llamada espiritualidad al vapor).  El daño que producen es extraordinario, de tal manera que logran introyectarse en el pensamiento de su espectador presionado sus necesidad de aceptación, generando dinámicas de hiperconsumo que no tiene fin y desarrollando un culto a su personalidad que da como resultado una pobre visión de los proyectos de auto realización que cada quien pudiera anhelar. Estos personajes, carentes de toda nobleza espiritual y arraigados en un consumo bestial, se han convertido en microhéroes sociales: dan charlas en las universidades, se erigen como representantes de la creatividad, generan seguidores y realizan campañas de cualquier tipo.
Lipovestky explica este fenómeno como el exceso del juego de las apariencias que cautivan fácilmente a una sociedad sin convicciones, apática, desapasionada e ingenua. De esta manera, los influencers  se convierten en una superstición contemporánea, en los nuevos hechiceros de la imagen que se inventan méritos mientras disfrazan su grandísima ignorancia lanzando una visión construida a base de consumo que los valida ante los espectadores más vulnerables intelectualmente. Este neo oscurantismo crece como una mancha en las redes sociales, intoxicando mentes y desposeyendo intelectualmente a una sociedad ya de por sí devastada.
Es verdad que vivimos en la era del vacío, sin embargo, es verdad también que nuestro tiempo ha generado personas de muchísima altitud espiritual que pueden servir como luminarias en esta fría noche de los tiempos: Gandhi, Luther King, Francisco Villa, Bertha Cáceres, María Claudia Falcone, Alfonso Cuarón, entre otros, nos lanzan la pregunta por la pasión.
Este nuevo oscurantismo atroz sólo será superado cuando entendamos que las ideas y la fuerza del pensamiento valen más que la infame tiranía de la apariencia.