terça-feira, 23 de outubro de 2018

Os protozoários, Napoleão e a memória dos povos


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Os protozoários, Napoleão e a memória dos povos

Um ano atrás escrevia este artigo, e eu sei que as coisas mudaram bastante no Brasil, mas trocaram suas formas e não na essência, que continua a mesma, apenas incrementada, aumentada em proporções assustadoras. 
O velho oportunismo de partidos-elefante como o PMDB (hoje MDB, como nos anos de chumbo, que eles esqueceram) e o PSDB, um dia social-democrata e hoje comido por dentro pela direita que começou com Alckmin e o Opus Dei, já são quase passado de tanto que se desinflaram e perderam importância direta. 
Enquanto que a velha corporação lumpem de partidões anões de aluguel do Centrão, impulsionada pela força imparável dos neo-pentecostais, dá um novo fôlego ao projeto de Temer, mas com outro líder, dessa vez um populista de extrema direita.
As coisas mudaram, pra pior, mas seguem seu curso. (JV)

O jornal "La Nación", liberal-conservador, fundado em 1870 por Bartolomé Mitre, comandante da Tríplice Aliança que destroçou o Paraguai na guerra infame, festejou um ano atrás, 23/10/17:
As manchetes de "Le Moniteur Universel" nas ediciones de março de 1815, e na medida que Napoleão se aproximava de Paris, passaram de "O Monstro escapou do seu desterro" (na Ilha de Santa Helena), a "O Usurpador está a 60 horas de marcha da capital", para mais tarde informar que "Bonaparte avança a marcha forçada", e logo depois, "O Imperador está em Fontainebleau", para finalmente, ante o inexorável, colocar a manchete que destilava um despurado servilismo: "Sua Majestade fez sua entrada pública e chegou às Tulherias. Nada pode exceder a alegría universal. ¡Viva o Império!".

Comparando o Brasil de um ano atrás, com aquela Argentina pós- eleições parlamentárias de 2017, dizíamos que Macri não é Napoleão, é claro, assim como Dória e seu outro amigo tropical, Temer, não são figuras que vão ficar nos livros de história. Mas o peronismo oficial - o justicialismo-, ele sim, cada vez se parece mais às manchetes do "Le Moniteur Universel" ante o avance do trinfador do momento.
E o justicialismo argentino lembra o PMBD dos nossos trópicos: junta de caciques regionais oportunistas e sem princípios, sempre à procura de sombra e água fresca para suas negociatas. 
Burocracia sindical e peronismo de direita, sempre às ordens para o que os engendros liberais - mais ditatoriais ou mais institucionalistas- gostem mandar.

O triunfo da direitista Elisa Carrió por mais de 50% em Buenos Aires, como o de Dória em São Paulo há um ano (2016), ou o eterno Alckmin no estado, demostram sim, que Napoleão está próximo. Só que a restauração republicana imperial bonapartista era para acabar com os restos das monarquias reacionárias que esticavam a Idade Média para dentro de um século XIX que queria mais industrialismo e democracia do que reis e cortes corruptas.
A direita e a ultra direita  hoje - no Brasil, na Argentina e no mundo todo- vão por mais: querem acabar com toda e qualquer política que seja ou pareça minimamente "assistencialista", leia-se: de minimização dos brutais desníveis sociais entre as classes possuidoras e os explorados.
Elisa Carrió em Buenos Aires - que fez odiosas declarações em relação à desaparição de Santiago Maldonado nas mãos da polícia de "gendarmeria", confirma o avanço da coalizão oficial de três pés, formada pelo partido de Macri, mais o partido centenário como mero coadjuvante (o Radicalismo) e uma dirigente que age como "fiscal moral da república" e inspetora do próprio governo - Elisa Carrió-, que ela pretende comer por dentro, a nível nacional. E isto tudo aconteceu, pela primeira vez, sem um segundo turno: igualzinho à vitória de Dória sobre Haddad.

Avanços da direita que a classe média de centro festeja ruidosamente.
Tempo ao tempo. O povo não vai virar protozoário, e ninguém se apaixona pela ignorância por muito tempo. 
Paciência e ainda mais luta.

JV. Catamarca, 23 de outubro de 2018

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