sábado, 24 de novembro de 2018

La historieta en Argentina y Chile. As HQ chilenas e argentinas

La historieta en Argentina y Chile. 
As HQ chilenas e argentinas

Hace un tiempo que escribo sobre la historieta argentina y chilena. ¿Vamos a empezar un resumen y una revisión?
Vean acá el primer artículo sobre Patoruzú:

https://javiervillanuevaliteratura.blogspot.com/2013/10/para-leer-mejor-al-indio-patoruzu.html


E para os amigos brasileiros, vejam a seguir um resumo rápido de tudo o que já publiquei neste Blog e ainda vou publicar.
As imagens, os links e os textos foram tomados de:

http://www.tradutoradeespanhol.com.br/2013/01/):


Chile: 

Condorito é uma tira em quadrinhos criada pelo cartunista chileno René Ríos, conhecido como Pepo. É o gibi mais popular do Chile e foi distribuído em toda a América Latina. 
Como qualquer tira cômica, cada pequena história é independente do resto e tem sempre um final cômico. Uma característica particular das tiras do Condorito é que ao final de cada história, uma ou várias personagens desmaiam após serem vítimas de uma situação embaraçosa, a queda é sempre acompanhada da onomatopeia ¡PLOP!. Também costuma terminar com a exclamação «¡Exijo una explicación!» por parte do Condorito ou de seus amigos quando as coisas não dão certo. 
O estilo cômico que predomina em Condorito é o humor branco e a sátira, mas também há piadas com duplo sentido. 

www.condorito.cl


Argentina: 

Mafalda é o nome de uma tira desenhada pelo cartunista argentino Joaquín Salvador Lavado, conhecido como Quino, de 1964 a 1973, protagonizada por uma menina preocupada com a humanidade e a paz mundial, y que se revolta contra o mundo legado pelos adultos. 
Mafalda usufrui de uma altíssima popularidade na América Latina e em alguns países europeus como Espanha, Grécia, Itália e França. Foi traduzida a mais de trinta idiomas. O tipo de humor é perspicaz, irônico e questionador, Mafalda fala não apenas da Argentina, mas das inquietudes de índole universal. 


Site oficial do Quino
www.quino.com.ar 

Larguirucho é uma personagem do cartunista espanhol naturalizado argentino Manuel García Ferré, que ficou popular fazendo parte da primeira série televisiva de desenhos animados Hijitus (1967-1974) na América Latina. 
Ao virar histórias em quadrinhos, Larguirucho transformou-se em um desafortunado que que empre se dá mal. Muito semelhante ao estilo de Condorito. 

clubdehijitus.blogspot.com.br


Patoruzú foi criado pelo cartunista argentino Dante Quinterno em 1928. É uma das personagens mais influentes dos quadrinhos da Argentina. Nasceu como personagem secundária em duas tiras cômicas de vida curta, o cacique Patoruzú - o último dos tehuelches, vistos pelos conquistadores espanhóis como gigantes dotados de força prodigiosa – obteve em pouco tempo sua própria revista em quadrinhos, que daria origem à revista homônima, um dos grandes marcos do humor gráfico argentino. 
www.patoruzu.com

Isidoro Cañones também foi criado por Dante Quinterno e também começou como personagem secundária de Patoruzú, mas que em 1968 tinha suficiente popularidade para merecer a sua própria revista em quadrinhos. A personagem representa o playboy de Buenos Aires. 
Se desejar saber mais a respeito da Mafalda, do Quino, e de outras personagens da Argentina e do mundo, acesse o seguinte site. 

www.todohistorietas.com.ar

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Don Quijote e a cápsula do tempo do Pepito




DON QUIJOTE
, de Orson Welles



Don Quijote e a cápsula do tempo do Pepito


Pepito abriu a cápsula do tempo que havia selado e enterrado no fundo do jardim, dentro de um baú, em 2018. 
Tinham passado 20 anos desde então, e ele já estava com 87, quase 88. Para os padrões da época não poderia ser considerado ainda um ancião, mas sim um respeitável senhor de idade, que andava pra lá e pra cá no bairro com uma elegante bengala e um chapéu, para evitar que o sol queimasse a careca incipiente. 

Mas, apesar de uma certa decadência física e talvez um pouco de deterioro intelectual - que ele se negava a deixar transparecer- e que na idade avançada é bastante normal, Pepito se sentia realmente feliz e "realizado", como se dizia muito tempo atrás.

E é que, igual que os piratas que guardam seus tesouros em ilhas longínquas, Pepito tinha em 2038 um baú cheio de joias e moedas de ouro: o grande amor da sua vida e uma filha, a que quase três décadas atrás não esperava ter, depois de quatro meninos que já eram homens na hora de enterrar o baú; e muitos netos, os que já estavam na época e eram quase adultos, e os que viriam mais tarde, alguns deles adotados, como prova do muito amor que sempre tiveram na família, para dar e ainda sobrar bastante. 

Porque Pepito tinha uma família enorme, com bisnetos, e com muita história, com lembranças heroicas de vidas passadas, a maioria delas muito comuns e corriqueiras, e outras nem tanto. 
No fundo do baú havia ainda o embrulho das memórias e livros, os muitíssimos que já tinha lido e os que ainda leria, e os tantos que escrevera até então ou ajudara a escrever e ainda os muitos que ainda iria escrever.
 
Estavam lá também seus alunos, que não eram igual a seus filhos, mas se pareciam um pouco; e milhares, que digo, milhões de histórias para contar. Muitas verídicas, outras fantasiosas ou misturadas, algumas abertamente mentirosas.
Mas, voltando ao começo da contagem das moedas do cofre: para que serviria tanto ouro ao Pepito se não tivesse, hoje mesmo, uma mulher e uma filha que são o espelho invertido onde ele vê todos os defeitos da sua natureza de homem e a dos seus filhos e netos? 

E também, pensava Pepito enquanto contava e recontava seus tostões: do que valeria ter família, livros e alunos, e todo o amor desse pequeno círculo, se não tivesse amor de paixão e solidariedade pelos outros seres humanos; se não entendesse a tristeza e a humilhação dos oprimidos, da mulher que sofre o machismo, do negro que aguenta o racismo, do gay e o/a transexual que suporta a homofobia? 

Do que valeria o tesouro guardado se tivesse que viver escondido, com medo dos que sofrem? 


- Quem sabe daqui a vinte anos, em 2038, quase 39- pensava Pepito enquanto enterraba o baú com a cápsula, ainda em 2018-, o mundo não esteja no turbilhão de uma catástrofe, como esteve cem anos atrás, e sim olhando para horizontes mais amplos, menos mesquinhos, mais solidários e humanistas.

JV. Buenos Aires, novembro de 2018

sábado, 17 de novembro de 2018

Izquierda, comunismo, socialismo, socialdemocracia. ¿Es todo igual?

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Izquierda, comunismo, socialismo, socialdemocracia. 
¿Es todo igual?

Nada mejor que la historia y sus datos en documentos - papeles, fotos, filmes, grabaciones, etc- para aclarar las zonceras del presente. 
Meter en una bolsa de gatos a todo pensamiento progresista, de centro o centroizquierda, y mezclarlo con los de las izquierdas, reformistas o revolucionarias, es lo mismo que confundir al fascismo con el liberalismo o el viejo conservadorismo clásico.
Por ejemplo, y para tratar de entender mejor las cosas, la llamada guerra entre Camboya y Vietnam a fines de los años 70, se refiere a una serie de conflictos armados entre los dos países, que terminó con la invasión vietnamita de la Kampuchea Democrática al mando del general Văn Tiến Dũng, que en la Guerra de Vietnam había derrotado a las tropas de Estados Unidos y Vietnam del Sur, resultando la derrota del régimen de los Kemer Rojos y el establecimiento de la nueva República Popular de Kampuchea.
La ocupación de Camboya acabó con el genocidio camboyano - que ocurrió de 1975 a 1979, luego de finalizada la ocupación militar estadounidense- que fue liderado por Pol Pot, quién había llegado al poder durante la Guerra Civil Camboyana, de algún modo paralela al la vietnamita, y que duró de 1967 a 1975, y tras derrocar al mariscal Lon Nol, presidente de la República Khmer, aliada del antiguo Viet Nam del Sur y los EEUU. 
El conflicto, además de mostrar las milenares tradiciones de amistad entre Camboya y Vietnam, también trajo otra vez a luz el profundo conflicto chino-soviético que dividió al movimiento comunista de aquella época. 
El Partido Comunista de Vietnam -PCV- contaba con el apoyo unilateral de la URSS, mientras que el Partido Popular de Kampuchea tenía de aliado a la República Popular China. 
Después de la toma del poder por los Kemer Rojos, la escalada de conflictos fronterizos con Vietnam fue en aumento. Como consecuencia, el 25 de diciembre de 1978 unos 150 mil soldados vietnamitas invadieron Kampuchea y en una ofensiva relámpago tomaron el control de todo el país, incluida la capital Phnom Penh. 
En respuesta al ataque a su aliado, China invadió Vietnam - fue el llamado Conflicto Chino-Vietnamita, de febrero a marzo de 1979- y el enfrentamiento terminaría en un empate simple después de la retirada china, que no quería enfrentamientos con su poderoso rival ruso soviético, ni con la guerrillera Vietnam. 
El 8 de enero de 1979 los vietnamitas crearon la República Popular de Kampuchea, aunque durante los años siguientes la ONU siguió reconociendo a los Kemer rojos como el gobierno legítimo de Camboya. 
Por otro lado, tanto el nuevo gobierno como las tropas vietnamitas estacionadas en el país tuvieron que enfrentar una guerra de guerrillas de un rejunte de grupos armados activos en la región.
La gran presión internacional obligó al nuevo gobierno camboyano — considerado como un estado títere de Vietnam— a realizar una serie de reformas económicas y políticas que llevarían a la retirada de las tropas vietnamitas en 1989 y un mayor control del país. Junto con la restauración de la monarquía en 1993, los Kemer rojos anunciaron su desmovilización en 1999.

Pero, ¿no eran todos comunistas?
¿Cómo se explica todo esto? ¿No era la URSS, así como la China y Vietnam hoy, y aquel régimen genocida derrotado por los vietnamitas en Camboya, todos ellos comunistas?
Existe uma obra de história, sociológica y política de largo aliento, llamada Crisis del Movimiento Comunista Internacional, en dos tomos, de Fernando Claudín, un antiguo dirigente comunista que rompió con el partido (el PCE - Partido Comunista de España), y que trata de explicar sus posiciones políticas presentes. 
A veces, atrás de esas autocríticas se descubre a un renegado, alguien que vende su alma al diablo, y trata de hacer méritos de arrepentido con un anticomunismo frenético, con el que no ataca solo a la burocracia del estalinismo, sino también al anticapitalismo, a las ideas socialistas en general. 
Ese es el caso de un Fernando Gabeira, que después de "Que é isso, companheiro?" revisa su trayectoria de guerrillero y viene girando a la derecha y al neoliberalismo; o el de Aloysio Nunes, ex motorista y guardaespaldas de Marighella en los años 70, más tarde candidato a vice de Aécio Neves contra Dilma en 2014, y actual ministro de Temer. 
Ese tipo de "autocrítica" es nada más que una manera de justificar el poder y servir a la clase dominante. Son los apóstatas integrales, de los que acabo de dar apenas dos ejemplos en Brasil.
Pero cuando leemos Crisis del Movimiento Comunista Internacional, enseguida nos tranquilizamos con el libro de Fernando Claudín porque se trata de un libro honrado, nacido de las reflexiones de un viejo revolucionario que no quiere dejar de serlo, y de un estudio profundo que desmenuza en minúsculos detalles, las batallas ideológicas y políticas en el seno del socialismo (o comunismo, así llamado a partir de la Revolución Rusa de 1917 para diferenciarlo de la Socialdemocracia europea).
En esa obra - y en las de Rosa Luxemburgo y sus polémicas con Lenin sobre la dictadura del proletariado, y en la batalla de Trotsky contra Stalin, y en los escritos de Lucaks, y Gramsci, hay toneladas de temas para la discusión y reflexión sobre los hechos de gran éxito y los fracasos del socialismo.
Pero cuando hablamos de cualquier tema que cuestione algún aspecto del pensamiento liberal, o conservador, y mucho más el del fundamentalismo conservador de varios colores- de inmediato oímos hablar de Cuba, Fidel o el Ché, o de los "fracasos" del comunismo (nunca se habla de las guerras, fracasos y tragedias diversas del capitalismo, o las más de 230 invasiones de los EEUU y sus aliados para imponer su concepto de democracia.

Los médicos cubanos y las reacciones de la derecha
Y así ocurre ahora con el tema de los 11 mil médicos cubanos que están dejando Brasil. No vivo en Cuba, no me voy a Cuba, y tengo mis muchas críticas a Cuba, que seguramente hasta el Ché las tendría, sino quién sabe se hubiera quedado en su segunda patria, en vez de ir a buscar una nueva revolución y una muerte segura en África o en Bolivia. 
No discuto Cuba, a no ser en los hechos: los EEUU no se metieron más con la URSS cuando vieron que los ejércitos blancos no vencerían al Rojo; lo mismo con la China de Mao, y con el Vietnam que les dió la primera zurra histórica, después de 230 países y territorios extranjeros invadidos. 
A Cuba - democracia o dictadura- no la toleran por una cuestión meramente ideológica y claro, por estar muy cerca de Florida, donde hay varios miles de cubanos refugiados. 
De lo que se trata aquí, ahora, es de los 11 mil médicos -cubanos o japoneses, no importa- que van a dejar 30 millones de los pobres más pobres de Brasil sin asistencia médica. Y que no va a ser cubierto ni al 20% en menos de dos o tres años. ya hubo esa oportunidad en 2013 y Dilma solo llamó a a los cubanos cuando vio que los médicos de la Paulista y Leblon no querían ensuciarse las manos con los neguinhos de los grotões. 
Esa es una realidad que me interesa. Si de discutir los éxitos o fracasos del comunismo se tratase, tendríamos que discutir Rosa Luxemburgo y sus críticas a Lenin, Trotsky y sus críticas a Stalin, el maoismo, el castrismo y el guevarismo en el mundo, y otra vez estaríamos discutiendo de éxitos -la Revolución Rusa trajo todas las reformas laborales que la derecha ni el liberalismo europeo y estadunidense querían haber concedido jamás, -y eso hasta los escandinavos, franceses y alemanes lo reconocen!- y lo mismo si se estudia la bipolaridad China-EEUU que tanto lo atemoriza a Trump y sus Red Necks. Cuba tomará sus caminos, pero los nuestros por acá van muy mal, por un muy mal camino.
JV. Bs.As. Noviembre de 2018.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Seu Xunqueira, o livreiro de São Paulo que havia assaltado um transatlântico



Capa do livro que Souttomayor, o companheiro de aventura do Seu Xunqueira publicou e que, como veremos mais abaixo, não se corresponde com a realidade, segundo a opinião do autor do texto, Miguel Urbano Rodrigues. 

Seu Xunqueira, o José Velo do texto a seguir, que conheci graças à amizade com a Elizabeth Lorenzotti,  é um desses personagens que sempre me apaixonam, porque podem passar da Utopia mais desvairada -que sempre é assim, ou não seria Utopia, porque ela é possível, sempre que encontre loucos capazes de levantá-la como bandeira- à ação revolucionária. 
Loucos revolucionários não são dementes nem desvairados, apenas exigem o impossível porque são cruamente realistas. Porque sem sonhos não há vida, nem futuro, nem filhos, nem amor, nem sexo. 
Sem sonhos, a vida é uma chatice e quem leva as de ganhar é sempre o mais perverso, o conservador, o que esmaga as Utopias com as botas das ditaduras.
Só os Xunqueiras fogem desse padrão e criam novos protocolos a seguir. 

Dito isto, acrescento apenas que, para os que falamos a diário o português brasileiro e o espanhol argentino, é um prazer refinado poder ler e ouvir falar em galego, a língua da nação que ficou presa dos Reis Católicos e se afastou da sua irmã Portugal. A língua do seu Xunqueira, o herói destas páginas. (JV)

https://javiervillanuevaliteratura.blogspot.com/2013/05/el-asalto-al-trasatlantico-santa-maria.html

https://javiervillanuevaliteratura.blogspot.com/2013/05/el-asalto-al-santa-maria-un-navio.html


José Velo Mosquera, revolucionário puro e cavaleiro da utopia

Miguel Urbano Rodrigues (In Memoriam - 1925-2017)
O texto que reproduzimos a seguir foi escrito por Miguel Urbano Rodrigues para ser publicado no número 1 da Revista Kallaikia, da Associaçom de Estudos Galegos (AEG), correspondente a outubro de 2016. Publicado na altura na ediçom impressa da Kallaikia, disponibilizamo-lo agora também em formato html em homenagem ao próprio Miguel Urbano Rodrigues, grande amigo da causa nacional galega recentemente falecido, assim como ao protagonista do texto, o patriota galego José Velo, de cujo nascimento se completou precisamente no ano 2016 o primeiro centenário.


José Velo Mosquera foi um revolucionário de uma pureza e autenticidade raras.
Escrevi num dos meus livros que não conheci alguém que se lhe assemelhasse pela personalidade. Era um Quixote moderno, mas diferente do herói imortalizado por Cervantes.
Em Janeiro de 1961, ao chegar ao «Santa Maria» após uma viagem tormentosa, senti quando trocamos o primeiro abraço uma grande empatia com aquele galego alto, magro, desengonçado, ossudo, que me sorria e irradiava caráter e fraternidade.
No transatlântico, rebatizado como «Santa Liberdade», o comandante nominal era Henrique Galvão, mas apercebi-me logo que os comandantes reais eram dois galegos: Souttomayor e Velo, que usava o nome de guerra de Junqueira de Ambia.
Galego da aldeia de Celanova, amava a palavra, tratava-a com amor. Fazia do gesto uma arma de persuasão. Era um comunicador, e, dotado de uma imaginação prodigiosa, recorrendo a metáforas e a parábolas, impressionava tanto os companheiros da «Santa Maria» que a maioria aderia ao seu discurso, por mais absurdas e inviáveis que fossem as suas análises e sugestões.
Somente com o rodar dos meses me apercebi de que era um mitómano talentoso. Quando um mito o encantava, trabalhava-o com tamanha paixão que objetivos inatingíveis se tornavam parte integrante do seu ego.
Sobre a grande aventura e o fim do chamado Diretório Revolucionário Ibérico de Libertação-DRIL escrevi muitas dezenas de páginas. De Henrique Galvão e Soutomayor somente guardo péssimas recordações. Ambos, de revolucionários somente tinham a máscara. O livro de Soutomayor «Eu roubei o Santa Maria» é, aliás, uma impressionante coleção de mentiras de um aventureiro megalómano.

Agora , quando a juventude estudantil da Galiza presta homenagem a José Velo, penso com emoção e saudade no amigo, no patriota galego, no cavaleiro do sonho para quem o sentido da vida era inseparável do combate pela revolução social.
Após a entrega a Salazar do «Santa Maria», quando o governo de Jânio Quadros concedeu asilo político aos participantes no assalto ao barco, Junqueira - assim lhe chamei sempre - ficou instalado em minha casa.
Escreveu então artigos sobre a fracassada aventura e deu entrevistas a influentes órgãos da comunicação social. Nos contactos mantidos com intelectuais progressistas de São Paulo e dirigentes estudantis anti salazaristas , favoráveis à independência das colonias portuguesas, Junqueira rapidamente adquiriu popularidade e prestigio.

Intelectual culto, fora professar de Filosofia e Matemática em Caracas, onde residira anos como exilado. Era no grupo do «Santa Maria» o único que estudara clássicos do marxismo, embora Soutomayor tivesse militado no PCE.
Tinha lido milhares de livros. Mas Marx, Kant, Newton, Einstein não bastavam para saciar a sua fome de saber. A sua cultura desarrumada refletia o espirito de um cavaleiro andante fora do tempo.
Dizia ser marxista e leninista, mas não podia sê-lo. Paradoxalmente, desenvolvera uma conceção idealista da História, incompatível com o materialismo dialético.
Como nacionalista galego tinha uma admiração enorme por Castelao.
Na época, eu ainda não estava curado do esquerdismo, definido por Lenine de doença infantil do comunismo.
Os companheiros do «Santa Maria» estavam instalados numa quinta alugada, próxima de São Paulo, teoricamente disponíveis para empreenderem novas tarefas ao serviço do DRIL.
Concebi então um projeto louco. Iria à Guiné Conakry estabelecer contato com Amílcar Cabral, do PAIGCV, e os dirigentes do Movimento Popular de Libertação de Angola para oferecer a colaboração do DRIL na luta pela libertação da Guiné Bissau e de Angola.
Dediquei ao tema alguns capítulos de um livro. Fui muito bem acolhido e escutaram com atenção a minha proposta. O presidente SekouTouré, que me recebeu cordialmente, prometeu facilidades para a instalação no país dos combatentes do DRIL.
Mas o tresloucado projeto não tinha pernas para andar. De São Paulo recebi a notícia de que o grupo do «Santa Maria» tinha abandonado a quinta no Carnaval e se dispersara. O DRIL não existia mais.

Ao regressar ao Brasil, encontrei Junqueira amargurado.
Em Conakry eu tomara conhecimento pelo «Avante!» de que o PCP alterara a sua estratégia, criticando o desvio de direita, e defendia um «levantamento nacional e uma insurreição popular armada», ou seja uma linha revolucionaria que Álvaro Cunhal sistematizaria mais tarde no «Rumo à Vitória».
Essa inflexão estratégica entusiasmou-me e, ao regressar a São Paulo, informei o responsável do Partido de que podiam contar comigo. Não aderi logo ao PCP, mas já me sentia comunista.
Junqueira compreendeu a minha opção. Não ouvi dele uma censura ao adquirir a certeza de que eu não o acompanharia mais em aventuras utópicas. Mas, apesar disso, continuou a expor-me com frequência projetos fantásticos, miríficos, que concebia como concretizáveis.
Foi um amigo maravilhoso, e o afeto granítico que nos unia era mais forte do que o abismo ideológico que nos separava.

O PATRIOTA GALEGO
O conceito de pátria era nele revitalizado por uma aversão profunda por Castela e os castelhanos.
Recordo que, ao chegar a São Paulo, me confidenciou que ao ver nas ruas e nos jornais tudo escrito na «sua língua» se comoveu. Sentiu-se numa gigantesca Galiza.
Lamentava que a Galiza, em vez de se ter ligado a Portugal, caminhando fundidos pela História, tivesse sido conquistada, anexada e humilhada por Castela.
Não perdera a esperança de uma aproximação cada vez mais profunda, intima, dos dois povos irmãos, ramos de um tronco comum.
Permaneceu em minha casa até Xovita, a sua companheira, chegar ao Brasil, vinda da Venezuela. Vitor, o filho de ambos, participara, com apenas 15 anos, no assalto ao «Santa Maria».
Xovita era uma mulher galega que tinha os pés bem firmes na terra. Com o seu sentido prático convenceu-o a abrir uma pequena livraria. Eu visitava-o com frequência, discutíamos os grandes problemas da humanidade, e recordo que Junqueira, com os cotovelos apoiados no balcão, se inflamava quando principiava em voz baixa a dar-me notícias da Galiza, que o alegravam. Concluía que o espirito revolucionário do seu povo, segundo ele, se mantinha vivo. A imaginação e a fantasia suavizavam-lhe a tristeza de um exílio cujo fim não iria viver.
Não esqueço que vendeu dezenas de exemplares de um livro meu que foi proibido e apreendido em 1968 pelo governo do Brasil, então submetido a uma ditadura militar fascista.
Morreu aos 55 anos, apos uma doença prolongada que o fez sofrer muito e lhe destroçou o corpo frágil.
Não esqueci que na última vez que falamos, ao visitá-lo no hospital, se animou ao falar de um grande projeto revolucionário que tinha concebido...
Foi sepultado com a bandeira galega, como tinha exigido.
Escrevia um livro quando a morte chegou. O Vitor entregou-me o manuscrito. Transcorridos tantos anos ainda me dói o que aconteceu. Era uma reflexão sobre temas políticos e culturais. Não foi possível publicar no momento o seu trabalho porque estava redigido em galego, o que exigia adaptação ao português.
Guardei o manuscrito. Um dia verifiquei que, tal como livros e documentos meus, tinha desaparecido. Estávamos no auge do terror policial e eu era muito visado pelas polícias políticas da ditadura militar.
Hoje recordo-repito- com saudade e carinho o amigo querido, cavaleiro da utopia, mas um dos revolucionários mais puros que conheci.

Serpa, 23 de Fevereiro de 2016