Três grandes momentos revolucionários na América Latina do século XX
Depois da Revolução
Mexicana - que na realidade foram duas, simultâneas- as revoluções Cubana e
Sandinista, e a tentativa frustrada no Chile de Allende, representam projetos
que vamos a analisar em suas semelhanças e diferenças:
A Revolução Cubana foi um movimento popular, que derrubou o governo do presidente Fulgencio Batista, em janeiro de 1959. Como consequência do processo revolucionário, foi implantado em Cuba o sistema socialista, com um governo liderado pelos dirigentes do movimento revolucionário: os irmãos Fidel e Raúl Castro, o Che Guevara e Camilo Cienfuegos, que morreu pouco antes da constituição do governo popular.
A Revolução Sandinista foi
uma revolução popular ocorrida na Nicarágua entre 1979 e 1990, dirigida pela
Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) - chamada assim em memória ao
líder nacionalista Augusto César Sandino, que depôs o então presidente
Anastasio Somoza Debayle. A FSLN liderou a primeira revolução em que se aliaram
o cristianismo de libertação e os intelectuais marxistas, e governou o país
durante onze anos.
O Governo Allende. Em 1970 Salvador Allende foi eleito presidente do Chile pela Unidade Popular. Esse agrupamento político era formado por socialistas, comunistas, setores católicos e liberais do partido Radical e do Partido Social Democrata, e contava com grande apoio dos trabalhadores urbanos e dos camponeses. O governo Allende pretendia construir uma sociedade socialista em liberdade, pluralismo e democracia, respeitando as instituições burguesas e sem violência popular, e estava comprometido com o processo de nacionalização da economia, a reforma agrária e a elevação do nível de vida dos trabalhadores. Allende e a UP acreditavam que as reformas sócio econômicas graduais iriam fortalecer as massas trabalhadoras e ao mesmo tempo destruir o predomínio econômico e imperialista, a caminho da construção de uma sociedade socialista.
Durante o primeiro ano de
governo ocorreram importantes mudanças, como a reforma da Constituição de 1971,
que passou a considerar como propriedade do estado todas as riquezas do
subsolo, o que incluía o cobre, uma das fontes principais de ingressos das
classes dominantes chilenas e seus sócios no exterior. No entanto, as pressões
do imperialismo e das elites chilenas passaram a ser mais sentidas a partir do
ano seguinte, com o lock-out dos
proprietários de caminhões, responsável pela grave crise de abastecimento que
se seguiu, e uma série de boicotes contra o governo popular. A importante
vitória da Unidade Popular em 1970 e as medidas progressistas do governo desde
então, porém, não eram garantia de poder completo e total, uma vez que as
demais instituições do estado - o Congresso e o Poder Judiciário - continuavam
controladas com punho de ferro pela burguesia. As forças da esquerda exigiam
maior radicalização para superar os obstáculos, enquanto que os setores
conservadores do próprio governo pediam maior flexibilidade para salvar as
dificuldades. Nesse sentido Allende incorporou ao ministério alguns militares
legalistas, conseguindo uma estabilidade institucional transitória, o que
permitiu a Unidade Popular vencer nas eleições para o Congresso Nacional de
março de 1973.
A partir de junho desse ano, porém, a reação conservadora ficou mais intensa, produzindo levantes militares, diversos atentados terroristas, greves e lock-outs patronais. Existiam também as diversas visões internas dentro do governo, uma vez que a Unidade Popular era uma frente política de vários partidos e tendências diferentes da esquerda. Enquanto o Partido Comunista defendia a via pacífica para o socialismo, apoiando as táticas de Allende, o MIR (Movimento de Izquierda Revolucionário) realizava maior pressão pela radicalização, e preparava ações armadas em vista de um processo violento de defesa do poder popular. Havia no Chile uma ilusão com as Forças Armadas, já que, na história do país quase que não haviam interferido diretamente no processo político.
A Doutrina Truman e o medo a Revolução Cubana, porém, fizeram com que núcleos fascistas crescessem dentro da estrutura militar que, apoiada pelos EUA seria a responsável pelo golpe de 11 de Setembro, que derrubou o governo popular. O golpe começou em Valparaíso com o levante da Marinha no dia 11 de setembro com a adesão, em Santiago, das três armas e do Corpo de Cabineiros, comandados pelo general Augusto Pinochet. Os confrontos terminaram em massacre nos bairros operários e nas fábricas ocupadas, com cerca de dez mil mortos e milhares de prisões; o ataque ao Palácio de La Moneda, onde Allende resistiu e acabou morto, completou a vitória da extrema direita e da CIA sobre as forças populares chilenas.
Semelhanças e diferenças entre a Revolução Cubana e a
Nicaraguense
A revolução em Cuba no
final da década de 1950 foi resultado de uma insatisfação popular com o longo
processo de dependência político-econômica da ilha caribenha em relação aos
Estados Unidos, desde a ruptura dos laços coloniais com a Espanha em 1898.
A ascensão de Fulgencio
Batista ao comando do Estado cubano, por meio de um golpe, em 1952, instaurou
uma ditadura apoiada pelo governo dos EUA, o que agravou ainda mais uma
situação de ausência de liberdade política, de democracia efetiva e de
condições dignas de existência para a maioria da população. Sucederam-se
diversas tentativas políticas de caráter insurrecional contra o regime do
ditador Batista, até culminar com o assalto fracassado ao quartel Moncada, em
Santiago de Cuba, no ano de 1953, e a organização de atividades guerrilheiras
em Sierra Maestra, a partir de 1956, até culminar com a tomada do poder pelos
revolucionários, em janeiro de 1959.
A principal figura de
oposição a Fulgencio Batista durante todo esse processo, e líder da Revolução
Cubana, foi Fidel Castro, que contou com o apoio de distintos segmentos sociais
urbanos e rurais, sobretudo destes últimos, insatisfeitos com as condições de
atraso econômico e com o autoritarismo governamental amparado por forças
imperialistas norte-americanas. Para unir amplos setores da sociedade, o centro
de gravidade da revolução ficava, inicialmente, na libertação nacional.
Posteriormente, na tentativa de consolidar as premissas da revolução, à
concepção de independência da nação se acrescentou a edificação de uma ordem
social inteiramente nova, a sociedade socialista. A Revolução Cubana foi
marcada pela longa duração, e por uma liderança de um pensamento social e
político tão consistente que transfere seus resultados e consequências até as
décadas mais recentes. Mas, apesar dos êxitos iniciais do processo revolucionário
em relação à conscientização e ao enorme envolvimento político e cultural da
sociedade cubana, a partir de 1970, já numa segunda fase, o pensamento social
sofreu pelas mudanças das condições internacionais, que provocaram a detenção
do seu desenvolvimento, e um grande empobrecimento e tendências internas à dogmatização.
Tudo isso teria resultado
no endurecimento do controle do Estado em relação à sociedade, na tentativa de
manutenção dos preceitos da revolução diante de um cenário de crescimento das
críticas ao comando do governo, cada vez mais vinculado às diretrizes políticas
e econômicas dos EUA, que agravaram o bloqueio à ilha e incentivaram a
participação crescente dos soviéticos na vida da revolução.
Por sua vez, na Nicarágua,
a Revolução Sandinista de 19 de julho de 1979 foi resultado de um acúmulo de
forças sociais heterogêneas – tanto camponeses, como operários, e pobres e
marginalizados em geral da cidade e do campo, intelectuais e setores
progressistas da burguesia nacional – em torno de um objetivo comum: acabar com
a ditadura da família Somoza no país, e abrir caminho para a emancipação da
sociedade nicaraguense da oligarquia local e do imperialismo dos Estados
Unidos. O movimento de caráter popular e anti-imperialista da oposição ao
governo de Anastasio Somoza Debayle foi canalizado pelo grupo politicamente
mais organizado, a Frente Sandinista de
Liberación Nacional. O FSLN dotou a luta popular de uma perspectiva
revolucionária, que culminou com a revolução de 1979 e encerrou décadas de
ditadura somozista na Nicarágua. O movimento revolucionário se inspirou em
Augusto César Sandino, líder guerrilheiro dos anos 1920 e 1930, que combateu
contra a ocupação norte-americana no país. Assim como em Cuba, os termos do
socialismo na Nicarágua foram adotados ao longo e no transcorrer da rota de
desenvolvimento da questão nacional nicaraguense. Também em comum com as
estratégias revolucionárias praticadas duas décadas antes em Cuba houve, na
Nicarágua, a opção decidida e praticada foipela luta armada, embora na
Nicarágua esse processo curto terminasse três anos depois pela via eleitoral.
Tanto a Revolução Cubana de 1959 como a Revolução Sandinista de 1979 tiveram um impacto eletrizante, que repercutiu muito além das fronteiras de ambos os países, levando à proliferação de movimentos socialistas e nacionalistas, a maioria deles armados, em diversas regiões da América Latina, durante as décadas de 1960, 70 e 80. A diferença das ações tomadas contra Cuba, a partir da revolução sandinista, os EUA reagiram ao avanço popular com embargos econômicos e financiaram as milícias armadas dos chamados “Contras”, organização paramilitar formada pelos setores que tinham se beneficiado da ditadura somozista no passado, e organizaram um exército que colocou o país em situação de guerra novamente.
O financiamento dos “Contras”
provocou uma séria crise no governo Reagan que propiciou desvios de recursos
não autorizados pelo Congresso. Depois de anos de batalhas, os EUA e o exército
mercenário dos Contras conseguiram desgastar o governo popular. A população,
cansada de guerra, exigia paz e optou pela articulação conservadora nas
eleições de 1990. Um pleito presidencial financiada também pelos estadunidenses
e questionada internamente e fora do país. A FSLN se transformou num partido
político de esquerda, legalizado e as conquistas da revolução sandinista foram
perdidas pela ausência de incentivos ao pequeno agricultor que perdeu as terras
conquistadas, pelo aumento da taxa de analfabetismo, o que levou a que os
índices de desenvolvimento ficassem no segundo pior da América Latina, a
dependência econômica aos EUA, como um país sem soberania. As lições desta
revolução mostram as características da luta de classes e do projeto popular
numa realidade social em que a democracia foi conquistada às duras penas, mas
onde não foi o suficiente para manter um projeto popular e de soberania
nacional. Essas duas experiências revolucionárias - a cubana e a sandinista-
foram analisadas também por renomados escritores, como Julio Cortázar, Mario
Benedetti e Eduardo Galeano.
JV. 2020
Hola!En tu post sobre la traicion y robo de David Viñas te deje un comentario azorado que lei hoy en el blog "Pan Rayado"de Tomas Abraham donde niega el robo y la traicion de Viñas y lo califica de difamacion.
ResponderExcluirAy, amigo, lamentablemente estuve presente durante todos los días y noches de angustia que precedieron al conocimiento que tuvimos de los hechos. Pasé una noche "limpiando" nuestra oficina de la av. Corrientes, en frente al Teatro (no recuerdo el nombre, S. Martín?) y no hay forma de creer en otras versiones del hecho. Muchos años después (unos 12 años atrás, más o menos) estando Ismael en los EEUU y yo ya en Brasil -donde vivo desde 1979- conversamos por medio de cartas intermediadas por su editor. Nada de lo que él argumentaba se parecía con la realidad, ni siquiera en los detalles más aobvios: negaba haber militado en Orientación Socialista, en cuya estructura de dirección estuvimos juntos y semanalmente hasta dos días antes de su desaparición repentina. Decía que Manifiesto (nuestra revista de aquella época) era órgano de divulgación de AC, de la cuál decía haber sido apenas un contacto, cuando es sabido que en ambas -AC primero y OS después- fue miembro de dirección. En fin. Estuve presente y varios otros compañeros fuimos testigos de los hechos. Desgraciadamente no hay difamación: él mismo dice -lo tengo por escrito- que necesitaba del dinero, que supuestamente estaría olvidado en las oficinas de Corrientes.
ResponderExcluirNo encontré el comentario. Podrías enviarlo acá mismo? Gracias.
ResponderExcluirYa lo encontré, y respondí (otra vez) en aquel otro texto.
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