segunda-feira, 14 de novembro de 2016

"Maria Louca", a alcunha de uma rainha demente. Por Bruno Diniz.

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O amigo Bruno Diniz, especialista em selos, moedas, cédulas e histórias conexas - não é apenas numismático, mas mais do que isso, o que já não é pouco- vem me fazendo lembrar, insistentemente, do meu antigo hobby, nada profissional da minha parte, mas sim muito interessante no que se refere à história do dinheiro. 
Bruno publica no seu Blog que recomendo aqui. Vejam só uma amostra. (JV)


"MARIA LOUCA"
A alcunha de uma rainha demente #numismática #notafilia #filatelia

Antes de ser eternizada pelo sistema monetário colonial brasileiro, Dona Maria cresceu numa época em que seu país finalmente traçava planos e não media esforços para se modernizar. Seu pai, dom José I, concedeu plenos poderes ao controverso ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como marquês de Pombal, para tirar Portugal do atraso. A partir da metade do século 18, Pombal tentou racionalizar a economia e a sociedade portuguesas, estimulando as manufaturas, acabando com a discriminação aos cristãos-novos (judeus convertidos ao catolicismo) e expulsando os jesuítas de Portugal e suas colônias.


O marquês só não contava com a religiosidade de dona Maria I e seu marido, dom Pedro III. O primeiro ato da nova rainha, ao assumir o trono, em 1777, foi demitir o ministro e ordenar que ele deixasse Lisboa. Era o começo da chamada Viradeira, uma reação tradicionalista que tomou conta de Portugal naquela época, mas isto já é uma outra história... Voltando nossa atenção para D. Maria percebemos em várias publicações literárias que ela tinha visões e pesadelos, além de atitudes próprias e muito controversas, mas devidamente entronada, D. Maria pôs-se a restaurar o poder e o prestígio que a Igreja tinha usufruído no país antes de Pombal fazendo isso como se fosse uma atitude fundamental para a salvação de sua alma.
Um aristocrata britânico de nome William Beckford, visitou Portugal antes da fuga da família real para o Brasil, registrou em suas memórias que a rainha tinha pesadelos e visões recorrentes envolvendo a alma de seu pai. Acreditava que o falecido rei tinha sido condenado ao Inferno por ter perseguido os jesuítas.

Alguns estudiosos creem ser um dos indícios de que as alucinações fossem os primeiros sintomas da loucura que tiraria D. Maria a rainha mais tarde de seu trono. Mas foram duas tragédias reais, e não imaginárias, que tiraram a monarca de seu estado de sanidade. Primeiro, a morte do marido, em 1786; dois anos depois, a morte de seu filho mais velho e herdeiro, D. José. Aparentemente, foram as gotas d’água que faltavam para desestabilizar de vez o já precário equilíbrio mental de dona Maria I. Usando sempre enormes vestidos negros, ela corria de um lado para o outro por seu palácio, aos gritos de “ai, Jesus!”. Passou a seguir uma dieta, digamos, pouco ortodoxa (ostras com cevada, entre outras esquisitices) e a falar palavrões de modo incoerente.

Foi esse estado deplorável da mãe que levou o príncipe dom João a assumir o papel de regente. Após a cena de humor involuntário durante a fuga da família real (a rainha teria dito a seu cocheiro algo como “Mais devagar! Vão pensar que estamos fugindo!”), dona Maria foi instalada num antigo convento de frades carmelitas no centro do Rio de Janeiro. Passou a ser levada todos os dias para um passeio de carruagem, seguida por dois cavaleiros que carregavam água e uma escadinha, caso ela quisesse descer um pouco.

Para acalmar seus surtos paranoicos, a rainha gostava de serpentear pelos morros cariocas e contar as montanhas no horizonte, ou então de ser levada até a praia de Botafogo, onde contemplava o mar quebrando na costa por algum tempo. Às vezes, dizia a seus acompanhantes que o Demônio a estava espreitando atrás do Pão de Açúcar. Com poucas mudanças nessa rotina, ela acabaria morrendo em março de 1816.

Na numismática, D. Maria também é lembrada pela peça 6400 réis, D. Maria I, ouro, 1787, Bahia. Lembrando que a cunhagem de moedas de cobre com esse título, no entanto, só teve início em 1802 em Lisboa e, a de ouro a partir de 1805, nas Casas da Moeda da Bahia e do Rio de Janeiro. 

Fonte de pesquisa:
A vinda da família real portuguesa para o Brasil
Thomas O´Neil, José Olympio, 2007

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