sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Os protozoarios e a política em 2017.

 



Os protozoarios e a política em 2017.

O jornal "La Nación", ultraliberal-conservador, fundado em 1870 por Bartolomé Mitre, comandante da Tríplice Aliança que destroçou o Paraguai na guerra infame, festejou hoje os triunfos da direita nas eleições argentinas:

As manchetes de "Le Moniteur Universel" nas ediciones de março de 1815, e na medida que Napoleão se aproximava de París, passaram de "O Monstro escapou do su desterro" (na Ilha de Santa Helena), a "O Usurpador está a 60 horas de marcha da capital", para mais tarde informar que "Bonaparte avança a marcha forçada", e logo depois, "O Imperador está em Fontainebleau", para finalmente, ante o inexorável, colocar a manchete que destilava um despurado servilismo. "Sua Majestade fez sua entrada pública e chegou às Tulherias. Nada pode exceder a alegría universal. ¡Viva o Imperio!".

Macri na Argentina não é Napoleão, é claro, assim como Dória em São Paulo, e seu outro amigo tropical, Temer, não são figuras que vão ficar nos livros de história.

Mas o peronismo oficial - ou justicialismo-, ele sim, cada vez se parece mais às manchetes do "Le Moniteur Universel" ante o avance do trinfador do momento.

E o justicialismo argentino lembra o velho PMBD dos nossos trópicos: uma junta de caciques regionais oportunistas e sem princípios, sempre à procura de sombra e água fresca para suas negociatas. Burocracia sindical e peronismo de direita, sempre às ordens para o que os engendros liberais - mais ditatoriais ou mais institucionalistas- gostem mandar. Às vezes, como quando o antes guerrilheiro MR-8 fez entrismo no PMDB, o Justicialismo se alegra com alas de centro moderado e até da esquerda do movimento.

O triunfo da direitista Elisa Carrió, com mais de 50% em Buenos Aires, como o de Dória em São Paulo há um ano (2016), ou o eterno Alckmin no estado, demostram sim, que Napoleão está próximo. Só que a restauração republicana imperial bonapartista era para acabar com os restos das monarquias reacionárias que esticavam a Idade Média para dentro de um século XIX que queria mais industrialismo e democracia do que reis e cortes corruptas.

As direitas hoje - no Brasil, na Argentina e no mundo todo- vão por mais: querem acabar com toda e qualquer política que seja ou pareça minimamente "assistencialista", leia-se de minimização dos brutais desníveis sociais entre classes possuidoras e explorados.

Elisa Carrió - que fez odiosas declarações em relação à desaparição de Santiago Maldonado nas mãos da polícia de "gendarmeria", confirma o avanço da coalição oficial de três pés, formada pelo partido de Macri, mais o partido centenário como mero coadjuvante (o Radicalismo) e uma dirigente que age como "fiscal moral da república" e inspetora do próprio governo - Elisa Carrió-, que ela pretende comer por dentro, a nivel nacional. E isto tudo aconteceu, pela primeira vez, sem um segundo turno: igualzinho à vitória de Dória sobre Haddad.

Avanços da direita que a classe média deslumbrada de centro festeja ruidosamente.

Tempo ao tempo. O povo não vai virar protozoário, e ninguém se apaixona pela ignorância por muito tempo.

Paciência e luta.

J.V. San Fernando del Valle de Catamarca, 2017.

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