"Si cae España -digo, es un decir-" escrevia Cesar Vallejo, poeta peruano, em 1937, quando o avance nazi-fascista na Europa e das tropas de Franco na Espanha já faziam imaginar o pior.
Se a presidenta Dilma cair, se for derrotada -digo, es un decir- no processo do Impeachment dirigido pelo bandido Cunha, e se o vice da chapa, Michel Temer do PMDB assumisse a presidência da república, -argumentam muitos dos meus conhecidos e amigos anti-PT- logo na sequência do golpe parlamentar (ou jurídico), os golpistas teriam duas opções entre várias outras: organizar rapidamente um novo governo de coalizão com os partidos da oposição -o PMDB e a arco neoliberal do PSDB, DEM, PPS, SED e outros, provavelmente o oportunista PSD do centrista Kassab- e continuar com a devassa do Lava-Jato, arrasando com o PMDB e o PSDB.
Parece lógico? Soa possível? E a governabilidade desse governo tapão? E a tranquilidade política e social necessárias para o mundo dos "business"? Meus amigos não sabem responder.
Mas, suponhamos que os meus amigos anti-Lula tenham razão nos seus obscuros prognósticos: e qual seria o programa desse novo governo PMDB-PSDB? Que propostas teriam para resolver a crise brasileira e chamar de volta, rapidamente, os investidores estrangeiros?
É claro que os artífices do golpe branco, assim como a mídia -praticamente um partido organizado, frio e metódico- tratam de ocultar dentre os falsos argumentos do impeachment, os verdadeiros interesses, que é o programa do golpe. Pois bem, o governo que vier nascer de um golpe parido pelo Impeachment está detalhado no documento "Uma ponte para o futuro", de 29 de outubro de 2015, que a imprensa chama de "Projeto Temer". Lembrando sempre que o Projeto Zero do Temer é hoje o Impeachment e, na sequencia, livrar-se da Lava-Jato, que anda mordendo os calcanhares de toda a direção do PMDB e desse eventual governo tampão.
O projeto -vamos chamá-lo de Temer Um- coordenado por atual vice-presidente da nação levantou propostas e reuniu pontos de vista entre os representantes do capital financeiro, dos abutres da dívida pública, dos grandes grupos de mídia e entre a hoje vasta intelectualidade neo-liberal e também entre os patrimonialistas da direita, que são a base ideológica do velho PMDB "nacional-desenvolvimentista". É claro que os trabalhadores e seus sindicatos, os movimentos sociais e os grêmios estudantis não entram nesse time. Nenhuma central sindical -a não ser talvez as lideranças da Força, foram consultadas.
Se o fraco argumento legal das "pedaladas fiscais" tiver sucesso em caracterizar o "crime de responsabilidade" - digo, es un decir, diria o poeta peruano Cesar Vallejo- e conseguirem afastar a Dilma do governo, é importante esclarecer e agitar o significado de fundo do tal "Ponte para o futuro".
Um governo fraco, de coalizão entre o corrupto PMDB -ameaçado nas suas cabeças visíveis pela Lava-Jato- apoiado no plano neoliberal, criado para agradar e fazer de ponte de encontro com o PSDB, já nos antecipam o perfil econômico e social, do que eventualmente viria depois da Dilma. Basta dizer que o principal articulador do lado do PSDB é o morto-vivo, sempre atuante nas coxias do teatro, José Serra.
O plano Temer - A "Ponte para o futuro"- mapeia em detalhe as andanças conspiratórias de Temer e dos intelectuais orgânicos do grande capital -leia-se Willian Waak, Merval pereira, o historiador raivoso Vila e outros muitos- em conjunto com o outro vampiro da política nacional antes mencionado, o José Serra do PSDB.
Um hipotético governo pós-golpe vacilaria (digo, es un decir), vacila entre sonhar com o economista Henrique Meirelles -ex-presidente do Banco de Boston e executivo do setor financeiro brasileiro e internacional, ex-presidente do Banco Central do Brasil de 2003 a 2011- ou o Armínio Fraga -ex-assessor de George Soros e sócio da Banca Morgan, candidato do Aécio Neves ao cargo da fazenda em 2014-, dois conhecidos representantes do grande capital financeiro. Porem, e muito curiosamente, embora haja grande especulação de nomes, nenhum dos partidos oposicionistas ou seus quadros mais notórios se dispõe ao debate franco ante a opinião pública sobre as medidas a serem adotadas em caso de conseguirem tirara a Dilma do Planalto.
Por que? Qual seria o motivo de tanta preocupação em ocultar o programa? Bom, eu suspeito, igual que os meus amigos anti-PT, que o plano é absolutamente indefensável e até ilegal num regime republicano e democrático como o que o novo liberalismo dos séculos XX-XXI diz defender.
O “Plano Temer Um” chamou a atenção até do FHC, que numa entrevista ao jornal Valor Econômico do dia 20/11/2015 achou o programa do vice-presidente golpista "excessivamente liberal do ponto de vista econômico”. Seu liberalismo rasteiro lembra as ideias das ONG’s de direita como Vem para Rua, Endireita Brasil, Movimento Brasil Livre, e outros liberais fundamentalistas. O programa reflete a fundo o olhar negativo com que os programas sociais do Lula e a Dilma são vistos por expressivos setores da classe média e insuflados a diário pelas mídias conservadoras. Não seria exagerado dizer que jamais foi tentado impor no Brasil um programa tão liberal, nem nos 21 anos da ditadura militar, e nem por nenhum presidente eleito, nem mesmo pelos choques monetaristas de Collor ou pelo proprio FHC.
O neoliberalismo, já sabemos, se adapta muito bem às ditaduras ou regimes de exceção -como o dos Chicago's boy do Chile de Pinochet, anteriores até ao liberalismo de R. Reagan e a Margareth Tathcher-. Ou mesmo na Itália posterior à crise de 2008, quando entre 2011 e 2013, assumiu como primeiro ministro o economista Mario Monti, alheio e até enfrentado a qualquer partido político, -de fato o primeiro e único primeiro ministro "independente" na história da Itália, no que se chamou por lá de "golpe de César".
Mas tanto o PSDB como seu atual carro-chefe, o PMDB sabem muito bem que as medidas neoliberais radicais não ganham eleições na América Latina e nem no Brasil.
Para não fazer muito longo este artigo, vamos analisar em detalhes o programa "Ponte para o Futuro" -que pode ser achado facilmente no Google- num próximo capítulo.
Continuará
Javier Villanueva, 3 de abril de 2016, São Paulo, Brasil.
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