quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Os Aónikenk -ou Tehuelches- e Fernão de Magalhães



Foto do último cacique Tehuelche.

Os Aónikenk -ou Tehuelches- e Fernão de Magalhães

No mês de agosto de 1519, o navegador português Fernão de Magalhães, trabalhando ao serviço da coroa espanhola, começou um fato histórico sem antecedentes -ao menos provados até hoje-: a primeira viagem ao redor do mundo.
Esta façanha possibilitou a descoberta de novas rotas de navegação marítima aos espanhóis e portugueses -seguidos quase que de imediato por ingleses, holandeses e franceses-, e a chegada ao depois chamado Estreito de Magalhães. 

O português comandava cinco navios e 237 homens. Antônio Pigafetta, que sobreviveu à longa viagem foi o cronista desta aventura, fabulosa e inédita para aquela época.
A viagem terminou em 1522 com apenas um navio e sem o comandante, uma vez que Fernão de Magalhães fora tragicamente morto por nativos em território das Filipinas.

Nesta viagem, Fernão de Magalhães e sua tripulação atracaram por muitos dias no litoral do extremo sul da atual Argentina, nas regiões conhecidas atualmente como Patagônia e Terra do Fogo.

O próprio nome Patagônia vêm na descoberta por parte dos europeus dos nativos desta terra, índios Tehuelches -ou Aónikenk- e Mapuches. 

O relato do cronista Antonio Pigafetta é muito interessante:

"Dia 19 de Maio de 1520. Porto de San Julián 

"Distanciando-nos destas ilhas para continuar nossa rota ao 49 graus e 30 min de latitude meridional, onde encontramos um porto. E como o inverno se aproximava, julgamos ser aconselhável passar ali aquela má estação.

Um Gigante

"Passaram dois meses sem que víssemos nenhum habitante do país. Um dia, quando menos esperávamos, um homem de figura gigantesca se apresentou ante nós. Estava sobre a areia, quase nu, e cantava e dançava ao mesmo tempo, jogando poeira sobre a cabeça. 
O Capitão enviou à terra um dos nossos marinheiros, com ordem de fazer os mesmos gestos em sinal de paz e amizade, o que foi muito bem compreendido pelo gigante, que se deixou conduzir a uma pequena ilha, onde o capitão havia descido. Eu me encontrava ali com muitos outros. Deu mostras de grande estranheza ao ver-nos e levantando o dedo queria dizer que acreditava que nós havíamos descido do céu."

Sua figura 

"Este homem era tão grande que nossas cabeças chegavam apenas até à cintura. De porte formoso, seu rosto era largo e pintado de vermelho. Exceto pelos olhos, que eram rodeados por um círculo amarelo e dois traços em forma de coração nas bochechas. Seus cabelos , escassos, pareciam branqueados por algum pó."

Seu traje 

"Seu vestido, ou melhor dito, seu manto, era feito de peles muito bem costuradas, de um animal que abunda no país."

Animal estranho 

"Este animal tem a cabeça e orelhas de mula, corpo de camelo, patas de cervo e cauda de cavalo e relincha como tal."

Seus costumes

"Usam os cabelos cortados em auréola como os frades. Porém mais longos e presos em volta da cabeça por uma corda de algodão, na qual também colocam as flechas quando vão caçar. Se faz muito frio, prendem estreitamente contra o corpo suas partes naturais."

Sua religião 

"Parece que sua religião se limita à adoração do diabo. Julgam que quando um deles está morrendo, aparecem dez ou doze demônios cantando e dançando ao seu redor. O demônio que provoca maior alvoroço e que é o chefe maior dos diabos é Setebos. Os demônios pequenos são chamados Chelele.
 
Nosso capitão chamou a este povo de Patagões pelo tamanho de suas patas."

JV. 18 de agosto de 2016. Puerto San Julián.

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