quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Os afroargentinos. 2ª parte.



Veja a 1ª parte em:
http://javiervillanuevaliteratura.blogspot.com.br/2015/11/sabian-el-8-de-noviembre-es-el-dia.html

Os afroargentinos. 2ª parte.

Quando cheguei ao Brasil, me perguntabam se era chileno.   - Não, por que? respondia eu. - Porque você é moreno, os argentinos são loiros, era o que ouvia, dia sim, dia não.

Esclarecendo, como sempre, com um pouco de história: em 1810, início da revolução e da luta pela independência, a população total da atual Argentina era entre 500 e 700 mil habitantes,​ casi totalmente indígena, afroargentina e mestiça de ambas as origens com uma minoria espanhola. 

Entre 1850 e 1955 Argentina recebeu uma enorme massa humana de imigrantes ultramarinos, a maioria europeus, mas também uma grande quantidade da Asia Ocidental - sírios, libaneses, armenios, palestinos e turcos-. Argentina foi um dos principais países receptores de la gran corriente emigratoria europea, árabe e judia que somou uns 6 milhões de imigrantes, o segundo maior fluxo mundial depois dos EUA. É o que na Argentina se chama de "crisol de razas" ou "melting pot".

E os negros? uma teoria diz que o embranquecimento" teve a ver com as guerras da indepêndencia, as longas guerras civis e a Guerra do paraguai, em que a vanguarda dos batalhões eram de "morenos" e "pardos".
Mas ainda vejamos que o país -hoje um só, apesar das "rachas" - la grieta- políticas e ideológicas históricas- continua refletindo os antigos quatro países, que tanto insisto em lembrar ao falar do tema "Mapuche-Benetton-nazistas". 
Antes de 1878 havia 4 países: dois deles com origem "criollo" (espanhol americano), um no porto - dai o "porteños"- logo depois de 1853 com o país mais ou menos unificado nessas duas frações, como Capital Federal- e o outro os dos "federalistas", províncias do centro-norte-este e leste, incluindo o atual Uruguai, inimigos de Buenos Aires. Os outros dois países eram a Patagônia Tehuelche, Pampa e Mapuche, ao sul; e o NE guarani, sem controle central de Buenos Aires e aliado histórico (até a Guerra do Paraguai) dos federalistas e do próprio Paraguai.

Como se define a população argentina hoje em termos de etnias ou origens? 

a) Na región central do país, donde se concentra a maioria da população nacional, a ascendência se compõe principalmente de imigrantes italianos e españoles chegados durante a grande imigração de 1855-1950. Em menor medida existem colonias e comunidades consideráveis de paraguaios, franceses, alemães, poloneses, bolivianos, uruguaios, judeus, ciganos e árabes. A região tem um predominio de ascendentes europeus, que desde meados do século XX, vem reduzindo lentamente com o aumento dos compoentes indígena e africano e suas mestiçagens, devido à maior presença de migrantes internos provenientes do norte o de países sudamericanos. Estes setores são predominantes nos municípios do oeste e sul do conurbano industrial de Buenos Aires, que constituem a maior concentração urbana do país.

b) Na região noroeste do país a população com antepassados indígenas andinos, ou espanhóis e africanos chegados durante a colonia, é proporcionalmente maior que a média nacional, em parte porque era a região mais povoada antes e durante a conquista espanhola, em parte porque recebeu uma parte menor da grande imigración européia.

c) Na región nordeste há também uma maior proporção de descendentes de Guaranis chaco-santiagueños e de africanos, vindos dos quilombos brasileiros e descendentes de prisioneiros brasileiros negros durante a invasão do Império ao Paraguai. Também se fixaram ali importantes colônias polonesas, ucranianas, alemã, croatas, sérvias e russas, sobre tudo em Misiones e Chaco.

d) A populación atual da Patagônia se formou a partir das etnias que habitavam no território, principalmente das nacçôes Mapuche, Ranquel e Tehuelche, combinado das correntes migratórias internas chegadas da região pampeana, além també da influencia da imigração galesa, suiça, alemã e chilena.

Mas, voltando aos afro-argentinos: em 2006, houve um censo piloto nos bairros de Monserrat, Buenos Aires, e em Santa Rosa de Lima, província de Santa Fe, que revelou que um 5% da população argentina sabia que tinha antepassados trazidos da África e que 20% considerava que devia ter ancestros negros mas sem certeza. 
O estudo, feito pelo Centro de Genética da Faculdade de Filosofia e Letras de Buenos Aires, estimou também que 4,3% da população de Buenos Aires tinha genética africana. 
Na região de La Plata, as contribuições européia, indígena e africana foram respectivamente de 67.55%, 25.9%, e 6.5%. 
Em Mendoza, o estudo genético encontrou a seguinte composição autossômica (DNA herdado tanto por parte de mãe quanto por parte de pai e que permite inferir toda a ancestralidade de um indivíduo): 46,80% de origemeuropéia, 31,60% indígena e 21,50% africana. 
Em Santiago del Estero foi encontrada uma origem africana de 23,6%, em Catamarca de 18,7% e em La Rioja o estudo genético autossômico de 2011 deu 10,1%.
Ou seja, nem eu, nem a grande maioria dos argentinos, ficamos fora da carga genêtica indígena e africana, além da espanhola "criolla" e o acréscimo europeu, judeu e árabe.

E o amigo Adrián Pablo Fanjul nos lembra hoje dessa "invisibilidade ideológica" que quer extinguir o negro e o índio e lembrar só do loiro de olhos claros. 

Ô besteirol "tilingo" da dona Mirta Legrand!

Leia um pouco mais em:
http://javiervillanuevaliteratura.blogspot.com.br/2015/11/sabian-el-8-de-noviembre-es-el-dia.html

Javier Villanueva, Foz do Iguaçu, dezembro de 2017.

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