O primeiro beijo do Pepito **
Pepito não tinha aprendido a beijar até os 33 ou 34 anos. Foi o que ele me disse, e não sei se era verdade, mas na época ele já tinha estado casado e criava dois filhos.
Pepito não tinha aprendido a beijar até os 33 ou 34 anos. Foi o que ele me disse, e não sei se era verdade, mas na época ele já tinha estado casado e criava dois filhos.
E nadinha de aprender a beijar.
O meu amigo só soube o que eram beijos - molhados, de
língua, suaves e levemente doces- depois que aprendeu a desejar apenas uma
única mulher.
Não foi fácil - me conta Pepito- mas aprendeu direitinho,
apenas num par de anos e pronto. E já não parou mais de beijar.
Acontece que até então ele só tinha beijado - rapidamente e
sem muita vontade- umas quantas bocas rebeldes, insurretas. Tão revoltosas e
insurgentes eram as bocas que o Pepito tinha se acostumado a beijar, que
acabaram fugindo todas, uma atrás da outra, e nem a lembrança ficou.
Ele só soube me dizer que o beijo das mapuches e diaguitas
era mais rápido e sem compromisso ainda que o das tehuelches. E nada mais.
O primeiro beijo de verdade do Pepito, então, foi depois
dos seus 33 ou 34 anos. E nessa ocasião também começou a aprender,
devagarzinho, a desejar todos os dias a mesma mulher. Ficou sabendo, aos
poucos, que é necessário seguir alguns passos simples, como colocar o
trabalho em terceiro ou quarto lugar na vida e, bem no meio das preocupações, o
cuidado criterioso das galinhas e dos cachorros.
Segundo me disse, é importante deixar o dinheiro em quinto
ou sexto, as pequenas delicias do cotidiano em segundo, e a família em terceiro
lugar. E além do mais, é urgente promover diversas ações revolucionarias, como
por exemplo encerrar a conta no banco e mandar à merda o gerente, usar sempre
os mesmos sapatos, comer mexericas ao pé de uma planta própria, e sobretudo,
dar um valor decisivo à preguiça, ao ócio criativo.
Mas é fundamental, em primeiro lugar, e se você quer
beijar bem e gostoso, manter sempre uma sadia obsessão pelas curvas
vertiginosas da mesma mulher, concentrar-se nas pernas longas e as nádegas
arredondadas; pensar alternativamente em triângulos isósceles e seios mornos e
pequenos, mas não tanto, seios justos, justo do tamanho da mão do
beijoqueiro.
A receita é simples, insiste em me contar o Pepito: para
aprender a beijar de língua, numa boca úmida e rebelde, e manter-se fiel na
busca das velhas Utopias, a fórmula é essa; os ingredientes são ao gosto do
sonhador.
E ainda repete: aplique-se com uma certa moderação entre
os 30 e os 40 anos, com obstinação entre os 50 e os 60, com fervor,
determinação, dedicação e muita precisão daí em diante.
Beijar bem e desejar todos os dias a mesma mulher é
fácil.
E esse pode ser também um bom começo de 2013!
Javier Villanueva. São Paulo, no último dia do ano que não acabou.
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