Trinta
e cinco anos depois que a menina Rachel Clemens aparecera numa foto
famosa, de braços cruzados enquanto o ex-presidente Figueiredo tentava cumprimentá-la com
um aperto de mão, a escena se repetiu em 2014.
E foi na mesma cidade de BH, capital do estado de Minas Gerais.
Em
1979, o fotógrafo Guinaldo Nicolaevsky captou a primeira cena que menciono,
durante uma cerimônia no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. A menina
de cinco anos virou um símbolo do disgosto popular com o regime militar que
aplastou o Brasil de 1964 a 1985, depois de ser fotografada rejeitando o
cumprimento do então presidente João Figueiredo, aquele que gostava mais do
cheiro de cavalo que de cheiro de povo.
Trinta e cinco anos depois que a menina Rachel Clemens aparecera numa foto famosa, de braços cruzados enquanto o ex-presidente Figueiredo tentava cumprimentá-la com um aperto de mão, a escena se repetiu em 2014.
Durante
a campanha eleitoral para a presidência de 2015, o músico Fábio Martins,
morador de um dos conjuntos de favelas da Serra, na zona sul de BH, deixou o Aécio
Neves de mão abanando e recusou o aperto oferecido pelo senador-candidato de um
modo tão cheio de graça quanto o da menina Rachel, acontecido 35 antes. Depois ele disse que não foi intencional.
Foi "despretencioso", disse, acrescentando que preferia votar no Psol, "por falta de opção".
Foto de Douglas Magno/ O Tempo/ Folhapress.
Em seu blog pessoal, a então menina Rachel Clemens, que desprezou o
Figueiredo em 1979, conta que não cumprimentou o general-presidente porque não queria fazer algo ao qual se sentia obrigada, já que todas as pessoas que estavam ao se redor insistiram muito para que ela o cumprimentasse.
Duas situações diferentes, uma em finais de uma ditadura assassina em retirada, que privou o país de liberdades e de direitos dos mais elementares durante 21 anos.
A outra, uma atitude em democracia, de livre arbítrio, de quem decide não apoiar um dos candidatos e, quem sabe, optar ou não por uma outra proposta política.
Dois momentos da história do Brasil, um sem liberdades, o outro em pleno gozo de todos os direitos do cidadão.
J.V. São Paulo, 29 de dezembro de 2014.
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