68 anos e o ano 1968
Estou chegando a um número na minha idade que não é redondo -já falei pela minha obsessão arquitetônica pelos números redondos, né?-, mas que tem grandes simbologias encerradas: o número 68. Os 68 anos.
Primeiro, poderia dizer um tanto jocosamente, como costumava falar quando entrei nos meus anos sessenta, que se trata da época mais sexy da vida, pois é a dos sexagenários. E o 68 mais ainda, porque antecede o 69, que, como bem sabemos, já é bastante sexy de por si.
Mas, saindo dos temas eróticos e entrando nos históricos, -que nada tem de contraditórios, é claro-, o 68 vêm cheio de grandes lembranças dos meus 17 anos, época em que não tinha uma Violeta Parra que cantara à minha juventude, mas havia a J. Baez e os Beatles, Os Iracundos uruguaios, desconhecidos como tantas outras latinidade por estos trópicos, a Rafaella Carrá e o Boby Solo, entre muitos.
A primeira das muitas lembranças do ano 1968, número que repito agora, 51 anos depois, foi a Ofensiva do Tet, o grande ataque em três fases do exército popular norte-vietnamita e das guerrilhas e milícias vietcongues contra as forças invasoras norte-americanas e as sul-vietnamitas, em 30 de janeiro de 1968, em plena Guerra do Vietnã. Não venceram, mas apavoraram os imperialistas e prepararam o terreno para a vitória final de 1975.
A segunda grande lembrança é a do Maio Francês, que começou com os conflitos entre estudantes e as autoridades da Universidade de Paris, em Nanterre, e terminou com a unidade operário-estudantil tomando as ruas e desafiando o poder burguês, mesmo que apenas pela representação como ícone de uma época em que renovação dos valores foi acompanhada pela força da cultura jovem e da contestação revolucionária.
Pouco antes, em abril de 1968, era assassinado Martin Luther King Jr, pastor batista e militante do movimento negro, que esse mesmo ano teve os seus mais fortes combates em centenas de cidades dos EUA.
Três sucessos históricos que apenas prepararam meu ânimo para, um ano depois, abrir os braços ao Cordobazo, à unidade operário-estudantil, ao nascimento das organizações revolucionárias e ao início de uma década de combates e idealismo que me levariam a deixar o país em 1979, ainda com 28 anos e cheio de ilusões, apesar da derrota que a ditadura genocida nos havia imposto em 76.
Ou seja: meus 68 só vêm vindo com lembranças de lutas, de reafirmação de convicções que tivemos -toda uma geração, e não apenas eu os meus companheiros- aos 17, e que continuam firmes mais de meio século depois, porque ainda temos muito pra fazer, e muito trabalho para dar aos que se opõem ao progresso social e à felicidade dos nossos povos.
JV. Brumadinho. 2019.
Nenhum comentário:
Postar um comentário