quarta-feira, 1 de junho de 2022

O nariz da Esfinge de Gizé e outros azares

 


O nariz da Esfinge de Gizé e outros azares

Quando você quebra o nariz jogando uma pelada aos 13 anos -em 1964, para ser preciso-, e volta a quebrar aos 71 -exatamente um 1º de junho de 2020-, pode-se dizer que é um cara afortunado. 

Quebrar o nariz apenas duas vezes em longos 58 anos é quase um fato para ser celebrado e você ser cumprimentado. Pensa bem: viver em cidades perigosas, cheias de buracos nas calçadas, carros, motos e caminhões prevalecendo sobre os coitados dos pedestres, polícia brava de gatilho fácil, e machucar-se apenas duas vezes em 58 anos é um grande sucesso!

Pensem na Esfige de Gizé: só quebrar o nariz duas vezes numa longa vida driblando ditadores e sequestradores afins de torturar você e te fazer desaparecer significa que você é um triunfador, um felizardo, vitorioso e digno de louvor.

Agora bem, visto por outro ângulo, se você considera que, apenas onze dias antes da segunda fratura do septo, você já tinha passado uma hora, entre 2:00 e 3:00 da madrugada, no dia de maior frio na cidade, com a bunda de fora, fazendo uma ressonância magnética num polegar lesionado, bom, aí você passa a ser um azarado do cacete, um Jettatore, um cara que segundo as antigas crenças napolitanas e sicilianas padece o mal de olho e precisa de uma bênção urgente.

- Mas, Pepito, você é um revolucionário comunista, e mesmo assim vai no Terreiro de Umbanda, evocar o Orixá e lavar esse seu azar?-    

 - Pois é, rapaz. Você lembra do Jorge Amado? Sabe o que ele falava quando lhe perguntavam a mesma coisa?: “Rapaz, sou comunista, mas isso do ateísmo não funciona bem assim na Bahia, viu? Sou supersticioso e acredito em milagres. A vida é feita de acontecimentos comuns e de milagres”. Entendeu?

 

J.V. Chumbicha, Catamarca, maio de 2066.


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