O nariz da Esfinge de Gizé e outros azares
Quando você quebra o nariz jogando uma pelada aos 13 anos -em 1964, para ser preciso-, e volta a quebrar aos 71 -exatamente um 1º de junho de 2020-, pode-se dizer que é um cara afortunado.
Quebrar o nariz apenas duas
vezes em longos 58 anos é quase um fato para ser celebrado e você ser cumprimentado.
Pensa bem: viver em cidades perigosas, cheias de buracos nas calçadas, carros, motos e
caminhões prevalecendo sobre os coitados dos pedestres, polícia brava de
gatilho fácil, e machucar-se apenas duas vezes em 58 anos é um grande sucesso!
Pensem na Esfige de Gizé: só quebrar o nariz duas vezes numa longa vida driblando
ditadores e sequestradores afins de torturar você e te fazer desaparecer significa
que você é um triunfador, um felizardo, vitorioso e digno de louvor.
Agora bem, visto por outro ângulo, se você considera que,
apenas onze dias antes da segunda fratura do septo, você já tinha passado uma
hora, entre 2:00 e 3:00 da madrugada, no dia de maior frio na cidade, com a bunda
de fora, fazendo uma ressonância magnética num polegar lesionado, bom,
aí você passa a ser um azarado do cacete, um Jettatore, um cara que
segundo as antigas crenças napolitanas e sicilianas padece o mal de olho e precisa de uma
bênção urgente.
- Mas, Pepito, você é um revolucionário comunista, e mesmo
assim vai no Terreiro de Umbanda, evocar o Orixá e lavar esse seu azar?-
- Pois é, rapaz. Você
lembra do Jorge Amado? Sabe o que ele falava quando lhe perguntavam a mesma
coisa?: “Rapaz, sou comunista, mas isso do ateísmo não funciona bem assim na
Bahia, viu? Sou supersticioso e acredito em milagres. A vida é feita de
acontecimentos comuns e de milagres”. Entendeu?
J.V. Chumbicha, Catamarca, maio de 2066.
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