sábado, 30 de julho de 2022

Benxamín, o último maqui galego.

 


Benxamín, o último maqui galego.

Uma história quase verídica

 

Era uma manhã fria de janeiro. Benxamín abriu a portinhola de madeira oculta no chão do galinheiro, e saiu rapidamente do esconderijo. Deslizou cuidadoso entre as plantas secas e geladas e caminhou os vinte metros até a casa.

Mas a surpresa quase o deixou tonto ao ver que, no mesmo local em que se levantara a velha casinha de aldeia de pedra e madeira que abandonara em 1947 quando se juntou à guerrilha dos maquis galegos, existia agora uma grande casa de dois pisos, com barras de ferro e cores vivas, como as que vira nas pinturas de Dalí na França.

Depois de fugir da sua pequena cidade, Benxamín de Jesús passou a maior parte dos anos 1949 e 1950 lutando no 2º Agrupamento do Exército Guerrilheiro Antifranquista da província galega de Ourense. Nascido em 1933, filho do fundador do PCE do povoado, aos doze anos já lidava, como a mãe e o irmão mais velho, com as tarefas de ligação com os guerrilheiros que se agrupavam para atacar o governo de Francisco Franco, após três anos de sangrenta guerra civil, no pequeno município de Sandiás.

Ao voltar para casa, pouco depois de que Carrillo desistisse da luta armada, e dos maquis partirem desapontados com o Partido Comunista rumo aos Pireneus, o menino de sobrenome messiânico cavou um buraco fundo sob o galinheiro da sua casa para guardar armas e mantimentos e se largou ao monte.

A verdade é que Benxamín veio ao mundo em um momento muito ruim: três anos antes do início da Guerra Civil. O pai morreu, e sua mãe e irmão se esconderam depois do fim trágico do conflito e a queda da 2ª República, em 1939.

A família tinha esperado, ao final da 2ª Guerra Mundial, uma invasão dos Aliados contra Franco, mas ao não acontecer nada disso, dedicaram seu tempo ao trabalho e à conspiração clandestina.

Depois que foram desmobilizadas as guerrilhas, Benxamín tinha voltado para casa algumas vezes para se esconder no buraco sob as galinhas de onde só saia à noite para comer. Ele se higienizava um pouco e usava o poço sanitário que chamavam de banheiro. Banhar o corpo todo, por outro lado, nem pensar; um pouco de água rápida no rosto e nas mãos, e novamente a voltar para baixo do galinheiro.


Benxamín de Xesús, a quem nem os céus nem o seu santo nome ajudaram mais do que a sobreviver, era agora o que anos mais tarde se chamaria de "toupeira", pessoas ligadas com a República derrotada, sindicalistas ou políticos, que deviam desaparecer -literalmente- debaixo da terra, ou esconder-se em sótãos, porões ou até em árvores, para não serem presos, torturados e fuzilados pelos franquistas no poder.

Na Espanha era chamado de "toupeira" aquele que, não conseguindo fugir para o exterior, permanecera oculto após a Guerra Civil para escapar da repressão. O nome "toupeira" vem da obra de Manuel Leguineche e Jesús Torbado, publicada em 1977, que conta a história de 24 pessoas que viveram em segredo absoluto, escondidas de todos.

Terminada a ocupação franquista da Espanha, ao longo de três longos e dolorosos anos de guerra civil, muitos dos que haviam apoiado a República e os partidos de esquerda que a defendiam se embrenharam nas montanhas, deixando suas aldeias. Outros se esconderam em suas próprias casas, em estábulos, entre telhados ou cisternas. A maioria deles foi descoberta, mas alguns ficaram escondidos depois que a guerra acabou. E embora não fosse o caso de Benxamín, ele mesmo um guerrilheiro, eram desprezadas pelos maquis por sua passividade perante o regime.

Embora muitos “toupeiras” tenham deixado seus esconderijos em 1969, quando Franco decretou a prescrição de todos os crimes cometidos antes do fim da Guerra Civil, alguns deles permaneceram escondidos por até 38 longos anos.

O caso de Benxamín foi diferente. Enquanto ele alternava sua vida entre as montanhas e seu retorno clandestino ao galinheiro de sua casa, sua mãe havia passado por cem peripécias e conseguiu esticar sua vida até os 97 anos, embora não pudesse cuidar de seu filho mais velho, Bruño, cujo corpo foi encontrado e desenterrado apenas quinze anos depois.

No Natal de 1951, quando Benxamín foi preso e mandado para o cárcere, sua mãe e seu irmão mais velho partiram para Madri disfarçados de lavradores, alheios ao sofrimento do filho mais novo na prisão. Foram acompanhados na estrada por dois outros guerrilheiros, Manuel Rodríguez - homônimo do herói lendário da guerrilha chilena que no século XIX juntou-se a San Martín para derrotar os espanhóis, cruzar a cordilheira dos Andes e seguir o caminho vitorioso para o Peru-, e Juan Luis Sorga.

Mas a Guarda Civil os deteve na cidade de Ávila quando tentavam chegar à França; Rodríguez, preso alguns dias depois, foi condenado à pena de morte por “garrote- vil”; Bruño, irmão mais velho de Benxamín, foi baleado e morto ali mesmo, no local onde foram detidos.

Sua mãe, em vez de fugir, pagou sua militância com treze anos de prisão. Benxamín só soube da morte de seu irmão e da prisão de sua mãe muitos meses depois.

A saga de Benxamín como guerrilheiro maqui foi interrompida em março de 1949 quando, preso junto com vários companheiros em Ourense pela Guarda Civil, já não saiu da prisão de Yeserías, em Madrid até 1961, após passar pelo cárcere em Ourense, A Coruña, Santander e Segovia.

Quando foi solto novamente, de imediato voltou à luta e começou a procurar pela mãe e pelo corpo do seu irmão.

Algumas das ações armadas mais notáveis ​​de Benxamín foram a tentativa, em 1948, de resgatar José Gómez Gayoso, secretário-geral do PCE na Galiza, e Antonio Seoane, chefe do Exército de Guerrilha da Galiza.

Saiu de Ourense e chegou a Ferrol, atravessando a montanha e depois embarcou para A Coruña para entrar imediatamente na prisão atirando com o seu velho Mauser. Fugiu em meio aos tiros, disfarçado com o uniforme que havia tirado de um guarda enquanto tentava sem sucesso libertar seus companheiros de armas e convicções revolucionárias.

 

1961

Voltemos ao momento em que, libertado da prisão, Benxamín regressa para sua casa e, por hábito e porque não tinha mais aonde ir, se esconde debaixo do galinheiro, como tantas vezes fizera antes.

Ele está disposto a continuar a luta, clandestino, e para isso precisa de novos documentos, e de disfarçar-se um pouco, mudando a cor do cabelo, tirando a barba e o bigode e acrescentando óculos que mudem totalmente sua aparência.

 Quando considera que já pode enganar a Guarda Civil, sai em direção da casa a buscar um passaporte em nome de um camarada francês que guardara sob as lajes antes de ir para a montanha. E é então que se assusta ao ver que a casa já não é mais a mesma. Mas a surpresa vai ser maior ao subir ao segundo andar e se encontrar numa cadeira uma velha senhora que ele reconhece como sua mãe.

A velhinha, sua mãe, parecia adormecida; a cumprimentou com um beijo na testa mas, apesar de seus esforços, não conseguiu arrancar uma única palavra dela. Embora de repente, um som quase vazio escapou da boca da anciã.

Benxamín se agachou para ouvir melhor; ela repetiu algo ininteligível e lentamente fechou os olhos até ficar imóvel e sem palavras.

Benxamín agachou-se e perguntou:

-Você está dormindo, mãe? Sente-se bem?

-Estou dormindo, mas estou morrendo-, a velhinha respondeu em um sussurro fraco.

-O que aconteceu com a senhora, e por que a nossa casa mudou tanto?

-Não me acorde, filho, deixe-me morrer dormindo! - respondeu a mãe.

-Algo dói? - perguntou Benxamín com insistência.

—Não sinto nada, estou dormindo; estou bem, mas vou morrer- respondeu a mulher, enquanto a sua tez fosca, queimada pelo sol e o frio dos invernos do norte da Galiza, ia ficando cada vez mais pálida.

-O que aconteceu com o meu irmão Bruño e Manuel Rodríguez, mãe? - insistiu. - E você, por que acha que vai morrer?

-Estou bem...- e o sussurro, de repente, tornou-se cavernoso, espesso, e fez Benxamín estremecer, dando-lhe arrepios.

-Está acordada, mãe? Ou você dorme? - disse ele, mais recuperado do terror.

-Eu estava dormindo e você me acordou, filho, mas agora estou ... morta- e a voz áspera, oca e estrondosa de sua mãe morta arrepiou os cabelos do pescoço do guerrilheiro.

Antes fracas e inaudíveis, as palavras da velha senhora agora pareciam vir das profundezas de uma caverna no fundo da terra.

E Benxamín, um homem forte e corajoso, sentiu que o pavor provocado por aquela voz o dominava. E desceu as escadas correndo, rumo ao seu esconderijo.

Aquela noite ficou no abrigo escavado sob o galinheiro. A Guarda Civil havia passado pela aldeia dois dias antes e não havia chegado aos campos ao redor dela. Benxamín adormeceu profundamente e só acordou um pouco antes do dia nascer, ouvindo um ruído na cavidade do tubo de respiro lateral que apenas sua mãe sabia que existia.

Era o barulho provocado por uma carta que alguém tinha acabado de colocar no tubo. A abriu e comprovou que era antiga, com pelo menos cinco anos, a julgar pela data em que fora postada na América.

 A carta de Ovexeiro, um velho amigo de seu pai radicado em Havana, falava de uma grande angústia que o oprimia e da urgência de vê-lo. Estava claro que dom Ovexeiro pretendia encontrar algum alívio para seus males na companhia de Benxamín.

Mas foi a maneira como lhe escrevia, o modo suplicante de expor os seus sentimentos, o que fez Benxamín pensar muito seriamente em cruzar o oceano para encontrá-lo, algo que a princípio podia parecer loucura naquelas circunstâncias, pela situação do país e a dele próprio. A atmosfera na Galiza já era irrespirável, com muitas pessoas ameaçadas, e mesmo muitos amigos e conhecidos desaparecidos. E foi então, pensando profundamente sobre isso durante o longo dia em que se manteve escondido no buraco do subsolo, que ele decidiu viajar e atender ao chamado do velho amigo do seu pai. Era uma loucura ou poderia ser uma solução possível para seu isolamento na Espanha?

A memória lembra do passado em partes, pensou Benxamín, deixando alguns tipos de rugas de esquecimento entre as dobras, ou fragmentos de um passado mais doloroso. É algo assim como um estômago que deixa o mais difícil de digerir entre suas dobras. E é o que leva alguns a pensar, erroneamente, que talvez seja melhor esquecer o que não pode mais ser resolvido, o que não pode ser assimilado. Pois bem, Benxamín não quer deixar a história de lado, mas precisa aprender a conviver com seus fatos, e talvez até deixar de lado as atrocidades para viver em paz com ela.

Saiu cedo do esconderijo, às duas da madrugada do dia seguinte, rumo às montanhas que o levariam para a França e dali para a América.

Caminhou cerca de seis quilômetros no escuro e começou a escalar os montes. A pouco de ter se internado no bosque e começar a sentir-se mais seguro, viu umas sombras a menos de cinquenta metros de onde estava.

Os três primeiros impactos foram apenas um arranhão no ombro direito e dois no braço, do mesmo lado. Não sentiu muita dor e, como era canhoto, conseguiu puxar a Lugger que tirara de um falangista e disparar dois tiros, mas ainda estava desorientado, sem saber exatamente para onde direcioná-los. Além disso, tinha pouca munição e precisava poupá-la. Com o braço esquerdo armado, se manteve nas sombras, escondido atrás de uma árvore mais espessa.

O quarto tiro foi no peito. Mas não ouviu o disparo porque ficou surdo de repente. Acenderam-se as luzes de um refletor, deixando aquele trecho de mata com um branco leitoso que o envolvia calmamente, numa sensação de paz que não o deixava sentir a dor, nem o frio da madrugada, nem pensar em outra coisa senão na frustrada viagem à fronteira. E em sua mãe. Sim, ele se lembrou da velha moribunda e se perguntou se ela realmente seria sua mãe.

Benxamín se abaixou e ficou atrás do tronco, e foi então que a jornada real começou para ele:

- Não poderei viajar, amigo, agora no meio do tiroteio me dou conta que não posso deixar minha mãe sozinha. Eu estou voltando para o galinheiro, amigo. Não poderei ir a Cuba-, Benxamín já sabia, ou suspeitava, que o tempo é elástico e enrugado; seu pai havia dito que o tempo tem uma quarta dimensão com dobras, e às vezes o passado se junta em uma curva com o futuro e, portanto, ocorrem mudanças que podem ser fatais. Talvez essa que estava vivendo era uma delas. Quem sabe isso explicasse o porquê da casa moderna que agora havia no lugar da sua velha casinha.

E enquanto Benxamín caía ao chão e as luzes se aproximavam, e já podia ouvir as botas dos falangistas quebrando os galhos secos a menos de cem metros de distância, viu sua mãe alimentando as galinhas, e a imaginou preparando uma omelete de ovo e cebola, e oferecendo-lhe pão caseiro, e por fim chegaram as botas e ele sentiu o frio de uma arma contra sua têmpora esquerda, e sentiu as águas subindo e cobrindo todas as casinhas pobres da sua Galiza alagada, e viu os caminhos inundados, e dezenas de peixinhos coloridos à altura dos seus olhos, fugindo assustados pela explosão que espalhou as ideias generosas de Benxamín, e esquartejou suas memórias mais íntimas por toda a floresta fria, alagada, espalhando seus sonhos entre as árvores, e a sua imaginação fértil semeou folhas e cogumelos amarelados, e seus votos de paz e amor transformaram-se em uma bela poeira estelar que cobriram as ervas, enquanto as suas melhores fantasias o levaram até Ximena, a quem nem teve tempo de declarar seu amor adolescente por ela.

Os uniformes e as botas partiram, mas antes, uma voz marcial mandou cavar um buraco e ordenou deixar o corpo ali mesmo, que nada mais do que isso merece esse vermelho de merda.

FIM

JV. Pontevedra, agosto de 1972.


El amor y el sexo

 



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Lo tomé hoy de la página de Isabel Marazina y me acordé de un texto de nuestra amiga y compañera común, Alicia Stolkiner, cuando dice que "en cada encuentro de camaradas, amigos revolucionarios, o de la misma pareja, tratábamos de suspender el tiempo y olvidarnos de lo inmediato, porque era una jugada deslumbrante, con una intensidad máxima".
Quería decir que a la mañana siguiente, o poco después del amor, podíamos ser secuestrados y muertos, laceradas nuestras carnes y rotos todos los vínculos, a no ser que sobreviviéramos en la cárcel y allí creáramos nuevos lazos de camaradería.

"El deseo sexual, si es recíproco, origina un complot de dos personas que hace frente al resto de los complots que hay en el mundo. Es una conspiración de dos. El plan es ofrecer al otro un respiro ante el dolor del mundo. No la felicidad sino un descanso físico ante la enorme responsabilidad de los cuerpos hacia el dolor.
En todo deseo hay tanta compasión como apetito. Sea cual sea la proporción, las dos cosas se ensartan juntas. El deseo es inconcebible sin una herida. Si hubiera alguien sin heridas en este mundo, viviría sin deseo.
El deseo anhela proteger al cuerpo deseado de la tragedia que encarna y, lo que es más, se cree capaz. La conspiración consiste en crear juntos un espacio, un lugar, necesariamente temporal, para eximirse de la herida incurable de la carne. Ese lugar es el interior del otro cuerpo. La conspiración consiste en deslizarse al interior del otro, allí donde no se les pueda encontrar. El deseo es un intercambio de escondites".

John Berger. Ensayo ESA BELLEZA, 2005.
Imagen: En la cama, el beso, Henri De Toulouse-Lautrec, 1892.

Muñeca y Cortázar


Muñeca y Cortázar 

Muñeca Unzaga y Ariel Seferino habían sido compañeros de escuela primaria entre los años 50 y comienzo de los 60; pero después Muñeca se fue a São Paulo y terminó su curso en el "Belas Artes" de la avenida Tiradentes, a principio de los 80; más tarde, incluso, llegó a abrir un estudio en Santana. 
Pero la vida no siempre imita los colores del arte, y el arte de vivir a veces se hace más urgente y apremiante de lo que a uno le gustaría.

Habían pasado más de veinte años sin encontrarse, y cuando se vieron de nuevo en el micro de la Cacorba, en julio del 88, Muñeca y Ariel no se reconocieron. 
¿Muñeca? 
Sí, sí, Muñeca, le contesta ella. 

Y yo me acuerdo que es la misma Muñeca que en un atardecer frío en el cementerio de París se lo encontró a Cortázar, o al abuelo de Cortázar, que debería tener por entonces unos 89 o 90 años. 
Si bien que ella cuenta que le pasó lo mismo que a aquel escritor peruano, Bryce Echenique, me parece, que creyó haber visto al padre o al abuelo de Cortázar, porque el argentino no representaba más de 28, y cuando por fin se lo presentaron pensó que no, que al que había visto antes era el hijo de Cortázar. 
Bueno, en fin, que a Muñeca se le apareció entre las tumbas de Montparnasse un señor muy alto, que a cada cien metros de recorrido le parecía más y más alto; con una cara de chico perverso, metido en un largo sobretodo negro; y cuando Muñeca se topó con el viejito que, en pleno invierno, en un atardecer oscuro le hablaba en un diáfano castellano matizado por un lejano acento francés notó que, como contaba García Márquez del escritor argentino, el misterioso anciano también tenía unos ojos “muy separados, como los de un novillo, y tan oblicuos y diáfanos que habrían podido ser los del diablo”. 

Pero Muñeca no tuvo tiempo de asustarse porque de pronto el viejito le mostró con una gran reverencia la tumba de Cortázar, y desapareció entre las sombras. 

Y sí, le dice Muñeca a Ariel SeferinoPor eso y por otras tantas cosas que cuentan que pasan en París es que cuando uno anda por la calle, en cualquier esquina se atraviesa el espejo de Alicia, y uno continúa hasta un café en Córdoba donde nuevamente se cruza el espejo, ¿el retrovisor, tal vez?, que te trae de vuelta al punto de partida sueño que me dice Muñeca, o la escucho en el delirio de la fiebre. 
Las historias verdaderas se nos mezclan con las de los escritores que nos habitan y siguen su recorrido perfecto, rotundo, perplejo me dice mi prima Muñeca, y yo pienso que tiene razón. 

 Trecho de "Crónicas de utopías y amores, de demonios y héroes de la Patria". J.Villanueva, 2006

terça-feira, 26 de julho de 2022

Diles que no me maten (Juan Rulfo)

 


Diles que no me maten

Por Juan Rulfo

—¡Diles que no me maten, Justino! Anda, vete a decirles eso. Que por caridad. Así diles. Diles que lo hagan por caridad.
—No puedo. Hay allí un sargento que no quiere oír hablar nada de ti.
—Haz que te oiga. Date tus mañas y dile que para sustos ya ha estado bueno. Dile que lo haga por caridad de Dios.
—No se trata de sustos. Parece que te van a matar de a de veras. Y yo ya no quiero volver allá.
—Anda otra vez. Solamente otra vez, a ver qué consigues.
—No. No tengo ganas de eso, yo soy tu hijo. Y si voy mucho con ellos, acabarán por saber quién soy y les dará por afusilarme a mí también. Es mejor dejar las cosas de este tamaño.
—Anda, Justino. Diles que tengan tantita lástima de mí. Nomás eso diles.
Justino apretó los dientes y movió la cabeza diciendo:
—No.
Y siguió sacudiendo la cabeza durante mucho rato.
Justino se levantó de la pila de piedras en que estaba sentado y caminó hasta la puerta del corral. Luego se dio vuelta para decir:
—Voy, pues. Pero si de perdida me afusilan a mí también, ¿quién cuidará de mi mujer y de los hijos?
—La Providencia, Justino. Ella se encargará de ellos. Ocúpate de ir allá y ver qué cosas haces por mí. Eso es lo que urge.

Lo habían traído de madrugada. Y ahora era ya entrada la mañana y él seguía todavía allí, amarrado a un horcón, esperando. No se podía estar quieto. Había hecho el intento de dormir un rato para apaciguarse, pero el sueño se le había ido. También se le había ido el hambre. No tenía ganas de nada. Sólo de vivir. Ahora que sabía bien a bien que lo iban a matar, le habían entrado unas ganas tan grandes de vivir como sólo las puede sentir un recién resucitado. Quién le iba a decir que volvería aquel asunto tan viejo, tan rancio, tan enterrado como creía que estaba. Aquel asunto de cuando tuvo que matar a don Lupe. No nada más por nomás, como quisieron hacerle ver los de Alima, sino porque tuvo sus razones. Él se acordaba:
Don Lupe Terreros, el dueño de la Puerta de Piedra, por más señas su compadre. Al que él, Juvencio Nava, tuvo que matar por eso; por ser el dueño de la Puerta de Piedra y que, siendo también su compadre, le negó el pasto para sus animales.
Primero se aguantó por puro compromiso. Pero después, cuando la sequía, en que vio cómo se le morían uno tras otro sus animales hostigados por el hambre y que su compadre don Lupe seguía negándole la yerba de sus potreros, entonces fue cuando se puso a romper la cerca y a arrear la bola de animales flacos hasta las paraneras para que se hartaran de comer. Y eso no le había gustado a don Lupe, que mandó tapar otra vez la cerca para que él, Juvencio Nava, le volviera a abrir otra vez el agujero. Así, de día se tapaba el agujero y de noche se volvía a abrir, mientras el ganado estaba allí, siempre pegado a la cerca, siempre esperando; aquel ganado suyo que antes nomás se vivía oliendo el pasto sin poder probarlo.
Y é, y don Lupe alegaban y volvían a alegar sin llegar a ponerse de acuerdo. Hasta que una vez don Lupe le dijo:
—Mira, Juvencio, otro animal más que metas al potrero y te lo mato.
Y él contestó:
—Mire, don Lupe, yo no tengo la culpa de que los animales busquen su acomodo. Ellos son inocentes. Ahí se lo haiga si me los mata.

“Y me mató un novillo.

“Esto pasó hace treinta y cinco años, por marzo, porque ya en abril andaba yo en el monte, corriendo del exhorto. No me valieron ni las diez vacas que le di al juez, ni el embargo de mi casa para pagarle la salida de la cárcel. Todavía después, se pagaron con lo que quedaba nomás por no perseguirme, aunque de todos modos me perseguían. Por eso me vine a vivir junto con mi hijo a este otro terrenito que yo tenía y que se nombra Palo de Venado. Y mi hijo creció y se casó con la nuera Ignacia y tuvo ya ocho hijos. Así que la cosa ya va para viejo, y según eso debería estar olvidada. Pero, según eso, no lo está.
“Yo entonces calculé que con unos cien pesos quedaba arreglado todo. El difunto don Lupe era solo, solamente con su mujer y los dos muchachitos todavía de a gatas. Y la viuda pronto murió también dizque de pena. Y a los muchachitos se los llevaron lejos, donde unos parientes. Así que, por parte de ellos, no había que tener miedo.
“Pero los demás se atuvieron a que yo andaba exhortado y enjuiciado para asustarme y seguir robándome. Cada que llegaba alguien al pueblo me avisaban:
“—Por ahí andan unos fureños, Juvencio.
“Y yo echaba pal monte, entreverándome entre los madroños y pasándome los días comiendo verdolagas. A veces tenía que salir a la media noche, como si me fueran correteando los perros. Eso duró toda la vida . No fue un año ni dos. Fue toda la vida.”
Y ahora habían ido por él, cuando no esperaba ya a nadie, confiado en el olvido en que lo tenía la gente; creyendo que al menos sus últimos días los pasaría tranquilos. “Al menos esto —pensó— conseguiré con estar viejo. Me dejarán en paz”.
Se había dado a esta esperanza por entero. Por eso era que le costaba trabajo imaginar morir así, de repente, a estas alturas de su vida, después de tanto pelear para librarse de la muerte; de haberse pasado su mejor tiempo tirando de un lado para otro arrastrado por los sobresaltos y cuando su cuerpo había acabado por ser un puro pellejo correoso curtido por los malos días en que tuvo que andar escondiéndose de todos.
Por si acaso, ¿no había dejado hasta que se le fuera su mujer? Aquel día en que amaneció con la nueva de que su mujer se le había ido, ni siquiera le pasó por la cabeza la intención de salir a buscarla. Dejó que se fuera sin indagar para nada ni con quién ni para dónde, con tal de no bajar al pueblo. Dejó que se le fuera como se le había ido todo lo demás, sin meter las manos. Ya lo único que le quedaba para cuidar era la vida, y ésta la conservaría a como diera lugar. No podía dejar que lo mataran. No podía. Mucho menos ahora.
Pero para eso lo habían traído de allá, de Palo de Venado. No necesitaron amarrarlo para que los siguiera. Él anduvo solo, únicamente maniatado por el miedo. Ellos se dieron cuenta de que no podía correr con aquel cuerpo viejo, con aquellas piernas flacas como sicuas secas, acalambradas por el miedo de morir. Porque a eso iba. A morir. Se lo dijeron.
Desde entonces lo supo. Comenzó a sentir esa comezón en el estómago que le llegaba de pronto siempre que veía de cerca la muerte y que le sacaba el ansia por los ojos, y que le hinchaba la boca con aquellos buches de agua agria que tenía que tragarse sin querer. Y esa cosa que le hacía los pies pesados mientras su cabeza se le ablandaba y el corazón le pegaba con todas sus fuerzas en las costillas. No, no podía acostumbrarse a la idea de que lo mataran.
Tenía que haber alguna esperanza. En algún lugar podría aún quedar alguna esperanza. Tal vez ellos se hubieran equivocado. Quizá buscaban a otro Juvencio Nava y no al Juvencio Nava que era él.
Caminó entre aquellos hombres en silencio, con los brazos caídos. La madrugada era oscura, sin estrellas. El viento soplaba despacio, se llevaba la tierra seca y traía más, llena de ese olor como de orines que tiene el polvo de los caminos.
Sus ojos, que se habían apenuscado con los años, venían viendo la tierra, aquí, debajo de sus pies, a pesar de la oscuridad. Allí en la tierra estaba toda su vida. Sesenta años de vivir sobre de ella, de encerrarla entre sus manos, de haberla probado como se prueba el sabor de la carne. Se vino largo rato desmenuzándola con los ojos, saboreando cada pedazo como si fuera el último, sabiendo casi que sería el último.
Luego, como queriendo decir algo, miraba a los hombres que iban junto a él. Iba a decirles que lo soltaran, que lo dejaran que se fuera: «Yo no le he hecho daño a nadie, muchachos», iba a decirles, pero se quedaba callado. » Más adelantito se los diré», pensaba. Y sólo los veía. Podía hasta imaginar que eran sus amigos; pero no quería hacerlo. No lo eran. No sabía quiénes eran. Los veía a su lado ladeándose y agachándose de vez en cuando para ver por dónde seguía el camino.
Los había visto por primera vez al pardear de la tarde, en esa hora desteñida en que todo parece chamuscado. Habían atravesado los surcos pisando la milpa tierna. Y él había bajado a eso: a decirles que allí estaba comenzando a crecer la milpa. Pero ellos no se detuvieron.
Los había visto con tiempo. Siempre tuvo la suerte de ver con tiempo todo. Pudo haberse escondido, caminar unas cuantas horas por el cerro mientras ellos se iban y después volver a bajar. Al fin y al cabo la milpa no se lograría de ningún modo. Ya era tiempo de que hubieran venido las aguas y las aguas no aparecían y la milpa comenzaba a marchitarse. No tardaría en estar seca del todo.
Así que ni valía la pena de haber bajado; haberse metido entre aquellos hombres como en un agujero, para ya no volver a salir.
Y ahora seguía junto a ellos, aguantándose las ganas de decirles que lo soltaran. No les veía la cara; sólo veía los bultos que se repegaban o se separaban de él. De manera que cuando se puso a hablar, no supo si lo habían oído. Dijo:
—Yo nunca le he hecho daño a nadie —eso dijo. Pero nada cambió. Ninguno de los bultos pareció darse cuenta. Las caras no se volvieron a verlo. Siguieron igual, como si hubieran venido dormidos.
Entonces pensó que no tenía nada más que decir, que tendría que buscar la esperanza en algún otro lado. Dejó caer otra vez los brazos y entró en las primeras casas del pueblo en medio de aquellos cuatro hombres oscurecidos por el color negro de la noche.

—Mi coronel, aquí está el hombre.

Se habían detenido delante del boquete de la puerta. Él, con el sombrero en la mano, por respeto, esperando ver salir a alguien. Pero sólo salió la voz:
—¿Cuál hombre? —preguntaron.
—El de Palo de Venado, mi coronel. El que usted nos mandó a traer.
—Pregúntale que si ha vivido alguna vez en Alima —volvió a decir la voz de allá adentro.
—¡Ey, tú! ¿Que si has habitado en Alima? —repitió la pregunta el sargento que estaba frente a él.
—Sí. Dile al coronel que de allá mismo soy. Y que allí he vivido hasta hace poco.
—Pregúntale que si conoció a Guadalupe Terreros.
—Que dizque si conociste a Guadalupe Terreros.
—¿A don Lupe? Sí. Dile que sí lo conocí. Ya murió.
Entonces la voz de allá adentro cambió de tono:
—Ya sé que murió —dijo. Y siguió hablando como si platicara con alguien allá, al otro lado de la pared de carrizos:
—Guadalupe Terreros era mi padre. Cuando crecí y lo busqué me dijeron que estaba muerto. Es algo difícil crecer sabiendo que la cosa de donde podemos agarrarnos para enraizar está muerta. Con nosotros, eso pasó.
“Luego supe que lo habían matado a machetazos, clavándole después una pica de buey en el estómago. Me contaron que duró más de dos días perdido y que, cuando lo encontraron tirado en un arroyo, todavía estaba agonizando y pidiendo el encargo de que le cuidaran a su familia.
“Esto, con el tiempo, parece olvidarse. Uno trata de olvidarlo. Lo que no se olvida es llegar a saber que el que hizo aquello está aún vivo, alimentando su alma podrida con la ilusión de la vida eterna. No podría perdonar a ése, aunque no lo conozco; pero el hecho de que se haya puesto en el lugar donde yo sé que está, me da ánimos para acabar con él. No puedo perdonarle que siga viviendo. No debía haber nacido nunca”.
Desde acá, desde fuera, se oyó bien claro cuando dijo. Después ordenó:
—¡Llévenselo y amárrenlo un rato, para que padezca, y luego fusílenlo!
—¡Mírame, coronel! —pidió él—. Ya no valgo nada. No tardaré en morirme solito, derrengado de viejo. ¡No me mates…!
—¡Llévenselo! —volvió a decir la voz de adentro.
—…Ya he pagado, coronel. He pagado muchas veces. Todo me lo quitaron. Me castigaron de muchos modos. Me he pasado cosa de cuarenta años escondido como un apestado, siempre con el pálpito de que en cualquier rato me matarían. No merezco morir así, coronel. Déjame que, al menos, el Señor me perdone. ¡No me mates! ¡Diles que no me maten!
Estaba allí, como si lo hubieran golpeado, sacudiendo su sombrero contra la tierra. Gritando.
En seguida la voz de allá adentro dijo:
—Amárrenlo y denle algo de beber hasta que se emborrache para que no le duelan los tiros.Ahora, por fin, se había apaciguado. Estaba allí arrinconado al pie del horcón. Había venido su hijo Justino y su hijo Justino se había ido y había vuelto y ahora otra vez venía.

Lo echó encima del burro. Lo apretaló bien apretado al aparejo para que no se fuese a caer por el camino. Le metió su cabeza dentro de un costal para que no diera mala impresión. Y luego le hizo pelos al burro y se fueron, arrebiatados, de prisa, para llegar a Palo de Venado todavía con tiempo para arreglar el velorio del difunto.
—Tu nuera y los nietos te extrañarán —iba diciéndole—. Te mirarán a la cara y creerán que no eres tú. Se les afigurará que te ha comido el coyote cuando te vean con esa cara tan llena de boquetes por tanto tiro de gracia como te dieron.