domingo, 25 de setembro de 2016

Buenos Aires. Edifício Kavanagh: uma história de amor e de revanches


Kavanagh

Buenos Aires. Edifício Kavanagh: 
uma história de amor e de revanches

Na década de  1930, num período que tanto na história do Brasil, como na da Argentina e na Europa, foi rico e contraditório, uma mulher chamada Corina Kavanagh, nascida numa família enriquecida — mais uma entre os muitos imigrantes chamados despetivamente de "novos ricos" pela velha oligarquia rural argentina tinha mantido um caso de amor com um jovem dessa alta classe de proprietários portenhos, o filho de Mercedes Castellanos de Anchorena

aristocrata se opunha totalmente ao relacionamento do filho com a rica plebeia, e finalmente tanto fez que conseguiu afastá-los.

Dizem os mais velhos que, dolorida e humilhada, Corina decidiu se vingar por meio de uma revanche elaborada para acontecer do modo mais cruel. A vingança seria sem sangue...porém, feita com tijolos, areia, cimento, e muito ferro.

Nasce o edifício Kavanagh

O que mais desejavam naquela época os Anchorena, os familiares e a velha rival da despeitada Corina, era completar a construção da Basílica do Santíssimo Sacramento, que é hoje um templo católico aberto a toda a comunidade da cidade de Buenos Aires. 
Naqueles anos a construção estava sendo realizada a pedido da aristocrática família com o objetivo de ser num futuro próximo o sepulcro coletivo dos Anchorena. 

A família do frustrado amor de Coralina vivia então num palacete que hoje é ocupado pela Chancelaria argentina, bem em frente e do outro lado da Plaza San Martín.
A intenção da matriarca dos Anchorena era comprar e incorporar um terreno vazio que ficava justo em frente à igreja, para levantar a nova mansão da família e para que a paroquia ficasse desse modo anexada à sua casa.

Mas, paradoxalmente, se alguém quiser hoje olhar de frente para a atual basílica do Santíssimo Sacramento, deverá ficar na estreita ruela que leva o nome da inimiga da família Anchorena, a vingativa Corina Kavanagh.

Disposta a golpear sua inimiga donde mais doesse, contam os antigos que Corina Kavanagh dobrou a oferta para poder comprar o terreno desejado pela matriarca Anchorena e, em seguida, contratou o estúdio dos arquitetos Sánchez, Lagos e de La Torre para a construção de um grande prédio com apenas uma única intenção: a de cobrir por completo a visão da igreja de todos os ângulos possíveis. Mas, principalmente, tapar o olhar de quem quisesse ver a paroquia a partir das janelas da mansão dos Anchorena.

 
Segundo conta o mito urbano, dona Coralina aproveitou uma viagem da sua arqui-inimiga Anchorena para adiantar-se na compra do terreno. Onde hoje se localiza o enorme prédio chamado Kavanagh se levantava naqueles anos o Hotel Plaza e, para alcançar seu objetivo, contam que Coralina teve que vender três fazendas que possuía la localidade de Venado Tuerto. 

A construção do edifício demorou só 14 meses, entre finais de 1934 e inícios de 1936. O prédio que, entre outros recordes, se orgulha de ter tido o primeiro aparelho de ar condicionado central da Argentina, tem uma forma escalonada. 

Além de seguir o estilo racionalista, o Edifício Kavanagh responde também às exigências e restrições do Código de Edificação do Buenos Aires dos anos 20 e 30, e que limitou o tamanho que havia sido originalmente projetado.

O edifício, de uma certa semelhança com o nosso antigo Prédio Banespa — hoje Edifício Santander no centro paulistano, tem 33 andares e 113 apartamentos de alto luxo, todos eles completamente diferentes entre si onde, entre outras várias personalidades da alta sociedade argentina, viveu o ex Ministro de Economia da ditadura de Videla, José Alfredo Martínez de Hoz.

Com três elevadores, cinco entradas autônomas, cinco escadarias, lojas de comércio no térreo e estacionamento, foi uma grande novidade para sua época, ao que se acrescentava uma piscina, salões de lavanderia e câmara frigorifica para a conservação de peles e carpetes, um sistema telefônico central e depósitos de segurança.


Os apartamentos são muito grandes para os padrões modernos, o menor deles com 140 metros². Em 2008, por exemplo, um apartamento que ocupava todo o andar 14º foi vendido por 5,9 milhões de dólares. 
O Kavanagh fica no fim da Calle Florida, número 1065, do lado da Plaza San Martín. 
Javier Villanueva. Buenos Aires, 20 de septiembre de 2016.

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