O texto não é meu. Pertence a um pastor evangélico, presidente de uma congregação e de uma federação de igrejas. Estudo o fenômeno do neo-pentecostalismo não como preconceito contra os fieis e seguidores - os crentes- mas sim como representação do poder intransigente, conservador e intolerante que se espalha pelo Brasil, encharcando a política atual e gerando um retrocesso que assusta até a uma parte do chamado "povo evangélico".
O avance das igrejas e da direita mais conservadora deve levar a estudar o que significa tudo isto, e como vamos sair desse retrocesso em que estão afundando a sociedade e ao qual só parece estar contestando a juventude. (JV)
Deus nos livre de um Brasil evangélico
O avance das igrejas e da direita mais conservadora deve levar a estudar o que significa tudo isto, e como vamos sair desse retrocesso em que estão afundando a sociedade e ao qual só parece estar contestando a juventude. (JV)
Deus nos livre de um Brasil evangélico
Ricardo Gondim* , 1º.07.2015
Começo este texto com uns 15 anos de atraso. Eu explico.
Nos tempos em que outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma
fortuna para espalhar vários deles em avenidas da cidade com a mensagem: “São
Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso”.
Rumino o recado desde então. Represei qualquer reação à
bobagem estampada publicamente; hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta em
uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver o Brasil
tornar-se evangélico. Antes explico: eu gostaria de ver o Brasil permeado com a
elegância, solidariedade, inclusão e compaixão do Evangelho. Mas a mensagem
subliminar dos outdoors, para quem conhece a cultura do movimento evangélico, é
outra. Os evangélicos sonham com o dia em que cidade, estado e país se
convertam em massa, e a terra dos tupiniquins tenha a cara de suas
denominações.
Afirmo que o sonho é que haja um “avivamento” religioso
que leve uma enxurrada de gente para os templos evangélicos. Não reside entre
os teólogos do movimento qualquer desejo
de que valores cristãos influenciem a cultura brasileira. Eles anelam tão
somente que o subgrupo, descendente distante dos protestantes, prevaleça. A
eles não interessa que haja um veloz crescimento numérico entre católicos
romanos; que ortodoxos sírios, russos, armênios ou gregos se alastrem. Para
“ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar “crente”, com a cara dos
evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).
Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão
uma boa ideia de como seria desastroso se acontecesse a tal levedação radical
do Brasil.
Imagino uma Genebra calvinista brasileira e tremo. Sei
de grupos que anseiam por um puritanismo não inglês, mas moreno. Caso
acontecesse, como os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso,
Maria Gadu? Respondo: seriam execrados como diabólicos, devassos e
pervertedores dos bons costumes. Não gosto nem de pensar no destino de poesias
sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Um Brasil evangélico
empobreceria, já que sobrariam as péssimas poesias do cancioneiro gospel. As
rádios tocariam sem parar músicas horrorosas como “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”.
Uma história minimamente parecida com a dos puritanos
calvinistas provocaria, estou certo, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas
seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem,
entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de
Andrade?
Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por
evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros
fiscais, para que se desqualificasse Charles Darwin como “alucinado inimigo da
fé”. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em
faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria
dos hereges loucos. Derridá nunca teria uma tradução para o português. O que
dizer de rebeldes como Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo,
seriam pesquisados como desajustados. Ganhariam rótulos para serem desmerecidos
a priori como loucos, pederastas, hereges.
Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o
Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. A
alegria do futebol morreria; alguma lei proibiria ir ao estádio ou ligar
televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada de várzea, aconteceria quando?
Haveria multa ou surra para palavrão?
Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo
político prevaleceu. Basta uma espiada no histórico de Suas Excelências da
bancada evangélica nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para se apavorar. Se,
ainda minoria, a bancada evangélica na Câmara Federal é campeã em faltas e em
processos no STF, imagina dominando o parlamento.
Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american
way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade
não passa de cópia malfeita da cultura estadunidense. Obcecados em implementar
os “valores da família”, tão caros ao partido republicano dos Estados Unidos,
recrudesceria a teologia de causa-e-efeito, cármica, do “quem planta, colhe”.
Vingaria o sucesso como aferidor da bênção de Deus.
Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a
Igreja Católica. Uma nova elite religiosa (os ungidos) destilaria maldição
contra os “inimigos da fé”, os “idólatras”, os “hereges”, com mais perversidade
do que aiatolás iranianos. Ficaria mais fácil falar de inferno e mandar para lá
todo mundo que rejeitasse algumas lógicas tidas como ortodoxas.
Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me
flagro perguntando: Como seria uma emissora liderada por evangélicos? Adianto:
insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.
Prefiro, sem pestanejar, os textos do Gabriel Garcia
Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo
Ribeiro, do Jorge Amado, a qualquer livro da série “Deixados para Trás” do
fundamentalista de direita, Tim LaHaye. O demagogo Max Lucado (que abençoou a
decisão de Bush bombardear o Iraque) não calça o chinelo de Mário Benedetti.
Toda a teocracia um dia se tornará totalitária. Toda a
tentativa de homogeneizar a cultura precisa se valer de obscurantismo. Todo o
esforço de higienizar os costumes é moralista e hipócrita.
O projeto cristão visa preparar para a vida. Jesus
jamais pretendeu anular os costumes de povos não-judeus. Daí ele celebrar a fé
em um centurião, adorador no paganismo romano, como especial e digna de elogio.
Cristo afirmou que, entre criteriosos fariseus, ninguém tinha uma
espiritualidade tão única e bela como daquele soldado que se preocupou com o
escravo.
Levar a Boa Notícia – Evangelho – não significa exportar
cultura, criar dialeto ou forçar critérios morais. Na evangelização, fica
implícito que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar,
encenar, como sempre fizeram. O evangelho convoca à pratica da justiça; cria
meios de solidariedade; procura gestar homens e mulheres distintos; imprime em
pessoas o mesmo espírito que moveu Jesus a praticar o bem.
Há estudos sociológicos que apontam estagnação quando o
movimento evangélico chegar a 35% da população brasileira. Esperemos que sim.
Caso alcançasse a maioria, com os anseios totalitários e teocráticos que já
demonstra, o movimento desenvolveria mecanismos para coibir a liberdade.
Acontece que Deus não rivaliza a liberdade humana, mas é seu maior
incentivador.
Portanto, Deus nos livre de um Brasil evangélico.
Soli Deo Gloria
http://www.ricardogondim.com.br/meditacoes/deus-nos-livre-de-um-brasil-evangelico/
* Ricardo Gondim Rodrigues é teólogo brasileiro, presidente nacional da Igreja Betesda e presidente do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos. Tem programa de rádio e é colunista de vários veículos de comunicação. É autor premiado de vários livros e artigos polêmicos.
Ricardo Gondim nasceu católico de uma família que tem padres e freiras na árvore genealógica" e, contrariando as perspectivas familiares, ingressou na Igreja Presbiteriana, onde participou efetivamente e liderou a "União de Mocidade" onde "acreditava ser um dos eleitos" da "presciência" de Deus, crendo fielmente em todos seus dogmas calvinistas, até que teria recebido o batismo com o Espírito Santo e, segundo suas palavras, fora "intimado a comparecer a uma versão moderna da Inquisição", onde lhe pediram: "Peça para sair, evite o trauma de um julgamento sumário. Poupe-nos de nos transformarmos em algozes".
Por influência de seu "melhor amigo, presidente da Aliança Bíblica Universitária", ingressou na Assembleia de Deus, onde percebera que a mesma "estava engessada" e "sobrava legalismo", passando a denunciar, segundo o próprio, a "gerontocracia assembleiana". Afirma que rompeu com a "maior denominação pentecostal do Brasil" e passou a caminhar com a Betesda.
Seus ensinos rompiam com obrigações rigorosas dos Usos e Costumes. Ao escrever o livro "É Proibido: o que a Bíblia Permite e a Igreja Proíbe" em 1998, causou o costumeiro alvoroço em torno de suas polêmicas publicações. O livro hoje não é tão polêmico, dadas as aberturas provocadas pelo segmento protestante, por intermédio da Igreja Universal, mas Ricardo Gondim sempre está sob os olhos do público religioso com inovadoras publicações teológicas, tendo por último abraçado ensinos do Teísmo Aberto.
Hum... Sei... Se eu fosse vc pegava seus paninhos de banda e se mudava pra Cuba.... Entendo que vc e um infeliz... Etc... Mas não se.preocupe ISsO vai acontecer.... E mandaremos esse monte de safado �� pro espaço... Sua opinião não interessa nossas músicas são lindas... Algumas apelam para o ego... Mas as que sómente a Deus exata são lindas...
ResponderExcluirSchinnayder Games: alguém que não tem coragem de usar a própria identificação nas coisas que escreve ou ameaça não é digno de respeito!
Excluir