A grande guerra fraticida em que o Império do Brasil se aliou com a Argentina e o Uruguai em contra da nação do Paraguai entre 1864 e 1870, tem sido muito estudada e pesquisada já desde o século XIX. Com diferentes abordagens, diversos autores de várias nacionalidades têm enfatizado, tanto de um lado como do outro, os acontecimentos heróicos ou militares, assim como também -sempre de distintos ângulos- as questões relacionadas com a disputa econômica e política. Tentando escapar desses recortes e do nacionalismo fechado de uma ou outra margem do conflito, estudos recentes têm chamado a atenção para os atores humanos, os seres de carne e osso do enfrentamento; essas pesquisas foram notando sobretudo a presença de negros e mulheres na guerra, e também tentando dar visibilidade aos índios que se enrolaram, ou que foram envolvidos em ambos os lados das batalhas e do desfecho cruel que dizimou uma nação enteira de guaranis e mestiços "criollos", repetindo e multiplicando os massacres que, muito perto dai, tinham cometido os bandeirantes paulistas, catarinenses e gaúchos nas Missões Jesuíticas.
Do lado brasileiro é bem conhecida a participação de grupos indígenas, cujos territórios estavam localizados entre o Pantanal e o "Gran Chaco". Entre as participações mais notáveis se incluem os Txané-Guaná (Guaná, Terena, Kinikinawa e Layano) e os Mbayá-Guaikuru (Guaikuru, Kadiwéu); além deles, nessa documentação se acham curtas menções aos índios Guató.
Na memória destes povos, a Guerra do Paraguai chegou a adquirir o valor de um verdadeiro divisor de águas. Este fato - segundo me contava meses antes da sua morte meu avô Victoriano - foi observado pela antropóloga Mônica Pechincha, que esteve com os Kadiwéu em 1992. Depois de ouvir dezenas de histórias dos índios, a pesquisadora concluiu que a guerra do Paraguai "é o evento que define a relação dos Kadiwéu com a nação brasileira. E é uma parte fundamental na reivindicação dos seus direitos territoriais".
A partir do final do século XVIII, os Guaikuru vinham se aproximando dos luso-brasileiros, e se estabeleceram nas proximidades de Forte Coimbra e da vila de Albuquerque. Os outros agrupamentos indígenas, principalmente os Kadiwéu e os Beaquéo, sempre mais livres, não se deixavam seduzir tão fácil pelas propostas insistentes de concentrar-se em "reservas", feitas pelas autoridades brasileiras. Os paraguaios, entretanto, chamam todos eles de "Mbayá".
Quem queira descrever os Guaikurus - seguia a história Vitoriano Unzaga - falava logo das qualidades mais visíveis; entre outros elogios, diziam, são fortes, corajosos ao limite da temeridade; mas também selvagens e violentos, traiçoeiros e mentirosos, a pesar de bonitos, orgulhosos e inteligentes. Todos ficavam impressionados com a figura imponente do Guaykuru: "Como seu tamanho, beleza e elegância de suas formas e suas forças são muito superiores aos espanhóis, eles consideram a raça européia como muito inferior à sua" resume nos seus relatos o explorador Félix de Azara.
(Continuará) JV
(Continuará) JV
Javier, de 26/12 a 06/01 irei ao Paraguay para um Festival de Música que meu grupo musical Coro Luther King fará junto com o Conservatório Sta Cecilia, de Encarnación. Ficaremos numa das sedes das Missões e estou lendo bastante a respeito. Obrigada pelo artigo, aguardo a continuação.
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