sábado, 3 de setembro de 2011

Os índios cavaleiros da nação Guaykuru. Parte 2


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Os índios cavaleiros da nação Guaykuru. Parte 2

Nação de índios oriundos do Chaco, são um povo que, desde cedo, se tornou especialista em cavalos. Não se sabe com certeza quando o Guaikuru passou a dominar o cavalo. De acordo com o pesquisador Schindler, isso teria acontecido no final do século XVI. Em qualquer caso, desde quando investiram contra as missões jesuíticas do Itatim e fizeram daquele lugar a Terra Mbaiânica, na região entre os rios Taquari e Jejuí, já eram expertos cavaleiros. Como todo bom vencedor, logo deram novos nomes para a geografia: os rios que os castelhanos denominavam Corrientes e Piray logo se tornaram o Apa e o Aquidaban; ao distrito chamado em outros tempos Pitun, Piray e Itati, deram o nome de Aguaguigo, e assim por diante. Isto, que segundo Azara "embaralhou muito a geografia e a demarcação de limites", é uma evidência da dominação territorial Guaikuru.

Darcy Ribeiro, que andou entre os Kadiwéu em 1940, observou que a linha mais singular da filosofia desses índios era o seu interesse nulo em exaltar os mais humildes. Pelo contrário, "o seu património lendário", diz o antropólogo, "reflete a mentalidade de um povo cuja característica mais elaborada do etnocentrismo e a idéia de predestinação de Kadiwéu para governar o mundo". Sua história é a da guerra com todos os povos que encontravam pelo seu caminho, seja índio ou não, com a única possível exceção da população agrícola de Txané-Guaná, com quem tinha sido associados no Chaco, estabelecendo uma complexa relação intertribal.

E insiste Darci Ribeiro ao frisar no perfil guerreiro dos Guaykurus: “...(era um)...povo mameluco, que se fazia brasileiro, e um contendor realmente capaz de ameaçá-lo, que eram os Guaicuru, também chamados de índios cavaleiros. Adotando o cavalo, que para os outros índios era apenas uma caça nova que se multiplicava nos campos, eles se reestruturaram como chefaturas pastoris que enfrentaram vigorosamente o invasor, infringindo-lhe derrotas e perdas que chegaram a ameaçar a expansão européia. Um dos cronistas da expansão civilizatória sobre seus territórios nos diz, claramente, que “pouco faltou para que exterminassem todos os espanhóis do Paraguai”. Francisco Rodrigues do Prado, membro da Comissão de Limites da América hispânica e da portuguesa, avaliou em 4 mil o número de paulistas mortos por eles ao longo das vias de comunicação com Cuiabá" escreve Darci Ribeiro em "O Povo Brasileiro".

No entanto, e enquanto isso, o processo de colonização ibérica foi consolidando-se na região - primeiro em Fuerte Burbón e Concepción no lado castelhano, e pelo outro lado, no núcleo de Coimbra, Albuquerque e Miranda – também foram sendo criadas condições para uma guerra tripartite entre os espanhóis, portugueses e Guaykuru. 
Lusitanos e castellanos lutavam entre si pelo domínio e a expansão de suas fronteiras, e a nação Mbaya contra ambos para defender seu território. Ficou claro que a vitória só poderia ser alcançada por aqueles colonos que conseguissem aliar-se com os índios. Consciente disto, agiram muito astutamenteos Guaikurú contra ambos os dois inimigos.

Lentamente, porém, vai sendo defininda uma aproximação cada vez mais forte do povo Mbaya ou Guaykuru com os portugueses, o que finalmente culminou com o tratado de paz e amizade assinado em 1791. Desde então e até 1826, não são mais conhecidos confrontos violentos entre os luso-brasileiros e os índios cavaleiros.

Com os castelhanos de Assunção, no entanto, os índios ainda continuavam jogando um jogo duplo: de um lado tentavam uma aproximação, mas pelo outro continuavam com os ataques na fronteira. Após a independência do Paraguai isto vai aumentar ainda mais.

Em 1826, a paz com os brasileiros sofreu um revés. Os paraguaios apreenderam e mataram o capitão Calabá no Fuerte Borbón. Como o chefe índio tinha sido levado para o forte por um residente português de Albuquerque, os índios acharam que tinham sido traídos. Em retaliação atacaram pessoas e bens nas proximidades de Camapuã e Albuquerque, criando instabilidade na região. A preocupação era que os Guaikuru invertissem as alianças e bons relacionamentos com os brasileiros e fossem viver em paz dentro do Paraguai. Mas isso não aconteceu.

As atitudes do governo paraguaio do ditador Francia, como por exemplo o desmatamento da floresta existente perto da cidade de Concepción - o lugar onde os Mbaya anualmente passavam algumas temporadas do ano recolhendo cocos, só fortaleceu o ódio dos índios e os ataques violentos aumentaram contra o Paraguai. Ao mesmo tempo, aumentou a atração em relação aos brasileiros, que lhes forneciam armas e munições, além de ser os compradores de seus botins de guerra.

Mais tarde, enquanto o Brasil e o Paraguai tentavam negociar a navegação livre dos rios da região - uma questão crucial para a província de Mato Grosso-, um episódio grave ocorre em 1850 em Fecho dos Morros, onde o mestre Lapagate, comandando os índios e os brasileiros tomou o Fuerte Olimpo, e as autoridades mato-grosenses foram forçadas a procurar medidas para conter o ímpeto Guaikurú. O presidente da província, Augusto Leverger veio a escrever confidencialmente em 1851: "Esses índios vão sempre prejudicar as nossas relações de bom entendimento com o Paraguai, tanto devido à sua natureza e índole, como porque, infelizmente, há entre nós, quem lhes forneça armas e pólvora e que comprem os produtos do seus roubos, o que por vezes tem sido tolerado, ou mesmo incentivado por aqueles que deveriam combater esses delitos".

Os índios na Guerra

Desde a invasão da província de Mato Grosso pelas tropas paraguaias, ao início da Guerra da Tríplice Aliança, a defesa brasileira foi realizada com o apoio decididos dos índios do Pantanal.

Já no ano de 1850, as autoridades imperiais estavam cientes da possibilidade de que as forças paraguaias ultra-passassem o Apa e fechassem a navegação do rio Paraguai, isolando a província de Mato Grosso. Mas pouco foi feito para fortalecer a fronteira, de modo que os paraguaios encontraram quase nenhuma resistência quando invadiram e dominaram a região.

No Pantanal os Txané-Guaná também atuaram em diversas ocasiões isoladas contra o inimigo dos brasileiros, os paraguaios, na forma de guerrilhas. Em setembro de 1865, um grupo Terena derrotaram os paraguaios, deixando um número de três índios mortos e onze soldados de Solano Lopez, roubando deles ponchos e munições. Em outubro do mesmo ano os índios lutaram com as forças paraguaias e, sob fogo pesado, assediaram o inimigo até fazé-lo abandonar os campos, levando deles muitos animais. Depois disso, tendo ficado sem munição, os Guaná recorreram às forças imperiais procurando a reposição. Na avaliação de um oficial brasileiro, a solicitação devia ser atendida "em parte porque eles têm feito muito"

(Continuará. JV)

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