quinta-feira, 19 de abril de 2018

Pimba na gorduchinha e bola na rede!

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Tomado de M. Cristina Pacheco Barrionuevo:

Ontem comecei o dia meio chateada porque pela primeira vez não ganhei presente da minha mamis porque logicamente não lembrou e mesmo eu explicando que era meu dia, não entendeu. Mas, com tanta força, saúde, paciência e outros tantos superpoderes que Deus me deu, não posso me lamentar por detalhes. 
Eu adoro crônicas e há 5 anos, quando completei 50, escrevi esse texto que posto novamente como agradecimento pelas mensagens que tantos me enviaram pelo meu aniversário. Espero fazê-los sorrir.
Beijos a todos! Ano que vem, lembrem de mim novamente!


"Passando pra o segundo tempo da vida e sendo brasileira me pareceu inevitável refletir sobre a paixão nacional.
No primeiro tempo de qualquer jogo, há inevitavelmente uma enorme dose de surpresas. Por mais bem preparado que o jogador esteja, não se sabe como será a partida. Como ele se entrosará com a equipe e como será esse encontro com o adversário? Você sabe que é o atacante do seu time, mas tem momentos em se entende o Ronaldo na final da Copa com a França. Apesar de ser o melhor do mundo, amarelou, sem explicações. Mas também tem dias em que você decide se transformar na nova promessa mundial. Pode passar de atacante meia boca a ser considerado um novo Pelé.
Nesse primeiro tempo o jogador vai sentindo a cada minuto o que fazer com o jogo. Sente suas falhas e também as dos outros jogadores, tanto do seu time como do adversário. Vai vendo por onde atacar com mais velocidade, facilidade, enfim, vai criando táticas e vendo o que pode ser feito. O que dá certo ou não. Arrisca alguns bons chutes e pode até fazer alguns gols. Ou não.
No segundo tempo o assunto muda. Já sabemos muito do que deu certo e o que deu errado. Já sabemos as condições do campo, as metas a serem alcançadas, se o Sol vai dar de frente pra o seu olho ou o do adversário. Enfim, teremos vantagens pra usar.
Isso não quer dizer que não teremos surpresas: o time adversário inteiro pode ser mudado e até o Sol que você contava como aliado pode ter ido embora e cair um terrível pé d’água. Não importa. O que mais vai contar na verdade é como você aproveitou a experiência do primeiro tempo e a sua decisão de como entrar pra o segundo. Uma certeza vai te acompanhar: não dá pra bobear mais. Não vai ter terceira chance. Alguns minutos de prorrogação, ok, mas isso não é terceira chance, é lambuja, que alguns jogos têm, mas a maioria não.
O jogo que eu escolhi não foi nem pelada nem de várzea. É jogo duro, final de mundial. Todos os jogadores que me acompanham são únicos, experientes, cheios de momentos pra mostrar, surpresas, aflições, gols pra todo lado, baixas por machucados, roxos, contusões de todo tipo. Alguns, ou melhor, vários cartões vermelhos.Trocas de jogadores, gritos de emoção e desespero. Alguns pega-pra-capar com outros jogadores: do mesmo time e do adversário. Volta à calma e recomeça a emoção. Coisas insólitas: rojão no meio do olho do goleiro, cachorro perdido no meio do campo. Não importa: final de mundial não se cancela por nada. Alguns minutos de suspensão do jogo, recoloca-se tudo no lugar e a redonda corre de novo... Confesso que pedi algumas vezes pra sair e dar uma descansada. O treinador não me deu bola. Ainda gozou da minha cara pelas costas que eu vi. Quando acabar o jogo vou lá tirar satisfação.
Nesses breves momentos antes de voltar lá pra o campo, enxugando a cara vou me animando com os gritos da torcida. Não sei se é da minha cabeça, mas parece até que escuto claramente meu nome sendo ovacionado. Legal, mas dá medo também. Melhor esse pessoal parar de gritar meu nome que é capaz de eu subir pro campo e terem colocado 3 pra me marcar e as minhas canelas já estão roxíssimas de tanto pontapé, tive até que trocar a camiseta, tava rasgada. De repente me dá uma ponta de tristeza lembrar que alguns familiares me avisaram que não vão ficar até o final do meu jogo, vão sair antes.
Olhando bem não são só as minhas canelas que estão machucadas, vou ter que me besuntar inteira com gelol, na verdade. Tudo bem, foi a tática que eu escolhi, sempre cavar falta, adoro fazer gols."

M. Cristina Pacheco Barrionuevo, São Paulo, 18 de abril de 2018.


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