quarta-feira, 4 de abril de 2018

Como os Incas falavam com os Huacas







O amigo Adrián Ilave nos envia este texto que, - além de ser uma excelente leitura para o curso El Espejo Enterrado- é mais uma amostra do interesse e a vontade de estudar que desperta entre os jovens o tema das nossas origens indo-americanas. Obrigado por permitir a publicação e divulgação destas letras. (JV)

Para ver o texto original no Blog de origem:

http://adrianilaveinca.wixsite.com/artistadonovomundo/single-post/2018/02/12/Como-os-Incas-falavam-com-as-Huacas-deuses-e-or%C3%A1culos-sagrados


Como os Incas falavam com os Huacas
(deuses e oráculos sagrados andinos)
13.02.2018

Para entender a sociedade andina antiga, precisamos tirar da nossa mente nossos pré-conceitos e maneiras de pensar atuais.

O extirpador de idolatrias Francisco de Ávila (século XVI, Peru) morou em meio da sociedade incaica viva, e deixou várias histórias fantásticas sobre os feitiços de oráculos e de como os governantes do império Inca negociavam com os deuses.

Uma dessas histórias contava que o décimo imperador Inca Tupac Yupanqui, depois de ter conquistado vários povos, parou para descansar orgulhoso pelos seus triunfos, até que estouraram novas rebeliões entre os povos conquistados. As lutas não paravam e se estenderam por mais de 12 anos. 

O imperador percebeu que os seus guerreiros estavam morrendo sem vencer as batalhas. Incomodado e triste pensou: 

“Para que ofereço aos oráculos tanto ouro e prata, roupas finas, alimentos e todas as minhas riquezas se eles não estão me ajudando? Basta! Chamarei todos eles para me ajudarem contra os rebeldes".

Então os mandou chamar: 

"Dos povos da terra toda, todos os que recebem as minhas oferendas, venham!", e eles responderam: "Sim, iremos". E foram ao encontro do imperador.
Já reunidas na praça central de Cuzco, capital do império, as Huacas escutavam o Inca:

"Meus pais queridos, Huacas, pessoas sagradas, bem sabem vocês com quanto amor e coração os sirvo, lhes oferendando ouro e prata. Sabem muito bem disso. Sendo assim, poderiam me ajudar dando auxilio nesta guerra onde estão morrendo tantos guerreiros?".

Não houve resposta. Então o Inca voltou a falar: 

"Falem! Vocês querem que meus guerreiros morram dessa maneira, se odiando na guerra, os próprios homens que vocês criaram? 
Se vocês não querem me auxiliar neste momento, mandarei queimar todos os seus pertences! Eu sempre lhes ofereço tanto ouro e prata, tanta bebida e comida, sacrifícios de lhamas, além de decorar seus templos com muito respeito. Por que não podem me ajudar agora que estou sofrendo tanto? Se disserem que não podem, arderão todos imediatamente!!"


O deus-oráculo Pachacamac, o mais importante da Costa andina, deus dos tremores e terremotos, contestou pro raivoso Inca: 

"Inca, quase Sol, por ser eu quem sou, não te respondi porque posso destruir você e o mundo todo. Posso acabar com os povos que me pede, porém, não consigo medir a minha força, e acabaria por destrui-lo também. Por isso fiquei calado".

Outra Huaca chamada Macahuisa, deus filho da poderosa Huaca Pariacaca, que morava perto dos povos que o Inca queria destruir, falou: 

"Inca, quase Sol, eu farei o que você quer, só peço que fique aqui na capital me reverenciando. Eu cumprirei o mais breve possível sua petição". 

Enquanto Macahuisa falava, as palavras saíam de sua boca como um vento forte e cheio de fumaça. O oraculo possuía uma flauta de ouro, o qual tocava sua música, vestia uma túnica e um chapéu circular negro. Acabada a reunião, o Inca deu a ele sua liteira, trazida pelos carregadores oficiais do imperador. Diziam que esses carregadores venciam rapidamente distâncias inimagináveis.

Chegando Macahuisa aos lugares onde estavam ocorrendo as rebeliões, fez chover pouco a pouco, fazendo cair raios por todas as partes e inundando os povoados inimigos do Inca. A população toda morreu, com exceção de alguns homens importantes que logo foram levados para Cuzco.

Desde aquele dia, o Inca reverenciou mais ainda ao Macauhisa, dando ao deus cinquenta de seus homens para o serviço. O deus recusou dizendo: 

"Eu não preciso nada para mim, só peço que você seja um devoto da minha confraria"
"Pedido aceito!"- disse o Inca que, com medo de também ser destruído, decidiu lhe oferecer o que ele pedisse, servindo ao deus conchas, que foram rapidamente devoradas por ele. Também foram oferecidas princesas, mas foram recusadas.

Macahuisa voltou-se para o povo, e desde aquele dia o Inca dançou, cantou e reverenciou ao deus.
Foi um encontro muito falado e relembrado. Tantos deuses reunidos na praça central da capital inca, e contam as tradições que nunca mais o povo esqueceu esse momento.

Referência bibliográfica:
Capitulo 23 - pág. 123, Dioses y hombres de Huarochirí. Narración Quechua recogida por Francisco de Ávila [¿1598?]
Autor: Adrián Ilave







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