O amigo Adrián Ilave nos envia
este texto que, - além de ser uma excelente leitura para o curso El Espejo Enterrado- é mais uma amostra
do interesse e a vontade de estudar que desperta entre os jovens o tema das
nossas origens indo-americanas. Obrigado por permitir a publicação e divulgação
destas letras. (JV)
Para ver o texto original no Blog de origem:
http://adrianilaveinca.wixsite.com/artistadonovomundo/single-post/2018/02/12/Como-os-Incas-falavam-com-as-Huacas-deuses-e-or%C3%A1culos-sagrados
Como os Incas falavam
com os Huacas
(deuses e oráculos
sagrados andinos)
13.02.2018
Para entender a sociedade
andina antiga, precisamos tirar da nossa mente nossos pré-conceitos e maneiras
de pensar atuais.
O extirpador de idolatrias
Francisco de Ávila (século XVI, Peru) morou em meio da sociedade incaica viva, e
deixou várias histórias fantásticas sobre os feitiços de oráculos e de como os
governantes do império Inca negociavam com os deuses.
Uma dessas histórias contava que
o décimo imperador Inca Tupac Yupanqui, depois de ter conquistado vários povos,
parou para descansar orgulhoso pelos seus triunfos, até que estouraram novas
rebeliões entre os povos conquistados. As lutas não paravam e se estenderam por
mais de 12 anos.
O imperador percebeu que os seus
guerreiros estavam morrendo sem vencer as batalhas. Incomodado e triste pensou:
“Para que ofereço aos oráculos tanto ouro e prata, roupas finas, alimentos e
todas as minhas riquezas se eles não estão me ajudando? Basta! Chamarei todos
eles para me ajudarem contra os rebeldes".
Então os mandou chamar:
"Dos povos da terra toda, todos os que recebem as minhas oferendas,
venham!", e eles responderam: "Sim, iremos". E foram ao encontro
do imperador.
Já reunidas na praça central de
Cuzco, capital do império, as Huacas escutavam o Inca:
"Meus pais queridos, Huacas,
pessoas sagradas, bem sabem vocês com quanto amor e coração os sirvo, lhes
oferendando ouro e prata. Sabem muito bem disso. Sendo assim, poderiam me
ajudar dando auxilio nesta guerra onde estão morrendo tantos guerreiros?".
Não houve resposta. Então o Inca voltou
a falar:
"Falem! Vocês querem que meus guerreiros morram dessa maneira, se
odiando na guerra, os próprios homens que vocês criaram?
Se vocês não querem me
auxiliar neste momento, mandarei queimar todos os seus pertences! Eu sempre
lhes ofereço tanto ouro e prata, tanta bebida e comida, sacrifícios de lhamas,
além de decorar seus templos com muito respeito. Por que não podem me ajudar
agora que estou sofrendo tanto? Se disserem que não podem, arderão todos
imediatamente!!"
O deus-oráculo Pachacamac, o mais
importante da Costa andina, deus dos tremores e terremotos, contestou pro
raivoso Inca:
"Inca, quase Sol, por ser eu quem sou, não te respondi
porque posso destruir você e o mundo todo. Posso acabar com os povos que me pede,
porém, não consigo medir a minha força, e acabaria por destrui-lo também. Por
isso fiquei calado".
Outra Huaca chamada Macahuisa,
deus filho da poderosa Huaca Pariacaca, que morava perto dos povos que o Inca
queria destruir, falou:
"Inca, quase Sol, eu farei o que você quer, só
peço que fique aqui na capital me reverenciando. Eu cumprirei o mais breve
possível sua petição".
Enquanto Macahuisa falava, as palavras saíam de sua
boca como um vento forte e cheio de fumaça. O oraculo possuía uma flauta de
ouro, o qual tocava sua música, vestia uma túnica e um chapéu circular negro.
Acabada a reunião, o Inca deu a ele sua liteira, trazida pelos carregadores
oficiais do imperador. Diziam que esses carregadores venciam rapidamente
distâncias inimagináveis.
Chegando Macahuisa aos lugares
onde estavam ocorrendo as rebeliões, fez chover pouco a pouco, fazendo cair
raios por todas as partes e inundando os povoados inimigos do Inca. A população
toda morreu, com exceção de alguns homens importantes que logo foram levados
para Cuzco.
Desde aquele dia, o Inca
reverenciou mais ainda ao Macauhisa, dando ao deus cinquenta de seus homens
para o serviço. O deus recusou dizendo:
"Eu não preciso nada para mim, só
peço que você seja um devoto da minha confraria".
"Pedido
aceito!"- disse o Inca que, com medo de também ser destruído, decidiu lhe
oferecer o que ele pedisse, servindo ao deus conchas, que foram rapidamente
devoradas por ele. Também foram oferecidas princesas, mas foram recusadas.
Macahuisa voltou-se para o povo, e
desde aquele dia o Inca dançou, cantou e reverenciou ao deus.
Foi um encontro muito falado e
relembrado. Tantos deuses reunidos na praça central da capital inca, e contam
as tradições que nunca mais o povo esqueceu esse momento.
Referência bibliográfica:
Capitulo 23 - pág. 123, Dioses y hombres de Huarochirí. Narración
Quechua recogida por Francisco de Ávila [¿1598?]
Autor: Adrián Ilave
Nenhum comentário:
Postar um comentário