quarta-feira, 10 de junho de 2020

Crônica de um Genocidio anunciado em dois atos. Ato I°. A comédia:

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Crônica de um Genocidio anunciado em dois atos.
Ato I°. A comédia:
Dom Pedro III
Era um homenzinho quase insignificante: baixa estatura e cabeça desproporcionada, alongada para trás, como o pica-pau do desenho animado.
Velho e ainda por cima antiquado, feio e sem graça, Dom Pedro III havia chegado ao ápice da glória, o máximo poder da nação; e tudo isso era graças, sem dúvida nenhuma, à beleza recatada e caseira da esposa.
Sim, porque até alguns tempos atrás, sua Regente o tinha deixado de lado, esquecido no escanteio e sem brilho nenhum na vida pública.
Enojada com as mãozinhas dançantes do futuro Rei, a Regente cismava em fazer dele um adorno sem utilidade nenhuma.
Adorno, ele? Debochava a Regente. Mas se ele não adorna nem o seu próprio quarto!
Todo mundo sabia, de fato, que a era a bela e jovem esposa quem alegrava os tristes aposentos do palácio, enquanto o futuro Rei gastava longas horas de tédio escrevinhando poesias que ninguém lia e discursos que poucos ouviriam.
Mas chegou a hora e o regenteado vingou-se da regente; não havia à época um Rasputim à altura na corte tupiniquim, e foi mesmo do presidente da Câmara dos Comuns que o futuro Rei se valeu para afastar de vez a incômoda bruxa Regente.
Rápidos festejos foram organizados, e descomunais festas populares, encabeçadas por grandiosos palmípedes amarelos, mulheres seminuas e parlamentares eufóricos e sem dúvida pitorescos, exigiram pela saída da Regente a rápida tomada do poder pelo Rei Dom Pedro III.
A Regente afastou-se, e a vida do país mudou rapidamente para melhor. A indústria floresceu, embora o Barão de Mauá de estimação do Rei, bisneto de um tal de Elke Maravilha Batista tivesse caído em desgraça.
Mas El Rei repetia sempre que podia a frase que para ele melhor representava a ordem e o progresso: "O melhor programa econômico de governo é não atrapalhar aqueles que produzem, investem, poupam, empregam, trabalham e consomem”.
É verdade que a popularidade do Rei Dom Pedro III não aumentava, e pelo contrário, caia dos 5 aos 3% tão vertiginosamente quanto a rapidez do elegante jogo de mãos e dedos do nobre governante.
Mas El Rei não estava nem aí com a popularidade que, como bem define a palavra, nada mais é do que coisa de povo, de populacho, fedido como os cavalos e apenas digno de piedade. Glórias maiores esperavam pelo Rei no futuro, talvez a própria Academia de Letras, quiçá um brilhante prêmio internacional de literatura em gratidão aos seus poemas, ou até um posto vitalício no Senado da Nação.
E tudo correu relativamente bem até que um dia Dom Pedro III teve a infeliz ideia de convocar os meios de comunicação de massa e dizer, entre graciosos e elegantes movimentos das pequeninas mãos: “Tem fome e não tem pão? que comam brioches!”. Toda a imprensa reagiu revoltada; os pobres da cidade e do campo saíram como ratos famintos e tomaram as ruas; esfarrapados robespierres ocuparam as praças públicas e exigiram a cabeça do El Rei.
Sua Majestade não teve outra opção a não ser abdicar e passar o trono e a coroa à simpática e caseira esposa, que em seguida, num inesperado desplante feminista, chamou a antiga Regente e ambas, felizes e maternais, recolocaram o Grande Patropi nos eixos dos quais nunca deveria ter saído.

Javier Villanueva. Catamarca. Março de 2014

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