terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Penélope e o condor do Aconquija



Penélope, –aquela que esperava sem grandes expectativas, mas sempre com a esperança secreta de um dia voltar a dormir com o marido- me disse:

-Olha só o que sonhei ontem: na minha casa havia vinte gansos que se deliciavam comendo o trigo macerado em água; e eu, por minha vez, me deliciava olhando para eles; mais eis que, de repente, do alto do Aconquija desceu um condor e, rompendo o pescoço de cada uma das minhas lindas aves, matou todas elas, sem dor- e corre uma lágrima lenta pelo rosto de Penélope, a paciente esposa.

-E eu, no meu sonho, chorei e gritei, lamentando a sorte dos meus gansos; mas o condor voltou,- me conta Penélope- pousou na calha do telhado, olhou fixo nos meus olhos e disse, com a voz mais doce e grave que eu tivesse ouvido antes, para eu não desanimar, para seguir tendo esperanças.

-Anímate, filha formosa do Ícaro- disse Penélope que falou o condor, devolvendo-lhe a calma- porque isto não é exatamente um sonho, mas sim uma profecia, uma visão autêntica e verdadeira do que vai a acontecer.

Os gansos, me contava Penélope que lhe disse o condor do Aconquija, eram os seus pretendentes. -E eu, que vim aqui na forma do grande predador dos Andes, sou teu esposo, que voltou e dará a cada um desses intrusos a morte que eles merecem- acrescentou a enorme e majestosa ave, sempre segundo o relato da minha amiga Penélope.

Acontecem coisas incríveis na região de Las Chacras, em Catamarca, mas este espelho da Odisseia está entre os mais fantásticos acontecimentos que os habitantes do vale encantado já testemunhamos. Vivendo e aprendendo.


Javier Villanueva, São Paulo, 10 de dezembro de 2013.

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