* Arte de Anna Marinova
- Oi, eu sou Roberta, a neta de Pedro, e você
é o amigo do avô, não? Ele volta daqui a pouco - me olha com um sorriso que me
deixa ainda mais tolo do que eu era aos 19 anos, e me pergunta se eu queria o chimarrão
doce ou amargo.
- Você vai a uma festa, é isso? sim, chimarrão
doce, por favor- foi a única coisa que eu consegui dizer.
- Não, e o que você disse é pelo vestido e o salto
alto? Não, eu sou aeromoça. Você é o Javier, certo?- os olhos verdes, em
contraste com a pele morena se destacam mais ainda, e me fazem olhar para baixo
com vergonha.
Eu sabia que o Velho Milesi tinha uma neta
que trabalhava na aviação, e era amiga de Julia, a irmã da Ana. O que eu nem imaginava
é que fosse tão bonita. Felizmente, o Milesi veio menos de dez minutos mais
tarde, quando eu já não tinha mais para onde olhar, especialmente depois que
descobri que, debaixo do vestido muito curto, Roberta usava uma calcinha azul
que de vez em quando eu olhava furtivamente, quando ela separava as pernas
lentamente, com elegância e um certo pudor, e o sorriso da aeromoça se tornava
mais doce.
O Velho Pedro se afasta e eu aproveito para passar
um olhar de soslaio na neta. Roberta, que parecia ter estado esperando por esse
momento, começa a abrir-se lentamente um botão do decote da camisa, e fica olhando
para mim com um sorriso da mais pura inocência.
Milesi pede um chimarrão doce, e ao receber a
cuia das mãos da neta, vejo que ela se aproveita da concentração do Velho para se
agachar até que eu pudesse ver totalmente a redondeza dos seus seios, a uns poucos
centímetros do meu nariz.
Roberta sai da sala e diz que vai tomar um
banho rápido. Aproveito para tentar me concentrar de novo na conversa do Velho
Pedro, mas a neta sai em seguida do banho e fica perto de mim outra vez. E eu
volto a me perder nas curvas de Roberta, mal cobertas com uma toalha amarela,
enquanto se seca o cabelo com um secador enorme, e me olha de longe, sentada
sobre as pernas, e eu ainda tento me focar na conversa de meu amigo, o Velho.
Roberta me olha, do fundo da poltrona em que
esta sentada, atrás das costas do avô, e levanta aos poucos a toalha e me
mostra que por debaixo dela não há nada, a não ser a pele marrom clara que ela
me oferece, e que eu não sei como fazer para me aproximar e desfrutar.
Mas o Velho está cansadíssimo e seus olhos começam
a se fechar, e assim que o abate o cansaço e se adormece, eu sinto a presença quente
de Roberta atrás de mim. Tínhamos estado nos olhando sem parar nestes últimos
dois dias, e o jogo de sedução da aeromoça estava me levando para os mais altos
patamares da fantasia. Mas nunca tínhamos nos aproximado mais do que alguns
centímetros, e sempre na presença de outros colegas, e do próprio Pedro, que eu
não poderia desrespeitar, mas sua neta parecia não se preocupar demasiado com o
tema.
Sinto os seios de Roberta se apoiando nas
minhas costas e suas mãos acariciando meu pescoço, primeiro devagar e depois com
mais força nos ombros, por dentro da camisa. Mas naquele momento, o Negro Dardo
entra apressado e acorda o Velho, e a Roberta vai embora da sala tão
rapidamente como tinha aparecido.
Mas o Dardo sai de novo e cai outra vez no
sono o Velho. E Roberta aparece novamente atrás de mim, me acendendo a imaginação.
Porém, num ataque de coragem consigo superar a timidez, me viro e olho
diretamente em seus olhos. A aeromoça fica muito assustada: obviamente, ela não
esperava minha reação, e transforma o olhar insinuante e provocador num lance
tímido e delicado dos olhos, e começa a chorar.
Vou embora, triste e pensativo. Mas volto
três dias depois e fico surpreso de encontrar Roberta, me esperando sentada nas
almofadas da sala de estar. É verão, e tem um lindo vestido azul, curto, leve,
como o que vestira quando a conheci. Assim que me vê, começa a levantar uns
poucos centímetros a saia, movendo lentamente as pernas, abrindo-as um pouco, apenas
o suficiente para mostrar que está sem a calcinha!, Não tem nada, nada mesmo debaixo
do vestidinho azul.
-O que você faz aqui- pergunto- é outra vez o
mesmo joguinho, Roberta? Chega!
-Esqueceu que tenho a chave da casa do meu
vô?- Diz Roberta, com uma voz suave e rouca, e abre um pouco mais as pernas, e
se inclina para trás sobre as almofadas, e então não posso deixar de olhar por
baixo do vestido, e num vislumbre vejo seu sexo moreno, que imagino aveludado, a
menos de um metro e meio dos meus sonhos e das minhas excitações noturnas dos
últimos dias.
Bom, para fazer a história mais curta,
digamos que na hora de concretizar as nossas fantasias, a realidade não se
mostrou tão generosa quanto os sonhos e as ilusões. E Roberta ainda é minha
amiga. O amor não prosperou, talvez porque no momento mais crítico, o sexo não
foi nada de espetacular, e eu, da minha parte, decidi me manter para sempre num
longo aprendizado; e tudo isso me permite saber agora, várias décadas depois,
que o que acontece naquele terreno inexplorado da identificação de um homem e
uma mulher, é que as estradas são longas e sinuosas, e só a maturidade traz
confiança para saber o que é o amor e paixão de verdade, para distinguir um do
outro, e aprender a combiná-los numa experiência única, inesquecível.
Fin
Javier Villanueva. São Paulo, 4 de novembro
de 2013
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