terça-feira, 5 de novembro de 2013

Roberta, a do vestido azul *





Arte de Anna Marinova

- Oi, eu sou Roberta, a neta de Pedro, e você é o amigo do avô, não? Ele volta daqui a pouco - me olha com um sorriso que me deixa ainda mais tolo do que eu era aos 19 anos, e me pergunta se eu queria o chimarrão doce ou amargo.
- Você vai a uma festa, é isso? sim, chimarrão doce, por favor- foi a única coisa que eu consegui dizer.
- Não, e o que você disse é pelo vestido e o salto alto? Não, eu sou aeromoça. Você é o Javier, certo?- os olhos verdes, em contraste com a pele morena se destacam mais ainda, e me fazem olhar para baixo com vergonha.
Eu sabia que o Velho Milesi tinha uma neta que trabalhava na aviação, e era amiga de Julia, a irmã da Ana. O que eu nem imaginava é que fosse tão bonita. Felizmente, o Milesi veio menos de dez minutos mais tarde, quando eu já não tinha mais para onde olhar, especialmente depois que descobri que, debaixo do vestido muito curto, Roberta usava uma calcinha azul que de vez em quando eu olhava furtivamente, quando ela separava as pernas lentamente, com elegância e um certo pudor, e o sorriso da aeromoça se tornava mais doce.
O Velho Pedro se afasta e eu aproveito para passar um olhar de soslaio na neta. Roberta, que parecia ter estado esperando por esse momento, começa a abrir-se lentamente um botão do decote da camisa, e fica olhando para mim com um sorriso da mais pura inocência.
Milesi pede um chimarrão doce, e ao receber a cuia das mãos da neta, vejo que ela se aproveita da concentração do Velho para se agachar até que eu pudesse ver totalmente a redondeza dos seus seios, a uns poucos centímetros do meu nariz.
Roberta sai da sala e diz que vai tomar um banho rápido. Aproveito para tentar me concentrar de novo na conversa do Velho Pedro, mas a neta sai em seguida do banho e fica perto de mim outra vez. E eu volto a me perder nas curvas de Roberta, mal cobertas com uma toalha amarela, enquanto se seca o cabelo com um secador enorme, e me olha de longe, sentada sobre as pernas, e eu ainda tento me focar na conversa de meu amigo, o Velho.
Roberta me olha, do fundo da poltrona em que esta sentada, atrás das costas do avô, e levanta aos poucos a toalha e me mostra que por debaixo dela não há nada, a não ser a pele marrom clara que ela me oferece, e que eu não sei como fazer para me aproximar e desfrutar.
Mas o Velho está cansadíssimo e seus olhos começam a se fechar, e assim que o abate o cansaço e se adormece, eu sinto a presença quente de Roberta atrás de mim. Tínhamos estado nos olhando sem parar nestes últimos dois dias, e o jogo de sedução da aeromoça estava me levando para os mais altos patamares da fantasia. Mas nunca tínhamos nos aproximado mais do que alguns centímetros, e sempre na presença de outros colegas, e do próprio Pedro, que eu não poderia desrespeitar, mas sua neta parecia não se preocupar demasiado com o tema.
Sinto os seios de Roberta se apoiando nas minhas costas e suas mãos acariciando meu pescoço, primeiro devagar e depois com mais força nos ombros, por dentro da camisa. Mas naquele momento, o Negro Dardo entra apressado e acorda o Velho, e a Roberta vai embora da sala tão rapidamente como tinha aparecido.
Mas o Dardo sai de novo e cai outra vez no sono o Velho. E Roberta aparece novamente atrás de mim, me acendendo a imaginação. Porém, num ataque de coragem consigo superar a timidez, me viro e olho diretamente em seus olhos. A aeromoça fica muito assustada: obviamente, ela não esperava minha reação, e transforma o olhar insinuante e provocador num lance tímido e delicado dos olhos, e começa a chorar.
Vou embora, triste e pensativo. Mas volto três dias depois e fico surpreso de encontrar Roberta, me esperando sentada nas almofadas da sala de estar. É verão, e tem um lindo vestido azul, curto, leve, como o que vestira quando a conheci. Assim que me vê, começa a levantar uns poucos centímetros a saia, movendo lentamente as pernas, abrindo-as um pouco, apenas o suficiente para mostrar que está sem a calcinha!, Não tem nada, nada mesmo debaixo do vestidinho azul.
-O que você faz aqui- pergunto- é outra vez o mesmo joguinho, Roberta? Chega!
-Esqueceu que tenho a chave da casa do meu vô?- Diz Roberta, com uma voz suave e rouca, e abre um pouco mais as pernas, e se inclina para trás sobre as almofadas, e então não posso deixar de olhar por baixo do vestido, e num vislumbre vejo seu sexo moreno, que imagino aveludado, a menos de um metro e meio dos meus sonhos e das minhas excitações noturnas dos últimos dias.
Bom, para fazer a história mais curta, digamos que na hora de concretizar as nossas fantasias, a realidade não se mostrou tão generosa quanto os sonhos e as ilusões. E Roberta ainda é minha amiga. O amor não prosperou, talvez porque no momento mais crítico, o sexo não foi nada de espetacular, e eu, da minha parte, decidi me manter para sempre num longo aprendizado; e tudo isso me permite saber agora, várias décadas depois, que o que acontece naquele terreno inexplorado da identificação de um homem e uma mulher, é que as estradas são longas e sinuosas, e só a maturidade traz confiança para saber o que é o amor e paixão de verdade, para distinguir um do outro, e aprender a combiná-los numa experiência única, inesquecível.

Fin

Javier Villanueva. São Paulo, 4 de novembro de 2013

 

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