segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Legalizar...para que?


Quem lê este blog há mais de dois anos -e já passamos das 79 mil leituras- sabe que, seja tratando de literatura, de história ou de política, o espírito é o da liberdade, da luta por princípios humanistas e revolucionários; nada que escravize ou rebaixe uma única mulher ou um único homem à dependência de um estado autoritário, de um bando civil ou militar opressivo ou repressivo; nada que permita que a criatura humana -"nascida para brilhar", como disse o poeta- seja arrastada aos porões de uma ditadura, seja fardada, seja de jaleco ou travestida de prazeres ilusórios. Como os antigos anarquistas, operários que lutavam contra a ganância irracional e desumana do capital, e muito humildemente desde estas páginas, queremos desejar que o único delírio seja o da imaginação, a única felicidade a solidariedade e a irmandade com os outros humanos, os que sofrem, os que são humilhados.
Por isso somos contra as drogas, seja em forma legal de álcool ou nicotina, ou ilegal; seja "recreativa" ou em forma de vício e dependência; seja associada a doenças da mente ou não. Somos a favor da liberdade, sim, mas não do liberalismo. Por isso recolhemos as opiniões dos mais jovens, os que conhecem de perto a falta de liberdade e de opções da droga.
JV. 

A seguir, texto do amigo Hernando Barrionuevo:


"Comemorar a prescrição de mais uma patente norteamericana, justamente um extrato da Cannabis, para tratar ansiedade, TOC, síndrome do pânico, esquizofrênia e psicose, me lembra de como o capitalismo é sinistro.

Se os que não foram convidados a sentar-se à mesa surtam pelo estresse de ter um emprego, pelo medo de perder um emprego, pelo desemprego ou por qualquer outra injustiça social, lucremos mais ainda vendendo drogas lícitas que curem essas pobres pessoas desses problemas estritamente individuais, ou lhes vendendo fumo, álcool e outras drogas ilícitas para se esquecerem dos seus azares da vida.
A indústria de segurança nunca deixa de incentivar a indústria do medo; A indústria da guerra nunca deixa de incentivar a indústria de inimigos.
Assim como a indústria farmacêutica nunca vai deixar de incentivar a indústria de patologias.
Tudo isso me lembra como a legalização da maconha é uma medida realmente popular:

Não queremos mais drogas nem mais remédios, queremos justiça social e o direito a felicidade sem o uso de drogas! Queremos uma ciência e uma universidade que previnam e não só remediem. Queremos uma psicologia que não destaque o sujeito da sociedade; Queremos uma Biologia que não se preocupe só com gênes; Queremos uma Farmácia que leve em conta as causas sociais das patologias e não somente as bioquimicas. 
Queremos uma ciência e uma universidade a serviço do povo, não do capital!

Autor: Hernando Barrionuevo
https://www.facebook.com/hernando.barrionuevo?fref=ts



2. Texto do Gabriel Barrionuevo:


"Sobre a afirmação de que a legalização da produção e venda de drogas hoje ilícitas reduziria o crime:

O aumento ou diminuição de marginalidade em uma sociedade não depende, pelo menos nesse contexto, de quais atividades são ilegais ou não, mas sim na disposição do indivíduo de cometer delitos. Analisemos rapidamente os três níveis de criminosos e delinquente relacionados à compra e venda de drogas e quais seriam as mais prováveis mudanças práticas em cada um dos casos:

1) O traficante propriamente dito

Os verdadeiros traficantes, donos do capital e dos meios de produção, os fornecedores do produto, nesse caso a droga, são exploradores. Vivem da exploração dos outros seres humanos para verdadeiramente enriquecer. São os mesmos que exploram todas as pessoas, inclusive as que nunca usaram drogas ilícitas. Se não puderem vender essas drogas, é só vender qualquer outra coisa: armas, escravos de mão de obra, escravos sexuais, ou o leque muito maior que o capitalismo lhes permite vender legalmente de uma forma tão anormal quanto vende cocaína e maconha:  álcool, tabaco, junk-food, carros, motos, filmes, celulares, tablets, roupas, tênis, etc. Tudo o que segundo os defensores da legalização, é financiado com o dinheiro da droga por sua venda ser ilegal, seria facilmente financiado da mesma maneira com o dinheiro proveniente de outras fontes de comércio, ilegal ou não. Como são essas empresas que verdadeiramente fomentam o crime, isso já mostra que a estrutura maior do crime não se modificaria em quase nada.

2) O criminoso ou delinquente "profissional"

Falemos agora do criminoso padrão, não importando se é um chefe do crime organizado ou um rapaz infeliz que trabalha na biqueira, o importante é que ambos tem no delito o seu ganha pão: toda pessoa que tem um mínimo de cultura e bom-senso sabe que a grande maioria dos jovens que ingressa no crime qualquer que seja a seção, não é por problema de índole e sim porque algo deu errado em sua vida. Antes de cometer um delito ele ja foi marginalizado - pela omissão do estado, ou da família, ou do sistema econômico e social. Mas com esse mesmo bom senso e um bocado de experiência dentro desse meio, também se sabe que, hoje em dia, se esses jovens cometem delitos pra ter roupa pra usar, ajudar a família e pra se alimentar bem, é só no começo. A cadeia não está lotada de jovens que cometeram delitos pra comer, e sim pra ter a melhor moto, o melhor carro, correntes de ouro, diamantes, mansões, etc. Não tem nada a ver com a venda de drogas, tem a ver com o que os mesmos que vendem a droga que eles repassam nas biqueiras vendem em qualquer lugar. Como o tráfico e o roubo são as duas principais formas de crime, simplesmente quem atua no tráfico passaria para o roubo, aumentando assim ainda mais a violência nas cidades.

3) O viciado delinquente

Agora falemos dos viciados desprezados por outros viciados, e dos ladrões desprezados por outros ladrões, pessoas que a maioria dos pseudo intelectuais, universitários, usuários "recreativos" e playboys que defendem a legalização como se essa ideia fosse lado-a-lado com a liberdade coletiva, só conhecem nos filmes e nas novelas, pois senão não falariam tanta besteira: normalmente jovens de classe baixa e média baixa/ e até de classe média alta, que graças ao uso abusivo de drogas chegaram ao fundo do poço, que como não tem uma mesada dos pais ou, já perderam toda a confiança da família ou, não conseguem trabalho ou permanecer num emprego por conta de ritmo frenético de uso ou por seu comportamento pouco sintonizado com o de um emprego, não tem outra saída a não ser roubar pra sustentar o vício. Alguns roubam a própria família, outros acabam sendo os ladrões “profissionais do segundo tópico”, mas no fim ambos acabam se tornando os piores dos ladrões, cometendo os piores tipos de violência, roubando gente pobre, ameaçando velhinhas, ou até matando por causa de uma dose. Para esses usuários, os mais afetados pela venda da droga, vai fazer menos diferença ainda se a droga for proibida ou legal. Vão continuar roubando, já que para comprar de forma legal ou ilegal, só terão o roubo como meio de conseguir o dinheiro para pagar a droga.

Dada essa reflexão peço que, por favor, se algum entusiasta da legalização me mostrar como seria o desenvolvimento da redução do crime, estou aberto a discussões.


Gabriel Barrionuevo, São Paulo, 5 de agosto de 2013.

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