Pepito andava feito
um louco atrás do anjinho roliço. Você sabe bem a quem estou me referindo,
-porque assim como ele, o Pepito, tinha absoluta certeza que tarde ou cedo o
acharia por aí- quase todo mundo, quem mais, quem menos, já teve a sorte ou o
azar de encontrá-lo.
O anjinho anda
armado e é perigoso, dizia ele. E, ao contrário dos criminosos supostamente
mais letais, o tal querubim, segundo contava o Pepito, não respeita nem
mulheres ou crianças, nem jovens ou mortais mais velhos. E se isso não
bastasse, o danado quase sempre atira para matar, bem no meio do peito, na
contramão, e oculto na calçada oposta à sua.
Se alguém o
encontrasse por aí –insistia o Pepito- é bom ficar alerta, para não ser
enganado por sua aparência inocente e fofinha. Convêm sempre entrincheirar-se
num lugar seguro e nada de sentir afetos, simpatia, inclinação ou apego, nem quaisquer considerações
amolecidas de tipo nenhum. E é sempre bom fixar o olhar nele, sem hesitação,
até que o pequeno anjinho de cabelinhos loiros e encaracolados guarde o arco e
desapareça. Ou você estará bem ferrado.
Poucas semanas se
passaram depois desta conversa desvairada do Pepito, e crimes misteriosos
começaram a se repetir pela cidade toda. Nenhum deles foi esclarecido, mas
sempre foi achado, na cena do crime, o mesmo bilhete: "Quem teria sido
tão irresponsável de entregar um arco e uma flecha que supostamente daria o
amor perfeito, a uma criança?”.
Muitos anos depois,
numa visita no cadeião de Pinheiros, o Pepito me disse, muito baixinho para que
os guardas não pudessem ouvi-lo, e com um olhar perdido, -“Como seria de tão pouco
útil com sua obra o anjinho, que nem se deu conta que estava sendo seguido por
uma mulher ou um homem, sei lá, alguém ferido pelas repetidas falhas de alguma
das suas flechas irresponsáveis”. O Pepito não parecia estar lá muito bem das ideias.
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