sábado, 18 de abril de 2020

A Peste. 2024. Parte 11.

Médico de la peste negra - Wikipedia, la enciclopedia libre


A Peste. 2024.
Parte 11.

O desmantelamento da organização criminosa não aconteceu tão rápido como poderiam ter imaginado Roberta e Marta quando fizeram as denúncias às polícias do Ministério e aos guardas populares do território controlado pelos revolucionários. 
Demorou um longo período de quase três anos, durante o qual morreu aquele que se imaginava erroneamente ser o chefe dos traficantes de armas, o ex-capitão argentino; período no qual se descobriu também que o verdadeiro comandante era outro ex-capitão, porém brasileiro e muito conhecido.
O antigo Pequeno Ditador derrocado e seus três filhos resultaram ser os dirigentes de uma vasta pirâmide delitiva com cabeça nas periferias do Rio de Janeiro, e baseada nas antigas bandas de milicianos e a chamada "banda podre" da polícia local, mas com ramificações que, nos quatro anos e meio de duração da quarentena, tinha permitido que tomassem o controle também do PCC paulista e das vastas áreas por eles controladas em várias cidades.

Como se podia ler num dos cadernos em que se falava da última companheira do Brujo López Rega — "também guardou a sete chaves o produto da venda de vários imóveis, entre outros o chalê avaliado em mais de um milhão de dólares à beira do lago Leman, na Suíça, onde ela morou com El Brujo desde que deixou apressadamente a elegante residência madrilenha de Puerta de Hierro"—, essa fortuna havia passado das mãos do antigo comandante da Tríplice A na Argentina para a nova organização dos traficantes de armas em Brasil e suas ramificações em várias capitais da América do Sul e na Europa.

A localização dessa imensa fortuna ilegal, junto com as fotografias e os detalhes dos dados financeiros, foram revelados no livro "La fuga del Brujo. Historia criminal de José López Rega", publicado por Juan Gasparini em 2005.

O ex mandatário, mais conhecido como Pequeno Ditador derrocado, e seus três filhos foram extraditados ao final desse longo processo para a Argentina primeiro, onde foram julgados pelo roubo, porte e tenência de armas que pertenciam ao exército daquele país até 1975 quando foram desviadas; e mais tarde, os quatro foram requeridos e julgados pela justiça estadunidense que os condenou por mais de quinze crimes de várias espécies que seria muito tedioso relatar aqui.

E por que Roberta, tão procurada por Jorginho, estava justo em frente ao seu apartamento no momento em que foi sequestrado? E qual foi o motivo pelo qual Marta, sua colega de pesquisa editorial, estaria com Roberta nesse mesmo instante?
Bom, é uma história mais longa que o que caberia neste relato, e de pouca importância, mas digamos que a amiga e a amada de Jorginho tinham ambas por ele um grande amor, mas amores diferentes; mas tanto uma como a outra sabiam que Jorge nem tinha claro o que era o amor, e nem sequer a diferença entre este e a mera paixão. E ambas sabiam muito bem que o amigo comum iria terminar seus dias sozinhos, porque nada o deixava feliz, e nem sabia direito o que é que poderia chamar-se de felicidade.

O encontro entre Roberta e Marta aconteceu quando a segunda estava internada na UTI do Hospital do Servidor, no bairro da Liberdade, onde a primeira trabalhava desde quando chegou de Espírito Santo, dois anos antes da pandemia se desatar, e se incorporou como enfermeira chefe. 
Em fevereiro de 2020 Roberta já cuidava dos pacientes com covid-19, a doença causada pelo coronavírus
Enfermeira intensivista, como são denominados os profissionais das Unidades de Terapia Intensiva, ela também contraiu, seis meses mais tarde, o coronavírus depois de tratar de pacientes em estado grave. Sedada e entubada, mas sem chegar a sentir-se muito mal, testou positivo e já não saiu do hospital durante vinte dias. Voltou uma semana para casa, e uma vez comprovada a cura, se reincorporou ao trabalho na UTI.
Aos 42 anos -treze menos que Jorginho, ele sempre lembrava disso-, tinha passado os últimos meses antes da sua transferência ao Hospital do Servidor trabalhando no H. São Paulo, hospital de referência da Universidade Federal de São Paulo. Desde os 19 anos, trabalha com enfermagem, seguindo o pai como modelo. A enfermagem estava na raiz da família, contava Roberta a Marta, quando por fim esta também chegou doente à UTI que ela comandava. Havia trabalhado como atendente, auxiliar e técnica de enfermagem até terminar a faculdade e a pós-graduação. 
E foi naquela UTI que Marta por fim conheceu Roberta, cujo nome tantas vezes tinha ouvido em meio aos lamentos do amor não correspondido que corroía o coração de Jorginho. Não tinha sido difícil saber que era ela: Roberta, enfermeira e vindo de Espírito Santo. Só podia ser ela.

E por fim, nas últimas semanas da quarentena, e sem que Jorge soubesse até então tudo o acontecido entre elas, num clima pouco propício para a comunicação, a não ser a que mantinha via whatsapp e eventualmente por e-mail com Marta, esta acabou contando que tinha conhecido Roberta, como e quando. E ainda disse que sabia onde estava morando.
Jorginho não conseguiu conciliar o sono durante vários dias, até que começou a organizar um plano para o reencontro com a amada.

Foi nessas tentativas -todas fracassadas- que Jorge terminou sequestrado e começou o desbaratamento da banda de traficantes.

Continuará.

JV. São Paulo, agosto de 2024.








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