segunda-feira, 20 de abril de 2020

A Peste. 2024. Parte 12. Final




A Peste. 2024.
Parte 12. Final

Ao deixar a fazenda dos sequestradores, e mesmo que um tanto amedrontado com as ameaças do ex-capitão argentino, Jorge tinha dois propósitos em mente e nada iria fazê-lo mudar de ideia. 
O primeiro era confirmar as suspeitas em contra de um dos seus companheiros de moradia, o Ricardo, a quem tinha visto folhear com grande curiosidade um dos cadernos e que se assustou ao ser descoberto nessa atitude. Só ele poderia ter levado a informação aos traficantes.
O outro propósito era encontrar Roberta de uma vez, nem que mais não fosse para adverti-la das ameaças dos traficantes.

Assim que chegou no apartamento conseguiu cumprir seu primeiro objetivo, pois teve a sorte de se encontrar com Ricardo e enfrentá-lo.

— Por que você entregou a esses bandidos criminosos essa informação?- largou de uma vez, e sem esperar resposta soou o tapa na cara.

Para, Jorge, para! Não quero brigar- sentou no sofá, de braços caídos, demonstrando que estava mal, arrependido e que não queria brigas. — Fui obrigado, Jorginho. Um mês atrás, os guardas do Ministério sequestraram meu pai a mando de um dos filhos do Pequeno Ditador deposto. Queriam que ele informasse meu endereço porque sabiam que moramos juntos e...

— Sim, ok, mas como é que eles sabiam que eu tinha esses cadernos e que um deles contém informações que podem incriminá-los?

— Eu contei sem querer. Quer dizer...escrevi numa mensagem de whatsapp, contando que tenho um amigo romancista que estava preparando um livro sobre o Brujo López Rega e..

— Ok, tá, já entendi. E todo mundo sabe que eles conseguem ler e censurar tudo o que circula na internet, menos você, né?- levantou a voz e mão outra vez, e outra vez se encolheu Ricardo.

— Eu até disse a eles que não adiantava pegar os cadernos, Jorge, porque você já poderia ter fotografado e enviado para outra pessoa.- quase soluçava Ricardo.

— Sim, sim, eu também disse isso a eles. Bom, não interessa. Mas o caso é que você não pode mais ficar aqui. Por favor, pegue as suas cisas e vá embora.- disse Jorginho, ainda de péssimo humor, mas com pouca certeza do que estava fazendo com aquele que até agora era seu amigo de muitos anos.

A segunda tarefa ou objetivo era ver se dessa vez encontraria Roberta. E para isso vestiu a sua melhor roupa, penteou cuidadosamente os cabelos ralos, mas ainda vistosos, e saiu, mais tranquilo por saber que as guerrilhas do território revolucionário já haviam tomado quase toda a cidade e o Ministério apenas resistia de má vontade, com poucas armas, escassa munição, e nada de apoio popular, nos extremos da Zona Leste. Isto deixava Jorginho despreocupado em relação às ameaças dos traficantes contra Roberta.

Chegou por fim na casa da tia de Roberta, y foi ela mesma quem saiu a atender a porta. Estava apenas de toalha e com o cabelo solto e molhado, sinal de que acabava de sair do banho.

— Minha tia saiu e só volta à noite, assim que não vai se importar se eu te receber desse jeito; você também não, né?- disse e sorriu com os olhos e a boca, com toda a picardia que ele sabia que ela poderia usar numa ocasião como aquela.
E ainda se sentou numa poltrona, bem em frente à dele, com as pernas cruzadas que foi abrindo devagar até deixar Jorge ver por baixo da toalha; e a levanta aos poucos, e mostra que por debaixo dela não há nada, a não ser a pele marrom clara; e ainda fica olhando com um sorriso da mais pura inocência.

Roberta, com uma voz suave e rouca, abre um pouco mais as pernas, e se inclina levemente para trás sobre as almofadas da poltrona, e então Jorge não pode deixar de olhar por baixo da toalha, e num vislumbre vê seu sexo moreno, que imagina aveludado, a menos de um metro e meio das suas fantasias noturnas dos últimos anos. 

Bom, para fazer a história mais curta, digamos que na hora de concretizar os sonhos e ilusões recorrentes de tantas noites mal dormidas, a realidade não se mostrou tão generosa para Jorginho -nem para Roberta- quanto as fantasias de ambos. 
E Roberta ainda continua a ser sua amiga, e nada mais. 
O amor não prosperou, talvez porque no momento mais crítico, nada foi tão espetacular assim, e ambos decidiram se manter apenas no longo aprendizado do terreno inexplorado da identificação de um homem e uma mulher. 
As estradas são longas e sinuosas, e só a maturidade traz confiança para entender o que são o amor e a paixão de verdade, para distinguir um do outro, e aprender a combiná-los numa experiência única e inesquecível.

Fim

Javier Villanueva. São Paulo, setembro de 2024.

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