sexta-feira, 6 de maio de 2011

Deixando Fitzcarraldo para voltar ao Roger Casement de "O Sonho do Celta"

Roger Casement foi de fato o principal denunciante das atrocidades cometidas pelos funcionários coloniais do rei Leopoldo II no Congo Belga. Assim como também dos horrores praticados pela companhia de borracha de Julio Arana na região selvática de Putumayo, na fronteira entre o Peru e a Colômbia.

No Congo, Casement presenciou a submissão e o horror do colonialismo, que somente Joseph Conrad, -o escritor polonês que o "celta" conheceu quando pretendia subir o rio Congo num barco da Sociedade Anônima Belga- consigiu pintar em seu livro "O Coração das Trevas".

Depois de passar anos no Congo, documentando toda aquela exploração, Casement acabou vindo para o Brasil com a missão de investigar em nome do governo britânico o trabalho desumano imposto aos índios amazônicos na extração da borracha. Assim, ele andou pelo Peru, a Colômbia e o Brasil, como cônsul britânico no Rio de Janeiro. Aqui, acostumado com o calor do Congo, onde esteve por vinte años, Roger Casement teve que que ir morar em Petrópolis, porque não aguentava a umidade do Rio.

O informe que ele despacha é extraordinário: um duro e fiel retrato do que acontecia, reforçando a sua primeira campanha contra a escravização dos povos americanos e africanos, e a exploração por parte de uma cultura ‘superior’, e poderosa. Casement foi um dos primeiros europeus a denunciar o colonialismo e o mito de ser esse o caminho para a civilização por via da cristianização.

Defensor do nacionalismo irlandês, cuja luta pela dependência dos ingleses comparava ao combate ao colonialismo que tão bem conhecia, opta por aliar-se aos alemães no início da 1ª guerra mundial esperando uma ajuda à independência da Irlanda. Política errada, ingénua e imprudente que o levou à prisão, sendo condendo à morte como traidor à pátria.
Para denegrir a sua imagem, seus diários pessoais foram divulgados quando estava na prisão, aguardando a comutação da pena. Neles se revelava a sua faceta de homossexual atrevido e enrustido, porém, muitos desses relatos não passavam de fantasias, apenas algo que ele gostaria de ter experimentado.

Um comentário:

  1. Diferente de Conrad, que culpava a natureza selvagem pela desumanização do homem, Casement soube que o mal emanava do projeto colonialista. O que trouxe uma segunda metamorfose no cônsul. No meio da selva, Casement conheceu seu verdadeiro "eu", que não era britânico, mas irlandês. E a Irlanda, como o Congo, era uma nação colonizada. Viu que é o sistema de exploração que converte os homens em predadores de si mesmos, dispostos a explorar e matar o fraco para obter benefícios econômicos. O que Casement vê o opõe mortalmente às potências coloniais, supostos arautos da civilização ocidental como transmissora de cultura e progresso, déspotas insensíveis que matavam por simples tédio, como se a eliminação de um outro ser humano fosse um simples esporte exótico que eles tinham licença para praticar naquelas geografias distantes.

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