domingo, 1 de maio de 2011

Adeus a Ernesto Sábato!

En su libro “Abaddón, el exterminador” Sábato empieza citando una frase que dice así.:



“Es posible que mañana muera, y en la tierra no quedará nadie que me haya comprendido por completo. Unos me considerarán peor y otros mejor de lo que soy. Algunos dirán que era una buena persona; otros, que era un canalla. Pero las dos opiniones serán igualmente equivocadas”.

"No laboratório Curie, num dos maiores objetivos que poderia desejar um físico, eu me achei vazio e sem sentido. Vencido pela incredulidade, seguia avançado só por um forte impulso de inércia para a frente, mas a minha alma o recusava.
A minha bolsa de estudos fui transferida para o Massachusetts Institute of Technology, MIT, em Boston, onde publiquei um artigo sobre os raios cósmicos. Mas eu estava fatalmente dividido entre o que tinha significado para mim essa vocação de físico, a qual já tinha sacrificado anos, e a presença incerta, mas invencível de um novo chamado.
Era um momento pendular, daqueles em que já não encontramos mais a identidade naquilo que tinhamos sido. Nessa escuridão, voltei a Buenos Aires. A decisão já tinha sido tomada no meu espírito, mas tinha que enraizá-la na luta contra aqueles que me atentavam com posições importantes e me cobravam com a sua certeza da missão transcendente que eu tinha para a física.
Eu lembro com profunda emoção o apoio que Matilde me deu naquele momento. Ela nunca pensou que eu deveria fazer nada além de me dedicar ao que me apontava a minha intuição, e nunca me censurou o conforto que a nossa família iria perder.
Eu fiz esta transição -uma ponte que se estendia entre duas enormes montanhas-  às vezes, zonzo e sem saber o que estava fazendo, e outras, no entanto, com a alegria desenfreada que acompanha o nascimento de uma grande paixão. Como uma última obrigação para as pessoas que me deram a bolsa de estudos, lecionei teoria quântica e relatividade na Universidade de La Plata, onde tive como aluno a Balzeiro, cujo nome hoje preside o centro atômico na cidade de Bariloche, e a Mario Bunge.
Quando no início dos anos quarenta, decidi abandonar a ciência, recebi duras críticas dos principais cientistas do país. O Dr. Houssay deixou de falar comigo para sempre. O Dr. Gaviola, então diretor do Observatório de Córdoba, que tanto me amava , disse "Sabato abandona a ciência pela arte dos charlatães". E Guido Beck, um emigrante austríaco, discípulo de Einstein, em uma conversa lamentava: "No seu caso, perdemos em você um físico muito capaz em quem tínhamos grandes esperanças".
O mundo dos teoremas e um "paper" que tinha acabado de publicar sobre os raios cósmicos na Physical Review, apenas podiam ser vislumbrados na imensa nuvem de poeira levantada. Acompanhado por Matilde e Jorge, de quatro anos, mudei-me para as serras de Córdoba, em uma fazenda sem água encanada ou eletricidade, na cidade de Pantanillo. Debaixo da majestade do céu estrelado, eu senti um pouco de paz. Algo semelhante ao que Henry David Thoreau disse: "Eu fui à floresta porque queria viver em meditação, encarando apenas os fatos essenciais da vida, e ver se podia aprender a ver o que ela tinha para ensinar, e não acontecer que, sendo prestes a morrer, descobrir que eu não tinha vivido".
E. Sábato. "Antes del fin"



Sabato nunca deixou de investigar a existência, se aprofundou em sua literatura sobre a alma humana e é isso que serve e ajuda a suportar os sofrimentos a tantos jovens e adultos ao redor do mundo. Ele conseguia entender as tempestades emocionais que as pessoas vivem, e nos deixou como todo grande humanista, um legado de conhecimento. Legado que também se expõe em sua história de vida, tão poeticamente descrita no seu excelente trabalho "Antes del fin", que é uma leitura altamente recomendável. Parte deste trabalho descreve o momento em que decide abandonar a ciência e concentrar-se nas artes, uma decisão na qual, além de todas as adversidades, Sabato soube escutar o coração e com ele saiu direto para onde o aguardava seu destino.

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